Causa Perdida? escrita por Gabriela Maria


Capítulo 22
Capítulo 22


Notas iniciais do capítulo

Caramba! Dessa vez quase não saiu, hein?! >
Pessoal, desde já, peço desculpas pelo atraso. As devidas explicações ficarão no final do capítulo, mas, em minha defesa, esse capítulo ficou bem maior que o usual. xD Bom, é isso por agora.

Espero que gostem!



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Lily nunca teria acreditado que existia um segundo acesso ao dormitório feminino se ela mesma não o tivesse usado. Tentou não imaginar quantas vezes James podia ter entrado naqueles quartos, já que, por algum motivo, o pensamento a incomodava.

E Sirius também podia ter usado aquela passagem secreta, é claro.

Cansada e dolorida, ela abriu a porta do quarto que dividia com as amigas e quase caiu de susto quando deu de cara com Alice e Marlene.

– Lily! – as duas exclamaram em uníssono.

– Graças a Deus! – Alice falou, aliviada.

Elas praticamente pularam das próprias camas e correram para abraçar a amiga. Mesmo preocupada com a desculpa que ainda não tinha criado, Lily aceitou o carinho delas como um gesto providencial. Parte sua ainda estava assustada com o que acontecera na noite anterior.

– Pelas calças de Merlin! – ofegou Marlene. – Onde você se meteu, Lily? Nós te esperamos voltar da ronda até depois de meia noite!

– E a Claire disse que você sumiu depois do jantar – Alice acrescentou. Ela e Marlene trocaram olhares de culpa.

– Desculpe se chateamos você – Marlene pediu.

– Não se preocupem – Lily tentou soar descontraída. – Eu só... só tive um imprevisto...

– Claire nos falou agora há pouco que você tinha saído do castelo, como se fosse atrás de alguém...

– Nós pensamos que fosse uma daquelas reuniões de Comensais da Morte – Alice completou. – É claro que ficamos preocupadas.

– Tudo bem, eu entendo, mas não foi nada disso, ok? Desculpem o susto. Está tudo certo.

Ela sorriu para tranquiliza-las e começou a caminhar para o banheiro. Tinha usado um Feitiço Aspirador para remover o excesso de poeira das roupas, mas esquecera o rasgão na calça jeans. Rezou para as garotas não perceberem.

– Espera, Lily – Alice pediu. – Você não vai contar o que houve?

– Claro que vou. Eu só... Bem, eu só acho que nós já estamos muito atrasadas, então posso explicar mais tarde. Agora eu vou só trocar de roupa e...

– Aula?! – Marlene fez uma careta. – Nem se preocupe. Eu adoro a sensação de perder um longo período de História da Magia – ela falou num tom sonhador.

– Pena que o Frank discorde – Alice resmungou. – Ele ficou meio zangado com a ideia.

– Vão para aula – Lily incentivou. – Não precisavam nem ter me esperado. Ainda dá tempo de entrar na sala.

– Não seja ingrata – Marlene retrucou. – Nós tivemos medo de você estar encrencada. E isso continua muito estranho, só para constar.

– De fato – manifestou-se Alice.

Lily hesitou. Não queria ser grosseira a ponto de deixar as amigas plantadas enquanto tomava um banho e pensava numa boa história, mas também não conseguia pensar em nada para falar naquele momento.

– Eu só descobri o que o Black vinha aprontando – improvisou. – Foi ele que eu segui ontem, depois do jantar.

– Sirius? – Marlene parecia confusa. – E isso tomou a noite inteira?

– Bem, já que vocês não vão mesmo para aula, que tal se eu tomar um banho primeiro e contar tudo depois?

Ela sabia que as garotas estavam claramente desconfiadas, mas, como ninguém se opôs à ideia, foi direto para o banheiro e, durante o banho, se ocupou em pensar numa história qualquer. Com sorte, as garotas acreditariam na maior parte e James inventaria alguma desculpa parecida.

Quando Lily voltou ao quarto, Alice e Marlene já estavam de prontidão em sua cama, olhando fixamente para a amiga. Ela apenas suspirou.

– Ok, eu não segui só uma pessoa – ela começou. – James também estava lá.

– James?! – espantaram-se as outras duas.

– Desde quando você chama o James de James?!

– Quem se importa?! – disparou Alice. – Desde quando você segue o James?

– Ai, minha nossa! – Lily gemeu baixinho. – Isso soou muito pior do que realmente foi. E é uma longa história...

– Nós sabemos, Lily – Marlene soou entediada. – Sete anos de espera...

– Quê?! – Alice gargalhou. – Vocês estão distorcendo tudo!

– Não se preocupe – Alice a tranquilizou. – Nós sempre soubemos que você não conseguiria esconder por muito mais tempo.

– Esconder?

– Lily, pare com isso. Todo mundo já sabe que você gosta do James – Marlene resumiu.

– Parem com isso! – impacientou-se Lily. – Eu não fiz nada disso com o James, ok?! – ignorou as expressões descrentes das amigas. – Eu o segui e descobri que, na verdade, ele estava seguindo o Sirius. Parece que o James realmente não sabia sobre a história da capa...

– Sirius? – Marlene interrompeu. – Você agora chama todo mundo pelo primeiro nome, é?

– Não seja tão possessiva, Lene – Alice provocou. – Mas não pense que vou comprar essa, Lily.

– Claro que não – ela retrucou. – Vocês não me deixaram terminar – ela suspirou. – Eu acompanhei os dois até Hogsmeade – disparou. As outras duas arregalaram os olhos. – Acontece que o Sirius realmente estava vendendo cerveja amanteigada na escola e James não gostou muito da ideia, então eles estavam discutindo no caminho e não me viram...

– Espere aí – Marlene interrompeu. – Como vocês foram até Hogsmeade sem ninguém saber? O castelo está cheio de feitiços de defesa.

– Existe uma passagem secreta – explicou Lily, evitando pensar no acesso clandestino aos dormitórios femininos. – Eu nem imaginava, é claro, mas descobri da pior maneira.

– Então os boatos são verdadeiros! – Alice tinha uma expressão de choque. – Barbas de Merlin...

– Eles são malucos! – exclamou Marlene. – Andando por aí no meio da noite! Se acontece algum ataque de Comensais ou sei lá...

– Nem me fala uma coisa dessas, Lene! – assustou-se Alice.

– Bem – Lily interveio –, eu pensei a mesma coisa e disse a eles...

– Mas os dois certamente não se importaram – Marlene deduziu, revirando os olhos.

– Mais ou menos... O fato é que nós três acabamos nos desentendendo e brigando feio... – ela hesitou. – E acabamos nos dispersando pelo vilarejo, mas eu não podia voltar sozinha. Encontrei o James, nós conversamos e, bem, ele acabou concordando comigo – odiou-se por saber que estava com o rosto corado. – Encontramos o Sirius também e voltamos para o castelo. Sirius pediu desculpas pela confusão. James e eu fomos fazer a ronda e concordamos em deixar o Sirius de detenção por um bom tempo.

Houve um longo silêncio. Lily desejou como nunca que pudesse contar às amigas o quê havia acontecido. Sentiu-se desprezível por enganá-las. E o pior: Alice e Marlene não pareciam convencidas.

– Então foi isso? – Marlene disse enfim. – Você estava na ronda até agora?

– Ah... Não, não – atrapalhou-se Lily. Essa era a parte mais boba de seu discurso. – Eu não dormi direito e levantei mais cedo para pegar um pouco de ar. Minha cabeça estava muito cheia, sabe... Perdi a hora. Mas foi só isso.

– A hora?! – disparou Alice. – Você perdeu a primeira aula inteira!

– Ei, eu não quis gazear – defendeu-se. – Só perdi a noção do tempo.

– Ou então – Marlene recomeçou – você teve um bom motivo para se atrasar – Lily a olhou, sem entender. Marlene sorriu sugestivamente. – Vamos, Lily, conte essa história direito. Você perde a aula e me aparece aqui com essas olheiras, chamando todos os Marotos pelo primeiro nome...

– Credo! – ela sentiu o rosto arder impetuosamente. – O que vocês estão pensando?! Que James e eu fugimos para uma cabana na Floresta Proibida e passamos a noite inteira trocando juras de amor?!

– Ou vocês podiam simplesmente ter dado uns beijos longos e casuais – Lily amarrou a cara. – Qual o problema?

– Ora, francamente, Marlene, eu não sou do tipo que some pela escola para dar uns amassos!

– Pois você não sabe o que está perdendo – a outra retrucou calmamente. – Mas não desvie o foco da conversa. Você e o James fizeram aquela confusão toda para se entenderem em menos de vinte e quatro horas? Alguém aí deu o braço a torcer, Lily.

– Sabe o que eu acho?! – impacientou-se Lily. – Já estamos em cima da hora para a segunda aula.

– Na verdade, Lice e eu temos um período livre agora.

– Nesse caso, eu vou saindo para a aula de Aritmancia – Lily apanhou o material de que precisaria e o guardou na mochila –, porque alguém aqui precisa estudar em vez de cuidar da vida alheia – jogou a mochila sobre os ombros, sustentando o olhar descrente de Marlene. – Até mais tarde.

– Boa sorte na hora de convencer a Claire dessa sua história aí – Alice provocou.

Lily ainda ouviu a gargalhada vitoriosa de Marlene quando fechou a porta.

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– Inacreditável! – Frank resmungou pela milésima vez. – A Lily desaparecendo, Alice me fazendo matar aula...

Ao lado dele, James mastigava lentamente o sanduíche que trouxera das cozinhas. Por via das dúvidas, ele colocara um na mochila e o estava guardando para Lily enquanto esperava no salão comunal.

– Falando em sumir, como foi ontem?

James hesitou. Há anos, Frank percebera as ausências de Remo na lua cheia e descobrira que o amigo era um lobisomem. Felizmente, ele era sensato o bastante para não comentar sobre o assunto com ninguém, nem mesmo com Alice. James estava certo de que ele já deduzira tudo o que acontecera com Lily, mas os dois não podiam tratar abertamente disso no salão comunal.

– É, parece que vai ser uma semana difícil... – respondeu enfim. Frank bateu amigavelmente em seu ombro.

– Do jeito que a Lily estava furiosa ontem, eu me prepararia para uma semana daquelas.

Ele pensou em dizer que já tinha se entendido com Lily, que ela já sabia de tudo, mas, antes que tivesse chance, um barulho de passos lhe chamou a atenção. Lily vinha descendo as escadas do dormitório feminino com uma expressão de cansaço e aborrecimento. Frank ficou perplexo ao vê-la.

“Vamos lá” James pensou. “Hora de provar que estamos de bem, Lily”.

– Calças de Merlin! – Frank se levantou para cumprimenta-la. – Onde você estava?

– Bom dia para você também, Frank. Eu estava no dormitório há quase uma hora.

– Como assim? As garotas estavam enlouquecendo porque...

– Lily, você tem aula agora? – James interveio. Frank olhou de um para o outro, claramente confuso.

– Aritmancia – ela respondeu.

– Preciso falar com você. Posso te acompanhar?

Ela corou ao assentir e os dois saíram juntos do salão comunal, sob o olhar espantado de Frank.

– Obrigada – Lily falou, suspirando, quando alcançaram o corredor. James lhe ofereceu um pequeno sorriso.

– Não por isso – e retirou o sanduíche da bolsa para entrega-lo a Lily. – Achei que você também estaria com fome.

Imediatamente sentiu-se meio idiota. Que tipo de pessoa falaria algo assim?!

– Nossa, achou certo – ela respondeu, aceitando o sanduíche. – Não que eu queira ser ingrata, mas onde você conseguiu isso?

– Nas cozinhas. Os elfos de Hogwarts são criaturas muito gentis, sabia? – ele assanhou os cabelos distraidamente. Lily o encarou enquanto desembrulhava o sanduíche.

– Obrigada, James.

Era estranho vê-la assim, agindo com ele de forma tão natural e educada. James sempre tivera a impressão de que Lily se esforçava para tolerar sua presença.

– Nós temos um problema – ela recomeçou após uns segundos. – Alice e Marlene não acreditaram muito na minha história.

– Bem, o Frank certamente já somou dois mais dois e só está esperando que a gente confirme, mas ele já sabia sobre o Remo e nunca nos traiu. Provavelmente vai sustentar qualquer desculpa que eu diga.

– Ótimo, porque eu disse que estava com você – James parou de andar, sua expressão era confusa.

– Como? – Lily corou.

– Desculpe, mas não tive opção. Você é mais criativo que eu, pensei que seria bom lhe dar a chance de melhorar a história. Assim que cheguei no dormitório, já dei de cara com as garotas e as duas estavam preocupadas. Elas me encheram de perguntas e o melhor que consegui fazer foi o seguinte...

James ficou dividido entre uma sensação de alívio ou uma nova crise de preocupação. A passagem do Salgueiro Lutador não era mais secreta e Alice e Marlene com certeza tinham piorado as imagens dele e de Sirius em seus conceitos.

– Desculpe – Lily pediu quando terminou de se explicar. – Vendo pelo lado bom, foi o Sirius quem levou toda a culpa.

– É... – ele concordou, assanhando os cabelos. – E ninguém desconfiou do Remo. Fique tranquila. Eu vou confirmar sua versão de tudo, com uma incrementada aqui ou ali para ajudar – Lily sorriu, aliviada.

– Nós devíamos falar com o Sirius para que ele faça o mesmo.

– Ah, não se preocupe com o Almofadinhas. Aquele lá é um exímio mentiroso.

– E o Remo? – Lily quis saber. – Você teve notícias dele?

– Não. Eu ainda não vi o Peter nem fui à ala hospitalar. Quis ficar por perto, sabe... caso você precisasse de cobertura.

O sinal tocou enquanto eles se encaravam.

– Preciso ir – Lily falou enfim. – A gente... ah, a gente se vê depois – ela deu um pequeno sorriso e acenou ao se afastar. James acenou também.

Ele mal percebeu que observara Lily até ela entrar na sala e sumir de vista. Suspirou, passando a mão pelos cabelos nervosamente, e fez menção de se afastar. Foi quando Melanie o encontrou.

– Por Merlin! – ela exclamou num sussurro agoniado, abraçando-o. – Está tudo bem com você?

– Tudo certo, graças a você – ele retribuiu o abraço. Imediatamente, sentiu o corpo de Melanie estremecer junto do seu.

– Eu praticamente rezei para acreditar que era só um pesadelo – ela recuou um pouco. – O que aconteceu, James?

– É uma longa história... Basta dizer que Sirius me meteu em encrenca. Nós meio que duelamos...

– Merlin!

– Mas foi um mal entendido – ele se apressou em dizer. – Depois eu te explico melhor, ok?

– Um mal entendido?! – ela amarrou a cara. Como assim você duelou com seu melhor amigo por um mal entendido?! E ainda ficou naquele estado?!

– Não foi tudo obra do Sirius – James remexeu na mochila e apanhou o creme anti-hematomas e a essência de ditamno. – Obrigado por tudo, Mel, você literalmente salvou nosso dia. Mais tarde eu te explico o que houve.

Ele até arriscou um beijo rápido no topo da cabeça dela antes de sair às pressas para a ala hospitalar. Já que tinha um período livre naquele momento, James decidiu visitar Remo. Talvez ele já estivesse saudável o suficiente para lhe dar alguns daqueles conselhos sensatos.

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– Pelas barbas de Merlin! – Claire exclamou de olhos arregalados. – Será que vocês perderam de vezo juízo?!

– Ei! Eu só os acompanhei porque...

– Porque queria um bom motivo para sentir raiva do James.

Lily amarrou a cara. Ela e Claire estavam descendo os gramados, rumo às estufas, para a aula de Herbologia, e ela acabara de contar sua desculpa para ter desaparecido. Mentir para Claire estava sendo muito pior que o previsto. Sempre que reforçava a história falsa, Lily pensava em Remo na forma de lobisomem e no quanto o apoio de Claire poderia ajuda-lo a lidar com tudo.

– Admita, Lily, você está procurando um motivo para não gostar do James. Todo mundo já sabe – ela quis protestar, mas refletiu sobre o assunto por um instante.

– Tudo bem – murmurou, sentindo o rosto arder como nunca.

– Isso foi uma confissão? – Claire se animou.

– Confissão de quê?! – retrucou Lily. Só quero encerrar essa conversa de forma pacífica.

Claire balançou a cabeça, sorrindo, mas desistiu de pressionar a amiga, então elas acabaram conversando sobre a próxima reunião de monitores e sobre a partida de quadribol que haveria no próximo final de semana.

Quadribol.

Nada poderia lembrar mais James Potter.

Para alegre surpresa de Lily, porém, Alice, Marlene e Claire não se uniram num complô maligno a seu respeito. Na verdade, elas quase não mencionaram os nomes de James e Sirius. As coisas só começaram a ficar preocupantes quando Remo não apareceu na hora do almoço. Frank falou que ele acordara indisposto e estava na ala hospitalar, mas Alice e Marlene estranharam a resposta.

– Nem o vi hoje – Lily comentou para fortalecer a história do amigo.

– Estranho. Desde o primeiro ano, o Remo some de vez em quando – Marlene observou. – Pelo menos ele não aparece mais com aqueles machucados.

– A Claire ficou meio preocupada – disse Alice. – Vou avisar isso a ela. Sei lá... Acho que é só questão de tempo até ela correr atrás do Remo de novo.

Lily se sentiu culpada. Seu olhar atravessou a mesa e encontrou James, que estava conversando com Sirius e Peter. Ela quis ir até eles e implorar que abrissem o jogo com as garotas, mas, pensando bem, isso não era obrigação deles.

– Lily, nós vamos estudar agora, não é? – Frank quis saber.

– Vocês vão – intrometeu-se Marlene. – Eu tenho planos com o Michael – Alice deu uma risadinha.

– E eu preciso resolver outra coisa.

Logo que terminou de almoçar, ela seguiu para a ala hospitalar. Remo era o único paciente ali, sentado num dos primeiros leitos. Ele estava bebendo uma poção azulada sob o olhar atento de madame Pomfrey. Foi ela quem se virou para Lily primeiro.

– Visita? – a garota confirmou. Remo fez uma careta quando terminou de beber a poção e olhou para a amiga.

– Lily? – admirou-se.

– Oi – ela se aproximou, esboçando um sorriso. – Como você está, Remo?

Madame Pomfrey se retirou para sua sala e Lily ocupou uma cadeira ao lado da cama de Remo.

– Você não devia ter vindo – ele falou com uma voz anormalmente áspera. Seu rosto estava pálido e abatido como nunca.

– Por que não? – ele evitou olhá-la.

– Depois de tudo o que houve...

– Ah, Remo, pode parar! Não foi sua culpa. Na verdade, você acabou sendo a maior vítima...

– Vítima?! – ele estava com a voz meio engasgada pelo desespero. – Por Deus, Lily, eu ataquei você! – James admitiu que machucou o ombro por minha causa e que você escapou por pouco!

– Mas você não pode evitar, Remo – ela segurou a mão dele com força. – Não adianta você se tratar desse jeito se nenhum de nós ficou chateado ou... – a expressão dele endureceu rapidamente.

– Eu sou um risco a todos vocês, Lily. Isso é indiscutível.

– Você é meu melhor amigo – ela falou com firmeza, recusando-se a lacrimejar. – Não venha me falar essas coisas por causa de uma fatalidade.

Remo virou o rosto para o outro lado. Lily imaginou se ele estaria lacrimejando.

– Você não tem escolha, Remo. Não adianta bancar o sensato comigo. Eu gosto demais de você para deixar que você pense essas coisas.

– Não é só isso – a voz dele estava embargada. – Há anos eu deixo que meus melhores amigos se arrisquem por minha causa – engoliu em seco. – Não é uma coisa bonita de se fazer.

– Eles sabiam muito bem no que estavam se metendo – retrucou Lily. – Eu pequei por ignorância, sabe. Se soubesse o motivo das faltas do James...

– Não seja tão dura com ele, Lily – Remo finalmente a encarou. – O James...

– Salvou minha vida – ela completou, corando. – Eu sei.

Houve uma pausa silenciosa, então ela recomeçou:

– No fim das contas, não acho que foi culpa de ninguém.

Remo não falou em resposta. Lily suspirou e apertou a mão dele amigavelmente. Não seria fácil convencê-lo, mas ela nem cogitava desistir.

– Eu preciso admitir, apesar de tudo, que fiquei impressionada com James, Sirius e Peter. Eles... – pigarreou. – Eles são amigos de verdade.

– Oi, James – assustada, Lily espiou por cima do ombro e viu James parado à porta da ala hospitalar.

– Desculpe – ele pediu, assanhando os cabelos. – Estou interrompendo?

– Não – Lily se apressou em dizer. – Eu até acho que você pode me dar uma mãozinha aqui. Remo quer se convencer de que é um monstro terrível.

– Fala sério, Aluado... – James se aproximou e parou ao lado de Lily.

– Tem mais uma coisa – ela respirou fundo. – Eu acho que as garotas deveriam saber a verdade – os outros dois se entreolhara, surpresos.

– Quê? – atrapalhou-se James.

– De jeito nenhum! – Remo sentenciou.

– Mas essa história de mentir para elas está acabando comigo e o pior: elas não estão convencidas. Toda vez que tento melhora minhas desculpas, acabo inventando mais coisa, e os meninos precisam fazer o mesmo... Resumindo, nós todos estamos atolados em mentiras. Inclusive, estamos meio que mentindo para o Frank, que já deve ter deduzido tudo.

– É pelo bem deles – Remo sussurrou.

– Remo, elas estão preocupadas. Eu posso entender que você queira deixar Alice e Marlene fora disso, mas a Claire tem o direito de saber.

Um silêncio horrível se instalou. Remo parecia enojado com a ideia.

– Eu não quero falar sobre isso – disse enfim.

– Mas ela fica louca de preocupação – Lily insistiu. – Remo, você sabe que a Claire ainda é apaixonada por você. Será que ela não merece nenhuma explicação? Será que você não quer mesmo um pouco do apoio dela?

– Algumas coisas precisam ser sacrificadas pelo...

– Ora, pare com isso, Remo! Não existe nada de nobre em se martirizar com a desculpa de proteger os outros. Você não pode escolher pela Claire. Além do mais, esses meses têm sido torturantes para ela, sendo rejeitada por você sem qualquer motivo.

– É horrível mesmo – James interveio. – A gente tem mais dificuldade ainda em deixar para trás.

Lily o olhou por um segundo, mas, quando James tentou encará-la, ela virou o rosto. Remo apenas suspirou. Diante do silêncio, ela recomeçou:

– Tudo bem, eu acho que todos ainda estamos abalados pelo que houve. Pense um pouco, Remo. Você sabe que pode contar conosco. No lugar dos garotos, Claire e eu também nos arriscaríamos – ele não a encarou. Lily apertou sua mão de novo. – Vamos lá, Remo. Pare de tentar carregar o mundo nas costas. Nós amamos você, sabemos quem você realmente é. E o que você ganha em recusar nosso carinho? Você não acha, James?

– Cara, ela está coberta de razão – James apoiou.

Remo fez uma careta de impaciência, então, soltou um suspiro pesado e finalmente os olhou.

– Vocês querem mesmo dizer à Claire? Logo a Claire?!

– Claro que não – Lily respondeu. – É você quem tem que contar. Esse assunto é entre vocês.

Ele respirou fundo. Lily podia sentir o leve tremor na mão do amigo, o medo de perder definitivamente o afeto de Claire o assombrava mais do que Remo deixava transparecer.

– Pensa nisso – James disse enfim. – Depois você resolve como achar melhor – Remo assentiu com a cabeça.

Lily até lhe ofereceu um sorriso, mas ele não estava olhando em sua direção. Ela se inclinou para beija-lo no rosto.

– Ei, você está bem, nós estamos bem. Vamos encarar tudo isso juntos, ok?

Quando Remo a encarou de volta, os olhos dele estavam marejados. Lily o viu engolir em seco antes de responder:

– Certo.

Ela o abraçou, afagando suas costas e, por um instante, sentiu Remo apoiar a cabeça em seu ombro, num primeiro sinal de esgotamento.

– Bem, eu vou passar na biblioteca para estudar um pouco com Alice e Frank. Depois da aula, viremos todos por aqui, eu acho – ela ficou de pé.

– Não dá – Remo alertou. – A menos que vocês venham bem cedo. Pouco antes do por do sol, eu preciso ir para Hogsmeade.

– Então é melhor não arriscar – James decidiu. – Se você sair depois da aula, Aluado, pode ser que alguém te veja pelos corredores.

– E o que vamos dizer às garotas? – aborreceu-se Lily.

– Que madame Pomfrey proibiu as visitas por hoje porque o Sirius fez muito barulho quando veio – Remo deu um riso abafado.

– Sabe que ele apareceu hoje de manhã? Acho que o Almofadinhas desistiu daquelas ideias mirabolantes, Lily. Ele me pareceu contrito.

– É, é bom que seja isso mesmo – James resmungou. – Ele já nos meteu em confusão demais.

– Bom, então é isso. Vou dar um jeito de convencer as garotas a não virem mais aqui, mas, por favor, Remo, pense no que eu falei. E nem imagine que vou deixar você se afastar de mim – Lily sentenciou.

Remo corou bastante, sem conseguir olhá-la diretamente. Lily ainda o abraçou outra vez, tentando demonstrar o quanto estava feliz por vê-lo vivo, então, Remo sussurrou:

– Obrigado, Lily. Por tudo.

Ela o apertou uma última vez e se ergueu. Por um segundo, a imagem do lobisomem ardeu em sua memória, mas Lily tratou de substituí-la pelo olhar carinhoso que Remo lhe oferecia. Como era possível que as duas criaturas fossem, de alguma forma, uma só? Como Remo, que era gentil, educado, tímido, inteligente e devotado aos que amava, podia perder a consciência a ponto de atacar seus melhores amigos? Ele era tão mais que um lobisomem...

– Até amanhã, Remo – virou-se para James, mas não esperara ficar tão desconcertada ao vê-lo. – A gente se vê, James.

– Claro – ele deu um sorriso amarelo, a mão bagunçando o cabelo.

Quando Lily saiu, apressada, James soltou o ar dos pulmões com força, meio aliviado, meio aborrecido.

– James, é? – Remo falou. – Acho que eu realmente perdi muita coisa.

– Não enche, Aluado.

– Mas eu pensei que fosse uma coisa boa!

– Eu não tenho planos românticos envolvendo a Lily.

– É claro. Eu também me esqueci de que corujas não têm asas – James lhe lançou um olhar irritado. – Fala sério, Pontas.

– Eu ouvi a conversa de vocês quando cheguei – confessou. – A porta estava entreaberta e... Cara, ela disse que te ama. – Remo riu, mas não conseguiu evitar um rubor no rosto.

– Que bobagem! Lily é como uma irmã para mim. Nós nunca...

– Para você – James insistiu, desiludido. – Talvez ela não sinta o mesmo.

– Sem paranoia, James – Remo falou com firmeza.

– Mas você viu como ela te tratou? É muito mais do que eu já sonhei que ela agisse comigo. E todo esse papo de melhor amiga, a preocupação... – James sacudiu a cabeça e sentou na cadeira ao lado do leito. – Ela só está me aturando hoje porque se sente culpada – concluiu.

– Ou talvez ela tenha se convencido de que você não é tão ruim.

– Eu duvido...

– Então você vai jogar a toalha de novo? Pontas, você não aguenta ficar longe da Lily. É contra a sua natureza.

– Não significa que vou insistir numa causa perdida. Ela... ela nem me considera um amigo.

– Não em voz alta, mas ela fala com você sobre a Petúnia. Isso não é pouca coisa, sabia?

James balançou a cabeça e ficou de pé.

– Vou me preparar para a aula de Poções – anunciou. – Te vejo mais tarde.

– Como assim?! – Remo empalideceu rapidamente. – Não vou deixar vocês continuarem com essa maluquice na Casa dos Gritos. É arriscado demais!

– Nós já sabemos, lembra? E já fizemos isso mil vezes.

– Mas agora é diferente! – exasperou-se Remo. – Esse ciclo está mais violento e a Lily vai nos matar se...

– Aluado, eu não estou fazendo isso pela Lily – James interrompeu com firmeza. – Estou fazendo isso por você. É um acordo entre os Marotos, você sabe.

– Mas... Pontas... Almofadinhas tem detenção...

– Então, ele fica – James resolveu. – Embora eu duvide muito que isso aconteça de fato. Um Maroto não abandona o outro, Aluado. E você não pode nos impedir.

Houve um breve silêncio. Finalmente, Remo suspirou.

– Vocês são loucos – disse enfim.


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Notas finais do capítulo

Bom, pessoal, eu quero agradecer de coração os comentários que vocês deixaram e, sobretudo, a paciência durante esse mês de sumiço. Como previ na Nota, minhas provas não perdoaram, então só agora consegui a paz interior necessária para sentar e digitar a fic. Confesso que não revisei como costumo fazer, porque quis postar o quanto antes, mas cuidarei de revisar outra vez o texto e de responder devidamente aos comentários durante o final de semana, porque agora preciso cuidar de dormir. Não posso prometer que o capítulo seguinte virá logo porque estou no final do semestre e... adivinhem! Isso mesmo, provas outra vez. hahaha. Mas tenho fé de que vai dar tudo certo e de que as férias serão bastante produtivas.
Então, é isso. Desculpem a demora mais uma vez e, por favor, perdoem os possíveis erros de escrita ou formatação (inclusive, agradeço se me informarem dos que acharem, para agilizar a revisão.
Obrigada de novo, galera. Fico na espera dos comentários! ;)