Apaixonada Por Um Demônio escrita por Cecília An


Capítulo 3
Um susto




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Quando tudo estava mais calmo, segui para minha casa, o sol já havia se posto a muito tempo, perdi a noção das horas, nem sei por quanto tempo fiquei ali parada, olhando o movimento das pessoas que saiam do trabalho e seguiam para suas casas apressados. O guincho já havia removido o carro amassado. Tudo já estava no lugar, somente alguns pingos de sangue, provavelmente caíra quando o motorista saiu do carro, estampava a calçada em frente a caçamba de lixo. Caminhei em direção a minha casa, não muito longe dali, grata por estar viva, e mais grata ainda pelo misterioso homem que me salvara. Ainda não compreendia o que realmente tinha acontecido. Tentei raciocinar, mas em vão, o olhar dele ainda prevalecia em minha mente. Eu tinha a absoluta certeza que quando o olhei nos olhos eles estavam completamente negros e dilatados, fora do normal, e quando senti seu toque frio na pele do meu rosto, seus olhos começaram a voltar ao normal, se tornando um castanho tão claro que pareciam mel. Não deu tempo de notar mais nada naquele homem, assim que ele me levantou e me colocou em pé, saiu caminhando sem olhar para trás. Mas em qualquer lugar do mundo reconheceria aqueles olhos, aquele toque, era ímpar.

   Quando tirava o molho de chaves da bolsa e me preparava para abrir a porta de casa, notei que ela estava apenas encostada. Não me lembrei de tê-la deixado sem trancar. Pensei em ligar para a polícia, mas talvez eu, sem querer chegar atrasada à reunião do trabalho, sem perceber, a deixei apenas encostada. Entrei com cuidado na sala, e acendi as luzes, estava tudo no lugar. Fui caminhando pelos cômodos da casa e acendendo todas as luzes, tudo estava em perfeita ordem. Quando entrei no meu quarto, não notei nada diferente, exceto a gaveta da cômoda, estava aberta. Me aproximei e levei um susto, todas as minhas fotos estavam rasgadas, picotadas. Peguei algumas na esperança de encontrar pelo menos uma perfeito estado, mas não, todas estavam destruídas. Sentei na cama sem saber o que fazer. Quem faria isso comigo? Não conhecia ninguém naquela cidade a não ser meus colegas de trabalho, que por sinal, demonstravam gostar muito de trabalharem comigo. Não ligaria para a polícia, o que diria? "Policial, rasgaram todas as minhas fotos", com certeza ele riria da minha cara. Então resolvi ligar para Méri. 

  Méri, era minha melhor amiga, desde infância, ela ainda morava na nossa cidade natal, se tornamos amigas assim que fui morar com um casal de senhores que me adotaram até eu completar a maior idade e poder me virar sozinha. Desde então, jamais nos separamos, mesmo agora, morando longe, não deixávamos de nos falar com frequência.

  - Alô?

 - Alô, Méri!- Não aguentei e comecei a chorar.

 - Damares o que aconteceu, você está bem? me conta o que foi, por que está chorando amiga!?- Ela disparava rápido as perguntas.

 - Ai Méri, você não acredita o que aconteceu hoje. Estou tão nervosa, incapaz até de raciocinar direito.- Minhas voz estava abafada por causa do choro, mal conseguia terminar as palavras direito.

 - Conta, estou eu ficando aflita!- Ela quase gritava, e era sempre assim que ela reagia quando estava preocupada com algo.

 - Saí tão cansada hoje do trabalho, nem percebi o carro, se não fosse aquele homem, que ao menos sei o nome, me salvar, poderia ter morrido...- Não conti um soluço, o toque daquele homem havia me acalmado por horas, mas agora a ficha havia caído.

 - Meu Deus Damares, você não está machucada, está?- Ela continuava a falar tão alto, que era possivel escutar sem viva voz.

 - Não, graças a ele não tive um arranhão sequer. - Estava me acalmando aos poucos, falar com Méri sempre me deixava mais calma. Mesmo com ela gritando de preocupação.

 - Ai, graças a Deus! Então está tudo bem. É por isso que você estava chorando agora pouco?- Ouvi um suspiro de alívio dela.

 - Não. Não sei. Estou tão confusa. Não foi apenas isso que aconteceu. Fiquei tão paralisada com tudo que aconteceu que perdi noção do tempo que passei lá na avenida. Quando voltei agora pouco para casa, encontrei ela aberta, nada foi roubado. Exceto quando entrei no meu quarto, encontrei todas as minhas fotos rasgadas dentro da gaveta da cômoda. Quem faria uma coisa dessas? Por que motivo? Se conheço meia dúzia de pessoas aqui nesse lugar é muito.- Falava baixo, como se quisesse que mais ninguém escutasse. Estava me sentindo vigiada, mas não havia ninguém na casa, eu mesma tinha verificado e trancado todas as portas e janelas.

  - Meu Deus Damares! Por que não chamou a polícia? Você não pode ficar aí, e se ainda tiver alguém na casa?- Ela voltou a se alterar.

 - Não se preocupe, não tem ninguém na casa, eu mesma verifiquei todos os cômodos e tranquei tudo. Não vou ligar para a polícia, o que vou dizer afinal? Só tenho você para desabafar, só tenho você amiga.- Minha voz não passava de um sussurro.

  - Ainda não entendo porque você foi morar nesse lugar, sem conhecer ninguém de confiança. Longe e praticamente sozinha, porque colegas de trabalho não contam.- Ela já nem fazia mais essa pergunta, apenas afirmava que estava louca de ir para tão longe dela e de sua família que sempre me ajudou. Eu tinha meus motivos, mas eles ficavam guardados apenas comigo, nem Méri sabia. Não queria deixá-la preocupada, com tanta coisa para ela cuidar, casamento, a empresa do pai, seria egoísmo incluir ela nos meus problemas. Eu teria que resolvê-los sozinha agora.

 - Já sei, já sei o que pensa...- Já estava aliviada por conversar e pôr para fora tudo que tinha acontecido. - Não se preocupe, com certeza foi um babaca qualquer querendo me assustar ou dar as boas vindas a vizinhança.

 - Isso não é muito amigável Damares, ou esse povo é completamente estranho!- Ela abafou um riso, essa era a Méri, mesmo nas questões mais difíceis ela tirava algo engraçado.

- É sim, um povo muito estranho, você tem que ver. Trabalham o dia todo, e só voltam a noite para casa. Acho difícil achar alguém em casa pelo dia.- Brinquei a fim de deixá-la menos preocupada. Ela ria do outro lado

 - Você por acaso está insinuando que não gostamos de trabalhar dona Damares? Por que vou até aí te dar uns cascudos!- Nós ríamos juntas, já faziam quase um ano que não nos víamos. Estava morrendo de saudades dela. Dos dias de comprar, caminhada no parque...

 - Você promete que me liga amanhã assim que acordar?- Ela me perguntou séria.

 - Claro que sim. Não queria te preocupar, mas não tive saída a não ser te ligar para me acalmar.

 - Sabe que pode ligar qualquer hora, que pode contar comigo. Se for preciso falo com meu pai e peço uns dois dias para ficar com você...

 - Não amiga. Não será necessário se incomodar. Estou bem. - A última coisa que queria era tirá-la  das suas responsabilidades.

 - Qualquer coisa me liga!- Ela já estava mais calma e falava normalmente. 

 - Tudo bem, eu ligo. Estou exausta do dia de hoje. Preciso descansar, amanhã estou cheia de trabalho. Sou encarregada pela divulgação das peças íntimas que vão lançar na semana que vem. Tudo tem que sair perfeito.- Meus olhos já pesavam...

 - Tudo bem amiga, vá descasar. Se cuida... Beijos... Boa noite- A voz dela ficou distante, ela odiava despedidas.

- Boa noite Méri, se cuide também.

  Fui tomar banho para aliviar o estresse do dia, coloquei meu pijama e me dirigi à janela para fechar a cortina. Tomei um susto ao avistar alguém parado como estátua do outro lado da rua, bem em frente ao meu quarto, não consegui ver o rosto, estava sob a sombra da árvore. Não se moveu, ficou lá. Fechei rapidamente a cortina e fui para cama. Como dormir com a sensação de alguém estar me vigiando? Não conseguia fechar os olhos, cada vez que fazia isso, os olhos do homem misterioso vagava em minha mente, as imagens das fotos apareciam, o cara parado na frente da minha casa, o carro amassado, a ambulância correndo entre os carros da avenida... Os olhos pesaram mais que meu medo, então apaguei...


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