Aquele Professor É Um Lobisomem escrita por Lady Pompom


Capítulo 20
Capítulo 19: Eu te Amo


Notas iniciais do capítulo

Essa é uma obra de ficção que não tem qualquer relação com fatos, pessoas ou lugares reais.



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_Você quer vê-la agora? –Illiel arqueou o cenho-

_Não posso? –o professor perguntou de cenho franzido-

_Eu entendo que esteja ansioso, mas ela ainda está fraca, precisa descansar e também tem o efeito dos remédios, ela pode nem lembrar mesmo se você for lá para conversar, e tem que tomar cuidado com o que quer dizer, não pode estressar um paciente e deixá-lo mais doente!

_Eu não direi nada estranho, só quero vê-la... –disse indignado-

_Isshvan, espera mais alguns dias e... –o médico parou de falar ao receber um olhar angustiado do amigo. Suspirou e continuou- Tudo bem, você pode vê-la agora, mas lembre-se de ser cuidadoso com as palavras e não a deixe se esforçar muito...

O lobo seguiu para o cômodo onde a noiva estava, e o doutor os deixou a sós. Ela logo notou a presença de alguém no quarto.

_Isshvan...? –perguntou com a voz suave-

_Sim... –ele aproximou-se e sentou ao lado do leito-

_Ah... Você está bem... –ela abriu um sorriso leve, e embora sua expressão estivesse cansada, o rosto dela se iluminou- Não lembro direito o que aconteceu...

_Illiel disse que você pode ficar tonta por causa dos remédios e suas memórias irão ficar um pouco confusas, mas você ficará bem daqui a alguns dias... –ele deu um sorriso suave-

_Entendo...

_Como se sente...?

_Muito cansada, mas alguns bons dias de descanso e estarei novinha em folha...

_...

_Ah, como estão as crianças, elas estão bem? –o olhar dela era de preocupação ao fitar o noivo-

_Sim, elas estão aqui também, Illiel disse que elas quiseram te ajudar...

_Ah... E como está sua casa? Deve ter ficado vazia... Ainda vai cuidar daquele canteiro de azaleias? Eu queria-

_Ária...-ele a interrompeu- Eu sinto muito...

Ele envolveu a mão da noiva com suas duas mãos, e a fitou com uma expressão aflita.

_Isshvan?

_Eu sinto muito mesmo Ária... Se eu tivesse lutado corretamente, você não estaria aqui...

_Ora, mas o que é isso, Isshvan? –ela sorriu- Não foi por culpa sua...

_Não, parte da responsabilidade é minha! É porque eu fui fraco, não quis me envolver numa luta séria e por isso acabei lhe causando problemas...

_Mesmo se não fosse uma luta séria, eu ainda teria tentado te proteger, Isshvan...

_Mas...

_Não precisa se sentir assim...

_...

_Eu não vou sumir da sua vida, ainda. Vai demorar um pouco mais, então não se preocupe...

_Eu não quero que você suma.

A frase saiu quase que num sussurro, mas a mulher ouviu perfeitamente, e sua expressão era de surpresa.

_Me desculpe, Ária... Depois de tudo que você esteve fazendo por mim, eu ainda assim tentei te afastar por causa da minha covardia...

_...?

_Desde aquela época há 50 anos até hoje eu estive evitando você porque eu não tenho coragem o suficiente para assumir responsabilidades... Eu tive medo de que tudo aquilo acontecesse de novo se você ficasse perto de mim, que você acabasse como sua família se estivesse ao meu lado... Eu não queria que aquilo se repetisse Ária...

_...

_E fiz o possível para te manter longe, eu fui frio, tentei ignorar os seus sentimentos e os meus, e até fiz com que vivesse numa casa afastada de mim... Sinto muito Ária...

_Isshvan, eu sei o que...

_Não! Escute-me mais um pouco! –ele apertou as mãos da noiva ainda mais- Eu prometi ao seu avô que iria te proteger e por isso eu quis que se tornasse minha noiva... Se... Se alguém lhe fizesse mal porque você era uma mestiça, eu não me perdoaria, por isso eu quis que você usasse meu nome, o de um nobre sangue puro pra se livrar de todos aqueles que a perseguiriam, pois eles não teriam coragem de enfrentar uma família de sangue puro, mas... Não foi só isso, Ária, eu juro. Não foi apenas por isso!

O noivo derramava os sentimentos com voz embargada e os olhos lacrimosos enquanto segurava firmemente as mãos da mulher.

_Eu fui um covarde por muito tempo porque tive medo de não conseguir te proteger... Mas Eu te amo Ária, eu te amo de verdade!

_...

_Então, por favor... Nunca mais faça isso de novo... Eu já perdi muito na minha vida... Não quero que você suma também...

_Isshvan...

Uma expressão de angústia se formou no rosto do homem, e suas memórias o trouxeram o passado à tona, em sua mente...

...

50 anos atrás...

...

O jovem Isshvan estava na porta da casa dos Einbech, e a jovem Ária estava ao lado dele, com uma expressão emburrada. Ele tocou a campainha, com uma expressão indiferente, e a adolescente inchou as bochechas, com certa irritação.

Não demorou muito para que um senhor de idade elegante viesse e atendesse a porta, por trás dele outro homem, mais jovem, de braços cruzados, encarando Ária.

_Fugiu de casa de novo, não foi mocinha?

_Eu não fugi! Eu iria voltar! –ela contestou-

_Para dentro, agora. -o pai ordenou autoritário-

_Mas...!

_Quieta, entre.

E a menina entrou batendo o pé, sumindo residência à dentro, junto ao pai. O Senhor de idade fitou Isshvan, e com um suspiro, disse:

_Muito obrigado por trazê-la de volta e... Nos perdoe por ela ter te seguido novamente, tentarei colocar algum juízo na cabeça dela mais tarde...

_Não tem problema...

_Eu entendo que esteja fazendo um trabalho sério aqui, sinto por minha neta sempre te atrapalhar...

_Ela não atrapalha, mas eu temo que ela possa acabar se machucando se continuar me seguindo, eu tenho inimigos...

_... –o velho homem o fitou por alguns segundos antes de falar com a voz firme- Eu sei que isso pode soar estranho, mas, por favor, cuide da minha neta se algo nos acontecer...

_...? –Isshvan estava abismado pelas palavras do outro-

_Nós também temos inimigos, e a Ária já sofreu discriminação o bastante por uma vida só porque é uma híbrida... Você deve entender que ela vive a te seguir porque você não se importa com o que ela seja... Se for alguém como você, eu acredito que consiga protegê-la...

...

_Isshvan? –a noiva chamou trazendo noivo de volta ao presente-

_O Illiel disse que você precisa descansar, então... Deveria dormir agora...

Ela riu, era engraçado como o noivo poderia ser tão desajeitado em falar sobre os próprios sentimentos. Ele não conseguia nem manter uma conversa romântica por muito tempo.

_Você devia dormir também, Isshvan, não parece que descansou muito esses dias, seus olhos estão fundos...

_... –ele franziu o cenho com o comentário da mulher-

_Está tudo bem, pode ir pra casa dormir, não é como se eu fosse fugir daqui...

_Não. Eu posso ficar mais tempo.

_Mas... –ela virou o rosto, envergonhada- Eu não vou conseguir dormir olhando pro seu rosto...

_... Falando nisso, Ària, quando tudo isso acabar eu-

E no mesmo instante Illiel bateu à porta e entrou no cômodo, pigarreou.

_Erm, eu sei que devem querer conversar bastante, mas Isshvan, lembre-se que a Ária precisa descansar e você, mocinha, vai ter ele todinho depois que estiver melhor, então... Vamos? –ele sinalizou com a cabeça para o professor-

_Eu voltarei depois...

Disse à noiva, dando-lhe um beijo suave na testa e saindo enquanto deixava a mão dela deslizar para longe da dele, num gesto de despedida. Ele e o médico saíram daquele quarto, e o doutor, assim que fechou a porta e andou alguns passos lançou um olhar preocupado.

_Desculpe eu estava escutando a conversa de vocês, mas não foi isso que vim falar –ele pausou, olhou para o chão, depois olhou para o amigo novamente, e hesitante, disse- Seu aluno acordou. Ele está na sala, quer falar com você, aquela menina também, e... Bem era isso que eu tinha pra falar, por favor, peça explicações a eles!!

E o loiro saiu a passos apressados, sem dar mais explicações, olhando para trás com medo da reação do companheiro. O lobisomem suspirou bem fundo e seguiu para a sala onde estavam Silas e Karen, sentados à mesa.

Assim que o professor apareceu na entrada, os dois voltaram à atenção para o homem. Ele podia ver a surpresa no rosto dos estudantes, uma surpresa que se transformou em alegria, na forma de um sorriso no rosto dos dois.

_Professor! –disseram em conjunto-

Karen correu até onde o homem estava para recebê-lo. Ela o olhou de cima abaixo, como se quisesse ter certeza de que era ele mesmo ali, bem na frente dela. Depois virou-se e voltou para onde o amigo estava, quase pulando de alegria.

_Silas, é ele mesmo!

_Eu sei, seu sei. –o garoto sorriu- Professor, como está o Senhor?

_... Eu estou bem. –respondeu confuso-

_Estávamos preocupados... Mas é bom ver que está bem e vivo! –Karen completou o raciocínio do garoto-

_Puxa, tomamos um susto e tanto quando o Senhor sumiu... E a Senhorita Ária estava em apuros, ainda bem que tínhamos o número do Doutor...-o aluno contava suspirando aliviado-

_...

_Teve também o problema com a Ária, quando chegamos aqui o Doutor disse que precisava de uma doação de sangue... Por sorte ela é 3/4 humana, então nosso sangue servia, mas aí tinha o problema com o tipo sanguíneo... O Silas teve que doar...

_...? –o professor encarou o menino, um tanto admirado-

_Ah, foi só uma doação normal, não precisa se preocupar... –ele gesticulou sem jeito- Pra ser sincero eu fiquei bem nervoso em pensar que a Senhorita Ária poderia morrer e o Senhor ainda estava sumido...

_O bom é que tudo deu certo! –Karen sorriu para animar o clima-

_Sim!

_Ah, professor quando vai voltar à escola?

_... Eu não sei...

_Calma, Karen, ele deve voltar quando a Senhorita Ária estiver melhor... O doutor não disse que ele estava todo preocupado com ela? –o garoto riu-

O homem ficou impressionado com os alunos, e ao mesmo tempo, perplexo. Como depois de tudo que havia acontecido eles ainda conseguiam falar com ele normalmente? Eles não tinham visto sua verdadeira forma? Não haviam provado o sabor do medo? Ajudar sua noiva era plausível, afinal ela nunca lhes fez mal, no entanto, por que eles faziam questão de ajudá-lo?

_Eu não sei se irei voltar...

_Professor...? –a menina fez uma expressão aflita-

_Karen...

Ela iria aproximar-se e discutir aquilo, mas Silas pôs a mão na frente da menina e a impediu, fazendo um gesto negativo com a cabeça.

O cômodo ficou silencioso por algum tempo, então os dois jovens trocaram um olhar, e a garota entendeu o que o amigo queria.

_Ah... Eu vou pegar algo pra beber... –e suspirando desmotivada, ela saiu dali-

Não demorou muito para que o homem prosseguisse com a conversa:

_Por que vocês estão me ajudando?

_Eu não entendo sua pergunta, professor... –o aluno franziu o cenho-

_... Depois de tudo que aconteceu, de todos os incidentes que se envolveram, ainda têm coragem para continuar a tentar me ajudar?

_Ah, sobre isso... Nós temos um clube que quer trabalhar exatamente esse ponto, certo? A Alícia não já disse que o clube serve para mediar as relações entre humanos, lobisomens e vampiros? É comum que coisas assim aconteçam quando estamos lidando com raças diferentes, certo?

_... Vocês não compreendem? Esse não é um lugar pacífico onde devem se envolver, é um mundo completamente diferente do seu... Ainda mais...

_Ainda mais o quê? –desafiou-

_... Não basta terem sido envolvidos em mais de uma situação de perseguição, nem terem visto de perto como é perigoso?! Não entenderam ainda que eu poderia ter matado os dois quando me transformei?!! –gritava alterado- Vocês não sentem medo?!

_...

Silas levou alguns segundos para responder enquanto olhava para o semblante cansado e indignado do professor.

_Eu senti sim medo, professor... –disse calmo- Mas acho que quem está com mais medo aqui, é o Senhor.

_?!!

Isshvan projetou o corpo para trás instintivamente por causa da acidez das palavras do aluno que tinha uma expressão que chegava a ser fria, dando um tom sombrio ao rapaz.

_Nós entendemos o perigo que corríamos. Sabemos que não deveríamos ter nos envolvido, mas nós fizemos uma escolha, professor... Não adianta mais voltar atrás... E conhecemos bem as consequências disto...
–...-o homem franziu ainda mais o cenho-

_Naquela época dos galpões, eu sentia muito medo do Senhor, porque eu era preconceituoso e não conhecia nada do seu universo, mas eu amadureci. Até então eu não sabia que o Senhor precisava se esforçar para manter o controle sobre sua transformação, porque fazia isso parecer tão fácil... Mas eu entendo agora.

A fala do garoto era firme e cheia de convicção. E os olhos dele expunham a determinação flamejante que ardia em seu interior.

_Você acha que não podemos ter uma vida normal por causa da nossa escolha? Claro que a vida não ser a mesma, quando descobrimos algo assim, muito vai mudar, mas não significa que não possamos ter uma vida relativamente comum. Você também pode continuar lecionando na escola e tenha certeza de que seu segredo será bem mantido, lembre-se de que um dos objetivos do clube criado pela Presidente é poder criar um espaço harmonioso de convívio entre as raças, é a sua vida como professor e como pessoa que estamos tentando proteger. E como vice-líder do clube de ocultismo –o garoto estufou o peito com orgulho- Eu guardo estes valores comigo com tanta paixão quanto a presidente.

_Vocês... –o professor estava sem palavras-

_Daqui pra frente eu não me importo com o que acontecerá com minha vida, pois irei dedicá-la ao clube e ao sonho que quero proteger! E o Senhor não pode contestar isso!

_...

Alguns momentos de silêncio seguiram após a declaração do garoto, o lobisomem abriu a boca para falar, mas fechou em seguida, ainda sem ter ideia do que dizer. Silas respirou fundo e abriu um sorriso.

_Ufa, eu finalmente disse isso! –alargou o sorriso- Professor o que aconteceu naquela noite foi aterrorizante, eu confesso, mas ainda assim, o Senhor não queria fazer nenhum mal, e nós entendemos isso. Então pare de se culpar... –ele deu tapinhas no ombro do professor

_... –o homem escutou com uma expressão emburrada -

_Sabe, Alícia estava se culpando por ter trazido aquele caçador aqui, porque ela tem um grande senso de responsabilidade por trás daquela loucura dela... E quando o Senhor estava transformado, ela o impediu de matar alguém porque não queria que se sentisse mal caso soubesse que era culpado de matar uma pessoa naquela forma... Ninguém está te culpando, nem vamos atribuir culpa a ninguém, e aquela noite não tem mais valor, nós estamos aqui hoje, vivos e bem, isso que importa!

_... Que situação- o professor respirou pesadamente- Recebendo sermão de um aluno... –ele massageou as têmporas- Estou parecendo tão ruim assim?

Silas deu um riso de divertimento antes de responder àquela pergunta.

_ Está com uma expressão bem abalada, mas aquele doutor disse que estaria assim por causa da Senhorita Ária. Bem, ao menos eu fico feliz que meu sangue serviu pra alguma coisa.

Os dois foram interrompidos e distraíram-se da conversa quando alguém apareceu na porta de entrada.

_Silas, temos que ir!

_Ah, Karen! Eu já estou indo... –ele deu passos rápidos até alcançar a garota- Tchau, professor, nos vemos na Escola!

O homem acenou enquanto olhava os dois jovens irem embora.

...

Era final de tarde e os dois caminhavam para casa, a menina estava curiosa sobre a conversa entre Silas e Leonhard Graham. Interrogava o amigo o caminho todo.

_Como foi?

_Ele vai ficar bem, depois de tudo que eu disse, acho que ele vai pensar no assunto pelo menos... –o garoto contava desajeitado-

_Isso é incrível, Silas! Convencer o Senhor Graham é um feito e tanto!

_Não é verdade, ainda não está bom o bastante, Alícia poderia tê-lo convencido com menos que isso... –disse sentindo-se ultrapassado-

_Mas ela está em outro nível!

_Isso é verdade!

E os dois riram. Conversaram bastante durante o percurso. Era bem verdade o que o menino havia dito ao professor... Por mais que a vida deles tivesse mudado, por mais que eles pudessem vivenciar situações de perigo, aqueles momentos cotidianos, aquelas felicidades arbitrárias, tudo continuava ali. E era somente disso que o garoto acreditava precisar para viver bem. Contanto que seus amigos e família estivessem bem, e que ele pudesse agarrar um pequeno fragmento daquele sonho e torná-lo real, seria o bastante.

...

Manhã de 30 de maio,

Colégio Nieyama

...

Silas e Karen estavam de volta ao colégio, haviam faltado alguns dias seguidos por conta dos problemas que tiveram, e estavam preocupados que a escola contatasse os pais deles, então inventaram uma explicação e fingiram ao professor que mataram aula porque estavam se divertindo em algum lugar longe do colégio. Fizeram uma interpretação e fingiram estar arrependidos, prometendo que se comportariam contato que nada fosse dito aos pais deles, e apesar da desaprovação de Houston, o professor de matemática que assumiu a classe na ausência de Leonhard, o diretor da escola foi compreensivo e deu apenas um leve castigo de aulas extras depois das classes normais.

_Não pensem que podem se safar por serem alunos daquele professorzinho! –Houston disse com desprezo- É melhor se comportarem ,estarei de olho em vocês dois!

E os dois saíram da sala da diretoria, suspirando pesadamente.

_Nossa, que ótimo, temos o maluco do Senhor Houston nos espionando agora...

_Eu sei que não será fácil fazer as pesquisas do clube com ele nos observando o tempo todo, mas tenha paciência Silas. Se não fizermos nada suspeito, ele vai nos deixar em paz com o tempo...

_Eu sei, eu sei... – o garoto replicou irritadiço- Não gosto de como ele trata o professor Leonhard...

_Sim, acho que ele tem inveja...

_Falando nisso, eu que estou com inveja da Alícia por fazer um monte de coisas assim sem receber nem uma chamadazinha... –o menino estreitou os olhos e torceu a boca, inflamando de raiva- Como ela consegue?!

_Calma, calma... Pelo menos conseguimos dar uma desculpa e não deixar nossos pais sabendo disso...

_Verdade...

Os dois andavam pelos corredores da escola, e estavam próximos a sala de aula, quando algumas garotas chamaram Karen.

_Eu vou na frente!

Silas se despediu, mas assim que entrou na sala, na hora do intervalo, um grupo de garotos o cercaram. Ele se espantou, os meninos lançavam um olhar um tanto inquiridor a ele e tinham um sorriso duvidoso no rosto.

_E aí, Silas! –um dos garotos de uma forte tapa nas costas do menino, fazendo um estalo-

_Como vai, parceiro?

_Ahm... Erm... –o jovem vice-presidente olhou em volta, estava cercado de garotos com sorrisos esquisitos- Bem, mas... O que querem comigo?

_Ah, vamos lá, parceiro! Qual é... Você e a Karen faltando à escola pra brincar! O que aconteceu?

E os rostos dos garotos se aproximaram, com uma curiosidade excessiva, despejando perguntas no pobre jovem.

_E aí? O que aconteceu?

_É, conta, amigão!

_Se deu bem?

_O quê...? N-não é isso que estão pensando! –o rosto do garoto enrubesceu enquanto ele gaguejava- E-eu só estava entediado e ela também, então resolvemos matar aula ao invés de virmos aqui, mas foi só isso! Não teve nada de especial!

_Ehh? –disse um dos meninos desapontado, apoiando o braço nos ombros de Silas- Que chato!

_Nosso relacionamento não é como vocês pensam!

_Mas vocês não são amigos de infância? E você nunca conseguiu se declarar pra ela?! Puf- o meninou riu- Pobre jovem!

_Não zombem dele, ele deve ser tímido! –o que segurava em Silas o defendeu- Bem, sinto muito por você, mas foi corajoso em fazer isso, nunca esperaria algo assim vindo de você...

_Conta pra ele, Jorge!

_Contar o quê? –Silas perguntou um tanto preocupado com o que poderia haver na cabeça daqueles rapazes-

_Ah, sim... –Jorge aproximou o rosto do ouvido de Silas, e olhando em volta, para ter certeza de que ninguém mais escutaria, prosseguiu- Nós estamos pensando em dar uma ronda à noite, pra... Ah, você sabe, tomar umas coisas legais...

_...? –o vice-presidente arqueou o cenho-

_Então, quer ir com a gente?

_Qual é, vai ser legal! Aposto que vai fazer a sua amiga se apaixonar por você!

_... Não entendo bem por que estão me convidando...

_Vamos, você é um cara descolado agora, vem conosco! Vai ser divertido cheirar umas coisas nos galpões, sabe, aquele clima sombrio e abandonado e o ventinho gelado!

_Aonde? –Silas empalideceu-

_Nos... galpões... –um dos meninos repetiu assustado-

_Não! Não podem ir lá! –o menino quase gritou-

_Shhh!! Relaxa, cara! –gesticulou- Se não quiser ir tudo bem, só dizer, fica tudo na boa!

_Não, não entenderam, não podem ir lá sozinhos! É perigoso!

“Ah, esses malandros tinham que escolher logo um dos lugares que a Alícia marcou como perigosos?!! Que idiotas!!”

_Por quê? Ninguém mais vai lá... –um dos meninos indagou complexado com a reação do garoto-

_B-bem... É que eu ouvi que tem muitos grupos que vão lá e, às vezes a polícia aparece de surpresa... N-não seria bom ter a polícia por perto enquanto vocês fazem isso, certo?

_Uou! Sério?! Cara! Temos que escolher outro lugar! –um dos garotos roeu uma das unhas-

_Nunca ouvi esse boato. -outro contestou-

_É recente!-Silas rebateu a contestação- Sabe, o pai da minha líder de clube é policial, e ele a conta uma ou duas coisas sobre o pai de vez em quando...

_Verdade?

_Sim...

_Bem, então, o que faremos?

_Podem ir a outro lugar, tá bom? E tenham cuidado para não serem pegos!

Silas despediu-se e saiu de perto dos garotos, respirando fundo. Foi por pouco que ele permitiria um desastre acontecer. Mas ainda tinha suas dúvidas... Será que os colegas de classe haviam realmente escutado ele? Esperava que sim, mas por precaução, ele comentaria isso com Alícia e estava indo agora mesmo à sala do clube.

Enquanto isso, no corredor da escola, Karen conversava com algumas meninas...

_Karen, o que houve? Você e o Silas estão finalmente...? –uma das meninas perguntava com um ar apaixonado-

_Não. –a garota respondeu tímida- É só que eu nunca tinha faltado na escola e pensei que seria bom ter essa experiência de não ter que vir à aula, então nós ficamos andando pela cidade...

_Eh? Não aconteceu nada? –disse decepcionada- Se eu fosse você parava de andar com ele... Um menino que te conhece há dezessete anos e nunca tomou uma iniciativa!

_ Poderiam parar com isso, por favor? –Karen franziu o cenho, irritada-

_Ah... –a menina recuou um passo- Eu só estava dando voz à minha opinião... Não tá mais aqui quem falou...

E as meninas foram embora. Assim que sumiram da vista, Karen deu um longo suspiro.

“Ah... Agora boatos estranhos vão circular pelo colégio inteiro... Mas, entre a minha vida escolar e o segredo do professor descoberto, eu prefiro que minha vida escolar acabe...”

“Talvez eu deva ir para o clube... Alícia deve estar por lá... Aposto que está ansiosa para saber como estão o professor e a Ária.”

...

Na sala do clube de ocultismo

...

_Garoto Silas! -Alícia cumprimentou com seu ânimo inesgotável-

_Olá... –ele respondeu sem tanto humor quanto a garota-

_Como vão o professor lobo e sua noiva? Tudo bem com eles?

_Ah, a Senhorita Ária vai se recuperar logo de acordo com o doutor, e o professor... bem, ele está um pouco pra baixo, mas vai ficar melhor quando a noiva dele estiver boa...

_Entendo... –a líder suspirou-

_E quanto aquele caçador, presidente?

_Ah, o Sanmoto? –ela foi até a janela e olhou o horizonte- Ele se desvinculou do nosso clube e rejeitou meu pedido de ajuda... Quando descobriu sobre o professor, ele achou que não devia mais trabalhar em conjunto conosco, e decidiu agir por conta própria, mas não sei aonde ele foi...

_Alícia... –Silas deu um longo suspiro-

_Mas... –ela abriu um sorriso para o garoto- É claro que o segui, e descobri algumas coisinhas sobre aonde ele queria chegar...

_Essa é a presidente! -ele aplaudiu-

_Parece que além de Silver e do nosso Samurai, outros caçadores estão vindo para cá, e para que eles estejam se reunindo por aqui, sabe o que significa?

_Temos um peixe grande nesta cidade?

_Talvez, mas não acho que chamariam tanta atenção se fosse por isso... Quero dizer, se fosse para caçar alguém, deveriam ter mais discrição... O que eu acredito é que eles podem estar não caçando alguém, mas procurando algo que existe nesta cidade...

_Algo? Como o quê, por exemplo?

_ Não sei ainda... Mas definitivamente não é bom... Tenho um mau pressentimento...

A expressão da menina mudou, ficou reflexiva e sombria enquanto o garoto a encarava sério, também pensando nas possibilidades.

_Ah, a propósito, presidente, tinham uns garotos que queriam ir aos galpões pra fazer coisas erradas, eu os impedi temporariamente, mas não sei se eles me escutaram de verdade...

_Bom trabalho, garoto Silas!

_Eu sei que aquele lugar é perigoso, afinal estava marcado no mapa que você fez como um dos locais de risco... –ele percebeu o que acabara de falar e tapou a própria boca-Ah... Eu não...

_Ora, ora... –Alícia deu um sorriso e estreitou os olhos- Andou mexendo na sala do clube... Garoto Silas?

_Ah... É... Presidente, eu estou com a chave do armário do clube, e recentemente andei olhando os arquivos que pesquisou... Eu não tinha ideia do quanto você falava sério até ver aquilo... Estava mesmo se doando ao clube... E não tenho vergonha de dizer que sua paixão me inspirou também, Presidente! Por isso mesmo que eu busquei sozinho aquilo que não queria me contar... –ele sorriu confessando o crime sem arrependimento algum-

_... Hum... É aceitável... –ela alargou mais o sorriso e deu uma tapa no ombro de Silas- Se não tivesse feito isso, não poderia se chamar de vice-presidente! Seja bem vindo ao imenso mundo sobrenatural que o aguarda!

_Será um prazer trabalhar com você, presidente!

E quando ambos se cumprimentavam, Karen apareceu na porta do clube, um tanto confusa com a cena.

_Por que estão se cumprimentando? Estou atrapalhando algo?

_Ah, não, não... –o menino disse desajeitado- Só estávamos contando um ao outro os desfechos do que aconteceu nestes últimos dias...

_Seja bem vinda para discutir também, garota Karen...

_Bem, como eu dizia, Alícia, seria bom ter certeza de que aqueles meninos não irão aos galpões...

_Eu tomarei algumas medidas, mas antes, tenho alguns assuntos a resolver...

_Que tipo de assuntos? –o menino arqueou o cenho-

_Pesquisas, Silas, pesquisas...

Uma aura negra envolvia menina enquanto ela sorria e falava num tom ameaçador e misterioso. O sinal tocou indicando o fim do intervalo.

_E vocês dois também, reúnam o máximo de informações que puderem sobre a vinda dos caçadores à cidade. Precisamos saber o que eles tanto procuram aqui. Agora, se me derem licença, tenho aulas... Hehehehe... –ela saiu dali rindo-

_Silas...? Do que ela estava falando?

_Vem, te explico no caminho, é uma história um pouco complicada...

E assim, um dia calmo e cheio de preocupações se foi para aquelas crianças que insistiam em brincar com aquilo que não conheciam... Até quando elas persistiriam em continuar confrontando o destino que se montava contra elas?

...

E finalmente,

Noite de 31 de maio,

...

Olá. Aqui sou eu Alícia Aven a líder do clube de ocultismo. Novamente eu saí em uma de minhas jornadas investigativas, “mas nos galpões de novo?” Não, não mesmo. Desta vez meu alvo é um lugar um tanto peculiar.

Como sabem, estive pesquisando sobre os motivos dos caçadores virem aqui, mas obviamente eu não encontraria uma informação de tal sigilo fácil. Por isso eu fiz questão de descobrir o local da reunião deles, e não foi simples, garanto...

Eu quero realmente saber o que chamou o interesse de tantos profissionais em nossa cidade, pode haver algo bem debaixo de nossos narizes e nunca termos notado antes... Eu posso ser esperta, mas sou inexperiente e isso tem se provado uma fraqueza como quando aquele caçador atacou o professor... Fui eu que o trouxe aqui acreditando que poderia controlar a situação, e não pude. Agora não importa mais, devo ser cuidadosa e seguir adiante.

Falando em seguir, eu espionei um pouco nosso amiguinho samurai... Ele foi ao porto, depois enviou uma carta via navio (provavelmente para a terra na tal dele), e por fim, seguiu até a floresta que fica na direção do interior do Estado...

Por que a floresta? Deixem-me explicar, ele estava tentando achar o professor, mas não conseguiu, porém, encontrou algo muito mais interessante: uma capela abandonada no meio da floresta. E o que tem isso? Contarei o que achei depois que pesquisei sobre o local, que me chamou bastante atenção à primeira vista...

Primeiro: como está no meio da floresta? Bem, antes da cidade existir, havia uma vila perto dali, então as pessoas tinham mais acesso à floresta e ainda hoje existem antigas trilhas apagadas pela ação do tempo, e algumas em uso por os moradores da região. Enfim, quando a cidade foi nascendo e crescendo, e o centro se estabelecendo longe daquela área florestal, logicamente, as pessoas migraram para regiões mais perto do centro, e consequentemente, para longe da floresta. Soube também que o padre que liderava a comunidade morreu de velhice, e como a capela não era mais tão frequentada, acabou que nenhum outro representante veio substituí-lo, assim, foi abandonado.

Segundo: Apesar da capela estar com uma estrutura apodrecida, cheia de vinhas e plantas crescendo por todo lugar, naquele dia que segui Sanmoto, tinha alguém mais lá... Esquisito, não? Poderia ser um fantasma ou alguém fazendo gracinhas... Mas sabe o mais curioso? Por que alguém estaria ali justamente nessa época que os caçadores devem estar chegando?

Terceiro: Este é o último e mais importante detalhe que descobri sobre a capela... São apenas mitos e relatos de antigos moradores... Mitos sobre um grupo que se encontrou uma vez debaixo do solo da capela... Sob o velho assoalho de madeira que range, quando o lugar ainda era frequentado, os moradores dizem que uma única vez, quando um “surto” de uma doença contagiosa atacou a população, o padre e mais algumas pessoas estrangeiras se reuniram naquele local e passaram a noite discutindo algo... As pessoas que tinham ido ali eram estranhas e os moradores as descrevem como tendo um olhar frio... Dizem que pouco depois da chegada destes e da suposta reunião secreta, o surto da doença contagiosa que fazia as pessoas morderem os outros parou... E o cemitério aumentou também...

E aí? O que acham disso? Não soa extremamente perturbador? E se a doença que as pessoas falavam fosse vampirismo? E se aqueles fossem caçadores? E o que me diria se eu lhe desse a suposição de que os encontros que eram feitos aqui são os mesmos que estão para ser feitos atualmente?

Sim, exatamente. Eu creio que o encontro destes caçadores será feito no mesmo local que anos atrás... Na capela que agora está abandonada... Bem, quanto menos pessoas por perto, mais fácil discutir assuntos complicados... Além disso, hoje seria um bom dia para fazer uma reunião secreta... Estamos no último quarto da lua...

...

Às 2 da madrugada, Alícia Aven estava à espreita nas árvores ao redor da pequena capela, a espera de um momento interessante que fizesse jus ao seu esforço em chegar ali, e que satisfizesse sua curiosidade insaciável.

Viu um vulto se entranhar na mata, passando por os arbustos e fazendo as folhas crepitarem a seus pés. Alícia ficou num estado de alerta e de êxtase. Não viu bem a figura que se aproximava dali, mas pôde identificar alguns traços: o cabelo loiro e liso que parecia cair quase até os ombros e as roupas escuras que usava, não viu o rosto, o homem que caminhava por ali estava de costas.

“Droga! Ele deveria ter olhado para cá... Os vilões sempre olham para trás antes de entrar em locais para fazer coisas suspeitas...”

Ela tentou se aproximar das janelas pra ver o que o homem estava fazendo dentro da capela.

_Aposto que esse é um dos caçadores... Parece estrangeiro, e tem um ar diferente das pessoas daqui... Hehehehe... Eu não me arrependo nunca de sair à noite...

E enquanto ela observava, a garota não pôde notar que um par de olhos a assistiam do escuro, de cima de uma das árvores.

. . .

O vampiro tinha o cenho franzido e uma expressão de inconformidade, com seus olhos vermelhos vibrantes na noite, enfurecidos pela presença da menina num local inadequado e por novamente estar lá quando ele buscava realizar seus planos.

“Aquela humana...!! Ela tinha que vir hoje?! O que ela faz aqui?! Não é possível que tenha descoberto sobre os caçadores aqui é?! Tch... Ela é um problema!!”

...

Alícia sentiu um arrepio percorrer sua espinha, e ela já havia tido aquela mesma sensação antes, não era por causa do frio da noite, sabia bem do que se tratava. Seus instintos ferviam dentro dela.

Imediatamente, com seus olhos analíticos, ela percorreu seu arredor. Estava escuro e a pouca luz da lua que caía sobre a floresta era impedida de alumiar o local por causa das copas das árvores. Ainda assim, sabia que havia algo de errado ali, sua intuição nunca falhava. Tentou enxerga o menor movimento que ocorresse, mas não viu nada, até que...

Ouviu a copa de uma das árvores balançar bruscamente, não com o vento, algo mais saiu dali, algo estava por perto, sentiu um frio na barriga. Era um caçador? Um vampiro? Um lobisomem? Ou será que era algum morador local? Independente de quem fosse aquela noite estava realmente animada. Ela quase havera se esquecido como era ter uma boa aventura.

Assim que virou-se para trás, seu sorriso sumiu instantaneamente quando ela se deparou com aquela criatura noturna novamente. Mas em um segundo, um sorriso se pôs de novo no rosto dela, com um ar desafiador.

_Ora, ora... Nos encontramos de novo, Senhor vampiro...

_Você...! –Raphiel franziu o cenho- O que pensa que está fazendo aqui?

_O quê? Hum, bem... Provavelmente o mesmo que você... Veio espionar, também?

_Humana, você está brincando comigo?

_Eu não brincaria com isso... –respondeu indiferente, depois franziu o cenho- É bom que não esteja planejando atacar ninguém, se bem que vindo para uma região remota, não acho que seja isso... Vai mesmo espionar, não é?

_Não interessa...

_É claro que interessa, se estiver pensando em atacar alguém, eu não posso deixar que o faça tão facilmente...

_Não está se superestimando demais? Impossível um humano me parar...

_Quem está se superestimando aqui? Eu posso não ser imortal e ter força ou habilidades estonteantes, mas não subestime os humanos... Somos fortes ao nosso próprio modo.

_... Não importa se você é ou não forte, não me atrapalhe... Vá embora daqui.

_Por que eu deveria? Aposto que cheguei antes de você! Eu estou trabalhando, reunindo informações! –retrucou firme e indignada-

_Esse não é um lugar para humanos comuns, suma antes que eu te faça sumir de verdade... –disse irritado-

_Se quer tanto que eu vá embora me tire daqui.

Alícia desafiou-o, cruzando os braços. Seus olhos não demonstravam medo e não era isso que ela sentia. Sua fúria era maior. Um vampiro que havia feito confusão na cidade, e que tinha auxiliado, de certa forma, para que aquela tragédia com o professor e a noiva ocorresse e agora, tentava mais uma vez se pôr no caminho.

No entanto, o embate de olhares foi interrompido por uma terceira pessoa que apareceu ali...

_Deixe a garota em paz, Vampiro! –uma voz masculina soou-

Tanto Alícia quanto Raphiel voltaram à atenção para o homem que se aproximava, vindo da direção da capela, ele parou a alguns metros dos dois e apontou uma arma...

Era pouco alto, loiro, com os cabelos lisos e rebeldes caindo abaixo do queixo. Os olhos, castanhos, e as roupas que usava eram de um tom azul marinho. Apontava uma besta metálica para Raphiel, mas o mais surpreendente, ele era extremamente jovem, um rapaz que parecia estar na casa dos vinte e poucos anos.

_Se afaste dela! –gritou-
_Ah... Será que... Você é um caçador?-os olhos dela brilharam-

_Isso mesmo, agora fique longe dele, é perigoso garotinha... –o rapaz franziu o cenho ardendo em fúria pelo vampiro- Estava hipnotizando-a, não é? Queria sugar o sangue dela seu imundo! Não tem vergonha de seduzir uma garota tão jovem, hein?!

_Hã? Mas eu não estava hipnotizada... –Alícia respondeu confusa com as acusações do rapaz-

_C-como?

_Eu não estava sob nenhum efeito hipnótico... Estávamos conversando aqui até você chegar...

_Impossível! –o jovem franziu o cenho-

_Não é não!-Alícia contestou firme, depois voltou o olhar para Raphiel e sussurrou- Ei, você por acaso estava me hipnotizando...?

_... Não. –respondeu sem interesse-

_Não importa, afaste-se dele, moça! Não está vendo os olhos vermelhos? Ele com certeza é um vampiro! –ele lançou um olhar desafiador para o adversário-

_Ainda não entendo qual o problema... –Alícia encarou o jovem homem por alguns segundos-

Os dois homens fitaram a garota por algum tempo antes que o caçador esboçasse uma reação que misturava um tipo de repulsa e certa confusão.

_Ele é um vampiro e pode sugar seu sangue... –explicou com incredulidade na falta de noção da menina-

_... –Novamente Alícia fitou Raphiel- Você estava tentando montar algum tipo de armadilha para sugar meu sangue?

_... Não. –respondeu novamente, irritado-

_Viu só? Estávamos apenas tendo uma conversa civilizada...

Ela encarou o caçador como se ele estivesse louco, e balançando a cabeça fazendo um gesto negativo complementou a frase:

_Como se ele fosse sair mordendo todo mundo que encontra só porque é um vampiro...

O caçador deu risos abafados e quase inaudíveis, e no minuto seguinte, apontou a besta metálica para Alícia.

_Entendi... Entendi...–o homem respirou fundo- Então está com ele... Já vi humanos ajudando vampiros, mas isso foi inesperado para essa região... É uma pena... Porque vou ter que te eliminar também, gracinha...

A menina ficou assustada com a expressão do jovem caçador e engoliu seco, mas não deixou o medo transparecer em seu semblante. Novamente, uma situação nada acolhedora. E mais uma vez, ela ainda nem tinha chegado às informações que desejava.

_Não me associe com humanos. –Raphiel praticamente cuspiu a frase-

_Espera aí! –Alícia pôs as mãos na cintura, indignada- Eu entendo que esteja fazendo seu trabalho, mas por que todo mundo têm que ser tão preconceituoso? Se as pessoas tivessem menos preconceito o mundo seria um lugar melhor, sabia?

_Hã? –desta vez, o caçador que recuou um passo, atordoado pelas ações da garota-

“Ela não se intimida nem com uma arma apontada para ela? Ela é louca por acaso?”

_Eu deveria esperar por isso, você é um caçador afinal... Mas ouça uma coisa: existem pessoas boas e más no mundo, em todos os lugares, independente da raça! Não é só porque existem vampiros que atacam o primeiro que passa pela frente que todos tem que ser assim! Lobisomens também, não atacam por vontade própria! Você devia saber disso, mesmo entre os humanos existem pessoas terríveis, por que não vai caçar eles, então?!

_Qual o seu problema? –o caçador a olhava perplexo-

_Problema? –ela sorriu- Não tenho nenhum problema, meu jovem! Eu apenas estou fazendo meu trabalho! –bateu no próprio peito, orgulhosa – Como líder do clube de ocultismo, eu Alícia Aven um dia farei com que as raças não tenham preconceito entre si! O mundo vai se tornar um lugar mais harmonioso, grave minhas palavras!-ela apontou o dedo indicador para o caçador- Nosso clube vai mudar até mesmo pessoas como você...

_ “Nosso”...? –o caçador estreitou os olhos- Então tem mais pessoas como você...? Ume menininha bem peculiar, devo dizer... –ele apontou novamente a besta para a ela- Se é assim, me desculpe, mas terei que interrogá-la sobre essa sua organização mais tarde... –mudou a mira, fixando-a em Raphiel- Estou bastante interessado em ouvir a sua história...

A aura em volta do caçador mudou, seus olhos ficaram afiados como lâminas e o ar em torno dele pareceu tomar corpo, um sorriso largo de provocação e desastre se fez no rosto dele.

Alícia conhecia bem aquela postura, parecia como quando Sanmoto havia lutado contra o professor dela dias atrás. Cada caçador tem um modo diferente de demonstrar que está pronto para batalha, mas claro, era óbvio que a sensação transbordante que saía daquele homem definia bem o termo “caçador”.

“Ah... Situações como essa me deixam fervendo, mas, não! Não é hora pra ficar feliz com isso Alícia, temos que resolver isso... Eu preciso interrogar esse caçador e preciso saber o que esse vampiro quer de verdade aqui...”

Ela sentiu uma mão puxá-la pelo braço, e outra mão tocando no seu ombro, segurando-a.

_Mais um passo e eu irei mordê-la de verdade, e lhe garanto que não será uma cena agradável. –o vampiro aproximou as presas do pescoço dela-

“Ah... As circunstâncias são um pouco complicadas agora...”

Alícia sentiu a respiração do vampiro próxima a seu pescoço e seu sangue congelou.

O caçador não hesitou, desferiu tiros com a besta de repetição. Alícia não conseguiu entender a cena seguinte, de repente sentiu seu corpo ser levantado e começou a ver as coisas de cima, e o cenário começou a passar tão rápido que ela só conseguiu ver o vulto do caçador que corria atrás dela se afastando gradativamente.

_...

Ela estreitou os olhos. Era a segunda vez que isso acontecia. Ela estava sendo carregada por alguém.

_... A-há. Foi uma estratégia inteligente fingir que ia me morder pra escapar, mas eu ainda precisava fazer perguntas aquele caçador.

_Se não calar a boca agora, eu vou te morder de verdade, garotinha. –disse com um olhar sombrio-

_Olha aqui, eu não pedi pra me tirar de lá! –ela cruzou os braços-

_Você interrompeu meu trabalho e ainda ousa reclamar, humana? Conheça seu lugar!

_Você também interrompeu o meu!

_O que você tem na cabeça afinal?! –gritou exasperado-

_Eu disse, o clube de ocultismo existe para mediar as relações entre humanos, vampiros e lobisomens, mesmo que signifique ter que lidar com vampiros como você e caçadores como ele. E algum dia, as pessoas conhecerão nosso trabalho.

Raphiel parou, foi ao chão e literalmente a largou bem ali. Estavam à beira da estrada de asfalto que levava de volta à cidade. Ele respirou fundo passando a mão pelos cabelos, com o semblante cansado, e massageando as têmporas, disse:

_Eu não irei nem pontuar o quanto isso é infantil... Você me deixa exausto, por favor, suma logo da minha vista...

A menina deu um risinho e depois sorriu vitoriosa, acenando:

_Até mais, Senhor vampiro!

Ele deu as costas e saiu andando, ainda massageando as têmporas. E sumiu entre as árvores da floresta.

“Hum... Ele não parece ser do tipo que mataria humanos por pura maldade, se não teria feito isso comigo quando teve a chance... Deve ter um motivo forte por trás das ações dele naquele dia, mais isso é elementar, logo descobrirei! Preciso me concentrar em pesquisar sobre aqueles caçadores... Hoje não deu certo, tenho que me apressar...”

E rumou para casa, caminhando feliz.

“Acho que foi o bastante por um dia...”

O que Alícia ainda não sabia era que o caçador que ela conheceu em breve iria reaparecer, e que ele fazia, assim como ela, parte de uma trama enorme que se compunha na cidade.


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