Medo de Morrer escrita por J Smizmaul


Capítulo 5
Capítulo 5




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Enquanto tudo a sua volta parecia disforme e insípido, mãos geladas se aproximavam do seu sexo, como se a fossem castrar de um desejo sexual que nunca sentira por ninguém, como se fossem tirar a fertilidade de mulher e lhe devolvessem o cio mudo de uma fera que só existe e se acua por instinto de sobrevivência não para procriar a sua espécie. Mas acima de tudo ela tinha medo, e isso a impedia de ser uma fera... isso a impedia de ser mulher e de sentir desejo, de querer amar e ser amada.

As mãos frias agora subiam por sua espinha, causando-lhe arrepios macabros e vibrantes como uma criança que aos poucos vai descobrindo o mundo à sua volta; as mãos pousaram em seu pescoço apertando a volta roliça da face de April... Quem era o ser misterioso que ao mesmo tempo lhe assustava, mas causava-lhe excitação?, uma excitação que ela nunca viera a conhecer e que de tão desconhecida era vaga: só se pode entender o que se conhece, mas e o resto? Quem era o ser que tinha o poder de provocar evocações em um corpo que sempre fora tão oco?

A essa pergunta ela não teve resposta. Teve mais uma vez, medo do desconhecido. Não olhara não se inclinara para sentir o doce e feroz aroma que aquele corpo de homem exalava (não como um macho predador, mas como um ser de caráter masculino). Não quis criar uma projeção... Uma expectativa de carência sobre aquele que vinha para libertá-la dessa mesquinhez de humanos. Não, não queria mais uma história inventada e disforme, não queria mais se ferir com o silêncio... April nunca soubera como lidar com o campo minado das emoções e por isso mesmo se deixou ser fácil, uma presa fácil.

Se deixara morrer para depois nascer de novo e lidar com esse mundo que era tão dela, e por isso mesmo a assustava, ela queria o novo, o nunca visto, o inexplorado pela razão... ela sempre quis ser mais que um conjunto memórias acumuladas, sempre quis ser mais que um mistério para si mesma!

E deixando isso para trás que April sentiu a dor mais libertadora que alguém pode sentir: é pela dor que se aprende a estar vivo.

O sangue escorria da ferida adquirida, desde o pescoço até os ombros... e seu criador saboreava seu sangue como um licor quente e altamente afrodisíaco, tirado diretamente da fonte...

Então era isso que o trecho no bilhete que recebera queria dizer:

“Prefiro o inferno à mesmice desses dias tão longos”?! Agora tudo fazia sentido... Essa liberdade conquistada através da dor da carne era necessária para que o espírito de April pudesse conhecer sua verdadeira espécie, sua verdadeira forma de estar viva...

Ela era o que era: uma vampira

Seu corpo enfim tinha a forma que nunca lhe coube, enfim teve a elegância que sempre foi seu legado, mas que estava escondida atrás do medo de ser majestosa... de ser algo tão maior e tão imortal que ela mesma desconhecia.

É preciso ir além dos limites do perigo, se você enfrentar a morte, o que mais se poderá temer? Nada. “Nada”, veio a resposta muda na mente de April, que sentia agora tantas sensações novas que não conseguia se concentrar em nenhuma.

Sua estadia no inferno de ser comum estava terminada... Agora ela finalmente conheceria o inferno de verdade, com direito a verdadeiras restrições e a saborosa e atraente imortalidade.

 

 


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