Eu não acredito! Como eu fiz aquilo? Estou realmente espantada comigo mesma! Bem, menos a Piper se deu mal.

Meu rosto encheu-se de frustração quando vi Leo e Jason correndo na direção onde ela foi. Tratei de disfarçar, tornando meu rosto inexpressivo.

Já comentei que sou muito impulsiva? Pois é, eu sou.

Saí correndo na direção de Leo. Não sabia o que exatamente eu poderia fazer para impedi-lo, mas eu não tinha muita escolha, se ele fizer isso eu vou...O que eu vou, afinal?

Ele tem que ter um pouco de amor próprio! Se ele for lá e a Piper e o Jason se beijarem, Leo vai ficar pior. Eu tenho que impedi-lo!

Aproximei-me dele rapidamente e estendi a mão esquerda, tocando seu ombro.

―Leo, onde está indo? ―perguntei me fazendo de desentendida. ―Está indo muito rápido!
―Eu estou indo ver a Piper, óbvio! ―respondeu inconformado. Meu rosto deve ter ficado estranho ―Por que essa cara?

―Nada, só acho que você não devia fazer isso... ―murmurei. Soou bem melhor quando eu pensei nessa frase. ―Você sabe, ela tem o Jason.

―Mas ela é minha melhor amiga! ―exaltou-se ele, provavelmente se esforçando para não gritar comigo. Uau, eu acho que fui longe demais citando a palavra “Jason”. ―Ninguém mais me aguentaria!

Naquele momento eu me senti ofendida.

E eu? Eu não “aguento” ele? Olha a consideração comigo. Eu achei que eu fosse alguma coisa para ele. Por que eu fui tão burra? Não o conheço há muito tempo mesmo, por que me apeguei tanto?

Suspirei abaixando a cabeça e dando as costas para ele.

―Ok ―sussurrei. Minha voz tremeu, mas eu disfarcei. ―Se eu sou ninguém, eu sou. Tudo Ok.

―Ei, Nancy! ―chamou ele. ―Você entendeu errado!

Mas eu já tinha saído dali.

―Ninguém gosta de você mesmo, Nancy ―falei baixo, apenas para eu escutar. ―Por que lamentar?

Corri na direção dos chalés. Eu estava quase entrando no chalé 11, quando percebi que se eu fosse para lá, os filhos de Hermes podiam me ver triste assim, e isso não é uma opção.

Não pensei muito quando eu corri para a praia, realmente não pensei. Eu estava desnorteada, não sabia o que estava fazendo.

Então eu corri na direção do mar, não me importando se molharia minhas roupas, ou se eu poderia acabar me afogando caso eu fosse puxada para a parte funda (eu não sei nadar). Sentei-me na areia e abracei meus joelhos colando meu rosto entre eles, e pude sentir as ondas do mar.

Eu não ia chorar. Por que eu choraria? Pode até doer, mas eu não iria chorar. Era contra minha natureza.

Fiquei perdida em pensamentos, sentindo a água fria e tremendo (sim, estava ventando muito naquela noite para um lugar feito para ter um clima perfeito), mas eu não ia sair dali, eu não queria procurar o Leo para vê-lo destruído por ver a Piperanha beijando o Jason ou algo assim.

―Nancy? ―Eu ouvi alguém falar atrás de mim. Meu coração acelerou quando eu ouvi sua voz. ―O que você está fazendo aqui?

―Percy... ―murmurei e senti meu rosto ficar quente. Uma das “vantagens” de ser ruiva e ter a pele clara é que eu fico vermelha fácil ―Eu... Só quero ficar um pouco na praia, eu amo o mar!

Cara, eu minto muito bem.

―Ok, mas você não acha que está um pouco frio? ―perguntou.

“Ai meus deuses! Ele está preocupado comigo!”, pensei sorridente, mas essa felicidade durou dois segundos, até eu cair na real.

―Talvez ―respondi. ―E o que isso te importa? Achei que me odiasse...

―E odeio! ―retrucou. ―Bem, nem tanto assim... Tenho que te dar créditos por ter salvado o Leo.

―Você me perdoa? ―perguntei. Eu estava mais do que confusa naquele momento.

―Sim, Nancy... ―respondeu ele, abrindo um sorriso. ―O que passou, passou.

Meu peito se encheu de felicidade. Mesmo eu sabendo que nunca teria chance com ele, saber que ele não me odiava mais já era grande coisa.

E aquele sorriso... Ah, aquele lindo sorriso me hipnotizou. Os olhos verdes dele brilhavam à luz da lua, fazendo-o ficar mais perfeito do que já era.

Acho que fiquei muito tempo só o encarando, porque ele me chamou.

―Nancy? Está tudo bem? Nancy!

Pisquei, ele estava falando comigo? “Eu acho que ele estava falando alguma coisa enquanto eu o olhava. Como eu sou ridícula!”, pensei.

―Ah, hum huh gã ―tentei falar. Caramba, tem como eu ser mais besta?

―O quê?

―É... Desculpe-me, eu só estava pensando ―corrigi, abrindo um sorriso meio amarelo.

―Bem, acho que vou sentar aqui com você ―avisou, sentando-se ao meu lado, beeeem ao meu lado ―Tudo bem?

―C-claro ―gaguejei completamente vermelha pela proximidade. Nossos ombros quase se encostavam ―Você está gostando de alguém?

Quando percebi, já havia saído essa pergunta da minha boca, e era tarde demais para voltar atrás.

A expressão dele mostrava que estava surpreso. Seus olhos estavam arregalados e suas sobrancelhas arqueadas.

Como eu sou Burra! Por que fiz essa pergunta? Minha cabeça estava em um conflito interno. Por um lado eu queria saber se ele gostava mesmo da Annabeth, mas pelo outro, eu queria viver sem essa informação.

―E-eu a-acho que sim ―respondeu. Suas bochechas estavam coradas.

―E o nome dela tem “A” e dois “N”? ―perguntei, já temendo a resposta. Meu rosto devia ter uma expressão triste, tenho quase certeza.

Ele arregalou os olhos.

―Existem muitas garotas com as letras “A” e “N” no acampamento ―falou com o rosto sério.

Meu coração foi cortado em pedaços. Essa frase era uma afirmação, apesar de tudo. Meu mundo tinha acabado. Afrodite tinha toda a razão.

―É, mas eu sei de quem você gosta! ―exclamei, cruzando os braços e esticando os joelhos. Percy me encarou, o rosto preocupado. ―Espero que a Annabeth também goste de você...

―Annabeth? ―perguntou ele com o rosto vermelho, porém aparentemente confuso. ―Eu não gosto da Annie!

―O acampamento inteiro sabe, Percy! ―afirmei, esforçando-me para não sair correndo.

Virei o rosto para a esquerda (ele estava à minha direita).

―Você está errada ―protestou ele. ―Se eu gostasse da Annie, eu faria...

Do nada ele ficou quieto. Ele realmente parou na metade da frase.

Eu não previ nada do que aconteceu a partir daí. Obrigada.

Estranhando, eu virei o rosto novamente para encará-lo, porém o rosto dele estava muito perto do meu.

Ai meus deuses! Será que ele vai...?

―Percy...? ―perguntei, minhas bochechas estavam quentes. Será...?

Meu coração batia rápido, eu achava que ele ia saltar para fora do meu peito. Eu não sabia exatamente o que estava acontecendo, eu apenas estava aproximando lentamente o meu rosto do dele, e vice-versa.

O que eu estou fazendo? Uma pequena parte de mim estava pensando que ele estava fazendo isso só para me provar que ele não gostava da Annabeth, e que ele ia me beijar sem nem realmente querer, mas outra parte não se importava: Dane-se, ele vai me beijar!

Quando os lábios de Percy estavam a centímetros de distância dos meus, eu ouvi alguém gritando:

―Nancy, onde está você?! ―Era a voz de Leo.

Fiquei realmente frustrada. Percy Jackson quase me beijou! Deuses!

Acho que finalmente ele percebeu o que estava fazendo, porque Percy virou o rosto assim que ouviu a voz do filho de Hefesto.

―A-acho melhor você ir falar com ele... ―murmurou, provavelmente envergonhado pelo quase beijo.

Mas eu não queria falar com ele, eu estava completa e perdidamente sem vontade de conversar com Leo. Ele me magoou, vou dar tempo ao tempo para não fazer nenhuma besteira.

―Não, Percy ―respondi, sussurrando. ―Me esconde, rápido!

―Como é...? ―ele perguntou falando alto, mas eu tapei sua boca com minha mão.

―Não fala nada alto... ―pedi temerosa ―Não quero falar com o Leo.

―Por quê? ―perguntou ele.

―Porque não! Não é da sua conta.

Ele me encarou e fez uma cara de magoado.

―Vamos, me esconde ―implorei, ele ficou meio confuso, mas agarrou a minha mão.

Ele agarrou a minha mão.

Nossas mãos estavam entrelaçadas.

Isso mesmo.

Toma Afrodite!

Ok, não é pra tanto.

Ele levantou e me puxou para cima, fazendo-me levantar junto. Então ele começou a me puxar para frente. Logo estávamos correndo em direção ao mar, com os gritos de Leo como trilha sonora.

―O que você está fazendo? ―perguntei. A água estava fria e eu não estava gostando da sensação. Estávamos indo para o fundo, meus únicos pensamentos eram: Eu não quero me afogar! E: Dane-se, ele está segurando minha mão!

―Confie em mim ―foi o que ele pediu.

Como eu não confiaria nele? Percy é o único que eu realmente amei nessa vida.

Quando percebi, eu estava sendo puxada para debaixo d’água. Eu tive que fechar os olhos, o sal impedia-me de mantê-los abertos. Abri-os assim que parei de sentir a água ao meu redor.

Eu estava numa bolha de ar embaixo d’água, e Percy estava ao meu lado.

Eu não conseguia raciocinar, litros e litros de água estavam sob a minha cabeça. Se aquela bolha estourasse...

Minha primeira reação foi gritar, mas ele cobriu minha boca com uma das mãos.

―Sshh ―fez ele. ―Você não quer se esconder?

Eu não disse nada, só sentei na bolha de ar e fiquei encarando o “teto” dela.

―Nancy, está tudo bem?

Eu comecei a entrar em pânico, eu não aguentava ficar lá por nem mais um segundo.

―Nancy?

Ele pegou meus ombros e sacudiu chamando o meu nome.

Admito que demorou um pouquinho para eu cair na real.

―E-eu n-não sei nadar! ―exclamei, aproveitando da situação inconscientemente para abraçá-lo.

―Hey... Não precisa ficar com medo... Eu não vou deixar nada acontecer com você!

Então meu rosto ficou extremamente vermelho. Ele estava insinuando que ia me proteger? Assim, ouvindo isso de Percy, eu me acalmei ficando em silêncio. Aproveitei o abraço de Percy, escondendo meu rosto em seu peito. Ele começou a fazer carinho no meu cabelo.

Eu queria eternizar aquele momento, era simplesmente perfeito.

Bem, foi perfeito até o momento em que uma garota loira apareceu nadando do lado de fora da bolha.