Olhei para trás e vi a figura de Matt parada no porta, de braços cruzados e ainda com o uniforme de educação física. Voltei a organizar as coisas e disse:

— Você vai se atrasar para o próximo horário.

— Tudo bem, digamos que não estou a fim de assistir aula.

Respirei fundo, e disse calmamente:

— Tudo bem, eu arrumo sozinha.

— Já que não posso te ajudar, ficarei aqui olhando você arrumar tudo.

Olhei para trás e ele tava lá, com aquele sorrisinho besta estampado na cara. Quem ele pensa que é? Me ignorou há alguns minutos atrás no corredor e agora está se fazendo de mocinho que ajuda garotas que estão de castigo. Matt engana a todos da Summerhill, mas Melanie Strauss ele não engana.

Depois de tudo que aconteceu na noite passada, eu queria era ficar sozinha apenas. Nem que seja sozinha em um deposito empoeirado, com pouca iluminação e cheio de tralhas as aulas de educação física, mas o Herói da noite anterior estava lá, me observando.

Conforme eu ia de um lado pro outro no deposito, ele me acompanhava com o olhar. Aquilo já estava me incomodando quando eu finalmente me irritei e disse:

— Será que dá pra parar?

— Mas, o que eu fiz Mel?

— Você está aqui Matt, esse é o problema. E você está me olhando. Isso me incomoda. Será que não percebe quando está deixando alguém desconfortável?

Ele levantou, veio até mim e tirou uma caixa grande que estava em minhas mãos e me encostou na parede. Ok, agora eu realmente estava desconfortável. Direcionei meu rosto pra baixo e cerrei os punhos. Minha vontade era de socar Matt. Ele tinha o dom de me tirar do sério sem ao menos dizer uma palavra.

Ele Pegou meu queixo e ergue com uma das mãos e ficou me olhando nos olhos. Aqueles imensos olhos azuis me fitavam de uma forma diferente. Senti meu lábio inferior tremer e ele parou o espasmo com o dedo indicador.

Só ali tão perto de Matt que eu pude perceber como ele era alto. Minha testa ficava na altura de seu queixo, e eu sentia sua respiração movendo minha franja. Ele parecia... nervoso. Quando finalmente consegui olhar para o rosto dele de novo, ele tinha um sorriso gigante no rosto. E ao contrário de antes - que seus olhos estavam gigantes- agora eles estavam pequenininho. Parecia que sorriam junto com seus lábios. Sorri um pouco desconfortável e abaixei meu rosto novamente. Mas dessa vez ele colocou uma das mãos em minha nuca, e a outra na minha cintura e colou meu corpo no dele. Trinquei os dentes de dor, ele tinha apertado bem em cima de um dos meu hematomas da surra da noite anterior. Ele percebeu minha cara de dor e perguntou assustado:

— Mel? Tá tudo bem?

Coloquei a mão no machucado e disse:

— Não tá tudo bem é que...- mal terminei de falar e ele ergueu minha blusa expondo um arroxeado de 5 centímetros. Ele arregalou os olhos me puxando para uma área mais iluminada e disse:

— Meu Deus! O que houve Mel?

— Acho que foi ontem a hora que o cara me jogou no chão - menti.

— Não pode ser Mel, tu caiu de costas, não era pra estar machucado assim na sua barriga.

Tirei a mão dele e abaixei minha blusa. Escutamos uns passos no corredor e em seguida veio a voz da senhora Johnson:

— Senhorita Strauss. Já terminou de organizar o depósito?

— Ai meu Deus Matt, se esconde ai. - enfiei ele de baixo de umas lonas e voltei à prateleira de bolas.

A professora entrou no depósito e disse:

— Tudo bem, acho que já está bom por hoje. Pode pegar seu material, já vai bater o sinal pra saída.

Desci da banqueta onde estava e olhei pra lona onde escondi Matt e fiquei pensando em uma maneira de tirar ele dali. Fiquei uns 2 minutos olhando pra lá e a senhora Johnson parecia ter percebido:

— Algum problema senhorita?

Voltei à realidade e disse:

— Nenhum senhora Johnson.- sorri pra ela e saí do depósito. Escutei o barulho dela trancando a porta e pensei: "Ok, agora como tiro Matt de lá?".

Fui até a classe, o sinal já tinha tocado e Meg ainda estava na classe copiando algumas coisas do quadro.

—Oi Meg - disse me sentando perto dela.

— Oi Mel. Como foi a organização no depósito?- disse ela sem tirar os olhos do caderno.

— Um pouco desconfortável. Matt ficou o tempo todo lá observando cada passo meu.

Meg parou de escrever, tirou os óculos, olhou pra mim e disse:

— Melanie Strauss e Matt Evans no mesmo cômodo e ele não explodiu?

— Não tem graça Meg. A parte pior é que a senhora Johnson trancou Matt dentro do depósito e eu preciso tirar ele de lá.

— Calma ai, Melanie quer ajudar Matt? Tá tudo bem com você Mel?

— Eu to meio que... Devendo uma pra ele. Então, vai me ajudar?

— Desculpa Mel, mas já estou atrasada. Hoje é meu primeiro dia de emprego. Não posso decepcionar.

Eu tinha me esquecido. Meg ia começar a trabalhar no período da tarde. E fazer cursinho durante à noite.

— Tudo bem Meg, eu dou um jeito.

Ela se levantou, me deu um abraço e disse:

— Desculpa. Mais tarde te ligo.

Acenei pra ela e quando percebi era a única dentro da sala. Guardei meu material e fiquei pensando em uma maneira de tirar Matt do depósito.

Fui à sala do zelador e inventei uma historia, dizendo que esqueci algo no depósito e precisava procurar lá.

O zelador já era um senhor. Parecia ter uns 60 anos e usava um macacão cinza e um boné na cabeça. Ele passava a maior parte do tempo na sua sala lendo jornal. consegui convence-lo com a minha historia, e ele abriu o depósito pra mim.

Achei que ele me deixaria sozinha lá, mas ele ficou parado na porta, me observando procurar a coisa que eu havia esquecido. Pensei em uma maneira de tira-lo de lá, mas não foi preciso. Um grupo de garotas entraram no ginásio e o chamaram pra fora. ele olhou pra mim e disse:

— Quando encontrar o que perdeu, me avise pra eu trancar o depósito.- assenti com um aceno de cabeça e soltei o ar aliviada.

Fui direto onde estava a lona que eu tinha escondido Matt, mas não havia mais ninguém lá. Senti alguém me puxar pro lado, era Matt. Ele me derrubou em cima de uns colchonetes caindo em cima de mim.

— Matt, tu tá maluco? Sai de cima de mim...

Ele me calou. Mas dessa vez não foi com as mãos. Nem com um travesseiro. Dessa vez ele usou os próprios lábios para fazer isso.