-O que você ta fazendo? - perguntei a Ryan.

            -Um Coquetel Molotov - ele respondeu como se fosse óbvio - vai me dizer que tu não sabe fazer um Coquetel Molotov? - ele perguntou.

            -Desculpa, é o tipo de coisa que eu deveria aprender na escola, ou coisa do tipo? - ele revirou os olhos.

            Ouvimos o barulho de Cachinhos brigando com os gêmeos.

            -Da pra não bater a cabeça dele no chão? - Bonitinho número um perguntou.

            -Ele ta morto, caralho! - O bonitinho número dois respondeu.

            -Da pra parar de brigar, ou ta difícil? - Cachinhos perguntou aos dois.

            Ryan sorriu na minha frente.

            -Que foi, retardado? - perguntei.

            -Nada, só que...Parecem eu e o Josh, quando éramos pequenos. Meu pai era amigo do pai dele, e a gente meio que se conhece desde sempre. A gente brigava tipo, 40 horas por dia - ele disse rindo, sorri.

            -Pelo menos você não sabia fazer Coquetel Molotov naquela época - ele sorriu - o que você fazia, antes disso tudo? - perguntei.

            -Eu fui do exército um tempo. A gente aprende uns trecos legais.

            -Aprendeu a fazer esse troço no exército? - perguntei levantando uma sobrancelha.

            -Não, aprendi isso na internet, maaaas... - ri e ele sorriu. Ficamos um tempo em silêncio.

            -Olha... - falamos juntos, rimos.

            -Você primeiro - ele disse, sorri.

            -Desculpa por ter te dado um tapa, eu tava de cabeça quente.

            -Desculpe por ter te dito que preferia ver você morta, isso não é verdade.

            Cachinhos entrou na sala.

            -O cara já ta lá - ele disse.

            -A gente ta pronto aqui. Pegou a caixa de som, Cléo? - assenti. Ele colocou a mão no bolso e me deu um pen drive - espero que aquelas coisas gostem de Nirvana.

            Ta, não me perguntem porque o Ryan tem um pen drive no bolso em pleno apocalipse zumbi. O cara é bonito gente, ele não tem a obrigação de ser inteligente também.

            Andamos até a garagem, os dois gêmeos estavam lá, olhando pro corpo do titio Robert debruçado na moto.

            Tirei as chaves da minha Harley do meu bolso e joguei-as para Cachinhos.

            -Se eu encontrar um arranhãozinho se quer, dê adeus a sua vida. - eu disse, ele sorriu.

            [...]

            -Tem certeza que vai fazer isso? - Cachos perguntou, assenti. Ele me deu um beijo.

            -Vamos matar uns caras - eu disse a eles.

            -Podemos abrir? - O gêmeo número um perguntou.

            -Pod...Espera, eu não sei o nome de vocês.

            -Ah, eu sou o Daniel, e esse é o Carter - O gêmeo número um disse - e você é...

            -Cléo - eu disse - Podem abrir agora.

            Eles abriram a porta, suspirei.

            -Se eu não voltar, mande o Lucas ser menos veado e ficar logo com a Ísis - Ryan riu. 

            Dei a volta e parei na rua da frente do prostíbulo. Liguei a caixa de som. Logo, a música Dive, do Nirvana invadiu o ar.

            -HORA DO JANTAR! - Gritei para os zumbis - O banquete de hoje é Cafetão mal passado - Eu disse jogando o cara no chão enquanto os zumbis se aproximavam de mim.

            Andei um pouco para ficar mais longe daquelas coisas, e, enquanto se deliciavam do tio bigode, eu joguei o coquetel Molotov neles, que se debatiam enquanto pegavam fogo. Admirei a beleza daquelas coisas queimando. Uau, elas ficavam bem melhor assim. Coloquei os fones de ouvido e deixei Nirvana tocar, enquanto eu seguia para o sul.

            Enquanto eu apreciava a música, que fazia tempos que eu não tinha tempo para ouvir, pensei que eu fiquei mais de duas horas sem brigar com o Ryan. Espera, eu disse que tava pensando no Ryan? É sério isso produção? Tem algo de muito errado comigo.

            -Desculpe, senhorita Smith, mas nós temos uma política contra drogas aqui no nosso estabelecimento - A moça do Nandos disse.

            -Mas eu não sou drogada, posso provar com um exame antidoping - eu disse a ela.

            -Eu sei Srta. Smith, mas mesmo assim, seu rosto está em várias revistas onde seu próprio pai diz que você é drogada. Entenda nosso lado. Infelizmente não podemos aceitá-la.

            Me despedi da moça e saí.

            -E aí? - Lucas perguntou na porta.

            -Meu sexto "não" só hoje. Deve ser um recorde, chame o Guines. Minha moto vai criar raízes na garagem se continuar sem dinheiro pra abastecer.

            -Vamos achar alguma coisa, alguém tem que te aceitar.

            -É, o puteiro da esquina, talvez.

            -Cléo, pare de usar o sarcasmo uma vez na sua vida.

            Umas garotas passaram na frente de nós. Uma loira e uma morena. A loira parecia indignada porque a internet do novo Iphone dela não estava funcionando.

            -Porra, daria qualquer coisa pra alguém arrumar pra mim. Meu Deus, sacanagem gastar dinheiro e o negócio não funcionar - ela falou para a amiga que riu da situação dizendo que era o destino e para ela ser menos "viciada".

            Isso me deu uma ideia.

            -Cléo? Graças à Deus - Ísis disse quando cheguei com a moto. Joguei a mochila para Josh.

            -Cadê os meninos? - Carrie perguntou.

            -Eles tão vindo, tivemos um problema - respondi.

            -Que tipo de problema? - Logan perguntou.

            -Onde arrumou essa moto? - Lucas perguntou.

            Contei a história toda pra eles. Lucas me xingou, como sempre, dizendo que sou uma louca irresponsável por me arriscar desse jeito e que, se eu fizesse isso novamente, ele mesmo me mataria e jogaria pros zumbis. Pensei em dizer que isso não fazia sentido nenhum, mas decidi deixar quieto, tive medo que a veia do pescoço dele explodisse na minha cara.

            Os meninos chegaram com os gêmeos. Não gostei dos gêmeos virem juntos, mas eu não tive escolha já que todo mundo achou uma boa e bla bla blá. Eu sei que, na verdade, as meninas gostaram do tórax definido deles, e quem pode julgá-las? As opções apocalípticas não são muito variadas. Subi as escadas do motor home e fui até a cama onde Liz estava deitada. Josh tinha acabado de medicá-la e ela lia "Sherlock Holmes"

            -E aí pequena! - Disse me jogando na cama de casal, ficando ao lado dela.

            -Heey. Obrigada por hoje, James disse que se não fosse por você, eles estariam mortos - dei de ombros.

            -Só fiz o que achei certo - Respondi. Ela me olhou e arqueou a sobrancelha.

            -Você e o James estão juntos? - Ela perguntou, dei de ombros e senti minhas bochechas corarem - Para de dar de ombros! - Rimos.

            -Sei lá - respondi - acho que sim.

            Ela sorriu e voltou a atenção para o livro.  Decidi ficar quieta. Nada pior do que gente chata quando se está querendo fazer alguma coisa. Fiquei encarando o teto e logo eu estava dormindo.

           

            -Vovô? - perguntei abrindo a porta devagar e entrando na casa velha.

            -Cléo querida, pode entrar - ele disse da sala. Estava sentado no sofá dele lendo o jornal. Ele levantou os olhos olhando para mim - Como você está? Fiquei sabendo do que seu pai fez.

            -A essa altura até a Rainha já ta sabendo - disse irônica.

            -Já é uma idiotice ele te colocar para fora, ainda te faz passar por drogada - ele disse - Bom, de qualquer maneira, se precisar de alguma coisa, estamos aqui.

            -Que bom, porque é por isso que eu to aqui. O Paul ta aí? - perguntei, ele assentiu.

            -Ta enfiado no quarto, como sempre. - Vovô respondeu, ri enquanto subia as escadas.

            Acreditem ou não, meu avô é pai do meu pai. A minha vida inteira eu me perguntei que porra deu errado pro meu pai ter nascido daquele jeito. há quem diz que os genes pulem gerações, talvez seja isso o que aconteceu.

            Mas o meu avô ta longe dos padrões normais. Ele é um velho do rock, com umas tatuagens e tal. Ele era um daqueles rockeiros de antigamente que a gente vê nos filmes. Além disso meu avô tem um dom especial de ver o futuro. Há quem acredite que ele é só um velho "tararaca", mas eu acredito nele. Ele não é maluco. Ta, talvez um pouco, mas ele não mentiria coisas como essa.

            Paul é meu primo de 12 anos. Ele é um gênio prodígio da informática, e uma mistura minha e do meu irmão. O cara é nerd, mas é revoltado e chantagista ao mesmo tempo. Ele tem um metro e cinquenta, mais ou menos, e o cabelo é curtinho, quase raspado. Nunca o vi sem ser usando roupa preta, é sério. Os pais dele morreram em um acidente de carro, quando eu e Lucas tínhamos uns 15 anos, e agora ele vive com meus avós.

            Bati na porta recheada de pôsteres de bandas de Heavy Metal. Perdi as contas de quantas vezes minha avó disse que Paul era possuído pelo demônio. Teve uma vez que ela chamou um pastor para exorcizar o garoto. Não me lembro de alguma vez que ri tanto que nem naquele dia.

            -Pode entrar - Paul disse de dentro do quarto. Abri a porta e entrei, me jogando na cama. Ele revirou os olhos - O que você quer?

            -Nada, só quero ver meu priminho queri... - Parei ao ver o olhar fuzilante dele em cima de mim. A parada do demônio não parece bobeira agora - Lembra daqueles garotos que queriam te bater e eu te defendi chamando a mamãe deles? - Ele assentiu - Então, ta na hora de me pagar. Preciso que me ensine tudo o que sabe sobre celulares, talvez computadores, mas mais celulares.

            -Pra que tu quer saber isso? - ele perguntou com uma sobrancelha levantada - Até onde eu sei, você odeia essas "coisas de nerd" - ele fez aspas com os dedos.

            -Isso não é da sua conta. Vai ensinar ou não? - perguntei.

            -Vou né? Fazer o que? - sorri.