Não demorou e a atenção de todos no salão se voltou para mim. Percorri o salão com os olhos e os pousei novamente em Bella antes de me voltar para o piano. Querendo ou não, eu ainda era Matheo, e qualquer deslize poderia significar nossa morte.

 

Toquei a canção com todo o amor que eu possuía em meu peito e ainda não podia revelar a minha amada. Mais uma vez desejei voltar no tempo e concertar tudo o que eu tinha estragado.

 

A canção já estava terminando quando arrisquei olhar novamente para Bella. Sua aparência me deixou transtornado, embora houvesse também uma pontada de felicidade.

 

O olhar de Bella estava desfocado, perdido em algum lugar do passado. Desejei que fosse em mim e nos momentos em que tivemos. Não foram muitos, nem foram bons – tirando o nosso primeiro beijo – mas mesmo assim, se ela lembrasse de mim, eu teria a chance de concertar os momentos ruins e transformá-los em momentos perfeitos.

 

Se não fosse em mim, esperava que pelo menos ela estivesse se lembrando de Alexander. E embora isso não fosse exatamente o que eu queria, já era um começo saber que ela lembrava de sua alma gêmea. Depois disso, ela mesma faria a associação entre nós novamente. Seria apenas uma questão de tempo para fazê-la lembrar de tudo.

 

Tempo.

 

Dizem que o tempo é aquele que cura todas as feridas. Que é o apaziguador de brigas, dores e amores. Que nos leva ao esquecimento eterno. Provavelmente todos que disseram isso queriam de alguma forma esquecer alguma coisa.

 

Mas e se o tempo está contra você?

 

Se o que você quer não é esquecer, nem se curar? Se você quer apenas que alguém lembre de como tudo era bom, se você quer manter, com o mesmo furor, aquele amor de antes?

 

Então o tempo é seu inimigo. E a guerra é travada antes mesmo de ser declarada. O mestre ardiloso entra em ação e pouco a pouco transforma as cenas em borrões, amores em paixões, cores em vazio imenso e profundo.

 

E nos deparamos com aquele velho ditado: Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come (N/A: SEEEEEM MALICIIIA OKS?? ^^ )

 

Bella piscou atordoada assim que a ultima nota reverberou no ar. Ela olhou para mim rapidamente, com a expressão assustada, falou alguma coisa com Arthur e saiu do salão.

 

Quis ir atrás dela, mas em menos de um segundo Alice e Jasper estavam ao meu lado juntamente com outros vampiros curiosos por saber mais sobre mim e meu talento ao piano.

 

Respirei fundo. Infelizmente, eu teria que esperar o fim da festa para poder ver Bella e descobrir o que ela havia lembrado.

 

“O que foi isso?” Alice em perguntou num tom entre irritado e preocupado

 

“Estimulo” Respondi simplesmente e saí de perto do piano, dando lugar ao vampiro que estava tocando momentos antes para voltar a tocar.

 

Como eu imaginei, Alice e Jasper me seguiram, mas como eu também já previa, outros vampiros vieram se juntar a nós. O que deixou maiores explicações para outra hora.

 

“Onde aprendeu a tocar tão bem?” Jane perguntou e eu tive que bloquear seus pensamentos antes que eles me enjoassem ainda mais. Parece que de suspeito a intrometido eu tinha virado sua mais nova obsessão.

 

“Minha mãe tocava piano” eu inventei. “Ela me ensinou desde que eu era pequeno” disse sentindo uma pontada de saudade dos meus pais.

 

“Ela devia tocar muito bem” Ela respondeu sorrindo “Quem sabe depois você não poderia tocar mais para mim?” Ela fez uma cara que eu imaginei que para ela fosse sedutora.

 

Olhei para Alice, que olhava a cena boquiaberta, pedindo ajuda e ela prontamente entendeu o recado.

 

“Matheo, não se esqueça de que combinamos de ir caçar hoje a noite” ela disse tentando parecer convincente.

 

“Combinamos isso ontem a noite, lembra-se?” Jasper reforçou a idéia

 

“Hum...” disse como se tivesse acabado de me lembrar “Lembro sim!”

 

Encarei Jane novamente. Ela estava com uma cara de quem não desistiria tão cedo.

 

“Sinto muito Jane, mas nós vamos caçar hoje a noite!” dei meu sorriso torto, mas por habito do que por vontade e me arrependi instantaneamente.

 

Jane sorriu um pouco abobalhada. Tive vontade de dizer a ela o quanto ficava horrível com aquela cara. Somente Bella ficava linda com aquela expressão deslumbrada.

 

“Eu posso ir com vocês então!” Ela disse tentando parecer inflexível “Minha ultima refeição se esvaiu rapidamente. Alguns humanos me serão muito bons!”

 

Senti a repulsa tomar conta de mim.

 

“Não vamos caçar humanos Jane” falei com a voz fria “Vamos caçar alguns animais” dessa vez foi a vez dela fazer cara de repulsa “Creio que não seria muito agradável para você!”

 

Ela balançou a cabeça negativamente. Por fim resolveu ceder.

 

“Tudo bem então. Vão caçar seus animais” ela disse com a voz carregada de desprezo “Terei outras oportunidades de te ouvir tocar” ela piscou para mim e foi para onde Alec e Arthur conversavam.

 

Virei-me para Alice e Jasper e eu devia estar fazendo uma cara muito engraçada, pois os dois começaram a rir instantaneamente.

 

“Qual é a graça?” sibilei

 

“Desculpe Matheo” Alice disse tentando conter o riso “Mas você tem que concordar, é engraçado!”

 

“Não é!”

 

“Ah Matheo!!” Jasper falou ainda rindo “Foi hilário! E meu amigo...” ele disse mudando seu semblante para sério num instante “Você terá muitos probleminhas como esse até irmos embora” Ele voltou a rir descaradamente

 

“Unf” bufei em resposta

 

Assim que os dois pararam de rir, recomeçamos a conversar.

 

“Matheo, você sabe que nós teremos que ir caçar não é?” Alice disse preocupada

 

“Sei” confirmei “Seria muito ruim se ‘alguém’ achasse que nós mentimos”

 

Jasper apenas acenou a cabeça afirmativamente

 

“E isso implica” continuou Alice “que demoraremos mais tempo para ver Bella e descobrir se ela lembrou de alguma coisa!”

 

Aquilo me atingiu duramente. A vontade que eu tinha de largar tudo e ir atrás de Bella era enorme, e saber que eu iria demorar mais tempo do que o realmente necessário para vê-la me deixava apreensivo.

 

“Não poderemos fingir que fomos caçar e voltar mais cedo?” perguntei na esperança de poder diminuir o tempo longe de Bella

 

“Não!” Alice disse e eu sabia que ela tinha razão, mesmo antes dela explicar porque “É provável que algum deles nos siga, você sabe, e também, nós já estamos precisando nos alimentar.”

 

Apenas meneei a cabeça confirmando. Os riscos eram grandes demais para arriscarmos tudo numa imprudência.

 

“Onde poderemos encontrar animais por aqui?” perguntei realmente curioso, eu não tinha visto muitos animais quando passeamos por Volterra, apesar de que, naquela ocasião eu não estava prestando muita atenção.

 

“Conheço um lugar há uns 15 km daqui. Tem um bosque com alguns animais que poderão nos alimentar!” Sugeriu Alice “Acredito que não vamos demorar” ela disse tentando me tranqüilizar “E depois irei direto falar com Bella!”

 

“Mas...” tentei argumentar

 

“Não Matheo! Você não deve ir!” Ela foi categórica “Falarei com você depois de vê-la!”

 

Assenti a contra gosto, mas eu não tinha outra opção, por isso resolvi não reclamar.

 

Uma musica mais lenta começou a ser tocada e Jasper gentilmente tirou Alice para dançar. Segundos depois Arthur parou ao meu lado

 

“Está gostando daqui?” ele perguntou num tom mais amigável do que eu julguei que ele pudesse ter. Se ele não fosse namorado da mulher que eu amo e eu não conseguisse ler sua mente, talvez eu me deixasse enganar por sua falsa cordialidade.

 

“Sim, vocês são muito receptivos” disse forçando um sorriso.

 

“Com certeza somos!” Ele riu ironicamente “Alguém em especial lhe deu essa impressão?”

 

Bella. Foi o pensamento mutuo entre nós.

 

Olhei de soslaio para Jane. Talvez se eu tentasse despistá-lo, ele acreditasse no fato o suficiente para deixar de desconfiar que existia algo entre mim e Bella.

 

Disfarcei o olhar, mas não o suficiente para que ele não percebesse. Ele seguiu meu olhar e sorriu.

 

“Não” respondi evasivo. Sabia que ele não acreditaria “Todos me pareceram muito receptivos!”

 

Ele assentiu e pareceu um pouco mais relaxado

 

“Como você virou... um de nós?” ele perguntou displicentemente.

 

Num segundo toda a minha vida humana me passou pela cabeça. Tentei inventar alguma coisa convincente.

 

“Eu estava acampando com alguns amigos meus perto da Sicília, e uma vampira apareceu. Nós corremos...” disse colocando terror e tristeza na voz “mas ela era muito rápida. Ela matou meus amigos antes de chegar a mim. Todos eles. Daí ela olhou nos meus olhos e disse que já estava satisfeita, mas eu sabia demais... ela disse que eu era bonito, e que seria um desperdício me matar... então ela achou melhor me transformar” olhei para baixo para reforçar a historia “ela me mordeu e me deixou lá... disse que um dia iríamos nos encontrar novamente”

 

Cerrei os punhos. Arthur estava inexpressivo ao meu lado.

 

“Mal posso esperar por esse dia! Esse é um dos motivos para eu ter aceitado vir para cá. Alice e Jasper me disseram que vocês me ensinariam a lutar.”

 

“Saber lutar é algo básico para quem quer integrar a guarda dos Volturi!” ele respondeu serio “Você provavelmente conseguira sua vingança!”

 

“Sim. Vou conseguir!” tentei sorrir novamente “Qual é a sua história?” perguntei sem realmente querer saber

 

Ele sorriu fracamente com suas lembranças

 

“Eu fui transformado há 134 anos. Eu tinha 22 na época. Eu estava noivo de uma moça muito bonita, muito parecida com a Bella, acho que é por isso que gosto tanto dela” ele disse tentando me fazer ter alguma reação de ciúmes ou algo assim... ele não perdia a oportunidade de me testar “ela me lembra muito minha noiva, Eliza. Bom, nós estávamos com o casamento marcado, e meus amigos, como era costume naquela época, fizeram uma festa de despedida de solteiro para mim um mês antes do casamento.”

 

Eu assenti vendo as cenas se desenrolando em sua mente. Ele continuou a narração.

 

“Morávamos em Stuttgart, uma cidadezinha alemã agraciada pela presença do Rei uma ou duas vezes por ano. Era um belo lugar para se viver naquela época. Na noite em que fomos pra minha despedida, uma noite lua cheia e brilhante, nós fomos ao melhor cabaré da cidade. Era o que tinha as belas moças e onde eram servidos os melhores e mais inebriantes vinhos... como era minha despedida, eu fiquei com a melhor garota da noite. Vitória. Ela era deslumbrante. Tinha os cabelos rubros como fogo ardente e os olhos vermelhos como sangue. Achei o efeito da ilusão dos olhos vermelhos muito interessante” ele disse mais para si mesmo do que para mim “Suas feições eram finas e delicadas e sua boca era lindamente delineada. Ela vestia um corpete negro com bordados violeta  juntamente com uma saia igualmente roxa que contrastavam com sua pele extremamente alva. Nem mesmo seu toque frio me libertaram do encanto que eu tinha me prendido. Passamos uma noite bem agradável, se é que me entende, mas quando eu disse que iria embora, ela olhou para mim e disse que seria um desperdício me deixar efêmero quando poderíamos ter todas as noites que desejássemos. Então ela me mordeu... e me deixou lá.”

 

Arthur estava tão absorto em sua própria história que não percebeu a chegada de Alice antes que ela estivesse a nossa frente.

 

“Vamos Matheo?” ela perguntou delicadamente “Precisamos caçar.”

 

“Sim” disse simplesmente e nos afastamos do salão.

 

Saímos do castelo dos Volturi e começamos a correr para o bosque que Alice disse que seria um bom lugar para caçar. Já estávamos há alguns quilômetros longe quando Alice sussurrou

 

“Sentiram?”

 

Jasper e eu concordamos.

 

Nós estávamos sendo seguidos, como Alice previra.

 

Fingimos não ter percebido a presença do vampiro atrás de nós e continuamos nosso caminho até o bosque. Caçamos alguns animais de porte médio e depois de estarmos saciados voltamos para o castelo.  Depois de assegurar que não estávamos mais sendo vigiados, Alice me parou.

 

“Matheo” ela disse mantendo a precaução “vá para o seu quarto e espere que eu vou falar com você depois. Vou falar com a Bella agora!”

 

Assenti com a cabeça apenas para não discutir com Alice. Eu não iria ficar no meu quarto esperando ela voltar e me contar as notícias.

 

Não mesmo!

 

Eu iria ouvir atrás da porta.

 

Eu sei... isso é feio, bobo e infantil... (N/A Gabi: Isso soou gay :DD) mas o que eu poderia fazer? Eu precisava saber – e o mais rápido possível – se a canção a fez lembrar de mim!!

 

Fui em direção ao meu quarto e entrei apenas para a encenação parecer convincente. Fiquei 5 minutos dentro do quarto e saí sorrateiramente para ir ao quarto de Bella.

 

Fiquei um pouco afastado da porta, mas como a audição vampirica é excelente, eu pude ouvir perfeitamente o que elas estavam conversando...

 

“... fez pra você” Alice estava terminando de falar

 

“Mas Lice, eu não consigo lembrar direito! São imagens borradas, a maioria sem rosto...” Bella falou transtornada

 

Apesar dela não ter dito que havia se lembrado, minha euforia aumentou instantaneamente. A canção tinha surtido algum efeito. Era pequeno... pelo que eu tinha entendido ela havia se lembrado de poucas coisas, mas já era um começo. Sorri e voltei a prestar atenção na conversa

 

“Entendo” a voz de Alice soou doce “Mas, você lembra apenas do dia em que Alexander fez a canção pra você, ou você lembra de alguma outra coisa a mais?”

 

“Eu lembro do dia da canção... sei que tem alguém tocando para mim, e deve ser mesmo esse Alexander, mas eu não consigo ver seu rosto. Mas essa é a lembrança mais nítida. Lembrei de algumas outras coisas, mas são tão desconexas que me confundem!”

 

“Do que mais você lembrou?”

 

“Bem, lembrei vagamente do dia em que eu fui transformada. Eu não consigo ver direito, mas eu sinto uma aflição tão grande quando eu lembro!” Bella falou tristemente.

 

Não soube o que estava acontecendo, mas pelo leve farfalhar das roupas, presumi que Alice tinha abraçado Bella para confortá-la.

 

“Você irá lembrar!! Calma” Alice disse gentilmente “Mas continue me contando, o que mais você lembrou?”

 

“Só lembrei de mais um coisa... e é a mais confusa pra mim!”

 

“O que é?”

 

“Bem” Bella começou “Parece que eu estou num lugar cheio de gente. Não sei bem onde é, mas parece um colégio ou algo assim, acho que não era aqui em Volterra, nunca vi um lugar assim aqui. Bem, eu lembro que tinha alguém nesse lugar que me chamava muito a atenção, mas eu não sei quem é!”

 

O colégio. Bella havia se lembrado de um dos nossos dias no colégio! Ela estava quase lembrando de mim!! Mais um pequeno esforço e ela lembraria de tudo e enfim poderíamos ser felizes!

 

Mais um pequeno esforço... pensei aliviado, mas o choque me consumiu tão rápido que mal tive tempo de saborear o gosto do alivio.

 

O que mais eu poderia fazer para ela lembrar?

 

A única coisa que eu sabia que era forte o suficiente para ela lembrar era a canção. Ela tinha dado certo, em parte é claro, mas era melhor que nada... mas, e agora? Que estimulo mais eu poderia dar a ela? Nada que me veio a cabeça pareceu bom o bastante...

 

“Acho que eu sei onde é Bella” Alice falou tentando animar a amiga

 

“Onde?” Bella perguntou curiosa

 

“No colégio que nós estudamos quando fugimos para os Estados Unidos...”

 

“Lice, essa fuga, foi apenas um sonho não foi?” Bella estava angustiada

 

“Não, Bella. Não foi um sonho. Nós fugimos!”

 

“Mas então, porque estamos aqui novamente? Eu disse que o dia que eu fosse embora eu nunca mais voltaria!”

 

“Eu sei! E me desculpe por tudo” Alice estava martirizada “Mas a escolha foi sua. Embora você só tenha vindo por causa de uma horrível chantagem de Arthur!”

 

“Lice, não fale assim dele! Arthur é bom! Ele sempre me trata bem, embora as vezes eu ache que ele esconde alguma coisa de mim...”

 

“Você acha é?” A voz de Alice saiu irônica e cortante “Eu não confio nele! Você sabe!” ela disse provavelmente evitando uma enxurrada de pergunta da parte de Bella.

 

“Eu gostaria de lembrar disso tudo! Parece que eu estou sem uma parte importante de mim entende?”

 

“Sim” Alice falou imaginando como seria se ela esquecesse Jasper. “E realmente Bella, você esqueceu algo muito importante...”

 

“E o que foi?” Bella interrompeu angustiada

 

“Seu coração e o que você trazia nele, sua vida!”

 

“Entendo.. e ao mesmo tempo não entendo! É muito confuso!”

 

“Bella” Alice disse calmamente “Espere aqui um momento”

 

Ouvi os passos de Alice e me escondi rapidamente. Acho que Alice não me notou, ou, se notou, não fez questão de parar para me repreender. Esperei alguns instantes ainda escondido e logo Alice passou voltando ao quarto de Bella. Ela tinha uma carta nas mãos.

 

Voltei ao meu posto assim que Alice entrou no quarto, nem se dando ao trabalho de fechar a porta ao passar.

 

“Leia” ela disse entregando a carta para Bella

 

“Para Edward, com amor, de Bella”

 

Bella olhou rapidamente para Alice e eu pude ouvir o som do papel sendo rasgado.