[Arianna]

Eu não conseguia acreditar, depois de tudo isso e eu estava justamente com o Pirata agora! Como foi que meu irmãozinho disse? “-Maravilha! Mais um casal na família! Pode passar maninha, mas cuidado com os Piratas.” Cuidado com os Piratas... Ele se referia ao Jer, ao meu Pirata, mas o que isso significava? Não, mais um dejavú não! Já bastava aquele com Deimos, eu não traria o passado de volta. Tudo aquilo havia ficado para trás, morreu assim como a grande batalha.

- Está cansada Arin?- Por mais incrível que pareça é assim que Pirata me chama quando estamos sozinhos.

-Não, desculpe. Só estava pensando, podemos ir mais rápido se quiser.

-Tudo bem, podemos seguir seu ritmo.

Fazia uns 10 min que havíamos saído do Parthenon e já havíamos dado de cara várias vezes com a maldita parede invisível. Ela dava uma sensação terrível de claustrofobia, eu poderia morrer ali sem poder ser ajudada por ninguém de fora. Ótimo.

- Onde acha que estamos indo Arin?

-Não sei Jer, mas não tenho medo.

-Nem eu!

-Não te acusei de nada, sei que você é muito corajoso.

-Tão corajoso a ponto de dar a glória da vitória a outro por causa de uma garota.

Parei abruptamente. O que ele havia dito?

- Como assim Jer?

-Na grande batalha... Era eu quem estava lutando contra Cronos, aconteceu algo estranho no momento e eu o venci. Mas você estava machucada, corri para te ajudar e ele ficou com a glória. O que um simples filho de Hermes poderia fazer? Gritar que foi ele que venceu Cronos? Quem acreditaria?- Jer riu sem humor.

-Eu acreditaria Jer, por que nunca disse?

-Porque você já tinha feito sua escolha.

-Eu não tinha feito, na verdade eu estava a ponto de esganar aquele idiota por ele cogitar a ideia de ser imortal...

Jer me interrompeu.

-Por isso mesmo, você estava louca da vida só de pensar que ele poderia te deixar e demonstrou isso com os olhos, o problema foi que você me deu esperança. Você sabe.

- Eu queria mesmo tentar Jer, não o queria usar como um objeto para atingir Anthony.

-Eu sei.

-Sério, me desculpe por isso. Mas eu não posso mais ficar com ele, já viu quantas meninas do acampamento já rodaram nas mãos dele? Praticamente todo o acampamento! Ele é um conquistador barato, já você...

-Eu?- Jer parecia subitamente interessado e voltou com o olhar malicioso que sempre demonstrava.

-Nunca vi você se exibindo por nada, você gosta de ser normal e você abriu mão da glória por mim e nunca se gabou com ninguém por isso... Você é especial filho de Hermes.

-E você é muito mais especial filha de Ares.

-Não comece a me irritar coisa chata.

-Não mais que você me irrita coisa linda.

-Tá me beije logo Pirata.

Numa fração de segundo nossos lábios estavam encostados e ele segurava minha cintura com força, sua mão acariciava minhas costas enquanto minhas mãos descansavam em seu peitoral. Seus lábios pediam passagem entre os meus e acabei baixando a guarda, deixando que o amor que ele continha me invadisse. Odeio comparações nessas horas, mas é inevitável. Jer parecia hesitante ao me beijar e o beijo não tinha ardor, nem uma chama pulsante. Mas era doce e crescia com o tempo. Ele sabia me agradar e não passava dos limites, seu ralo cavanhaque fazia cócegas no meu rosto e eu sentia seu sorriso em meio ao beijo, ele era bom, mas era isso.

Já Anthony era outra atmosfera. Ele era abusado e muito convencido, sempre passava um pouco dos limites (como uma mão boba por de baixo da blusa, ou uma carícia um pouco mais íntima) e nunca hesitava. Se queria algo, fazia e não se importava com as consequências, quando nos beijávamos eu sentia um calor enorme, sentia uma chama vibrando dentro de mim e sabia que ele sentia o mesmo. Seus lábios eram quentes e ferozes e pareciam que nunca saciavam do desejo de beijar. Ele sabia ter o mais que apimentava o beijo, que deixava tudo mais interessante e eu sabia que o poder de raio dele ajudava, ele nos aquecia no meio dos beijos.

- Bom, isso foi muito bom. Obrigada pelo último beijo Arin.

-Último?

-Sei que quando voltarmos você corre para ele, é a vida e eu aceito. Vamos fazer assim, aqui você é minha e lá você pode fazer o que quiser feito?

- Você é um baita de um trapaceiro sabia? Aqui eu sou sua? Eu não sou de ninguém nem aqui nem no mundo inferior moleque!

-É bom negociar com a senhorita, vamos continuar agora.

Moleque abusado! Eu poderia matá-lo agora mesmo por isso, mas não podia ele devia ir junto comigo até o lugar onde estaria nossa porta. Andamos mais um pouco com um silêncio desconfortável e acabamos chegando a um templo muito bonito, mas nada em comparação ao Parthenon de Ágata.

O Templo de Hefesto também é chamado de Hephaesteum ou Hephaesteion. É às vezes chamado Theseion (em Grego: Θησείο, theseio), devido a uma crença, no tempo do Império Bizantino de que os ossos do lendário herói Teseu estavam enterrados lá, na verdade, os ossos que supostamente eram de Teseu foram enterrados no século V a.C em outro local perto da Acrópoles de Atenas.

O templo de estrutura dórica era muito lindo, preservado desde os tempos antigos mais remotos até hoje, se bem que nenhum cidadão ateniense ousava destruir tal lugar sagrado. Não tinha ninguém no templo e reparei que o muro invisível havia sumido, estávamos livres.

Entramos no templo do deus do fogo, dos metais e da metalurgia e esperamos que algo acontecesse, mas nada ocorreu. O templo dentro tinha um altar com uma estátua grande de Hefesto e várias inscrições em grego antigo, várias colunas dóricas ornamentavam o lugar e o fogo grego crepitante no altar me chamou atenção.

-Jer olha isso!

-Fogo grego no altar de Hefesto Arin?- Disse ele me olhando cínico- Nossa! Que coisa surpreendente, nem pensei que por acaso ele é o deus do fogo!

- Cale a boca! E pense um pouco! Tem um altar aqui e fogo grego e onde tem altar deve haver uma oferenda para o deus.

- E o que vamos ofertar?

- Não sei...

Comecei a andar em volta do altar e uma leve camada encobria uma inscrição em grego antigo, passei a mão sob a poeira e consegui limpar a inscrição para poder lê-la. Μόνο ό, τι προέρχεται από την καρδιά, θα πρέπει να γίνονται δεκτά για την εμφάνισή μου.

- Apenas aquilo que vem do coração, será aceito para minha aparição.

- Como disse Arin?

-Aqui seu idiota. Está dizendo que devemos ofertar algo que venha do coração para sei lá quem Hades aparecer, entendeu?

-Tá bom, entra ai no altar que você é minha oferenda.

-Há há há. Muito engraçado! Agora chega de brincadeiras e vamos pensar em algo de verdade pode ser?

-Tudo bem linda.

Dei um soco “de leve” no braço dele, esse garoto me irritava!

Ficamos um tempão andando de um lado para o outro e nada de uma ideia genial aparecer, eu não tinha nada que fosse valioso para mim. Minha pulseira de coração vermelho com raio dourado no meio tinha ficado no acampamento (graças aos deuses).

-Acho que não tem outro jeito, vou ter que sacrificar a única coisa que eu tenho de você- Jer falou num tom triste e começou a remexer na sua mochila, encontrou um papel e o deu para mim.

Olhei para o papel, era uma foto na verdade. Era uma nossa, eu e ele estávamos sentados um do lado do outro e eu olhava feio para ele enquanto ele ria. Não sei donde Hades ele havia tirado aquilo, mas eu gostei da foto. Foi então que o fogo crepitou mais forte, como se chamasse a fotografia para queimar, era uma coisa que ambos gostávamos.

-Não tem outra coisa Jer? Gostei da foto e você não precisa sacrificar ela assim...

-Não Arin, deve ser feito. Pode jogar no fogo, talvez eu até consiga esquecer... Tudo.

-Você quer esquecer não é? Claro porque você é um idiota igual a qualquer outro garoto!

Joguei com força a fotografia no fogo do altar e o fogo atingiu até o teto do templo, de repente um monstro enorme saiu das chamas e atrás dele pude ver uma porta se materializando. Que ótimo! Eu fazia a oferenda e ainda teria que lutar contra um monstro! Que idiota essa deusa Athena é, nos faz fazer um sacrifício de coração e ainda manda um monstro pra nos matar!

Jer me puxou para trás de si e já ficou aposto com o arco e as flechas, eu desembainhei minha espada e me coloquei ao lado de Jer. Teríamos que matar o monstro para passar pela porta e com sorte sair na sala do elixir.

E o pior de tudo era que o monstro era ligado a Hefesto. Uma Quimera enorme saiu das chamas do fogo grego e parou em nossa frente ameaçadoramente. O monstro com cabeça de leão, corpo de cabra e cauda de serpente cuspiu fogo em nós e rolamos para o lado. O fogo era o elo que o ligava a Hefesto. Teríamos que derrota-lo com o contrário de fogo. Água.