Zombie's Hunters escrita por Nanda Farias


Capítulo 13
I'm a Prisoner literally, not The Wanted Fan




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Acordei com minha cabeça latejando. Não faço a menor ideia de quantas horas eu dormi, mas, a julgar pela claridade da janela, acredito que seja de tarde. Ou seja, ou eu dormi uns cinco minutos, ou um dia inteiro. Nenhuma das opções citadas me parecem agradáveis. Sentei-me na cama. Liz não estava mais ali. Vi meu reflexo e ajeitei meus cabelos com os dedos, na esperança de fazê-lo ficar melhor, tarefa impossível. Eu poderia fritar um pastel só usando a oleosidade do meu cabelo. Com a sujeira da minha unha, então, poderia plantar uma árvore e resolver o desmatamento do mundo.

Me espreguicei e levantei da cama. Cambaleei até a cozinha do motor home, onde Ryan estava sentado com os gêmeos, ensinando-os a montar uma arma.

–Quanto tempo eu dormi? - Perguntei com a voz meio rouca. Pigarreei.

–Umas 20 e poucas horas. Não sei direito - Ryan respondeu, indiferente. Levantei uma das minhas sobrancelhas - É sério, nem me olhe assim.

Bufei, me sentando ao lado de Carter. Bocejei.

Ryan continuou explicando como se eu não estivesse ali, o que me deixou altamente entediada. Olhei para fora onde tudo estava parado, pássaros cantavam nas árvores da floresta, onde a paisagem contrastava com a devastada rodovia. Do nada, a imagem de um sonho que tive inundou minha mente.

Eu estava em uma sala, que me era familiar. Não fazia ideia de quando e porque estive ali, mas sabia que já vi esse lugar antes. Olhei para o lado e vi um Lucas tão confuso quanto eu, ele vestia uma calça jeans clara, uma camisa xadrez e All Stars. Eu vestia um jeans rasgado com uma camiseta do Guns e Tênis vans pretos. Em minha frente estava o meu avô, sentado na mesa do chefe, com seu sorriso habitual e seu óculos com cordinha. Ele vestia uma camisa polo verde, e um jeans escuro.

–Que bom que estão aqui! Conexões assim são difíceis de fazer, é sério. - Olhei para Lucas, ele levantou uma sobrancelha, não entendendo nada. Eu muito menos.

A sala era pequena, mas tinha um banheiro. Na parede tinha uma estante com vários livros, e na mesa uma foto do meu avô comigo e Lucas.

–Trouxe vocês aqui porque preciso falar algo importante. Nesse prédio, tem a solução pros problemas atuais. Uma cura pros vivos que são mordidos. Aqui, no... - A imagem dele tremulou - A conexão ta falando, vocês vão achar, são inteligen... - a imagem se foi.

E isso é tudo que eu me lembro

–Cléo! Cléo! - Ryan me chamava, agitando a mão freneticamente na frente da minha cara.

Ryan está arrumado hoje. Segundo Lucas, eles acharam a nascente do rio, provavelmente ele tomou banho lá. Ryan estava usando uma camiseta preta com um colete jeans por cima, calça preta e um tênis all star nos pés. Eu até diria que ele está bonito, mas não, isso iria contra todos os meus princípios de garota orgulhosa.

–Ah, oi, que foi? - Perguntei saindo do transe.

–Fazem umas 30 horas que eu to te chamando. - revirei os olhos - Dane-se, eu ia...

–Onde ta o Lucas? - interrompi.

–Lá fora - respondeu Daniel.

Levantei subitamente deixando o Ryan me xingar a vontade e os gêmeos com cara de paisagem.

Saí do Motor home e vi Lucas sentado no chão, com a cabeça escorada na lataria, vestia uma camiseta branca e uma camisa xadrez por cima, calça escura e all star branco. No início achei que ele fitava o nada, mas me dei conta que ele observava Ísis e Eleanor estendendo roupas no nosso varal improvisado.

Liz estava sentada em baixo de uma árvore lendo, Logan montava guarda perto da Liz, a protegendo. Cachinhos estava em cima do motor home com Josh, fazendo a vigília.

Sentei ao lado de Lucas, o que o fez dar um pulo, assustado.

–Pensei que você tivesse morrido - ele me disse, sorri.

–Não é tão fácil assim se livrar de mim - ele riu - Olha, eu tive um sonho estranho - contei a ele o sonho inteiro, ele me olhava com atenção. Em momento nenhum a expressão dele mudou.

Isso é uma das coisas que me irrita no Lucas. Você nunca sabe o que ele ta pensando quando você conta algo pra ele, não sabe nem se ele está prestando atenção, porque ele simplesmente não muda de expressão, só fica te olhando com aquela cara de labrador. É como contar para uma parede com foi seu dia.

–Cléo... - ele disse quando acabei.

–O que foi?

–Eu tive exatamente o mesmo sonho, igual. Sem tirar nem pôr - pisquei desacreditando - isso tem que significar alguma coisa.

–Não, isso é doideira. E mesmo que fosse alguma coisa, a gente ao menos sabe onde esse lugar fica.

Ele suspirou.

–Mas a gente não pode ficar aqui feito bonecos de cera.

–Lucas Smith - percebi que quase gritei - você é um gênio!

–É claro que sou! - Bati nele - Ta, porque eu sou um gênio?

–Lembra? Quando a gente era menor, o vovô sempre levava a gente no museu de cera. Ele trabalhava lá naquele mercado perto do museu, é lá que a sala fica.

–Precisamos ir pra lá então. Agora. - Lucas disse se levantando, e limpando a sujeira da calça. Então ele olhou bem pra mim - É melhor você tomar um banho antes de ir, porque você ta fedendo a estrume e sangue seco.

Decidimos que Lucas ia avisar todo mundo, já que ele é melhor com palavras do que eu. Eu fui arrumar minhas coisas.

Cachinhos ficou com a Harley esportiva e Ryan com a Ranger, o que nos acomodou melhor, agora que aumentamos de número.

Depois de dois meses de intensivo com meu primo, já estava sabendo tudo o que precisava saber sobre bagulhos eletrônicos. Agora me sentia uma nerd, mas, pelo menos, uma nerd com uma moto com gasolina.

Ouvi meu celular tocar na mesa de centro de Ísis. Cara, eu odeio aquela mesa, de verdade. Toda vez que eu acordo de noite arrumo um jeito de bater meu dedão nela. Ás vezes consigo bater meu dedo de dia mesmo ou até tropeçar e cair de cara no chão. E sim, Ísis ri da minha cara toda vez que isso acontece. Mas não é só isso que me faz odiar a mesa. As cores dela são horríveis, não combinam nem um pouco entre si e nem com o ambiente. A mesa tem dois dos quatro pés vermelhos e os outros dois roxos e a parte de cima da mesa é preta. Sim, ela é horrorosa e Ísis sabe disso. Mas ela diz que a mesa ridícula tem um valor sentimental porque era do falecido avô dela.

Olhei no visor e vi que era Scott. Atendi.

–Olááá - ele disse do outro lado da linha.

–E aí? - perguntei sorrindo.

–Tenho um trabalho pra você - ele disse.

–Que tipo de trabalho?

–Um amigo meu precisa falar com um cara que ta em uma clínica de reabilitação. Só que o telefone do cara ta bloqueado, funcionando só para o número dos familiares.

–Certo, traz o celular aqui, vou ver o que posso fazer.

–Certo, te vejo aí - ele disse e desligou.

Ainda não consigo confiar em Scott. Eu sei que isso é errado. De verdade, eu sei, eu deveria confiar nele. Mas sempre tenho a sensação que alguma merda vai acontecer, que ele ta tramando algo. Não sei, pode ser coisa da minha cabeça, ou talvez não.

Parei a moto na entrada de Londres.

–A gente chegou? - Cachinhos perguntou parando do meu lado, logo Ryan e Lucas pararam atrás de nós.

–Isso é loucura - Eu disse.

–Eu também acho - olhei para ele - ,mas um peidinho não é nada pra quem já ta cagado - ri.

–E com essa frase poética... - Ele riu.

Larguei a moto e andei até o motor home, Cachinhos e Ryan entenderam e foram atrás de mim.

–Por que pararam? - Lucas perguntou quando entrei.

–Porque a gente não tem um plano. E , apesar da ideia parecer tentadora, a gente não pode simplesmente entrar metralhando os zumbis - respondi.

–Certo - Lucas pegou um papel e começou a desenhar um mapa.

Por mas que eu odeie admitir, ele é muito bom em desenhar mapas, de verdade. Ele pegou um esmalte vermelho de cima da mesa e colocou em cima do mapa. Meu primeiro pensamento foi: "que porra um esmalte ta fazendo aqui?". E então eu olhei para as unhas da Carrie.

Juro que minha vontade foi dar um soco na cara dela e mandar parar de ser patricinha.Questão de vestibular: Zumbis querendo comer seu cérebro e o que você faz?

A- Aprende a atirar.

B- Busca suprimentos, como comida, água, remédios, etc.

C- Aprende a fazer qualquer coisa para se defender (nem que seja jogar merda na cara do zumbis)

D- Pinta as suas unhas.

Se você tiver o mínimo de inteligência, você escolheu qualquer alternativa, menos a D. Só lembrando que a única alternativa errada era a D. E o que ela fez? Escolheu a porra da alternativa D (aliás, a única que ela escolheu). E sim, eu falei D três vezes nesse parágrafo (agora 4, foda-se)

Meu relacionamento com a Carrie era o pior possível. Ryan (baba ovo do Josh) e Ísis (e consequentemente o Lucas, já que tudo que a Ísis faz, ele faz também) brigavam comigo por isso, então eu simplesmente evitava a Carrie. Mas aí, ela me aparece fazendo putices do tipo xingar as pessoas por aprenderem a atirar, dar nomes aos zumbis e fazer cara de nojo para as coisas que eu caço. Ah, e pintar as unhas. Se ela ao menos ajudasse o namorado dela com os feridos e com os doentes ou em procurar medicamentos, eu a acharia menos inútil. Me arrependi de não ter dado um balaço na cara dela quando eu tive a chance, pois é.

Lucas apontou pro esmalte vermelho.

–Esses são vocês - ele colocou na entrada da cidade e escreveu "mercado" em um quadrado no mapa - e aqui fica o mercado. Se vocês se deslocarem daqui, passarem por essa avenida, vocês chegam ao mercado mais rápido - Ele disse movendo o esmalte. Assenti.

–A gente não pode passar por aqui - Eu disse mostrando um caminho secundário.

–Por quê? - Perguntou um dos gêmeos, não sei dizer se era o Carter ou o Daniel, ainda não consigo diferenciar os dois. Me julguem.

– Porque essa rua aqui é sem saída. A única saída viável é por cima, e a gente não pode contar com a sorte de ter uma escada ali, e vamos estar com a Ranger. Se parecerem zumbis e a gente errar o caminho é fim de linha. Não temos como dar a ré em cima dos zumbis, porque a chance da Ranger atolar em cadáveres é bem grande.

Eles assentiram.

–Sendo assim, eu tenho um plano - Falei.

Passei o final de semana desbloqueando o celular do amigo do Scott. Eu já estava ficando vesga de tanto olhar no celular do cara, mas consegui. O celular finalmente estava desbloqueado. Entreguei ao celular ao cara e já estava com minha grana em mãos. Quando ia ligar para Scott, para sairmos, a campainha tocou.

Abri a porta.

–Srta. Smith? - Um policial de farda perguntou. Assenti - Tenho um mandado de prisão para a Srta. por fornecer telefones para presidiários.

Engoli a seco.

–Como é? Não estou fornecendo telefones para ninguém. - Respondi.

–Diga isso para o Juiz.

–Mas o que? - ele fez um sinal para que eu virasse de costas - Pode pelo menos me explicar direito porque eu to sendo presa? - Perguntei enquanto ele me algemava.

–A Srta. é namorada de Scott Mason, não é? - Assenti - Então, seu namorado, te entregou um celular, esse celular é de um presidiário, que quer falar com presidiários.

–Mas eu não sabia disso!

–Diga isso ao juiz. Tudo que você falar pode ser usado...

–Contra você no tribunal. Eu sei - eu disse a ele.

Entramos no mercado. Como sempre foi eu, cachinhos e Ryan, mas dessa vez, achei justo trazer Lucas também, já que ele também sonhou.

Três zumbis circulavam a área do caixa e olharam para nós, caminhando lentamente em nossa direção. Lucas levantou a arma, Ryan abaixou a mão dele. Acertei uma flecha em um e Cachinhos usou a Katana nos outros dois.

Caminhei até o zumbi que acertei e peguei a flecha de volta. Assoviei.

–O que você está fazendo? - Lucas perguntou baixo.

–Atraindo os zumbis - respondi como se fosse óbvio.

–Mas... - Lucas começou a protestar.

–Evita ataques surpresa - Ryan interrompeu.

Lucas calou a boca, e agradeço a Ryan por isso, de verdade.

Andei até os fundos do mercado e subi as escadas. Eu sabia exatamente onde a sala ficava, e quando abri a porta, foi como se eu tivesse 5 anos de novo. Lembrava daquela sala todos os dias da minha vida. Era uma época em que eu não tinha nenhuma preocupação. Eu e Lucas costumávamos ir lá comer bolachas e os salgadinhos que o vovô nos dava.

Lembro-me que naquela época, nosso pai e nossa mãe já não tinham tempo para nós. Meu pai estava sempre atarefado com a gravadora, e minha mãe ensinava crianças numa escola primária do centro. Depois de um tempo (lá pelos meus 13 anos), comecei a achar irônico o fato de minha mãe ter mais tempo com as crianças dos desconhecidos do que comigo e Lucas. Lucas, racional como sempre, dizia que ela fazia o certo, mas eu comecei a usar preto e odiar a vida.

As coisas nunca davam certo pra mim, nunca mesmo. Lucas estava na faculdade de engenharia, provavelmente, se o apocalipse não tivesse começado, ele se formaria, namoraria com Ísis, casariam, teriam 2 filhos fofos, ricos e blá blá blá. Eu, tentaria uma carreira como atriz, provavelmente falharia. Não tenho aquela cara perfeita das garotas da televisão, tão pouco tenho um cabelo perfeito, ou estilo, ou o Brad Pitt de namorado, ou qualquer coisa que aquelas atrizes lindas de Hollywood tem. Provavelmente acabaria me prostituindo, e sendo drogada como meu pai espalhou nos jornais. Certo, exagero. Mas eu viveria minha vida inteira nas costas do meu irmão ou da minha mãe, ou da Ísis. Eu seria a irmã chata que nem o pai quis. Simples assim.

A sala estava revirada, nossas fotos do sonho provavelmente foram trocadas quando meu avô morreu há um ano atrás, mas ainda sabia onde o cofre escondido da sala ficava.

–Essa parede aqui - apontei para a parede da esquerda - tem uma parte oca. Me ajudem a achar.

Cachinhos foi vigiar a porta e eu, Ryan e Lucas começamos a procurar a parte oca.

–Achei - Ryan disse depois de uns 5 minutos procurando.

Olhei para Lucas. Ele bateu na parede e a quebrou. Dentro dela havia uma lancheira antiga, de metal com um desenho do Capitão América nela. Eu e Lucas ficamos encarando a parede. Cachinhos bufou na porta e pegou a lancheira da parede.

Ele abriu a lancheira.

–Tecnicamente o antídoto deveria estar aqui? - Cachinhos perguntou. Eu e Lucas assentimos. - Então, lamento informar, mas a gente ta fodido.

–Como é? - Ryan perguntou e andou até ele. Olhamos para a lancheira.

Dentro dela haviam algumas fotos nossas, sorrindo com 10 anos ao lado do vovô e da vovó, umas 200 libras, e um endereço.

–Talvez esteja nesse endereço - Cachinhos disse.

–Deixa eu ver - Lucas pegou o papel. Ele me olhou.

–Nosso avô é trollador. Vamos sair logo daqui - eu disse colocando as fotos na lancheira.

–Espera, a gente ao menos vai tentar ir lá? - Ryan perguntou.

–Esse é o endereço da casa que a gente morava - Lucas disse - é sério, nada lá.


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