Colégio Interno escrita por Híbrida


Capítulo 51
Perna quebrada, nova vadia e pães de queijo




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Ok, você deve estar pensando: que amizade doentia é essa que você nutre com esse garoto? É a minha. Me deixem. Somos amigos de mordidas, e isso pra nós, é normal.

Enfim. Terminamos de comer e resolvemos cabular as últimas duas aulas. Eram Francês II pra mim e Biologia para Bernardo. Subimos ao quarto e, ao chegar lá, Natalie fazia suas malas. Me encarou com um sorriso triste.

— O que foi?

— Vou ser transferida pro Instituto na França. Vão se ver livres de mim.

— Finalmente – sussurrei – Ãhn... Ajudo a levar suas malas lá pra baixo.

Ela assentiu e descemos com suas malas. Quando lá chegamos na escada de uns seis ou sete degraus, simplesmente do nada, ela me empurrou no chão, onde havia uma grande poça d’água. Era naquele horário que os tios da limpeza lavavam a sacada do prédio. Fitei-a, horrorizada.

— Mas que porra é essa?! – gritei

— É só pra você sentir como é se sentir humilhada, sem valor nenhum. Até mais ver, Froidefan.

— É FROIDEFONDE! – gritei.

Então percebi que minha perna simplesmente doía demais para que eu pudesse levantar. Suspirei, esperando que alguma boa alma resolvesse passar por ali pra me ajudar. Foi quando o inspetor de alunos chegou e me fitou por alguns instantes.

— Está tudo bem?

— Não – respondi, fitando meu joelho – Minha perna, sr. Conus. Acho que a quebrei.

Ele assentiu e prontamente me ajudou a levantar. Apoiando-me, caminhamos até a enfermaria. A enfermeira apenas fitou minha perna e começou a puxá-la para os lados, apertar meu joelho e eu, como qualquer pessoa normal, comecei a berrar!

— O que a senhora está fazendo?! – gritei

— Dói?

Eu nem me dei ao trabalho de responder. Apenas joguei o corpo pra trás e ela entendeu o recado. Perceberam, então, que teriam de me mandar para o Hospital Universitário de Genebra, o mais perto dali. Suspirei, fitando-os.

— Posso chamar alguém pra ir comigo?

— Quantos amigos a Srta. gostaria de levar? – perguntou o inspetor, conhecendo minha fama.

— Cinco, se não for muito incômodo, senhor.

Thiago, Bruna, Gabriel e Bernardo e Rodrigo. Os outros ficariam putos? Bastante. Principalmente Gustavo. Mas eu não podia simplesmente enfiar onze – doze, se eu contar o pequeno Ivan, que agora fazia parte de minha vida – adolescentes dentro de uma vã e leva-los para o Hospital. Não seria uma coisa legal a se fazer. Quando os garotos apareceram no quarto, me encararam por algum tempo.

— Mas que merda você fez? – sussurrou Bernardo, em português.

Expliquei-lhes toda a ceninha de Natalie e vi os olhos de Bruna se espremendo até quase fecharem. Ela massageou as têmporas e soltou um suspiro profundo. Sabia o que ela estava pensando: em matar a garota que havia feito aquilo com sua melhor amiga.

Segurei sua mão e sorri docemente pra ela. Bruna entendeu o recado e desistiu dessa ideia de vingança. O inspetor pediu pra que eles me ajudassem a caminhar até a ambulância, que nos levou ao hospital.

E esta não é uma parte interessante que eu acho necessária de ser narrada. Fiz um raio-x, descobriram que minha perna estava realmente quebrada, a engessaram, voltei para o Instituto. Quando lá cheguei, fui encaminhada a sala do diretor com meu atestadinho médico. Ele o encarou e me fitou.

— Você quer voltar pra casa enquanto sua perna melhora ou deseja apenas ficar alguns dias de repouso, Srta. Froidefond?

— A segunda opção me parece viável, senhor. Entregarei meus trabalhos todos na data. Gabriel me levará a matéria, não há com que se preocupar.

— Felizmente, nós podemos esperar mais de suas notas do que de seu comportamento, Srta. – disse ele, sorrindo – Você tem notas tão boas que poderia sambar na minha cabeça.

Ele disse “sambar” de uma forma engraçada, devido a seu forte sotaque alemão. Aquele homem era um poliglota incrível. Sorri pra ele, agradecendo e me apoiando naquelas malditas muletas pra subir até o quarto.

Quando a porta do elevador se abriu, revelando uma pequena Amanda com muletas quase maiores do que ela, Bernardo, Bruna e Rodrigo saíram correndo pra me ajudar. Quando consegui me instalar no sofá, reparei que na cama de Natalie, estava a novata que conheci durante a chegada de Bernardo.

— O que ela faz aqui? – sussurrei.

— Pelo visto, veio roubar o lugar da Natalie – sussurrou Bruna de volta, bufando e se ajeitando no sofá – Temos uma nova vadia entre nós, minha querida. Seu nome é Lisandra. Porém, ela tem um irmão.

— E daí?

— Ele é amável.

Ela deu os ombros e eu a encarei, maliciosamente. Ela apenas riu e não falou mais nada. Deitei a cabeça no sofá e suspirei, entediada. A garota nem fazia questão de ir lá ver se eu estava bem. Era verdadeiramente uma vadia e eu não gostei dela logo de primeira. Puxei Bernardo pra perto com a perna boa e ele riu, afagando-a. Não sei de que buraco do inferno o garoto tirou uma caneta e escreveu em meu gesso. “Minha só minha”

É difícil fazer o namorado da gente gostar de um melhor amigo tão possessivo.

Suspirei, sorrindo e afagando seus cabelos. Ele subiu pra sentar-se ao meu lado e Gabriel entrou quarto adentro, com um copo de chococino e um bolinho. Sorri docemente e o puxei pra um abraço.

— Obrigada, meu amor – sussurrei.

Ele deu os ombros e eu comi. Bê saiu de lá para que ele pudesse se sentar e suspirou, rumando à cozinha.

— Acho que vou preparar uns pães de queijo.

— Agora?! – perguntei, empolgada.

— Sim, mas estou sem minha ajudante favorita. Não será uma missão fácil. Mas preciso fazê-la pra agradar a enferma.

— Eu faço com você – disse Thiago

— Não deixem Thiago entrar na cozinha!

— Foi só uma omelete, tá legal?! – gritou Thiago, fazendo-me gargalhar gostosamente.

De repente, todos aqueles que haviam ido para o hospital comigo foram ajuda-lo a preparar pães de queijo. Ajeitei-me sobre o sofá e Gustavo sentou-se ao meu lado.

— Como está a perna?

— Dói – respondi, tentando sorrir – E não vou poder dormir acompanhada por um bom tempo.

Ele abriu um sorriso malicioso e eu lhe dei um tapa, fazendo-o rir mais ainda. Comentei com ele que eu e Gabriel nunca havíamos feito nada e ficamos conversando sobre isso e coisas da vida enquanto os outros estavam na cozinha. Chegamos ao assunto que mais tentei evitar: nós dois.

— Um dia você já pensou em ficar comigo?

— Já, Gu – respondi, suspirando – Mas o que eu tenho com o Gabriel é diferente de qualquer outra coisa que eu já tenha tido na vida. Se assemelha ao meu primeiro namoro, entende?

— Eu entendo. E só de saber que você já pensou na hipótese, já me deixa feliz.

Ele sorriu e mudou de assunto, para meu alívio. Continuamos ali sentados fofocando sobre os dois novatos: o garoto estava tão isolado quanto ela. Mas Lis já tinha mostrado as asinhas e dado em cima de Lucas, o que não deixou minha pequena Bruna nada feliz. Voltaram para a sala com uma fornada de pães de queijo e eu sorri pra Bernardo.

— Você é o melhor – sussurrei, abraçando-o e mordendo sua orelha.

Bernardo soltou um gemido, mas sorriu e me abraçou depois disso. Sentamos em frente à TV e todos, com exceção da novata, comemos pães de queijo enquanto assistíamos à Dr. House.

Há alguns dias, comentei que me sentia completa aqui. Eu estava errada.

Ainda faltava um pouco pra me sentir assim. Eu precisava de Bernardo, e percebi o quanto esse garoto faz diferença em minha vida. Ao vê-lo sentado entre minhas pernas apoiando a quebrada em seu ombro, eu tive a certeza de que aquele garoto tinha consigo um pedaço do meu coração. Agora que ele estava aqui, era como se finalmente, tudo estivesse em seu devido lugar.


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