Lucian descansava a cabeça no colo de Alexya enquanto ela distraidamente acariciava seus cabelos molhados depois do banho. Seus incríveis olhos azuis lutavam para permanecer abertos, e ele usava apenas jeans rasgados no joelho. Sua temperatura que normalmente era fria, agora era como puro gelo.

– Eu estou supondo que a garota por quem vocês quase se mataram não era eu. – Alexya disse depois de alguns momentos pensando sobre aquilo.

Lucian olhou para ela surpreso.

– Não. Porque seria?

– Não sei. Não deu pra entender muito sobre aquela briga. Só que era alguém importante pra vocês dois, pelo estado em que a sala ficou. – Alexya constatou.

– Sim, ela é importante. Mas mesmo se não fosse a sala ficaria da mesma forma. Quando se vive muito tempo, brigas como essa costumam acontecer a cada dois anos.

– Mas então, quem é a garota? Algum amor do passado?

Lucian ficou olhando para a parede por alguns momentos, até que finalmente negou com a cabeça.

– Não. É minha irmã.

– Ela é outra vampira criada pelo Johan, é isso? Quando você diz irmã, é da mesma forma como você o chama de pai, não é? – Alexya tentou entender.

Lucian negou novamente.

– Não. Louise é minha irmã de sangue. Ela e Johan tiveram um envolvimento, e ele a transformou e depois quebrou o coração dela. Desde então ela se afastou da linhagem dele e vive por conta própria.

– E agora ele quer se aproximar dela novamente?

– Sim. Ele continua tentando voltar atrás e consertar as coisas, mas ela se recusa a sequer vê-lo. E eu não poderia culpar ela por isso. Ela realmente o amava.

– Mas você sabe onde ela esta?

– Sei. E ele também sabe.

Alexya olhou para ele confusa.

– Mas se ele sabe, por que não vai até ela? Por que brigar com você como se você o estivesse impedindo de chegar até ela?

– Simples. Johan é um maldito covarde. Ele só pensa em si mesmo e precisa arrumar desculpas para os atos dele. Fingir que eu sou uma barreira entre ele e Louise é como um cachorro que finge que a coleira é curta de mais para que ele possa brigar com um cão maior. Apenas uma desculpa pra mascarar o próprio medo.

– Mas se ele é criador dela, ela não pode machucar ele. Ela nem sequer deve ser mais forte que ele.

Lucian sorriu tristemente para Alexya.

– Existem varias formas de se ferir alguém, Alexya. Geralmente a agressão física é a menos eficiente com um vampiro, a não ser que você o mate de vez. Louise já teve o coração quebrado, e, portanto não existe mais uma forma que ele possa machucá-la. Mas Johan entregou o coração a ela, por mais que ele nunca vá assumir. A recusa dela em vê-lo machuca ele, mas não é nada comparado ao que ela fará se um dia ele procurar ela novamente. Louise tem um dom com as palavras. Ela pode ver além da fachada das pessoas. Sabe exatamente como machucar as pessoas dizendo a elas aquilo que elas mais temem ouvir.

Lucian mantinha os olhos semicerrados, sua fala estava lenta e deliberada. Ele estava cada vez mais fraco, e Alexya sabia que ele não havia se alimentado ainda. Ela observou a pele dele que estava praticamente translúcida e antes que Alexya pudesse pensar muito sobre isso ela murmurou:

– Você deveria se alimentar. Perdeu muito sangue hoje.

Os olhos de Lucian se fixaram nos dela e ele a considerou por alguns instantes. Por fim, ele assentiu com a cabeça.

– Sabina, - Ele disse, pouco mais alto do que falaria com alguém que tivesse no mesmo cômodo. – Peça pra Camilla subir aqui.

Alexya olhou para Lucian com indignação estampada no rosto.

– Eu não estava falando pra você se alimentar dela, Lucian! – Ela resmungou.

– Não posso me alimentar de você, gatinha. – Lucian estendeu os dedos e roçou no rosto de Alexya. – Eu preciso de muito sangue, e depois que eu terminar com a Camilla ela irá acabar desmaiada. Não vou fazer isso com você.

A indignação e os ciúmes deram lugar a alivio e contentamento enquanto Alexya assimilava as palavras de Lucian. Ele não queria machucá-la. Só não beberia o sangue dela por isso. Não por que o sangue de Camilla fosse melhor ou por que ele preferisse ela. Ela estava no sétimo céu.

Uma batida soou na porta antes que Alexya pudesse responder e Camilla entrou sem esperar por uma resposta.

– Mandou me chamar, Luc? – Ela praticamente ronronou.

Lucian levantou-se do colo de Alexya e sentou fatigado na ponta da cama, Com um gesto, pediu para que Camilla se aproxima-se dele. A vadia rebolou até a frente de Lucian e se ajoelhou na frente dele, oferecendo o pescoço para que Lucian a mordesse.

Alexya trincou os dentes e repetiu para si mesma sem parar que era só alimentação. Não queria dizer que eles fossem levar aquilo a outros níveis.

Pensei que você não se importasse com isso, Alexya. A voz de Lucian soou em sua mente e ela se deu conta de que ele estava lendo os pensamentos dela sem permissão.

Alexya fechou o rosto em uma carranca mal humorada.

E não me importo. Apenas isso seria nojento e eu preferia não estar aqui pra ver isso. Ela pensou de volta tão forte que provavelmente poderia ter projetado o pensamento na mente de Lucian.

Não tente enganar a si mesma, Alexya. Seu coração me pertence, por mais que você se recuse a aceitar. E eu prometo cuidá-lo como se fosse meu. Lucian sorriu convencido para ela e mandou um ultimo pensamento cortante antes de morder o pescoço de Camilla.

Alexya ficou sem palavras para responder a altura aquilo. Ela fitava seu mestre enquanto ele se alimentava de Camilla, um perfeito predador.

Ela poderia estar cometendo um grande erro, mas aquilo soou como uma declaração de amor, vinda de Lucian. E pela primeira vez ela desejou que as coisas fossem mais fáceis e que ela não precisasse esconder coisas dele. Ultimamente a idéia de namorar alguém sem pulsação já não era mais tão aterrorizante para ela, mas começar um relacionamento em cima de mentiras... Deus. Era receita de desastre.

Mas ela não tinha mais pra onde fugir.

E o problema era que assim como Louise, Lucian tinha o mesmo dom das palavras. Ela só esperava que ele não usasse aquilo contra ela.