Sabe aquilo que dizem sobre pouco antes de morrer a vida passa como um filme bem diante de seus olhos, pois bem, sempre tive medo disso, medo de ver os erros que cometi, os e se que me fizeram tomar caminhos complicados, medo de ver os erros que cometi com ele.

Feixes de luz penetravam a janela e acariciavam o rosto da menina. Bocejando levantou-se e tateou até a muda de roupa mais próxima, uma blusa leve de linho branco encardido, e uma calça de samito grosso marrom. Por cima um colete justo de couro, ou tão velho e gasto quanto. Sentindo-se dolorida, desceu os rangedores degraus e pensou em como o dia anterior havia sido longo.

No dia anterior, sua mãe a havia encarregado de ajuda-la na venda das caprichosas rendas feitas pela mulher. Seguiu com a grande cesta enquanto a mãe batia de porta em porta, anunciando o produto. Por vezes Arya se desequilibrava, ou tropeçava em uma pedra pois não prestava a atenção no caminho. Nunca havia visto aquela parte do porto, e assim estava decidida a não perder um só detalhe.

Agora entendia o motivo das advertências dos pais sobre ir muito longe, naquele lugar perigoso. Com grandes Navios cargueiros descarregando, e carregando suas cargas, shows de gritos de grandes marinheiros suados, mulheres despidas oferecendo.. bem, a si próprias, não parecia um lugar onde uma pequena menininha poderia ficar.

Bem, ela não pensava isso.

Ao percorrer as estreitas ruelas de terra, observou que as casas naquela parte do porto não eram tão diferentes quanto o resto que já tinha conhecido.

As casas vinham desde onde o olhar alcançasse, e eram em sua maioria de pedra e madeira envelhecida,  tanto pela maresia quanto pela ação do tempo.

Os moradores. Arya também os tinha observado, e como todos estavam estranhos aquele dia. Mais... agitados.

Cargas e navios saindo bem mais rapidamente, mulheres chamando seus filhos, ferreiros gritando o preço de suas espadas, o caus ali geral parecia não afetar somente um grupo de homens diferentemente vestidos, com espadas embainhadas e penas e couro marrom adornados em seus casacos e calças. Eles, diferente de todos, dançavam e cantavam, acompanhados de mulheres de beleza exótica, com parte dos seios proeminentes de seus decotes.

mas que diabos eles cantam e sorriem tanto, justamente hoje, quando parece que o mundo vai acabar!

Arya interrompeu seus devaneios, após um safanão e um "cuidado com essas rendas menina" de sua mãe que, após a repreensão seguiu para onde o olhar da garota estava anteriormente focado, dizendo:

–Não encare aquele tipo de gente Arya, são imundos e sujos de todas as maneiras possíveis, roubam e matam! Odeio quando vem para cá - resmungando a ultima parte como que para ela mesma.

– mas mãe eles, não sei...parecem tão... felizes

– Mas só pudera, vagabundeando a vida toda! Piratas, vamos minha filha.

piratas.

Tinha um pirata olhando pra ela.

Pela milésima vez naquele dia, era o que parecia para a garota de curtas pernas, a mãe bateu a porta de uma velha conhecida, uma mulher rechonchuda de aparência cansada; Jenna com seu melhor sorriso amarelo puxou um pano grande da cesta. A garota já se preparava para ir embora ao ouvir a resposta negativa da cliente, quando o rumo da conversa mudou e um assunto surgiu entre as comadres.

Apurando os ouvidos, captou:

–.... Gerald foi ao ferreiro, botar ferraduras no asno, nunca se sabe quando uma fuga é necessária.

– Acha mesmo que essa conversa que esta circulando, é .. verdade?- perguntou a mãe da garota.

– Claro, eles vão roubar algo grande, só os deuses sabem por que é que ainda não o fizeram e todos aqui temem uma represália real, já que para a corte tudo de ruim se passado na cidade tem algum dedo dos moradores do porto. Por eles todos aqui poderiam pegar uma doença e morrer de uma só vez!

O rosto de Jenna virou instantaneamente para a filha que rapidamente se pôs a disfarçar dando um assobio e uma raspadela com seu pé, no chão. A mãe logo se despediu, e começaram a fazer o caminho de volta.

Após um momento de compreensão,  Arya puxou sua mãe pedindo:

–Posso ir ver o Ruy? ele deve estar na ferraria do pai, não é longe e prometo que volto logo- se adiantou.

–Unn- Jenna pensou, batendo o dedo indicador levemente sobre o lábio inferior - O.k. mas... não se demore!

Arya correu para a ferraria do pai de Ruy, onde sabia que iria encontrar seu melhor amigo e companheiro de duelos de espadas travados constantemente pelos dois. Ao virar a esquina foi bruscamente parada por uma mão forte em seu ombro, o que a fez perder o equilíbrio e cair de costas no chão, usando os cotovelos pra se apoiar foi obrigada a olhar para cima por uma voz:

–Hey garota não sabe responder quando um pirata chama? Principalmente um pirata como eu, o grande Jack Sparrow!