– Ah, eu sou Percy Jackson.

– Sim, você já disse isso - ela disse, séria.

– Ah, claro - falei, me sentindo um verdadeiro imbecil. - Você estuda na Minerva?

– Estudo.

– Eu também estudo lá.

– É mesmo? Acho que nunca tinha te visto antes, Percy Jackson.

– Eu sou novo. Entrei lá essa semana.

– Ah, então é por isso que você tá isolado aqui?

– Como?

– Você ainda não se enturmou, né?

– Eu... Hã... Não... Mais ou menos.

– Não se preocupe, você parece ser bacana. E é bonitinho. Vai se enturmar fácil.

– Eu sou o que? - perguntei, meio sem acreditar no que ouvi.

– Bacana - ela disse, com uma expressão divertida.

– E o que mais?

– Acho que só isso. Não disse nada que pode deixar um de nós constrangidos e em um silêncio desconfortável, se você quer saber.

Eu sorri. Troquei o pé de apoio. Senti um frio na barriga. Eu nunca fui bom no velho jogo do flerte. Bebi os últimos goles da minha garrafa de Ice. Eu me sentia leve e feliz.

– Você quer beber alguma coisa?

– Eu não bebo nada alcoólico. E odeio refrigerante também.

– E o que você bebe?

– Bem, água. E suco.

– Nossa, você é daquelas pessoas veganas?

– Não. Eu só não bebo álcool e refrigerante.

Percy franziu a testa. Não estava indo nada bem. Desejou por um instante ser capaz de voltar no tempo e dizer apenas as coisas certas.

– Então o que você bebe nas festas?

– Peço um copo de água ou sei lá.

– Já eu sou viciado em refrigerante?

– Você sabia que isso faz mal.

– Eu sei, por isso que é um vício.

– Acho que você está certo - ela disse, dando um singelo sorriso. Ela abriu a boca para dizer algo, mas foi interrompida pelo toque do celular. - Alô? Oi, pai... - disse com uma voz desanimada. - Sim, estou na rua Doze. Sim, estou. Não, mas eu... Mas eu não... Acho que sim. Talvez. Claro, claro. Certo. Já vou.

E desligou o celular, triste.

– O que foi?

– Tenho que ir, Percy Jackson. Até mais - disse, saindo sem esperar a resposta.

– Adeus, Rachel Elizabeth Dare.

Depois dessa, decidi ir embora. Antes, dei mais uma volta pela casa. Encontrei Will Solace dançando com Katie Gardner, avistei os irmãos Stoll fumando maconha, Michael Yew dançando em cima de uma mesa e Annabeth sozinha em um canto, apoiada na parede. Desta, me aproximei.

– Annabeth?

– Oi, Percy - ela respondeu. Estava com os olhos vermelhos.

– Tá tudo bem?

– Está - falou. Era claramente mentira, mas decidi que era melhor deixar para lá.

– Ah, ótimo. Bem, eu vou nessa - falei, girando nos meus calcanhares.

– Você já vai? - ela perguntou, segurando no meu braço. Congelei.

– Sim, já estou indo.

– Tão cedo assim?

– Eu acho que não sou bom com festas. Ou elas não são boas comigo, sei lá - brinquei. Rimos.

– Posso ir com você? Prefiro não ir sozinha.

– Claro. Mas cadê o Luke?

– Ah, ele foi embora mais cedo. A gente discutiu.

– Hum, desculpe por isso.

– Obrigada. Vamos?

– Vamos - respondi.

Caminhos em silêncio por um bom tempo e tive a impressão que o tempo desacelerou. Simplesmente não sabia o que dizer para ela, como puxar uma conversa, por qual assunto. Afinal, mal a conhecia. Eu só sabia que ela queria ser arquiteta.

Registrei que a lua brilhava bonita lá no céu, registrei que ventava pouco, registrei os nomes das ruas em que passamos, que fazia frio e que Annabeth já estava com olhos secos. Mas não entendia porque estava tão nervoso, afinal.

– O que achou dessa primeira semana, Percy?

– Achei ótima. Nunca estive em um colégio que chegue a dez por cento daqui.

– Verdade - ela sorriu. - E os professores daqui são ótimos, sabe?

– É verdade?

– Sim - ela disse, estranhamente empolgada, já que eu nunca vi alguém falar com tanta felicidade da qualidade dos professores. - Estamos em terceiro lugar no ranking de melhores escolas do mundo.

– Do mundo? E qual são as duas primeiras?

– Uma escola canadense e outra britânica.

– Acho que isso é uma grande responsabilidade para os alunos, não acha?

– Como assim, Percy?

– Porque se os professores são comprovadamente tão bons, nós temos quase a obrigação de se sair bem nas notas, não é?

– Bem... Eu nunca pensei desse jeito, sabia? - ela disse, com o olhar vago. E riu: - Acho que você está certo.

– É, isso acontece algumas vezes - respondi. Ela riu.

– Você é engraçado, Percy Jackson.

– Obrigado, Annabeth.

Ficamos em silêncio por alguns segundos que pareceram horas. Os olhos cinza dela eram penetrantes e atentos.

– Então... Você quer entrar pro time de basquete, não é?

– Hã, sim. Quero sim.

– No ano passado, quase conseguimos o título. Mas perdemos nas semifinais. Luke e os outros ficaram arrasados.

– Beckendorf me contou. Não poderiam deixar de ficar, né?

– É... - ela continuou. - Espero que você traga um pouco de sorte para a gente.

Chegamos finalmente na entrada dos nossos respectivos dormitórios.

– Tchau, Percy. Obrigado pela companhia.

– Disponha, Annabeth.

– Você é bem legal mesmo. Tchau! - disse.

– Tchau! - respondi. Nos encaminhamos para os nossos dormitórios. Passei por um dos coordenadores, que dormia sentado em sua cadeira.

Ao entrar no quarto, Tyson e Nico estavam deitados, mas ainda acordados, conversando.

– E aí, Percy? Já voltou? - comentou Nico.

– É, estou meio cansado. E vocês?

– Ah, eu passei mal. Multidões acabam me deixando nervoso - explicou Tyson.

– E eu vim embora com ele - adicionou Nico. - E você, por onde se meteu? Você sumiu, cara!

– Eu me perdi de vocês, fiquei zanzando e só.

– E se divertiu muito? - perguntou Tyson.

Pensei por alguns instantes, ponderando minhas aventuras na noite. Pensei em dois momentos: a estranha conversa com Rachel Elizabeth Dare e a volta para casa com Annabeth. Respondi com firmeza:

– Bastante.