Cigarettes escrita por Bane


Capítulo 1
Chapter one – Cigarettes.


Notas iniciais do capítulo

Achei essa fanfic no final do meu caderno de geografia e decidi postá-la. Desejo-lhes uma boa leitura desde já. Comentem assim que terminarem. Criticas positivas e negativas são aceitas.



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Chapter one – Cigarettes.

Esperava por uma reação, um movimento diferenciado. Mas a morena não fazia nada a não ser tragar incessantemente, pensava que fosse como uma rota de escape, sim, talvez fosse isso... Era uma garota complicada que tem muito a dizer – Imaginei.

Todos os dias, exatamente as três da tarde, descansava em baixo da mesma arvore sem vida. Sentava sobre as folhas secas, sem se importar muito com os insetos. O cheiro de chocolate invadia minhas narinas, deixando-me arrepiada. Pensei que ela teria o mesmo cheiro, certamente. Gostaria de descobrir, de alguma forma, mas não aconteceria.

Nem seu nome sabia.

Passava ali apenas para ir a escola, que ficava á umas duas quadras. Pelo mesmo motivo tenho me atrasado, com bastante freqüência, na verdade. Mesmo assim, não conseguia parar de olhá-la. Os poucos movimentos já eram o suficiente para hipnotizar-me por um longo tempo. E então, entretida com os movimentos ágeis, aprofundando-me em um amor sem fim... Eu percebi que estava perdida.

Era a obsessão mais complexa de todas. Claro que, sair de trás dessa arvore – onde me escondo para observá-la – e declarar tudo que sinto é uma opção mais hábil. Todavia não deveria fazê-lo. Abaixei os olhos, cabisbaixa. Nunca nos falaríamos.

Vê-la tragando me parecia o suficiente.

Sorri ao ver a morena jogar seu cigarro em meio às diversas flores e levantando-se, suspirando, decididamente. Era a garota mais bonita que já havia visto em toda minha monótona vida. A pele pálida e limpa; diferente das demais garotas que andavam por ai. Cabelos negros e curtos, que batem um pouco abaixo das orelhas, extremamente bonitos. Seu rosto, tão bem desenhado quanto qualquer outra coisa.

Não era comparável a ninguém – Pensei.

Ela se afastou, lentamente, retomando ao seu caminho. Aquilo me rasgou a alma. A admiração tornou-se agonia tão repentinamente, mal podia respirar.

Voltei a andar.

A sala de aula era apenas mais um dos lugares que separava-nos de forma tão agressiva quanto as outras. Estudar me parecia... Inevitável. “Só assim poderia sustentar minha família... Nossa família.” – Imaginei-me dizendo as mesmas palavras, de forma tímida á garota que tanto amava.

Sorri melancolicamente, soava um tanto improvável, não é?

Por um momento, olhei para meus pulsos, com singelos cortes espalhados por lá. Observei meu corpo magro enquanto sentia o forte cheiro dos analgésicos que tomava toda manha. Não tinha aspectos positivos, era só mais uma garota que não via sentido na vida. Senti as bochechas corarem, não de vergonha, mas de raiva, de tudo e todos.

Suspirei. Como faria minha amada aproximar-se de mim? Uma criatura tão desequilibrada que deveria ser amarrada. Ela não suportaria cuidar de uma doente, tanto mental quanto física.

Porem, ao contrario de muitos, havia encontrado um pretexto, uma rasão infinita para continuar respirando... O motivo é você.

Tal qual nem nota minha insignificante existência. Será melhor assim. Afinal, nem sei seu nome, sua preferência musical ou se gosta de super-heróis. Não sabia de nada.

Estava em um labirinto sem fim.

E então, enquanto tentava prestar atenção na aula, enquanto tomava cuidado para que ninguém notasse, eu chorei, triste e silenciosamente.

**

O vento de fim da tarde era cortante. Andava pelas ruas gélidas enquanto observava o local vazio e obscuro, diziam-me que era ali onde o tráfico de drogas funcionava, afastei-me o mais rápido possível. Ao chegar em casa, senti um calafrio, aquele que sempre sentia ao olhar para a porta lascada, se talvez meu pai não fosse um beberrão, minha vida de puro transtorno mental não seria tão complexa.

Entrei.

– Estou de volta. – Pigarreei após limpar os pés no tapete felpudo da entrada. Sentia-me apenas uma alma vazia, mais um corpo entre milhares. Uma ocupação desnecessária de tempo e espaço.

Fui até o banheiro lavar-me, e me arrependi profundamente ao lembrar-me de que lá havia um espelho. O humilde reflexo do opaco. Olhos transbordando em autodesaprovação.

Um paradoxo.

Olhava-me, insistente, mas não consegui enxergar nada. Não havia nada. Um ser tão incompleto, sóbrio e monótono que chega a dar sono aos demais.

Essas são as horas em que o suicídio parece uma saída mais prática. Um desvio, basicamente.

Mas não o podia fazer.

Conclui que reflexão não era uma das minhas virtudes.

Em passos lentos, fui até o meu quarto.

**

Decidi-me. jogar-me-ia ao lixo. Tudo seria dizimado pelos meus próprios pensamentos. O politicamente correto, apesar de causar bocejos, parecia convidativo. Mesmo estando desapercebida para a ocasião. O mundo já está cheio de sorrisos falsos, mais um não fará diferença.

Meus costumes também seriam afetados conforme a minha escolha repentina. Não ficaria espreitando as pessoas que nem ao menos conhecia. É inapropriado, um ato grotesco, por assim dizer.

Meus passos se tornaram mais apertados, minha respiração abafada, a boca contorcida e o olhar aturdido... Minhas mãos tremiam. Teria um ataque a qualquer momento, inevitavelmente. Ignorá-la nunca passou pela minha cabeça.

Olhei para a arvore sem vida de relance, era o mais perto que já havia chegado. O cheiro de chocolate invadiu-me.

Não suportava.

Quando cheguei ao seu lado, olhei-a, automaticamente. Milhares de sentimentos percorreram por mim, a sensação aprazível de tê-la por perto me incomodava, de certa forma. As supostas borboletas no meu estomago pareciam portar metralhadoras. A imagem se formava repetidas vezes, espocando em minha cabeça.

Nossos olhos se encontraram pela primeira vez.

Desabei. Entregaria-me por completo ao olhar terno da garota. Os olhos inexpressivos fitaram-me.

E tudo se tornou escuro.

**

Abri os olhos, examinando tudo ao meu redor. Sentia-me em um hospício, devido as paredes brancas. Tudo se movia rápido demais, um tanto mais embaçado do que gostaria. Choquei-me ao perceber onde estava, em meus sonhos nada havia sido tão real. O som melodioso de um violão, parecia ter uma sinfonia própria, a meu ver. Os dedos tocavam suavemente as cordas do instrumento.

Estávamos tão perto..

Tentava cautelosamente não emitir nenhum ruído que pudesse destruir esse momento tão esperado... Tão impossivelmente inédito.

A amava com todas as minhas forças.

Um soluço agonizante escapou dentre meus lábios trêmulos, atraindo a atenção da morena, que, por sua vez, levantou-se. Andando calmamente em minha direção. Tremi. Era dona de uma beleza quase que agressiva.

– Você está bem? – A voz grave assustou-me. Era exatamente como havia imaginado. Doce e gentil, sóbria e delicada.

– S-sim, obrigada – Respondi, trêmula. Aquilo era tão cruel... – Você foi muito gentil.

Os lábios se contraíram, revelando-me um sorriso sem graça, As bochechas rubras, é perfeita. Levantei-me com dificuldade, fitando-a. Fiz uma pergunta qualquer depois de apresentar-me.

– Me chamo Jackie. – Respondeu, esticando a mão delicada. Era insuportável. Agarrei-a bruscamente, trazendo-a para mim, em um abraço afetivo.

Era sufocante.

Levantei os olhos, fitando-a. Parecia surpresa com o ato feito a pouco. Sussurrei algo quase inaudível, um peso gigantesco foi tirado das minhas costas, surpreendendo a mim mesma. Não esperava que correspondesse ao seu complexo amor possessivo. Fiquei na ponta dos pés, alcançando-a. Os olhos castanhos eram profundos...

E então, quase que urgentemente... A beijei.

Compartilhavamos um ósculo inexperiente, possuindo-a, o desejo era aparente. Não se arrependeria dos atos tomados a pouco, queria descobri-la, decorar cada parte do seu corpo. Não sabia a preferência musical da garota, não sabia se gostava de super-heróis... Mas Amava-a. Tinha certeza.

A amava... Mais do que poderia suportar.




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Notas finais do capítulo

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