Durante a semana que se passou em Minerva, eu sabia que não era precipitado dizer que aquela era a melhor semana da minha vida, pelo menos até então.

Na terça-feira, joguei basquete com o pessoal a manhã inteira. Beckendorf, que faz parte do time, disse que eu teria vaga como armador e me pediu para me inscrever nos testes. Eles me levaram até um homem baixinho e com cara de brigão, o treinador Hedge.

– Treinador, treinador! - chamou, com sua voz potente e firme. - Este é o Percy Jackson.

– Hã, legal. Eu sou o treinador Hedge - disse para mim. Depois, se virou para Beckendorf: - E daí?

– Ele é novo no colégio.

– E daí?

– Eu joguei basquete com ele pela manhã, acho que ele poderia ser o novo armador do time. Afinal, não temos ninguém pra vaga.

– Hum, interessante - disse o homem, com sua expressão se suavizando um pouco. - Ele é bom?

– Sou bom sim - respondi, com mais confiança na voz do que eu realmente tinha.

– Ele é bom mesmo - emendou Beckendorf. - Pergunte ao Luke, ao Tyson, ao Grover... Ele é bem rápido também, mais do que o Jason. E passa melhor também.

– Certo. Que ótimo, estamos precisando mesmo de novos jogadores. Nosso time é forte, mas ainda não é o ideal - falou, coçando o queixo. Dirigiu-se a mim, então: - Jackson, meu jovem, os testes serão em duas semanas. Seja tão bom como Beckendorf disse que você é e estará no time.

– Ótimo - respondi. O treinador se despediu e andou até a sua sala. Beckendorf começou a falar sobre o time do colégio.

– Nosso time de basquete é muito tradicional, já ganhamos o campeonato cinco vezes. No ano passado chegamos nas semifinais e perdemos a vaga no segundo tempo da prorrogação. Dia duro, aquele... - disse, olhando tristemente para a quadra. Após um breve silêncio melancólico, prosseguiu: - Alguns jogadores acabaram se formando e estamos precisando remontar o time. A coruja vai voltar a voar.

– Coruja?

– É o nosso mascote. Sabe, a coruja é o símbolo da sabedoria e Minerva era a deusa da sabedoria romana. Aí ficou Minerva Owls.

– Entendi.

– E o bom é que o nosso time é cheio de amigos. Dois dos seus companheiros de quarto jogam nele: Tyson e Grover. Tem o Luke, o Jake Mason, o Jason, o Leo... Jogamos entre amigos, praticamente.

Fiquei animado. Afinal, seria um ótimo meio para me enturmar, fazendo parte do time. E pensando de forma um tanto egoísta, seria bom ser um atleta para ganhar popularidade e conhecer garotas.

Depois, voltamos para o meu dormitório. Beckendorf ficava no mesmo corredor que o meu. Ao chegar no quarto, encontrei os meus três companheiros conversando, cada um sentado em sua cama.

– Como foi com o treinador Hedge? - perguntou Grover.

– Foi bem. Vou fazer o teste.

– Legal - sorriu. - Sabe, eu e o Tyson somos do time.

– Já eu, não. Sou um desastre no basquete - comentou Nico, fazendo graça.

– É, é um desastre mesmo - concordou Tyson.

– Por falar nisso, vamos almoçar? Estou cheio de fome...

– Aonde? - perguntou Tyson.

– No refeitório - sugeriu Nico. - Tenho que economizar nesse começo de ano.

– O que acha, Percy? - perguntou Tyson.

– Acho uma boa ideia - respondi. E fomos almoçar no refeitório. Pela primeira vez, eu me senti realmente parte do grupo. Fiquei mais solto, até tive coragem de contar algumas piadas. Grover era facilmente o que me mais me senti próximo. Era como se eles tivessem nascidos para ser melhores amigos. Tyson era uma criatura extremamente afável, doce e, por consequência, cativante. Já Nico era mais distante, mas acho que criamos uma boa dinâmica.

Ainda conversamos rapidamente com a namorada de Grover, Juníper. Ela não se sentou na mesa porque a avó passara mal e ela ia passar essa semana de adaptação da Minerva com ela. Assim, ela se despediu do namorado e prometeu voltar antes da festa de boas vindas. Ainda falamos com Luke e Annabeth, os dois de mãos dadas, que souberam pelo treinador Hedge que eu faria os testes para o time de basquete e vieram me desejar sorte.

Depois do almoço, ficamos andando e conversando pelo campus até que eu me lembrei de que queria dar uma olhada na loja de discos. Desta vez, o pessoal não quis me acompanhar e fui sozinho. Entretanto, pelo caminho, encontrei Lee Fletcher, Michael Yew e Will Solace. Eles me reconheceram antes que eu os reconhecesse.

– E aí, Perseu? - falou o mais baixinho.

– Hã, e aí? - respondi.

– Acho que ele nem reconhece a gente, Michael - disse o outro, rindo.

– Claro que reconheço. Você é o Will Solace, certo? Você é o Michael Yew e você é o Lee Fletcher.

– Na verdade, eu prefiro Will. E acho que eles preferem Michael e Lee também - riu.

– Certo. Mas só se vocês não me chamarem de Perseu. Prefiro Percy.

– Claro - comentou Lee. - Você não gosta do seu nome, cara?

– Perseu é feio pra caralho - respondi.

– Que nada, maluco! - contrapôs Michael, que apesar de ser baixo, transmitia bastante eloquência com a voz. - Perseu é um nome maneiro, que impõe respeito.

– Impõe respeito na Grécia, há milhares de anos atrás. Hoje é estranho - argumentei.

– Bem, eu discordo. Mas já que você quer assim...

– Tá indo pra Williamsburg, Percy? - perguntou Will.

– É, estou indo pra loja de discos.

– Sério? - falou Michael, quase gritando. - Nós também!

– Você gosta de música, então?

– Certamente.

– E você ainda está na vanguarda da música, ouvindo discos?

– Eu gosto mais de ouvir em discos do que em CD ou na internet. Dá um ar mais nostálgico, não acham?

Começamos a conversar sobre as nossas preferências musicais. Lee tinha o gosto mais alternativo e experimental, sendo fã de umas bandas bastante obscuras. Michael curtia o rock como um todo e demonstrou um intenso conhecimento sobre os diversos gêneros. Já Will era mais indie. Já eu era mais eclético, gostando de tudo um pouquinho.

Na loja, encontramos Thalia, que usava uma maquiagem mais pesada do que quando a conheci. Ela rapidamente se aproximou de nós e puxou assunto. Thalia, como não poderia deixar de ser, era fã convicta de punk e suas variantes. De fato, ela usava uma camisa do Sex Pistols naquele dia.

Comprei apenas um disco e dois CDs e voltei para o dormitório. Lá, convenci aos meus colegas de quarto a deixarem eu levar meu aparelho de som para o quarto, prometendo deixar todo mundo usar. Jantei com Tyson e Grover (Nico estava sem fome) e jogamos carta no saguão do dormitório até tarde da noite.

No dia seguinte, quarta, combinei com o pessoal de treinar para conseguir entrar no time. Joguei com Grover, Luke, Tyson, Jason, Chris Rodriguez, Jake Mason, Beckendorf, Frank Zhang e Leo Valdez, que eram basicamente todo o time do ano anterior que não tinha se formado. Apenas um dos jogadores não estava lá, Octaviam. Grover revelou que ele não era muito querido pelo time.

Treinei bem e no final eu percebi que o treinador Hedge nos observou, enquanto conversa com um cara baixinho e careca.

– Aquele é o senhor Leneu, professor de matemática. São muito amigos os dois.

Almoçamos juntos e voltamos a treinar, sendo assistidos por alguns dos alunos mais novos e por algumas garotas, como Annabeth, Silena, Clarisse e Piper. Depois, exaustos, tomamos um banho e ficamos jogando conversa fora pelo resto do dia. Em certo momento, percebi que Annabeth havia se afastado e estava lendo. Decidi tentar conversar.

– E aí, Annabeth?

– Perseu - cumprimentou.

– Percy, por favor - disse, e ela sorriu. - O que está lendo?

– Uma revista de arquitetura.

– Você gosta de arquitetura, então?

– Gosto bastante, quero ser arquiteta, sabe? E você?

– Eu nunca tinha parado para prestar atenção em arquitetura, mas deve ser algo difícil e interessante. Acho que gosto.

– Não... - ela disse, dando uma risada. - O que você quer ser? Qual carreira?

– Sabe que não faço ideia - respondi. - Não tenho muita aptidão para nada.

– Isso não deve ser verdade - ela falou, consoladora. - Você não tem nem ideia?

– Nenhuma.

– Então acho melhor descobrir rápido - concluiu.

– É verdade.

– Annie, o que está lendo?

– Aquela revista de arquitetura, Luke - respondeu. - Estava explicando isso ao Percy agora.

– Pois é, Annabeth é a pessoa mais inteligente que eu conheço. Se ela quiser seguir qualquer carreira, ela consegue.

– Obrigado, amor - respondeu, sorrindo e esticando para dar um beijo na boca no namorado.

– Percy, vamos até a cafeteria - chamou Grover. - Você vem?

– Claro.

– E vocês dois?

– Vamos, amor? - perguntou Luke. Annie deu um leve aceno dizendo que não. - Vamos ficar por aqui, Luke.

– Beleza. Vamos logo então, Percy - falou Nico. - Juízo vocês dois, hein?

Todos rimos. Depois de tomar um café e bater um papo atoa, voltamos pro saguão do dormitório e jogamos mais cartas, até algumas meninas dessa vez, sob os olhos atentos de um dos coordenadores de Minerva, Argo.

– O Argo é legal, mas justo. Não vacile perto dele - aconselhou Grover.

Na quinta, fomos até o saguão do dormitório das meninas e passamos o dia quase todo lá, só saindo para almoçar e jantar. E de noite, fomos expulsos por Dionísio de lá:

– Vocês já conversaram o suficiente, rapaziada. Saiam daqui antes que os hormônios deixem vocês fazer algo estúpido. Ouvi bem, senhor Castellán?

Na sexta, minha mãe levou de carro o meu aparelho de som, junto com os discos da minha coleção. Passei o dia todo ouvindo música no quarto e apresentando novos ritmos à Nico, Grover e Tyson. Inclusive, Will, Lee e Michael passaram lá e conversamos sobre música também.

Naquele dia, eu me senti realmente integrado aos meus novos amigos. Bem em hora, já que no dia seguinte seria a tal festa de boas vindas. Devo admitir que estava bastante ansioso. Não costumava a ir muito em festas, especialmente porque sempre tive poucos amigos e porque nunca parava em colégio algum. Mas eu estava disposto para que isso mudasse.