Acordar cedo é um saco. Acordar cedo para ir a um lugar onde as pessoas são fúteis e sem graça é pior ainda. Mas fazer o que né, todos somos obrigados a ir pra escola, comigo não seria diferente. Desamarro meus pequenos cabelos ruivos, tomo meu banho pra ir pra aquele inferno, tento prolongar o banho de toda maneira possível, mas não dá pra evitar, vou ter que ir pra aquele lugar... Escola é um lixo.

- Acordou feliz hoje Alissa?  - Pergunta minha mãe, Vanessa, da porta do banheiro.

- Melhor impossível mãe. O que você está fazendo acordada a essas horas mesmo ?

- Eu penso em acordar mais tarde quando você fizer nascer dinheiro do chão. Vou trabalhar né, agora vê se sai logo desse banheiro.

- É todo seu. –  Sai do banheiro já arrumada, com minha camisa xadrez vermelha, minha calça preta e meu tênis azul.

Saio de casa e espero Brian para podermos ir juntos pra escola. Brian é uma das poucas pessoas com quem realmente gosto de conversar naquele lugar, e hoje ele realmente decidiu se atrasar.

- Oi Alissa, atrasei muito? – Diz ele chegando do nada por trás de mim, levei um susto que me despertou do meu sono em um segundo.

- Ai! Não precisava ter me dado um susto desses né, jesus.  Sim você nos atrasou, teremos que correr se quiser chegar a tempo na escola.

Na verdade não estávamos atrasados, eu apenas queria chegar cedo pra evitar ter que dar bom dia pra muita gente no portão. Eu podia não ser social, mas Brian era, e isso significa falar com todo mundo com quem ele praticamente me arrastava pra conversar. Dentre todas gostava mais de Cindy, sim ela era fresca de doer, mas conseguia me arrancar umas risadas.  Chegamos à escola e só havia Cindy no portão, fomos falar com ela, porque aquilo era estranho, não ter ninguém naquele portão era muito estranho. E aquela névoa forte que apareceu nessa manhã não estava ajudando a normalizar as coisas.

- Meus pedidos foram atendidos e todo o resto da escola morreu? – admito que estava feliz em ver Cindy.

- Não, ainda não aprendi a usar uma arma. – Cindy tem uma felicidade enorme, ainda não sei como não sai glitter de seus olhos quando pisca ou quando sacode seus longos cabelos loiros, que ela faz questão de nunca amarra-los. Se eu não a conhecesse pensaria que ela era apenas mais uma “filha de papai” desse lugar, afinal, numa neblina forte dessa ela estava de salto.

- Deve ser aquela história de canibalismo assustando todo mundo de novo. – diz Brian com entusiasmo enorme ao falar daquilo.

- Canibalismo? Ok me explique.  – fiquei surpresa com a grande curiosidade de Cindy sobre o assunto.

- Sim, estão falando que está havendo casos de famílias inteiras sendo devoradas por cachorros selvagens, mas eu ainda acredito que sejam zumbis.

- Sim, porque ataques de zumbis são bem mais frequentes que ataques de cachorros selvagens.  – diz Cindy com ar de sarcasmo.

- Se vocês não querem acreditar, problema de vocês, depois não digam que eu não avisei, mas enfim, porque não tem ninguém aqui, a essas horas essa rua deveria estar cheia, certo ?

- Acredite, se eu soubesse ia ser bem mais fácil. Urghh, que frio foi esse?

- É o frio de uma pessoa que está de saia e salto alto em um dia nebuloso. – Digo para ela, mas sei que ela sempre está de saia e salto alto, como eu disse, se eu não a conhecesse pensaria que ela é mais uma filha de papai qualquer.

Ficamos meia hora, uma hora conversando na frente daquele portão sem se dar conta de que ninguém apareceu, não tinha nenhum carro na rua e que era uma manhã de segunda, onde tudo deveria estar agitado. A cidade estava morta e nem percebemos.

- Ok, já são oito horas e não há uma pessoa viva na rua, o que vocês me dizem?  - pergunto, pois não deveria ser só eu que estava achando aquilo estranho.

- Que você está cega, olha um homem ali. Bom, está bêbado, mas ainda sim vivo. – diz Cindy quando avista uma sombra cambaleante em meio a toda névoa.

- Eu não acho que ele seja um bêbado... – diz Brian preocupado

- Sério? Você ainda está nessa de zumbis? – diz Cindy quase gritando

- Ele esta olhando pra cá, cala a boca Cindy.  – aviso Cindy, pois admito que também acho que esse cara não é um bêbado qualquer...

De repente a sombra distante estava cada vez mais perto, estava correndo em nossa direção.