The Princess- Interativa escrita por Blue Diet Coke


Capítulo 5
Capítulo 5- Me chame de Hiena Bêbada ou de Barbie


Notas iniciais do capítulo

Desculpem a demora, eu viajei! Espero que gostem!



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Depois que todas as meninas foram "embelezadas", tivemos um tour pelo palácio. Eram duas filas onde as meninas ficavam uma ao lado da outra. Uma garota com cabelos negros que descem em ondulações até metade das costas, pele clara, olhos castanhos brilhantes, magra, de uma altura mediana, lábios levemente grossos chamada Victoria(ou Tori) ficou ao meu lado. O tour começou com Dulcinea (sim, esse era o no,e da mulher de cabelo platinado que nos recebeu) começou a falar sobre a arquitetura clássica greco-romana com um toque renascentista do Salão Principal, onde ocorreriam os bailes e festas. Tori me cutucou e disse:

-Pra que mesmo que vamos precisar saber disso?

-Vai que o príncipe gosta de garotas que sabem sobre...- ouvi por um instante o que Dulcinea estava falando- "Como as colunas no Salão Principal buscam resgatar a beleza da antiga arquitetura grega".

-Interessante assunto para se abordar com o príncipe. Mas eu acho se queremos matar o príncipe de tédio, devíamos leva-lo para uma ópera. 

-Hey! Eu GOSTO de óperas. Pelo menos a "Les Miserables". 

-Minha amiga tem um ditado para pessoas como você. "Gosto é que nem braço..."

-Cada um tem o seu?- perguntei. 

-Não. "Gosto é que nem braço. Tem gente que não tem."

Queria dizer que eu dei uma bronca em Tori sobre como essa piada foi ofensiva, mas em vez disso...

-KKKKKKKKKKKKKKKKKKK- começamos a rir que nem um bando de hienas bêbadas, não que eu já tenha visto uma hiena bêbada, mas é assim que imagino uma. Dulcinea nos olhou com a maior cara feia, então (com esforço sobrenatural) paramos de bancar as hienas bêbadas. Conversamos e rimos o caminho todo sem dar a mínima para o tour. Só prestamos atenção quando ela disse: "Náo entrem ali. Entrem ali. Aqui é isso. Aqui é aquilo."  No resto do tempo nos ignoramos as explicações. 

Uma garota mais quieta que estava atrás de mim chamada Agnes me cutucou e perguntou:

-Acha que vai demorar muito para o jantar? Eu estou morrendo de fome. 

E como um bocejo, essa tímida pergunta desencadeou uma fome insaciável em cada uma das Selecionadas. 

Como se uma prece as queixas das 34 Selecionadas (e eu) fomos todas encaminhadas para o Salão de Jantar. Há uma enorme mesa retangular com pequenas placas a frente. Separada há uma mesa menor de 6 lugares, provavelmente para a família real. Agnes estava sentada na minha frente. Ao meu lado estavam duas meninas, uma chamada Katherine e outra chamada Ravenna (a que a multidão parece mais gostar).

 O jantar foi servido. Era tanta comida que daria para alimentar uma família de 10 pessoas por uma semana. Mas o pior: tudo parecia ter carne no meio. É, eu sou vegetariana. Resolvi então pegar salada e batata frita, afinal, eram as únicas coisas vegetarianas naquela mesa. Vi ao longe Cat fazer o mesmo. 

-Oi.- Ravenna, que estava sentada a minha direita, disse. 

-Oi. Você é Ravenna, certo?- respondi. 

-É, mas me chame de Rav. E você é Julieta?

-Sou eu. Sério, aqui só tem coisa com carne. Vou passar por um regime forçado por aqui. 

-Sorte a sua. Eu vou engordar bem uns 10 quilos se eu passar uma semana aqui!

-"Se"? Acha que vai ser eliminada?

-Não. Mas é falta de educação dizer isso em voz alta!- ela disse, dando um sorriso maroto. De novo eu banquei a hiena bêbada e comecei a rir que nem uma retardada. 

-Hey.- Katherine, a garota que estava ao meu lado esquerdo, me cutucou. Ela me olhava com olhos críticos, como se padece conhecer cada segredo meu só pelo olhar. 

-Hey.- eu disse, sem saber o que fazer além de retribuir o olhar. 

-Olha, eu sei que não vou sobreviver aqui sem ter nenhuma amiga. 

-Hm.- traduzindo: "Que é que eu tenho haver com isso?"

-E você parece ser a única que sabe que isso aqui não é uma confraternização. Isso aqui é uma competição. Por isso eu tenho uma proposta. Quero que seja minha amiga. Mas como vou saber se posso confiar em você?

-A melhor maneira de descobrir se podemos confiar em alguém é confiando. Ernest Hemingway. 

-Isso mesmo. Falando nisso, sou Katherine. - ela me lançou um sorriso. Achei meio falso, mas muito mais sincero do que os que ela lança para as outras garotas. 

-Julieta.

Depois do jantar fomos levadas até nossos quartos. No meu, três criadas, chamadas Jenna, Diana e Demetria, me esperavam. Eu as dispensei dizendo que não conseguia me vesti com outras pessoas no quarto. Elas me comunicaram que só conheceria o príncipe amanhã e saíram.  Pus o pijama e me joguei na cama para dormir. 

{...}

Era tarde da noite. Eu não conseguia dormir de jeito nenhum. Isso provavelmente tinha haver com o café que eu tomei no jantar. Sempre fico inquieta quando tomo café, mas eu não consigo ficar sem. Resolvi tentar me familiarizar um pouco com o quarto. Nem reparei direito no quarto quando eu cheguei. Era amplo. Pelo menos uns 30 m², no mínimo. Havia uma cama dossel forrada com uma roupa de cama rosa que ficava de frente para a porta. As paredes eram de um tom de amarelo puxado para o creme e o chão é de madeira nobre. Havia uma prateleira com alguns livros ao lado esquerdo na cama. Dei uma olhada nos títulos. Na primeira estavam os clássicos raros, como livros de Sherlock Holmes, Agatha Cristie e outros volumes de mistério. Na segunda os de poesia. Na terceira haviam alguns romances. Sorri com a coletânea. Eu iria ler muito nesse tempo sendo parte do harém puritano do príncipe. Quem diria?

Na esquerda havia uma porta que levava ao banheiro, uma escrivaninha e um frigobar. Resolvi bisbilhotar o frigobar. Havia suco de cramberry e de morango, alguns refrigerantes, uns chocolates e... Aha! Eu sabia que minha mãe iria fazer essa exigência! Uma garrafa do uísque mais vagabundo que eu já vi, junto com uma garrafa de Absolut. Uau. 

Minha mãe acredita que para ser uma dama é preciso saber quanto tem que beber para que as coisas fiquem um pouco mais interessantes, mas não o suficiente para perder a lucidez e o controle. Mãe do ano. 

Guardei as coisas de volta e resolvi desfazer minhas malas. Peguei as fotos que havia juntado desde meus 10 anos com uma velha Polaroid. Sorri com as fotos. Havia uma minha com Dean de quando ele tinha só 4 anos. Foi a primeira foto que eu tirei. Ajeitei as minhas várias fotos em um mural disposta acima da escrivaninha, que ficava entre duas grandes janelas com barras. Como se eu fosse um prisioneira. 

O que de fato eu sou. Sou uma prisioneira dos desejos do príncipe Nathaniel Donovan. Eu devo sempre estar lá para ele, devo estar sempre impecável para ele. Um único deslize faria com que meus planos caíssem por água abaixo. 

Suspirei. Esse quarto é tão deprimente. Me faz sentir como se eu fosse um animal de zoológico, presa para o entretenimento de uma platéia. Acho que uma comparação melhor seria como os gladiadores. Afinal, algumas garotas daqui realmente são como leões. 

Só existe uma única maneira de quebrar o tédio: quebrar alguma coisa. 

Nesse caso, regras. 

Vesti um blusão comprido azul escuro e calcei as pantufas que Jenna me deu. Saí do quarto silenciosamente, conferindo para ver se algum dos guardas estava por perto. Saí sorrateiramente da torre e logo vi um dos corredores que mais me chamou a atenção.

É muito iluminado, com obras de arte penduradas em todo o seu comprimento. Não havia nem um porta nem janela. Só quadros. 

Entrei e comecei a olhar um dos quadros em especial. Completamente escuro, com  linhas tênues e descontinuas brancas espelhadas pelo seu comprimento. Completamente diferente dos trabalhos de Matt, que são sempre coloridos e alegres. Era como comparar "Pollyana" com alguma obra de Edgar Alan Poe. Sombrio. 

-Gostou do quadro?- uma voz masculina disse atrás de mim, me fazendo pular de susto. Me virei pronta para dar uns tabefes naquela criatura saída dos infernos quando percebi. 

Os cabelos petos caídos de lado num bagunçado perfeitamente alinhado. A postura ereta e altiva. A pele clara. Os olhos azuis. Fala sério. 

Era o príncipe Nathaniel Donovan. 

-Vossa Alteza.- eu disse, fazendo uma reverencia exagerada e tentando não ter um ataque de risos. Essas etiquetas são tão ridículas que me faz querer me jogar no chão de tanto rir. 

-Pode rir, eu também acho isso tudo estúpido.- ele disse, dando risada e eu o acompanhei. 

-Então como devo chama-lo?- eu disse, ainda rindo. 

-Me chame de Nate. Só Nate. 

-Você não tem cara de Nate. 

Ele arqueou as sobrancelhas. 

-Então eu tenho cara de quê?

-Você tem cara de Príncipe Encantado. Quando eu era criança, eu lia um livro da Princesa e o Sapo para meu irmão. Era igual a você.- comentei indiferente, voltando a olhar para o quadro. 

-Não me chame de Príncipe Encantado.

-Agora que sei que te incomoda, vou te chamar assim, Encantado.

Ele resolveu me ignorar. 

-Você não respondeu minha pergunta. Gostou do quadro?

-Náo sei. Eu meio que acho que ele transmite algo que não estou acostumada em ver em pinturas. 

-O que seria, exatamente?

-Esperança.- eu disse. Ele ficou em silencio. Depois de um tempo, disse:

-Pra mim representa a luz sendo dominada pela escuridão. O que você vê de esperançoso nisso?

-As linhas me lembram rachaduras.- eu disse, distraída. 

-Como?

-"Tem uma rachadura em tudo. É assim que a luz entra."

-Leonard Cohen.- ele disse, reconhecendo a citação. -Bom ponto de vista. 

Ficamos olhando para o quadro, em silencio. Não um silencio constrangedor, um daqueles horríveis de quando não se tinha assunto. Era um silencio acolhedor. Como quando você passa muito tempo em uma festa e, quando volta para casa, o silencio que antes te irrita faz com que você se sinta... Feliz. Segura. Ou talvez até confortável. 

-Você não me disse seu nome.- Nate mencionou. 

-Sou Julieta. 

-Você não tem cara de Julieta. 

-Não tenho mesmo. Me chame de Perfeição.- ele riu. 

-Acho que você tem mais cara de Barbie.- ele disse. 

-Aquela boneca me dá arrepios. Os olhos fazem parecer que ela vai te matar enquanto você dorme.

-Você é perturbadora.

-Obrigada!- eu disse, como se fosse o maior elogio que ele poderia me dar. 

-Então, Barbie, o que uma dama como você faz aqui a essa hora da noite?

-Só olhando as pinturas. Gosto muito do trabalho abstrato.

-Tem alguma ideia de quem pintou esses quadros?- ele me olhou profundamente, como se estivesse perguntando algo que mudaria nossas vidas. 

-Não faço a mínima ideia. Mas tenho certeza que é de uma pessoa genial. 

-Tem razão. Afinal, são meus. 

-Você pinta?- o olhei surpresa. 

-Pode não parecer, mais eu sou um artista. 

-Nunca imaginaria.

Ficamos em silencio até ele dizer:

-Acho melhor você voltar pro seu quarto. A mudança de patrulha é daqui a alguns minutos. 

-Está bem. Até mais, Encantado. - eu disse e saí andando antes que ele pudesse responder. 


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Notas finais do capítulo

Eu achei a parte do príncipe bem tosca, mas eu estou em crise criativa, então foi o melhor que eu consegui.
Comentem e recomendem! Xoxo