Descobrindo a própria luz escrita por Marii Weasley


Capítulo 22
Capítulo bônus - Tempo perdido - Flashback


Notas iniciais do capítulo

Oiii gente.
Esse capítulo é um bônus, um flashback que não se passa em tempo real da fic. o próximo e o hentai Mabelle prometido vão vir ainda essa semana, juro.
Não adianta dar desculpas, ainda assim seria uma cretinice. Esse capítulo foi escrito há duas semanas ou mais? Mas não tive tempo de digitar.
Gostaria de dedicar esse capítulo a todos os leitores (mesmo que o último capítulo só tenha tido 3 comentários) e me desculpar. Mesmo.
Obrigada a todos!



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"Veja o sol
Dessa manhã tão cinza
A tempestade que chega
É da cor dos teus olhos
Castanhos
Então me abraça forte
E diz mais uma vez
Que já estamos
Distantes de tudo
Temos nosso próprio tempo
Não tenho medo do escuro
Mas deixe as luzes
Acesas agora
O que foi escondido
É o que se escondeu
E o que foi prometido
Ninguém prometeu
Nem foi tempo perdido
Somos tão jovens "
– Legião Urbana, Tempo perdido.

Estávamos sentados na grama quando a primeira gota fria atingiu o meu rosto. Me surpreendo com a grande quantidade de nuvens escuras no céu e alcanço o meu celular para ver as horas. Uma mensagem da loira chega simultaneamente.

Hey baby, vai chover, ainda estamos aqui. Acho melhor desmarcarmos. Divirtam-se vocês

~Lolinda

Apesar de estar decepcionada, um sorriso involuntário se abre em meu rosto quando leio a assinatura nova de Lola. As meninas da turma tinham essa brincadeira de agregar um elogio no meio do nome. Era patético e idiota, mas ao mesmo tempo, engraçado.

– Maat- chamei. -Não vamos mais.

Ele me olha como se me perguntasse por que e eu aponto para as nuvens escuras.

Tínhamos um plano especial para hoje à noite. O pessoal do colégio se reuniria aqui na praça em frente a casa de Maat, caminharíamos até a praia juntos e aproveitaríamos um lual. O tempo não estava favorável há alguns dias, mas nada que tivesse ameaçado o programa. Até agora.

Vejo um clarão no céu e poucos instantes depois um trovão, seguido por uma chuva fina.

–Tudo bem - Maat parece finalmente entender a situação. -Vamos embora antes que chova.

E como se controlados por sua voz, no mesmo instante, pingos grossos começaram a cai sobre nós, fazendo com que corramos para a casa de Maat. Atravessamos a rua em disparada, mas mesmo assim, entro pingando na casa dele e estragando o tapete da sala de estar, que provavelmente vale mais que minha vida.

Os pais de Maat estavam viajando (como sempre) e naquele dia, nós dois havíamos perdido a hora pra escola, tinha ido para lá há pouco tempo, mas isso não mudava o fato de que ultimamente vinha me sentindo desconfortável ficando muito tempo sozinha com ele, o que era ridículo, porque passava muito tempo sozinha com ele desde...Sempre.

–Droga - xinguei. Meu celular tinha se molhado completamente nessa confusão.- Não quero nem olhar pra isso -resmunguei e joguei o aparelho para Maat que estava sorrindo com meu pequeno surto.

– Acho melhor você tomar banho, ou vai ficar doente - ele disse. -Tem um secador no quarto de Annie, pode usá-lo para secar seu telefone.

Assenti e subi as escadas até o quarto de Maat, aonde havia deixado minha mochila mais cedo.

O lugar, apesar de imenso e bem arquitetado, a disposição de tudo e as cores tornavam o quarto dele muito diferente do resto da casa. As paredes eram azuis, havia uma estante grande, com filmes, Cds, jogos de videogame e alguns poucos livros ( a maioria meus) e um escrivaninha de estudos ao lado. Fora a entrada, mais três portas: a do armário, do banheiro e a da varanda.

A varanda de Maat era meu lugar favorito em toda casa. Era clara e iluminada, não muito espaçosa, mas espaçosa o suficiente para me sentar ali no chão com um bom livro e ler durante horas, como tantas vezes já tinha feito.

Meus olhos passaram mais uma vez pelo quarto: a televisão, a cama gigantesca e suas medalhas de futebol espalhadas por qualquer superfície sólida, até pararem na minha mochila, no chão ao lado da escrivaninha. Na parede acima, um mural de fotos me chamou atenção, mesmo que já o tivesse visto milhares de vezes.

Em algumas delas Maat estava com Annie, sua irmã, ou com seus pais. Outras eram realmente muito engraçadas, dele com seus amigos do time, Andy e Peter.

E eu, na maior parte delas. Na cabine de fotos do aniversário de 15 anos de Mernie. Em outros luais, na formatura e nos jogos de futebol. Fazendo caretas no parque de diversão temporário que esteve aqui há alguns verões e uma foto daquele dia. De nós dois sentados no estofado vermelho da nossa sorveteria favorita com nossos amigos, no aniversário de Lola. E então, notei o que havia de diferente ali que me chamará atenção.

Eu devia ter uns 7 anos na foto. Estava no balanço de pneu dos fundos da minha casa, com a cabeça jogada para trás, um rabo de cavalo em meus cabelos muito mais encaracolados na época e um sorriso banguela. Passei as pontas dos dedos por cima da fotografia, como que para comprovar sua realidade e um sorriso bobo cresceu no meu rosto. Arranquei a foto com cuidado do mural e a observei mais de perto. Logo em seguida, a porta se abriu, me tirando do transe.

– Onde conseguiu isso?-murmurei baixinho sem me virar para ele.

– Eu tirei essa foto, não se lembra?- Maat responde.

– Lembro, mas ela não..

–Humrum-ele me interrompe.-Roubei do armário de Lola há algumas semanas, depois de um tempo tendo surtos típicos dela, permitiu que ficasse comigo.

– Eu era horrível - concluo depois de mais um tempo olhando a foto abismada.

– Como?- ele questiona indignado. -Essa é a coisa mais bonita de todo mundo.

Meu sorriso fica um pouco mais evidente e sinto minhas bochechas queimarem quando viro pra ele e o encontro coçando o cabelo e olhando pra baixo, como sempre fazia quando estava nervoso.

– Tome - ele me estendeu depois de um tempo uma toalha e uma blusa sua de moletom, agarrei tudo com um sorriso ainda na cara e segui de uma vez para o banheiro, pra evitar constrangimentos.

Tomei um banho relativamente rápido e coloquei o short e a camiseta que eu tinha na mochila. Permaneci descalça. Limpei o vidro do espelho com a toalha e me encarei por um instante, fazendo um rabo de cavalo, mas o soltando logo em seguida. Estendi os braços para cima e vesti seu moletom, no mínimo uns dois números maiores que o meu.

Caminhei até a porta e parei a mão centímetros antes da maçaneta, fechei os olhos e senti o cheiro dele impregnado na roupa. Amava aquele cheiro.

Sai do banheiro e me deparei com ele de costas para mim e usando uma calça larga cinza, com a parte de cima ainda a mostra e os braços estendidos para vestir a camisa. Mordi o lábio e pensei: deuses, por que tão gotoso?.

Desviei o olhar antes que ele notasse e fui até a estante, peguei seu celular e o balancei, como que pedindo autorização para usar. Ele assentiu.

Me concentrei para lembrar o numero novo do meu pai e depois de finalmente conseguir, liguei cinco vezes até ouvir por fim sua voz vindo do telefone.

– Maat? A Isabelle está bem?

– Hum.. Oi pai, sou eu. Tive um acidente com meu telefone. Você pode vir me buscar?

–Onde você está? - ele pergunta depois de um bom tempo.

–Na casa de Maat. -respondo lentamente já imaginando o que vai se seguir.

– E com quem você está?

– Com ele digo já meio impaciente.

– Ótimo. Amor está chovendo muito, o trânsito está um inferno e eu estou aqui no trabalho ainda. Fique por ai, amanhã você volta. Boa noite querida - e antes mesmo de eu argumentar ele desligou na minha cara.

Encarei o aparelho por alguns segundos piscando. Isso só podia ser mentira.

Tudo bem que Maat é meu amigo, mas essa não é exatamente a reação que você espera do seu pai quando avisa que está só com um garoto. Tipo, Sozinhos. A noite toda. Onde está o juízo do mundo?

Suspirei vendo a chuva gélida caindo do outro lado da janela. Maat tomou suas próprias conclusões.

– Relaxa, vamos comer alguma coisa.

Pegamos pizza, refrigerante e decidimos assistir alguns episódios de ICarly. ICarly é ... Nossa tara infantil ou algo assim. Amo ICarly. E acima de tudo, amo Sam Puckett.

Depois de dois ou três episódios e algumas gargalhadas, eu reconheço o começo de I love you. Engoli em seco. Esse capítulo não. Me recuso a chorar na frente de Maat por causa de ICarly.

– Vamos jogar Guitar Hero?- pergunto rapidamente com certo desespero.

– Podemos trocar - ele argumenta apontando pra televisão. Me limito a fazer que não com a cabeça.

Obviamente, ele relutou. Porque eu sou muito boa em jogos de videogame, mas ele nunca foi muito bom me negando as coisas. Ligamos as guitarras e minutos depois eu já estava ganhando por muitos pontos. No meio da minha parte favorita de One, pronta pro solo sensacional, as luzes piscam duas vezes, até que por fim, se apagam.

– aaah -soltei um muxoxo.Mas logo uma sensação sufocante foi me atingindo. Tirei a guitarrada e chamei por Maat.

–Estou aqui - ele diz mais próximo do que pensei que estivesse.

Minha mão tateou a dele no escuro e quando nossos dedos se entrelaçam me sinto melhor. Uma de suas mãos vai para minha cintura e apenas com a luz do visor do celular dele, vamos tropeçando até a varanda.

Encaro a minha cidade lá em baixo e a escuridão parece consumir tudo.

–Deuses - murmurei. - é um apagão.

Ficamos um tempo ali de mãos dadas encarando o escuro, até que por fim, eu quebro o silêncio.

– Ainda não acredito que meu pai não veio me buscar.

– Minha companhia é assim tão terrível?

Solto uma risada com o comentário absurdo.

– Você sabe que não é isso -faço uma pausa. -É que as vezes, ele nem parece meu pai.

Sinto os braços de Maat me envolverem em um abraço e eu encosto a cabeça no seu ombro para não chorar.

Certo, eu estava terrivelmente manhosa aquele dia. Período sensível do mês, sabe? Dêem-me um desconto.

Ainda com as mãos na minha cintura, ele me levou para o quarto e sussurrou:

– Acho melhor dormimos.

Concordei com a cabeça quando vi que já passava da uma da manhã.

– Pode ficar aqui, eu vou para o quarto da Annie- diz por fim.

Esse era um ato de gentileza do Maat, que não pude deixar de ignorar, mas de repente, ficar ali sozinha, com aqueles corredores imensos e escadarias me pareceu uma péssima ideia.

– Nossa. Calma, vou dar um jeito nisso.

Só então percebi que estava ofegante. Sentei em sua cama e esperei por um tempo que me pareceu muito longo, com apenas minha respiração como som. Dede quando esse quarto era tão frio?

Aquela chuva não era uma das comuns tempestades veraneias da Califórnia. Estava realmente frio lá fora. Só Lola para querer nos fazer sair nesse tempo.

Depois de um pequeno infinito, Maat apareceu com um colchão que ele arrumou no chão. Se aproximou de mim e se curvou para me dar um beijo na testa e me cobrir. Soltei outro sorriso abobalhado.

– Melhor agora, não?-ele brinca. -Boa noite.

– Boa noite.

Me ajeito em baixo das cobertas e fico em posição de dormir. Mas estava tão frio... Claro, como não pensei nisso antes? Sem luz, sem aquecedor, sua burra.

– Está tão frio- cochicho mais para mim mesma. Mas ele responde.

–Nem me diga.

E foi ai que me toquei da merda que estava fazendo. Apesar do colchão, Maat estava deitado no chão porque eu estava na TPM. Ridículo.

– Caramba, como eu sou egoísta. Venha deitar na sua cama, vou para o quarto de hóspede.

– Não precisa, você está assustada.

Solto uma risada como se o comentário fosse ridículo, mas saiu como se eu estivesse tendo um ataque epilético, o que fez com que ríssemos de verdade.

Ficamos em silêncio até que eu crie coragem.

– Venha para cá, a cama é grande o suficiente.

Ele pareceu relutante de inicio, mas pegou o travesseiro e se deitou ao meu lado. Dizemos boa noite mais uma vez, viramos para lados opostos e voltamos a posição de dormir. Ainda está frio, mas com Maat ao meu lado, era algo que duraria pouco.

Os minutos foram passando e minha mente continuava cheia. Pensei em Annabeth e sobre o modo que meu pai e minha madrasta cuidavam de nós. Pensei em Mernie e em Lola e por fim em Maat, o que fez meu coração se apertar.

O único motivo de termos nos beijado, fora aquela brincadeira idiota no aniversario da Lola. Alguns minutos de pensamento depois, a coisa mais patética do mundo aconteceu.

Eu comecei a chorar.

Tentei abafar os soluços e manter a respiração, mas foi inútil. Pareço um porco quando choro.

– Bels?- Droga, penso.- Por Deus, o que está acontecendo?

– Nada- respondi entre os soluços secando as lágrimas.

Ele se sentou na cama e me trouxe para perto dele em um abraço carinhoso, o que só piorou tudo. Depois de algum tempo assim, minha respiração foi voltando ao normal e por fim ele perguntou:

– Por que está chorando?

Apertei os olhos com força e forcei um sorriso.

– Nada, não se preocupe com isso.

Ainda com os olhos fechados, sinto seus lábios na minha pele úmida. Nos aconchegamos um no outro e acabamos deitando nessa posição.

– Por que você me beijou?- pergunto baixinho e de uma vez.

– Você estava chorando...?

– Não, não foi por isso -o corto rapidamente, mesmo pensando que em parte fosse o motivo.

– Então, conta pra mim o que houve.

– Só responde minha pergunta.

– Era um jogo -ele fala arruinando meu coração de uma vez. -conhecíamos as regras, aceitamos jogar.

– Podia ter perdido essa.

– Desculpe, então. Na hora você não pareceu se importar.

Apertei mais uma vez os olhos tentando organizar meus pensamentos.

– Desculpe- disse com um tempo. - Desculpe, desculpe, eu estou tão...

Ele suspira aliviado, como se esperasse que eu fosse matá-lo ou algo assim. Estava quase pegando no sono quando sua voz me chamou uma ultima vez.

– Sinto muito. Eu sei dos seus rígidos critérios sobre beijar pessoas. Não sei ao certo porque fiz aquilo. Mas sei também que não foi só pelo jogo - ele fala tudo de uma vez, sem me dar um tempo para assimilar as palavras.- E ...

– E ?

– E eu quero aquilo de novo - ele confidencia.

Quando dei por mim, estava deitada por cima de Maat, com nossas bocas a centímetros de se tocar. Então ele enterra os dedos no meu cabelo e me puxa para si, tornando meus lábios seus de uma forma que ninguém nunca havia feito antes. Enquanto algumas poucas lágrimas ainda insistiam em cair, o beijei com intensidade e possessão, marcando cada canto da sua boca como minha.

Quando nos desencostamos, observei suas bochechas corarem. Está tudo bem foi o que eu garanti.

E acabamos dormindo assim, grudados um no outro.

Maat nunca soube porque eu estava chorando. E mesmo com aquela explicação confusa, nunca soube ao certo porque ele havia me beijado.

Mas naquele momento, não sentia mais frio ou medo. Ainda haveria tempo.


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Notas finais do capítulo

Desculpe, desculpe, desculpe. Obrigada!
Tenho duas novidades pra vocês:
Uma lista de sagas desconhecidas ótimas: http://revistanossomundo.blogspot.com.br/2014/01/9-preciosidades-perdidas.html

e uma resenha de Cidade de papel : http://revistanossomundo.blogspot.com.br/2014/02/cidades-de-papel-resenha.html

Me digam o que acharam!
Como sempre, créditos pra Gab's



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