Quando Guinivere adormeceu, Lancelot cuidadosamente a acordou e pediu que a mesma retornasse a seus aposentos. Depois de um demorado beijo de despedida foi ao encontro do rei, como havia se comprometido. Artur nem sequer questionou seu atraso, de tão atordoado que parecia.

– Lancelot, preciso de seus homens, todos que conseguir. Parto em poucos dias para a batalha, mas têm infantarias irlandesas invadindo nossas fronteiras afim de saquear nossas plantações. Quero que as fronteiras sejam defendidas pelo seu estandarte. - disse o rei assim que viu a sombra do homem alto a seu lado. Os dois conversaram sobre estratégias de guerra por um longo tempo. Até que Morgana le Fey, a meia-irmã do rei entrou em trajes brancos e com uma vela grossa na mão.

Volte depois, Morgana. Estou ocupado. - disse Artur ainda conversando com Lancelot, diante de um mapa e muitas velas. A mulher saiu sem dizer nada.

– Permitiria que perguntasse algo pessoal, Sua Graça? - Disse Lancelot, cauteloso.

– Certamente, Lancelot. Posso ser rei, mas somos amigos. Sempre poderá. - respondeu o rei antes de virar uma taça de vinho na boca e depois enchê-la novamente.

– Lady Le Fey te visita todas as noites e as pessoas falam... - Começou Lancelot, mas foi interrompido.

– As pessoas falam demais Lancelot. Minha esposa é a joia mais rara de todo o reino e não preciso manter uma relação incestuosa e repugnante se tenho o amor em sua mais bela forma. É uma pena que ela esteja tão cabisbaixa ultimamente. Tentei reconfortá-la, mas sente-se tão culpada por não me dar filhos, que mal me olha nos olhos. - Disse baixando as vistas.

– Ela acha que não está cumprindo seu dever como rainha, mas tenho a convencido aos poucos de que não tem culpa e que o reino a ama. - Defendeu Lancelot sua rainha.

– Muito obrigado Lancelot. É um amigo muito leal - agradeceu o distinto homem antes que Merlin adentrasse o recinto.

– Artur... está atrasado! Não tenho a noite toda, preciso dormir... Não vê que estou velho? - Foi dizendo Merlin, com a habitual altivez.

– Entre, Merlin, sir Lancelot e eu já terminamos. - Respondeu ao senhor de longas barbas brancas e cara de poucos amigos, antes de voltar-se para Sir Lancelot - Ele está me ajudando Lancelot. Uma virgem, o sacrifício de alguns bezerro, alguns cravos raros e velas fará com que minha mulher procrie. - explicou o rei em tom sarcástico, antes de dar uma gargalhada alta. Isso explicava do que se tratavam as visitas de sua irmã.

– Cada um com suas crenças, sua Graça. Você mesmo acredita que sua espada tem poderes. - rebateu Lancelote também rindo, antes de se retirar do recinto.

– Chame Morgana, Merlin. - Pediu Artur vendo que Lancelot havia saído.

Quando pediu que Morgana participasse do ritual, Merlin disse apenas que ajudaria seu meio-irmão a salvar o futuro do reino e ela aceitou, pois fora criada por Merlin, apesar de poucos conhecerem tal fato, e o respeitava acima de tudo. Ao rei disse que, á pedido de sua esposa, a rainha, eles fariam um ritual druídico muito comum para que Guinivere procriasse. Depois de muitas sessões de conversas e preparações por muitas noites eles finalmente deram inicio ao ritual. Artur deveria deitar-se com sua irmã. Ele não queria, mas Merlin o convenceu dizendo que se o reino não tivesse um herdeiro, cairia, e que Guinivere depois desse ritual seria fértil. Os irmãos fizeram o que Merlin queria, mas o que aconteceu foi o natural. Morgana engravidou e a rainha continuou estéril.

Artur queria cortar a cabeça de Merlin com sua própria espada, mas Morgana, que agora era também mãe de seu herdeiro, pediu misericórdia. Disse que o erro de Merlin foi para salvar o reino, que de outra forma não teria um primogênito legitimo como príncipe herdeiro. Assim, Artur perdoou a vida do druida, sabendo que nunca havia acreditado em um milagre e que mesmo assim aceitou participar do ritual, então deixou que o mesmo continuasse a ser o conselheiro do rei, ainda que com a desaprovação de sua esposa.