O dia mal havia amanhecido e eu já estava em alerta,afinal, já faz algumas horas desde o momento em que eu disparei a minha arma e até agora nenhum zumbi apareceu. Não sei se devo achar isso bom ou ruim. Seguro minha faca enquanto ando lentamente em volta da cabana, procurando ouvir tudo ao meu redor, até agora nada. Nenhum ruído sequer. Bocejo, só então percebo o quanto eu estou cansada. Quanto tempo faz que eu não durmo?  

Minhas pálpebras pesam, estou exausta. Muita coisa aconteceu em tão pouco tempo. Jennie está dentro da cabana esperando Joe acordar. É impossível não recordar da noite anterior ao pensar nele. 

  Ele havia dito meu nome. 

 Talvez não signifique nada, mas quem sabe.  

Já faz algumas horas que eu estou aqui do lado de fora de vigia. Me surpreendo com o fato de ainda não ter desmaiado de sono, mas não posso me dar ao luxo de dormir agora. Até porque não tem lugar, embora  a grama pareça extremamente confortável.  

Me sento no chão e dou um longo suspiro. Precisamos de um plano. Não podemos ficar aqui para sempre. Quando Joe acordar e conseguir andar vamos voltar a cidade e pegar o carro, se é que depois de tantos tiros ele ainda funcionava; depois vamos continuar nossa jornada até o Refúgio. 

Refúgio.

   Se não tivéssemos encontrado Harry e Kitty no meio do caminho talvez já estivéssemos lá. A salvo, sem nada a temer. Será? Será que lá é realmente tão seguro assim? Será que o Refúgio realmente existe? Tantas perguntas rondam minha mente e eu não tenho respostas para nenhuma delas. Chega a ser frustrante. 

Deixo minhas costas encontrarem o solo suavemente, minhas pálpebras estão pesadas demais, talvez não seja uma má ideia dormir aqui... Vago pelos meus pensamentos, esperando o momento em que eu caia na inconsciência quando uma voz interrompe meus devaneios sonolentos...

 - Hayley, advinha quem acordou? - disse Jennie, saindo da cabana com um sorriso alegre no rosto. Jennie é sempre alegre, raramente a vejo triste. Ontem foi um desses dias. Ela realmente ficou triste com a perda de tantos amigos ao mesmo tempo, mas eu não a culpo eu sei o que ela sente, vou sentir falta de todos eles...até mesmo da Melanie. - ei...O que está fazendo aí deitada? Não tem medo de um zumbi chegar e te devorar, hein?

  - Ah, Jennie, eu só estou cansada... Não podemos ficar aqui por muito mais tempo, esqueçeu que eu disparei uma arma? 

 - Blá, blá, blá...Se zumbis estivessem vindo eles já teriam chegado, não acha?

 - É, talvez você tenha razão. Mas ainda tenho que ficar em alerta.

 - To vendo você em alerta deitada aí...- disse ela, irônica.- ah! Joe acordou!

- Acordou!? Ele está bem? - perguntei, me levantando lentamente de propósito. Eu queria dar um pulo para vê-lo mas sabia que Jennie não pouparia piadinhas depois. 

- Ora, pergunte pra ele! 

- Tá bom. 

Eu andei em passos pesados até a cabana, hesitei um pouco antes entrar. Me senti um pouco nervosa. Será que ele se lembra de ter dito meu nome ontem? Será que a Jennie contou pra ele? Acho que não. Pelo menos eu espero que não.

- Jennie me disse que você tinha acordado.- eu disse entrando na cabana, Joe estava sentado na cama, parecia estar bem melhor. Ele estava sem camisa e era possível ver os curativos que Jennie fizera...desviei o olhar rapidamente para não ficar olhando demais. Ele deu um leve sorriso ao me ver. 

- Hayley! Que bom que está bem!

- Eu é que tenho que dizer isso...

- Sabe, eu esqueci de perguntar, mas, porque a Jennie está aqui?

- Ela não te contou? - pergunto.

- O que? 

- Joe...O condomínio foi invadido pelo mesmo grupo que nos atacou na cidade. Jennie foi a única sobrevivente.

Ele arregalou os olhos, surpreso pela notícia. Sua expressão mudou, agora ele parecia triste e ao mesmo tempo aliviado, provavelmente pela irmã ter saído viva. 

- Droga...- ele suspirou.- Pra onde vamos agora? 

- Acho que devemos continuar nosso caminho até o Refúgio. Eu sei que é arriscado, não temos muita munição, mas não podemos ficar aqui  e não temos mais nenhum lugar pra ir. 

- Você está certa. Temos que continuar, só espero que esse lugar exista mesmo.

- Eu também.

- Está ferida?

- Não...- respondi.- Como está se sentindo?

- Pronto pra outra! - ele respondeu, sorrindo.

- O que? Mas, você acabou de se recuperar.

- Eu sei, mas não aguento ficar aqui parado.

- Discutir com você não vai me levar á lugar nenhum não é mesmo? - perguntei, dando um sorriso. Ele concordou. - Você é teimoso, Joe.

- Você também, Hayley. Sabe, eu ainda acho que você é mais teimosa do que eu.

- Ah não, com certeza não.

Nós rimos. Nossa! Como eu senti falta dele. Só Joe me fazia rir em um momento como esse...acabamos de perder nossos amigos, quase fomos mortos, não temos mais pra onde ir e ele ainda me fazia sorrir. Jennie entrou na cabana.

- Desculpa interromper o papo dos pombinhos, eu quero saber qual é o plano, se é que a gente tem algum. - ela disse, eu corei quando ela disse "pombinhos", Joe revirou os olhos e respondeu:

- O plano é o seguinte: Nós vamos até a cidade e pegamos a caminhonete que eu, Hayley e Bryan deixamos na cidade, só espero que ela esteja funcionando... 

- Isso não é problema, depois de fugirmos do condomínio Melanie conseguiu pegar um carro, foi assim que eu cheguei aqui...Eu estou com as chaves na mochila.- disse Jennie.

- Se lembra onde deixou o carro?

 - Sim, perto da rua do mercado que vocês iam pegar suprimentos.

- Ótimo, então vamos no carro que você veio, mas, peraí você disse que foi a Melanie que pegou o carro, mas se ela conseguiu escapar também aonde ela está? - perguntou Joe. 

O rosto de Jennie assumiu uma expressão triste, era difícil se lembrar de Melanie. Eu sabia que ela não conseguiria falar sem chorar. Jennie parecia tentar arranjar palavras para  dizer o que aconteceu com Melanie, mas não conseguia encontrá-las.

- Ela...ela...

 - Eu explico , Joe. - interrompi Jennie, que saiu da cabana visivelmente triste, não estava gostando nada de recordar o que acontecera. Joe não estava mais confuso, ele já deve ter deduzido que Melanie estava morta, mas, ainda assim eu explicaria á ele.

Estamos á sós novamente. Me sentei na cadeira velha que havia ao lado da cama. Suspirei e começei a contar a história que Jennie havia me contado na noite anterior, no começo ele não se convecera de que ela havia mesmo se arrependido, mas depois admitiu estar triste por não ter tido a oportunidade de pelo menos perdoá-la pelo que fizera. 

Permanecemos em silêncio por um tempo. 

- Joe?

- Hm?

- Acha que vamos sobreviver á isso tudo? 

- Eu não sei Hayley...Mas prometo proteger você e a Jennie, nem que seja a última coisa que eu faça.

 - O que? Joe, não quero que coloque sua vida em risco por mim.

- Você sabe que eu faria isso de qualquer jeito.

-  Porque? 

Ele não respondeu, simplesmente se aproximou e me beijou. De início eu não acreditara no que estava acontecendo, depois de um segundo de choque, fechei os olhos e retribuí o beijo. Eu esperei tanto por isso! Meu coração batia rapidamente, o beijo era calmo, gentil e seus lábios eram macios e quentes. Depois de alguns segundos nossos pulmões gritaram por ar e fomos obrigados a cessar o beijo. Estávamos ofegantes, ele ainda mantinha sua testa encostada na minha quando respondeu:

 - Porque? Poque eu te amo, Hayley.