As pesadas cortinas brancas haviam sido puxadas para o lado e presas por um delicado fio de prata. Após passar pela cena ricamente detalhada na janela, a luz dourada e quente da manhã preenchia o comodo como seda esvoaçante.

Levantando-se desajeitadamente dirigiu-se ao imponente guarda-roupa esculpido da mais nobre madeira e procurou por uma coisa simples e leve.

Liam passava os dedos pelos macios cabelos escuros quando a porta do aposentou abriu-se e seu pajem entrou carregado de panos brilhantes e finos. Lionel era um pouco mais velho que seu príncipe, porém centímetros mais baixo. Tinha a cabeleira dourada fina e espigada e seu traje de pajem consistia inteiramente em veludo azul-escuro. A boina, para ele uma provação, escorregava da cabeça do jovem a todo momento. Ao tentar ajeita-la descuidou-se e meia montanha textil foi ao chão.

– Não, não e não seu pajenzinho descuidado- gritou uma voz esganiçada aproximando-se da porta- acha que um príncipe usará panos de chão?

Tina, a costureira real entrou dando um puxão na orelha do garoto, que, sem nenhuma palavra limitou-se a encolher os ombros e pescar de volta toda a pilha. O príncipe lembrou-se que a primeira vez em que conhecera seu pajem havia achado que o jovem não gostava dele, e por tempos havia tentado se aproximar do garoto, mas sempre obtinha silêncio e um encolher de ombros. Conversando com os serventes ouviu de muitos que ele era mudo. Foi apenas depois de Lionel ter derrubado vinho no príncipe que este ouvira uma voz baixa num lamento tímido, sabendo a final, que o jovem falava.

Após isso, recordava-se apenas de silencio.

– Por Deuses Tina, não fará diferença, deixe-o - sorriu e virou-se a Lionel - quando puder vou proibir o uso de boinas, que tal?- O garoto terminando de arrumar a pilha olhou Liam e encolheu os ombros.

– Oh senhor, mas mesmo assim... ora, tudo bem mas veja és somente porque vossa alteza tem compromissos urgentes. - disse Tina transtornada.

– Compromissos? Julgava que hoje haveria folga- bufou- mais quando é que EU tenho isso?

– Horas se me permite a ousadia, és o principe, o herdeiro e hoje, bem, é a Rainha que solicita sua presença.

Sim, mas apenas um garoto, que preferiria estar treinando com Greg.

–Sim, claro, claro, mas se vou falar com minha mãe, por que esses tecidos? estava pensando em um gibão de couro.

– Não, não, não, há assuntos importantes o aguardando.

Tina, após alguns instantes de procura optou por uma túnica prata que ostentava o simbolo da Casa Golderiders, o grifo voando de costas. Pendurou uma capa de zibelina azul-claro nos ombros de Liam, e encaminhou-se com ele ao grande salão central do castelo.

A Rainha sorria mexendo o ruivo cabelo ondulado. Também trajava as cores da Casa Golderiders no vestido de seda azul-clara, rendado nos braços com fios de prata. No pescoço, um pequeno colar com uma perola branca fazia referencia a sua casa de nascença, a Casa Solamar cujo simbolo era uma espada com cume de perola.

O Rei Staffon estava ao seu lado, sorrindo igualmente afetado.

Foi só então que Liam percebeu que falavam com uma jovem loura alta, uma mulher mediana e um velho parrudo. As roupas diversas voltavam sempre para a cor vermelha, e foi por isso que logo reconheceu o Lorde Minos Martelli da Casa Martelli. Desceu e foi apresentado A senhora Martelli e a donzela Martelli, filha de ambos. Juntos, encaminharam-se a sala de refeiçoes e deram inicio uma serie de gracejos e amabilidades. Foram servidos sucos, pães besuntados em manteiga, frutas de verão, queijo branco e uma infinidade de caldas com cidra; por fim, vinho.

Liam, acostumado a receber Lordes atras de favores Reais, comportou-se educadamente mas sentiu-se desconfortável com o longos olhares da garota.

Com lisos cabelos loiros prateados a jovem Lyanne era esguia e amável.

De tempos em tempos A Rainha olhava o filho e destacava pontos e habilidades fortes da jovem. Quando a família saiu o Rei largou-se no cadeirão:

– Essa é uma Casa bem forte, seriam bons aliados em tempos difíceis.

A rainha levantando-se dirigiu-se a saída onde encontrou Tina:

– E a jovem daria uma Boa Rainha - disse para a fiel amiga tons mais altos que o necessário.

O que ?

– Se sua Mãe diz, é melhor escutar, não?-  gargalhou o Rei.

O que?

– e-eu eu é...

– Aa vamos, deixe isso, ainda és muito novo, e além do mais sempre soube que se casaria em prol de ligações com outras casas.- levantou-se apoiando as mão nos esculpidos braços da cadeira. - Levante-se, virá comigo. Hoje nós temos de... temos de.. mas que diabos, o que era mesmo?? Jaquen!- Gritou gruturalmente- o que temos para hoje?

O intendente do Rei se aproximou-se rapidamente e desajeitado com um pergaminho branco saltando da mão. Quando finalmente o estabilizou anunciou pomposamente:

– Vossa Graça, hoje tens de vistar as cinco torres da Guarda Real Dourada, receber 36 aldeões com queixas ou pedidos, organizar alguns lugares na corte que estão gerando discordância entre alguns fidalgos, nomear três homens para a Guarda e..

– E acabar o dia. Pensei que hoje era minha folga.- resmungou Liam.

– Quando eu tinha 7 anos já acompanhava o senhor meu pai por todas as tarefas, observando e aprendendo, vendo e decorando garoto.

– Claro Senhor, mas... e essa história de Boa Rainh.. - O Rei riu e juntos dirigiram-se aos estábulos.

Acabou que tudo ocorreu mais rapidamente que o esperado; alguns aldeões tinham se fartado e fazendo justiça com as próprias mãos deixando seus próprios julgamentos então para Sor Mykiel e Sentenciadora. O jovem príncipe aproveitando a distração, esgueirou-se em Trovão e cavalgou em busca do melhor amigo.

Foi encontra-lo apoiado numa parede conversando sorridentemente com uma jovem garota dos estábulos.

Greg era mais velho do que o jovem príncipe; com dois anos de diferença, tinha 15 anos e músculos e altura a mais.

Ainda muito pequeno, Greg viu a vila pesqueira onde nascera e crescera ser totalmente saqueada e destruída por piratas, que sem mostrarem piedade haviam passados todos pela espada. Sem família e destino, foi encontrado pela Ordem Final, após dias, caminhando e chamando pelos pais por entre os destroços carbonizados. Como único testemunho e sobrevivente, foi levado por um cavaleiro dourado, enquanto os Irmãos Finais, davam paz com suas espadas aos moribundos e recolhiam os pertences valiosos.

Interrogado, não soube responder a nenhuma das perguntas, pois, havia se amedrontado e se escondido numa saliência entre duas paredes de pedra. Piedosa, a Rainha Elena exigiu que o garoto fosse acolhido, ao invés de ser posto sozinho ao mundo novamente. Não muito depois, Príncipe e agregado viravam inseparáveis.

A garota ao ver o príncipe se intimidou e correu, derramando  liquido do balde que tinha, no chão.

– Ah Liam, sua vossa realteza espantou a Mia.

– Não era Lia?

– A mas que bobagem, claro que essa era... acho que essa era... bem, escuta, Sua Real presença não é exigida em qualquer outro lugar não?

– Na verdade sim. Mas é tudo muito... entediante. Eu quero, veja bem, conhecer uns lugares, mas sabe, não dá para observar muita coisa com trezentos guardas do meu lado e..

–... e você quer sair sozinho das muralhas?

– É, e você vai me ajudar é claro.- disse abrindo um largo sorriso branco.

– Ah não, não vou mesmo. - disse se aproximando de seu cavalo na coxia.- Alguém te mata e a culpa e de quem, quem mesmo? ah já sei! Minha.

– Entendo. Tudo bem se não quiser me ajudar, inclusive estou indo ver o Mestre de Armas para ferrar Trovão e acho que podia deixar escapar acerca de quem estava com a filha dele e...

– Isso é golpe baixo sabia- e subiu na cela de seu belo malhado marrom- e para onde quer ir, posso ao menos saber vossa altezinência?

– Para onde mais - disse virando seu garanhão Branco- Para o Porto.