- Pessoal, estou muito apavorada e ainda não me acostumei com isso... – disse calmamente enquanto todos me olhavam atentamente. – Mãe, Rose... Preciso mais do que nunca da ajuda de vocês. Eu quero ter uma gravidez tranqüila e ter esse bebê. – ao dizer isso em voz alta meu coração ficou mais leve.

- Você está em boas mãos meu anjo, vamos te ajudar a passar por isso! – disse Rose sorrindo pra mim. “E aos poucos, eu sei que vou conseguir!”

**********

Todos na sala pareceram se acalmar após minhas palavras. Não pude deixar de notar que John me observava atentamente. Eu seria a Anna de antes por ele. Eu mataria meu pânico, medo, angústia... Tudo que tentasse me impedir de ter este filho. “Eu vou passar por cima de tudo isso!” Minha mente havia se determinado a me encorajar.

- Então John, e os cuidados com o bebê? – voltei à realidade quando ouvi Carl perguntar.

- Anna me avisou que já marcou uma consulta, a ginecologista dela também é obstetra. Eu vou junto, será segunda depois da escola. – disse de maneira serena segurando minhas mãos; nem tinha percebido que ele tinha sentado ao meu lado.

- Isso é ótimo, a Dra. Jenna é uma excelente médica! Cuidou das nossas gestações, não é Rose? – disse minha mãe sorrindo. A cumplicidade delas lembrava eu e Claire.

- Ah sim, excelente! Você está em boas mãos Anna! – Rose respondeu olhando ternamente para mim. Limitei-me a sorrir.

Fomos surpreendidos pela chegada de Kevin e Claire, que nos olhavam com curiosidade.

- Reunião de família e nem nos chamaram... – disse Kevin fingindo estar chateado e indo sentar-se no sofá puxando Claire com ele.

- Kevin, estávamos esperando vocês chegarem pra contar a novidade... – disse minha mãe sorrindo pra mim.

- Ai! Estou ficando nervosa, contem logo! – Claire quicava no lugar de tanta curiosidade e me encarava com ar de quem fareja alguma coisa.

- Estou grávida... – contei timidamente, olhando para minhas mãos. Meu Deus, quanta coisa pode acontecer em apenas UM dia...

Os dois me olhavam atônitos; Kevin olhou de mim pra John e parou o olhar nele. Meu pai não esbravejou, mas meu irmão pareceu não aceitar tão bem a parte do “meu melhor amigo engravidou minha irmã”.

- Kevin? – chamei-o tentando tirar sua atenção que agora se concentrava em John.

- Só um minuto maninha... Estou tentando me focar. É.. quero dizer... Calma. – disse mais pra si mesmo do que pra mim. – Você é minha irmã mais nova Anna, estou tentando não pensar que você já.. É.. Você me entende. Sou irmão, tenho ciúmes. – disse meio envergonhado. Eu entendia muito bem; desde sempre Kevin cuidou de mim.

- Eu sei Kevin, e acredite... Também estou me adaptando à isso. – disse com toda a sinceridade, ele veio até mim e se e me abraçou.

- Ah meu Deus! Como assim nós só estamos sabendo agora?? Não que eu esteja reclamando.. Mas nós somos como irmãs Anna! – Claire deu um muxoxo.

- Claire, nós contamos hoje... – John se apressou em controlar a ansiedade de sua irmã. – Acabamos de contar, e aí vocês entraram...

- Ah sim! Nossa, não sei o que dizer... Mas para ser bem sincera, estou muito feliz! -  Claire veio até e me deu um abraço emocionado.

Nossos pais assistiam a cena emocionados também. Afinal, seus filhos estavam envolvidos e o amor entre nós era verdadeiro e sincero demais. E a cada manifestação de carinho meu coração se acalmava. “Sim Anna, você pode fazer isso...” Minha mente me encorajava mais uma vez.

- Mas me conte uma coisa, - disse Claire empurrando John e sentando ao meu lado – você está de quantos meses? Já foi ao médico? – ela estava preocupada, com certeza ela será a tia madrinha mais coruja do mundo. Nota mental: contar à ela que será madrinha o mais rápido possível!

- Bom, pelas minhas contas estou de mais ou menos dois meses. E a consulta é segunda. Ah, falando em consulta, gostaria de pedir uma coisa... – fiz uma pausa para observar Claire, minha mãe e Rose – vocês são muito importantes pra mim e eu as amo demais! Mas gostaria que apenas o John me acompanhasse na primeira consulta.. Ainda estou me acostumando com essa nova fase, e John esteve comigo quando isso tudo era apenas uma suspeita... – disse passando o olhar para John, que sorria surpreso.

- Ah meu bem, fique tranqüila... Entendemos o seu lado. Bom, teremos mais sete meses pela frente, consultas não vão faltar! -  disse minha mãe piscando pra mim, Rose fez o mesmo.

Minha mãe e Rose foram preparar o jantar, meu pai e Carl foram no jardim conversar e Kevin chamou John para conversar, meu irmão estava feliz e ao mesmo tempo chateado e eu compreendo, afinal, quem espera que o melhor amigo e sua irmã fiquem “grávidos” assim do nada? Não que seja algo inédito, mas pode ser evitado...

Agora estou aqui sentada de frente pra Claire, enquanto ela me olha com uma carinha acusadora. Acho que vou esperar ela puxar assunto.

- Não estou chateada com você Anna, na verdade, estou radiante! Mas percebi que você passou por momentos tensos e ainda está se adaptando... Juro que estou tentando me conter! Mas você e John são perfeitos juntos e eu os amo mais que tudo! – seus olhos brilhavam com as lágrimas e eu não contive o impulso de lhe dar um abraço apertado. Ficamos assim por um bom tempo, tudo o que eu não podia dizer com palavras, falava através do abraço.

- Meninas, o jantar está servido. – minha mãe nos chamava. Nos separamos e fomos ainda abraçadas até a cozinha.

O final de semana passou rápido e a segunda de manhã nem se fala. E aqui estou eu, sentada na sala de espera do consultório da minha ginecologista, agora obstetra, Dra. Jenna e ao lado de cara lindo de dezoito anos que está incrivelmente nervoso. “Meu Deus John! Se acalma! Ainda não está na hora do parto!” , eu queria poder dizer isso à ele mas acho que não iria ajudar muito...

- Anna, pode entrar! – Dra. Jenna apareceu na porta do consultório e me chamou. John e eu nos levantamos e seguimos para o consultório. Dra. Jenna me olhou intrigada ao ver eu e um rapaz visivelmente ansioso e nervoso sentado ao meu lado.

- Boa tarde querida, estranho te ver aqui, nossa última consulta foi há quatro meses... Como está sua mãe e Rose?  - ela sorria simpática e eu que não estava ansiosa, fiquei mais tranqüila ainda. Eu confiava nela.

- Boa tarde Dra. Minha mãe e Rose estão bem... – disse sorrindo de volta.

- E John, que bom te ver...  – disse olhando intrigada para John, que respondeu de pronto:

- Bom te ver também Dra. – disse sorrindo nervosamente.

- Acredito que o motivo que os trouxe aqui refere-se à orientação sexual não é? Métodos preventivos, pílulas... – disse nos olhando serenamente.

- Então Dra, na verdade já passamos dessa fase. O motivo que nos trouxe aqui é porque estou grávida... – disse timidamente. – E trouxe John porque ele é o pai, estamos namorando a três meses... Quero que assim como a Sra. Cuidou das gestações das nossas mães, também cuide da minha... – ela se espantou levemente e depois sorriu.

- Nossa, não posso disfarçar minha surpresa... Mas como aconteceu não importa mais, o que importa agora é cuidar de você e do bebê. – ao dizer isso levantou-se e me chamou.

- Você fez um teste de farmácia ou exame num hospital? – disse pegando meu prontuário e voltando sentar-se para anotar.

- Eu descobri no sábado, fiz três testes de farmácia. Acredito que eu esteja para completar três meses. – disse serena, John apenas me observava.

- Hum... Entendo. Bom, vamos fazer alguns exames físicos, e já vou passar as guias para os exames clínicos necessários. Daremos início ao pré-natal, ok?  - falou enquanto preenchia as guias.

- Dra? -  John chamou sua atenção. – Seria possível fazermos um ultrassom hoje? – olhei para ele surpresa e a Dra respondeu sorrindo:

- Sim John, na verdade, eu já iria sugerir. Como a gestação da Anna já está mais avançada e recém descoberta, eu gostaria de ver como tudo está indo. – ela me olhou apreensiva. – O que acha Anna?

- Eu quero. – disse simplesmente. Algo me diz que esse exame será emocionante.

- OK! Anna, vem comigo. Vamos até a outra sala para fazermos uns exames físicos e já seguimos para a sala de ultrassom. John, você pode nos aguardar lá? É neste corredor mesmo, terceira porta. – disse já me conduzindo para a salinha de exames.

- OK, espero vocês lá. – e saiu sorrindo.

Após os exames físicos, seguimos para a sala de ultrassom. John já no aguardava sentado na cadeira do lado da maca. Deitei-me na maca e subi minha blusa, nem tinha reparado, mas já havia uma leve saliência ali. A Dra. Passou um gel na minha barriga e aproximou o aparelho.

- Atenção, olhem para o monitor. Já, já teremos imagens do bebê! – disse sorrindo docemente. John levantou-se e se aproximou. Longos segundos se passaram e eu e John paramos de respirar ao ver as imagens se formando na tela. Meus olhos começaram a ficar embaçados e percebi que iria chorar. John apertou minha mão sem tirar os olhos do monitor.

- Bom, está tudo bem... Temos um bebê saudável se formando aqui. – ela nos informava enquanto olhava as imagens. De repente ouvimos uma batida, uma leve batida. John e eu nos inclinamos um pouco mais e a batida foi ficando ritimada.

- Ora, ora! Agora sim, está mesmo tudo bem! Ouvem o coraçãozinho batendo? Ele está mesmo bem! – disse nos olhando e sorrindo.

Eu não consigo descrever as sensações que estão me invadindo neste momento. Olhei para minha barriga e me concentrei nas batidas que estava ouvindo. Ver um bebê se formando em mim era algo assustador e maravilhoso, mas ao ouvir o coraçãozinho dele batendo a ficha realmente caiu. Ao me virar olhei para John que chorava silenciosamente.

- Agora eu acredito John, ele está realmente crescendo aqui... – sorri enquanto secava minhas lágrimas emocionadas.

“Essas sensações só vão se prolongar Anna. E sim! Você pode fazer isso!” Minha mente me encorajava mais uma vez. Mas eu não precisava mais ser encorajada a “poder fazer isso”, ao ouvir aquele coraçãozinho batendo eu tive certeza: eu já sou mãe.