Ele abriu os olhos de supetão o que me fez gritar e segurou meu pulso olhando no fundo dos meus olhos.

            - Usou algum tipo de droga enquanto estive fora? – perguntou franzindo o cenho e erguendo uma sobrancelha

      Subi o pulso de novo e desci a toda, ele me derrubou no chão e caiu sobre mim segurando meus pulsos.

            - Vamos com calma drogadinha. – segurou meus pulsos com uma só mão e tirou a adaga da minha mão jogando-a longe.O encarava furiosa enquanto ele parecia plácido, talvez até intrigado.

            - Se você soubesse o tamanho da minha raiva! – falei entre os dentes

            - Imagino, mas vejo principalmente pelos seus olhos.Vou te soltar e você vai se comportar que nem gente – falou devagar – Ok?

            - Sai de cima de mim! – gritei

            - Pare de gritar, vou ter que amordaçá-la de novo?

     Esperneei e sacudi-me.

             - Eu te odeio! – gritei e minha garganta arranhou – TE ODEIO!

             - Ótimo, estamos melhorando as coisas.Antes ódio do que aquela merda de clemência.

             - Sai Jared! – gritei e uma lágrima escorreu pela lateral do meu rosto

             - Vai ser uma boa garota se te soltar? – perguntou num sussurro

             - Sai! – gritei e dei-lhe uma joelhada entre as pernas, ele arfou e se contorceu, enfim caindo para o lado

     Engatinhei até a adaga, quando a peguei senti meu tornozelo sendo puxado.Não hora em que me virei passei a adaga no peito de Jared, uma linha de sangue se fez foi então que fiquei fascinada.

     Aos poucos a linha de sangue se fechava como se nada nunca o tivesse cortado ali, eu encarava sua ferida curada.O rasguei de novo com a lâmina e ele grunhiu, mas não se mexeu, o olhei ele me fitava com seus cabelos brancos caídos sobre seus verdes olhos.O cortei várias vezes, peito, braço, todas elas se cicatrizaram instantaneamente, como mágica.

              - Já acabou com a brincadeira? – perguntou

              - Isso é...isso é... – fiquei sem fala

   Jared tirou a adaga da minha mão e se levantou, levantando-me junto com ele.

              - Ia mesmo me matar? – perguntou

              - Ia...eu acho. – falei ainda um pouco atordoada com a cena de seus ferimentos, mas logo substituídos por lembranças da noite passada.Dei-lhe um empurrão o peito – Por que fez aquilo comigo seu cretino?!Por que não me mata de uma vez e para com essa porcaria de joguinhos?!

              - Oh Kate, Kate , Kate.Se eu quisesse te matar, já o teria feito.

              - E o que te impede?

              - Se o sumiço de Harahel for pelo o que estou pensando, terei que ir atrás de algo, e nessa busca, vou precisar de você.

              - Eu não era uma inútil?

              - Estou lhe dando essa chance para me provar ao contrário.

              - Eu estou com tanta raiva de você! – falei entre os dentes, e dei um breve grito de raiva

              - Acabou?

              - Por que fez aquilo na noite passada?

              - Pra você não ir atrás de mim.

              - Aonde você foi?

              - Andar por ai, ver se já há alguém atrás de nós por aqui, mas não encontrei nada nem ninguém. – falou indo para a varanda

              - E quando encontrar, o que pretende fazer?

              - Descobrir o que quero, então começar minha busca por Harahel. – pôs as mãos nos bolsos – Pra isso preciso que pare de ter pena de si mesma, e pelo menos tenha raiva do mundo, até de mim, melhor do que essa porcaria de sentimento que você sente, o que te deixa fraca e vulnerável.

              - Por isso me amarrou? Por que se foi, só aumentou minha raiva que já existe por você!

              - E a sua auto pena? – me olhou por cima do ombro – Acabou? Creio que não.Você quer que todos tenham pena de você, quer ser a menina fraca e vulnerável dos livros e televisão, mas isso aqui é vida real Katherine, você não tem um capacho pra te proteger, cuide de si mesma, ou morrerá, porque não vou morrer por você, nem eu nem ninguém. – respirou olhando para frente

             - Não sinto pena de mim mesma!

             - Não? – se virou – Então porque vive chorando pelos cantos e fica olhando pra qualquer um que passa com esses teus imensos olhos roxos cheios de mágoa, achando que alguém realmente se importa? Acha que é a única no mundo que perdeu as coisas? A única que tem problemas? Sua mãe morreu, está morta, e ninguém se importa.Está longe da sua amiga, talvez ela se importasse, mas eu não, e quando me olha com essa cara, me da vontade de te socar. – sua mandíbula ficou saliente – Agora sabe a realidade do mundo Katherine, se comporte de acordo com ela, ou essa nova realidade vai matar você de uma maneira bem sádica.

      Falou e ficou encarando-me por um tempo.Meus olhos ardiam, as palavras de Jared haviam me magoado.Respirei fundo e refiz minha postura.

            - Vou tomar banho. –falei

      Peguei minha mochila e levei junto comigo pro banheiro.

      Liguei a água e fiquei refletindo sobre o que Jared havia dito.Eu não sentia pena de mim mesma, é errado me sentir mal por estar longe de todos que amo? Eu me sentia péssima, uma coisa ele estava certo, eu não era a única a ter problemas, a única a ter perco alguém, e no fundo eu sabia que eu queria que alguém se importasse, queria que Jared se importasse, eu queria qualquer colo, um aconchego, palavras de compreensão, porque as pessoas que me davam isso estavam muito longe, e para não colocá-las em risco eu tinha que me manter mais afastada ainda.

      Jared era um idiota,mas graças á ele eu ainda estava viva, no fundo tinha a esperança de que no final de toda aquela história, eu seria feliz, eu queria ser, então eu lutaria pela minha felicidade, minha liberdade.

      Se eu ajudasse Jared no que ele precisava, talvez acabasse mais rápido e eu estaria livre mais rápido, livre para voltar a ter minha vida normal.

      Desliguei o chuveiro e me sequei em frente ao espelho.Encarei meu rosto, cara de morta de sempre, mas aproximei-me mais de meu reflexo e encarei meus olhos.Não conseguia ver mágoa neles, os achava normais na medida em que um olho violeta, e não roxos, bufei, podiam ser. Sequei meu cabelo e o prendi em um rabo de cavalo.Peguei minha nécessaire e passei um rímel.Só porque minha vida estava aos poucos se degradando a minha vaidade tinha que ser a primeira a morrer?

      Sai do banheiro e Jared olhava a televisão.

              “Agora um comunicado, a adolescente Katherine Savage – apareceu uma foto minha - de 16 anos está desaparecida á 3 dias.Foi vista pela última vez com um rapaz identificado como James Calton – mostrou um retrato falado de James, o que fez meu coração parar -, porém seu nome não está em nenhum registro legal.Qualquer informação sobre, informar a polícia pelo número...”

     A televisão apagou.

     Jared me olhou por cima do ombro.

     Droga, eu estava sendo procurada pela polícia.