The Hectic Glow escrita por Queen


Capítulo 1
Infinite.




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Já fazia tempos que eu não visitava o tumulo do Augustus. Na verdade, eu não queria ir, sério, pois ainda acredito que o encontrarei no grupo de apoio olhando para mim, me encarando com aqueles olhos azuis que na última vez que vi, estavam se fechando. 

Mamãe passou o último verão me enchendo com suas convicções pouco prováveis de ser: “Hazel. Ele. Morreu. Isso não quer dizer o fim do mundo!” E eu simplesmente a ignorava. Papai já desistiu de brigar comigo, me repreender, o que por fim, é um alivio.

Passo os dedos sobre seu nome gravado em uma grande pedra, e olho para uma bandeirinha desbotada fixada no chão. Há séculos que eu a deixei ali e não imaginava que ela ainda continuava lá. Sento – me no chão frio e molhado, olhando para as rosas laranja que estão no meu colo e um choro que estava preso na minha garganta vem à tona. 

Seria melhor se ele estivesse aqui, de verdade. O “Okay.” não é mais o mesmo, ler “O preço do Alvorecer” não é mais o mesmo, os ossos maneiros não são mais os mesmos sem ele, Amsterdã não é mais a mesma sem ele, realmente ele foi o motivo para muitas coisas legais na minha vida e isso só prova o quanto ele estava presente.

Mas, pelo lado bom, ele agora está em um lugar possivelmente legal, aquele lugar com A maiúsculo que ele tanto acreditava, o A de Algo Grande, resplendor. 

Peter Van Houten não escreveu uma continuação para o UAI, mas fez um epilogo, e eu me senti ruim por saber que ele só escreveu aquilo por minha causa e do Gus, e o Gus não estará aqui para ler. O que será triste.

Quando Peter terminou de escrever, me enviou por e-mail, e eu o li. Na verdade, não foi um epilogo, tinha apenas três palavras: “A Anna Morreu.” Fim.
Ele me enviou porque meu pai o telefonou avisando que o dia esperado estava vindo e seria daqui algumas horas. 

Meus pais e Isaac estão no carro me aguardando, é mais difícil para eles do que para mim, pois não tenho medo da morte, mas eles sim. Não sei como serão suas vidas a partir de amanhã, já que não estarei aqui.

Deixe-me esclarecer uma coisa: Quando você tem câncer, e suas chances de vidas são poucas ou elas não existem, te aplicam drogas vinte e quatro horas por dia, para prolongar sua vida, mas, você não fica curado, as drogas que eles insistem em chamar de “remédios de tratamento” só prolongam sua vida, mas no fim, o raio da sua vida acaba e então a morte vem te buscar.

Quando a doutora entrou na UTI ontem para me visitar, comprimindo os lábios, eu já sabia o que ela diria. Diria que a água dos meus pulmões não seriam mais retiradas, e eu só deveria esperar a minha hora chegar, pois poderia ser a qualquer momento.  E foi exatamente o que ela disse.

Você deve acreditar que eu fiquei apavorada, mas nunca estive tão tranquila em toda a minha vida, e eu sabia que tinha um último desejo, e meu desejo era apenas e ver uma última vez o Gus, mesmo ele estando a metros abaixo do chão.

Saio do meu torpor quando ouço a buzina do carro na esquina. É hora de ir.


Alevanto-me e olho uma última vez para o chão, colocando as rosas próximo a bandeirinha desbotada.  Em um murmúrio, falo por nós dois:

 – Ok. – espiro e inspiro. – Ok.

Dirijo-me até o carro. Isaac abre a porta olhando para o nada. Ainda não me acostumei com o fato de ele estar SEC e cego, mas ainda dá para superar. 

– Está se sentindo bem?

– Sim.

Ultimamente é isso o que eu tenho ouvido a todo instante, o tempo todo, e minha resposta é sempre a mesma: Sim.

Kaitlyn e os pais do Gus são os únicos que não me fazem essas perguntas, pois eles certamente sabem qual será minha resposta.

Durante a ida até o hospital, a única coisa que ouvimos foram os soluços de minha mãe e o ranger do motor. Doí vê-la sofrendo tanto, ainda mais quando nada posso fazer. Queria fazer com que ela parasse de sofrer, mas não posso. 

O legal dos hospitais é que, mesmo você tendo duas pernas, e elas serem perfeitamente boas, os enfermeiros insistem em você sentar em uma cadeira de rodas, e isso para mim é um luxo. É clichê, eu sei, mas eu gosto, ainda mais por que a todo instante, desde a hora no cemitério, sinto meus pulmões nadando em liquido, pedindo socorro e para piorar a situação, só consigo respirar na marra, com muito esforço.

Deito-me em uma maca confortável. Mamãe passa os dedos sobre meu cabelo, papai fica no fundo da sala com a mão no queixo se segurando para não chorar.

Meu pobre pai. 

Eu relativamente me odeio. Odeio o fato de que, por mais que eu tente, sempre serei uma granada, e quando explodir, atingirei todos ao redor, especialmente aos meus pais.

E isso vai acontecer a qualquer momento.

– Deseja alguma coisa Hazel? – O Isaac fala.

– Sim. Abrir uma instituição chamada: Fundação Hazel Grace para pessoas com Câncer que querem Curar o Cólera.

– Droga, esse pedido não está disponível no momento – Ele retruca. – Como está se sentindo?

– Ah, maravilha. Em uma montanha russa que só vai para cima.

Então rimos por alguns segundos. É legal repetir as frases do Gus, pois às vezes faz falta.

– Bem, eu tenho que ir.

– Até algum dia.

Ele vira a cabeça para mim. Creio que se ainda estivesse enxergando, seu olho de vidro iria me examinar até o fundo da alma. Ele assente e saí.  
 

Mamãe continua a acariciar meus cabelos e papai senta ao meu lado cantando uma canção de ninar e então, fecho os olhos.

Sinto dor. Dor em tudo, tudo mesmo.

Abro os olhos novamente e a sala está vazia.

Droga. Ainda não morri.

Quero morrer logo. Os meus pulmões de araque não estão aguentando mais, eu não estou aguentando mais. Do que adianta continuar viva se tiver tanta dor assim no meu corpo? Estou ansiosa, e então lembro-me que ansiedade não é um efeito colateral do câncer e sim um efeito colateral de se estar morrendo, e isso significa que logo terei o que desejo.

Viro-me de um lado e outro, tentando achar uma posição confortável, mas não acho.

Sem querer, acabo fazendo um movimento brusco de mais.

E é aí que tudo paralisa.

Não sinto mais dor. Me sinto leve e meus suspiros são tão divagar que consigo ver meus pulmões trabalhando loucamente.
Aos poucos minha visão fica turva. Meus ouvidos aguçados.
A música que ouvi quando conheci o Augustus começa a tocar.
Uma antiga do The Hectic Glow.

Então ela para.
          E a dor volta.

Começo a chorar, chorar de verdade. Meus pulmões estão me pressionando, eu quero gritar, e eu não consigo achar ar de maneira alguma.

– Calma Hazel. – murmuro. – Vai ficar tudo bem. Vai passar...

Acalmo-me, limpo o rosto e olho para cima.
A dor não passou. Ainda sinto falta de ar, simplesmente não consigo respirar, eu nunca consegui mesmo.

Em geral, essa é a hora que eu deveria entrar em desespero, mas por incrível que pareça, estou mais tranquila do que nunca, sempre soube que esse dia chegaria logo.

Começo a pensar na vida. Nas respostas que o Peter Van Houten não me deu. Em meus pais. Em Patrick e o grupo de apoio. No enterro do Gus. No Azulzinho. Na Caroline. E então penso no Okay.

Okay que eu vou morrer agora. Okay que eu nunca saberia realmente um fim de verdade para Uma Aflição Imperial. Okay que eu nunca irei me formar. Okay que eu não tive um futuro com o Augustus. Okay que não verei minha mãe virar um Patrick excelente. Okay que não assistirei mais ao ATM. Okay que nunca mais irei a Amsterdã. Okay que eu nunca saberia a que fim levou o Isaac e a Monica.  Okay. Okay. Okay.

Eu aceito as minhas escolhas.
       Assim como o Gus aceitou as dele. Pois alguns infinitos são maiores que os outros. 

Fecho os olhos e escuto alguém cujo conheço a voz perfeitamente me chamando de Hazel Grace.  E quando os abro, vejo seus olhos azuis e sua boca formando a palavra “Okay”, um sorriso torto e um cigarro apagado no canto....


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Notas finais do capítulo

Bem, assim como em UAI o livro acaba bem no meio de uma frase. Sei que isso é chato, mas é a vida.