Levantei em um pulo e disse novamente:

— Tá rindo do que palhaço?

Ele olhou pra mim com uma cara de reprovação e disse:

— De nada, Melzinha.

Se tem uma coisa que eu odeio, é que coloquem meu nome no diminutivo. Dá uma impressão de falsidade e ele não tinha o minimo de intimidade comigo pra me tratar assim. Fechei os olhos, respirei, contei até dez e me sentei. Olhei ao redor e a classe toda olhava pra mim, enquanto Matt e a tribo dos otários riam e cochichavam algo (provavelmente) relacionado à mim.

O Sr. Aurélio continuou sua aula de matemática tranquilamente e Meg olhava preocupada pra mim. Na troca de horário saímos para dar uma volta pela escola, e aproveitamos e conversamos um pouco:

— Começou bem hein Mel.

— O que você queria que eu fizesse Meg? Deixasse o Matt e a tribo dos otários rirem de mim por seja lá qual for o motivo?

— Não precisa agir daquela maneira, só acho isso.

— Quem acha, não acha nada.

Andei mais rápido que Meg deixando-a pra trás e fui dar uma olhada no pátio. Havia mudado algumas coisas em relação ao ano passado: a cantina estava mais organizada e o palco mais isolado do resto. Colocaram também um mural novo e pintaram as paredes de azul celeste e um banco mais puxado para o bege. Outra coisa que foi modificada foi o espaço onde os alunos podiam transitar: colocaram grades e portões em quase tudo. Realmente aquilo parecia uma prisão.

O dia passou mais lento que eu imaginava. Parece que foi combinado ter as piores aulas em plena segunda-feira pós-férias. Saímos dois turnos antes porquê faltava um professor.

— Que tal se a gente for andar um pouco no bosque? - disse Meg enquanto eu colocava os livros na mochila.

— Tu não acha que tá meio frio pra fazer trilha?

— Qual é Mel. O que tu vai fazer quando chegar em casa?

— Preciso mesmo responder?

— Um dia aquele computador te abduze. Vamos lá, por favor! Só meia horinha. Pode ser?

Meg tinha o dom de convencer pessoas. Quem em sã consciência resistiria à aqueles olhos mel com cílios extremamente grandes?

— Ok, só meia horinha.

Quando enfim saímos da sala, já não tinha mais ninguém lá. Vi algumas garotas da nossa turma combinando de sair mais tarde e um outro grupo mais à frente a Tribo dos Otários combinavam de jogar basquete na quadra.

Saímos e fomos direto para o parque. Apesar do frio notável de 15º C tinha uma boa quantidade de gente de todas as idades. Senhoras fazendo seus exercícios aeróbico em público, crianças brincando no parquinho e adultos de todas as idades fazendo sua caminhada matinal.

— Mel, eu trouxe um pacote de doritos, acho que você nao vai querer já que hoj…

— DORITOS? Como assim Melanie Strauss rejeitaria DORITOS? Passa pra cá.

Eu e Meg caímos na gargalhada e ficamos relembrando os velhos tempos. Estudamos juntas desde a primeira série e sempre fomos melhores amigas. Ficamos ali sentadas na grama muito mais tempo do que aquela “meia horinha” que foi proposto. Mas eu nem senti esse tempo passar. Nem nos tocamos que estávamos ali pra fazer uma trilha, e nos perdemos em conversas e observando o que acontecia. Estávamos de frente pra um grande lago quando escuto uma voz familiar atras de mim:

— Olá Melzinha.