Acordei da minha soneca com meu celular tocando. Minha mãe.

"Alô? Mãe?"atendi com a voz rouca e sonolenta.

"Katherine, sou eu, mamãe..."

"Mãe, onde você está? Há dias que você não dá sinal de vida. Você tem..."

"Opa,os papeis se inverteram?" ouvi sua risada do outro lado da linha. "Desculpe, querida. Estarei voltando pra cidade hoje à noite. Estou no Canadá, me desculpe por não ter ligado antes, mas eu estive muito ocupada." suspirou ao telefone fazendo um chiado. "Estou com tantas saudades."

"Também estou. Volta logo, ta? Vou estar te esperando em casa."

"Pode deixar. Vejo você mais tarde. Beijos filha."

"Beijos." desliguei.

Me senti um pouco melhor naquela manhã, mesmo com o meu sonho apavorante e minha falta de sono, saber que minha mãe estava bem e estava para voltar fazia com que me sentisse melhor.

Tomei café da manhã com Emma, já que todos haviam já tomado seu rumo. De tarde fui para casa, dei uma geral para agradar Emily, embora soubesse que ela ficaria uma fera por saber que faltei aula. Puxa, já era segunda feira.

Abri a torneira da banheira, joguei uns sais e entrei.Meu corpo todo pareceu relaxar, tomar banho de banheira era mil vezes melhor do que de chuveiro.Deitei minha cabeça na borda e respirei fundo e aos poucos deslizei pro fundo, deixando com que a água me cobrisse.Com os olhos fechados, procurei relaxar e pensar em coisas boas, mas em minha mente vieram somente imagens minhas quando criança, era onisciente.

Vi-me em uma rua de paralelepípedos, saltitando em meu macacãozinho sobre uma blusinha vermelha, balançando uma sacola e cantarolando durante o percurso até minha casa, aquela era minha vila,casas germinadas de estruturas iguais, o que mudavam eram as cores,cada casa tinha uma cor de gosto do morador, por exemplo, minha casa era lilás com um pequeno quintal onde eu e minha mãe tínhamos uma pequena plantação de Orquídeas brancas, eram lindas, lembro como eram cheirosas, pude sentir o cheiro, era aonde morei com a minha mãe, na Romênia. O céu estava parcialmente nublado e já avistava minha casa, mas antes disso avistei um menino do meu tamanho sentado na calçada, quebrava um galho em pedacinhos, era desprovido de melanina igual a mim, e seu cabelo, sem nenhuma pigmentação, caia sobre seus olhos, era um loiro praticamente branco, platinado. Me aproximei dele, sentando-me ao seu lado, ele me olhou com seus brilhantes olhos verdes por cima de seus volumosos cílios desconfiado. Sorri dócil e abri minha sacola, tirando de lá balas. Estendi minha mão com algumas delas á ele.

"Quer?" perguntei.

O menino continuou me encarando sem levantar a cabeça, e quebrando seu galho.

"Pode pegar. Tem de maçã verde, banana, laranja, uva..." o fiquei encarando com a cabeça torta para que pudesse olhar melhor para ele "Você não fala?"

Ele assentiu, mas eu aparentemente tinha ficado com dúvida. Peguei em sua cabeça e a levantei para que me olhasse. O menino franziu o cenho e pareceu emburrado, e eu apenas sorri moleca.

"Meu nome é Katherine. Pega uma bala, são boas."

O menino aceitou as balas abrindo uma e enfiando na boca.Quando parou de mastigá-la, enfim falou.

"Sou Jared." deu um sorriso acanhado fazendo com que pela primeira vez eu pudesse perceber a pintinha em sua boca.

"Gostou da bala? Pode pegar mais se quiser, tenho muitas! Gosto de todo tipo de bala..."

E ali estava o dia em que conheci Jared. Continuei á tagarelar sem palavras, e ás vezes ele falava uma ou duas palavras.

A imagem começou a ficar turva e os sons sumindo, logo eu já estava em outro local, outra lembraça.

O Jared na cafeteria na tarde passada, me encarando com seus olhos, os cabelos ainda caindo-lhe na testa, a pintinha.Era ele, disso eu sabia.De novo a imagem havia mudado, agora eu estava na porta do meu banheiro, vendo-me na banheira, afundada, mas não só.Havia uma sombra, apenas um vulto ao lado da banheira, encarando-me, embora não pudesse ver seu rosto.

O vulto aproximou-se e enfiou seus braços dentro da banheira, tentei abrir meus olhos, mas nada.Eu podia sentir a presença, a aproximação como naquele maldito pesadelo.

Sacudi-me então me sentei na banheira sem ar.

Olhei em volta do banheiro, não havia nada.

Eu estava enloquecendo.