Amor De Irmãos escrita por Minori Rose


Capítulo 33
O nós não existe aqui


Notas iniciais do capítulo

Curso novo. Apresentações. Cansada. Testes. TCC. Vontade de escrever... Farei uma série de cartas, que postarei em um breve capitulo extra. Ansiosos? Eu também.



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O amor comeu minhas roupas, meus lenços, minhas camisas. O amor comeu metros e metros de gravatas. O amor comeu a medida de meus ternos, o número de meus sapatos, o tamanho de meus chapéus. O amor comeu minha altura, meu peso, a cor de meus olhos e de meus cabelos.

De fato Bernardo se sentiu realmente surpreso com aquela coisa toda. Para ele não existia outra palavra para classificar o sentimento que tomou conta de seu ser quando observou os gritos, as falas, o choro de Violetta. Tudo parecia um mistério horrível que ele sentia cada vez mais vontade de decifrar; mas entre um pensamento ou outro, ele sentia também, alguma espécie de desejo aflito por ver mais daquela família tão curiosa. E uma imaginação distante de que talvez, ele fizesse sim parte disso, ou faria.

Ele andava com a garota na rua. Sentiu—se tão mudo, tão incomodo e tão preso a si mesmo que não via como ajudar aquela pessoa a quem aprendeu aos poucos a admirar internamente; e mostrar que sentia um agrado com a sua presença e um amor diferenciado. De quem quer cuidar, e estar perto para que ruindades como aquelas não aconteçam para ela.

As vozes na mente do rapaz não paravam. Seus olhos caminhavam do chão para Violetta, de seu rosto para o mar e do mar para concreto novamente. Queria dizer para ela que não precisava sofrer tanto! Que se um erro ou outro fosse anulado do passado, o que a incomodava não existiria, poderia ser plenamente feliz longe do caos daquelas pessoas.

Queria dizer verdades.

Mas no fim... Não fez mais do que abraçá—la.

**

Era o sexto, sexto cigarro que Adam tragara, um atrás do outro, de um modo irritantemente frenético. A dor vinha em seu peito, e a falta de ar em seus pulmões, porém o rapaz não parava. De repente começou a beber também e a mexer em coisas antigas... Sentia de novo aquela sensação arrebatadora, a mesma de não saber quem é ou o que fez nas vidas passadas para se ferrar tanto nessa.

Bárbara não levava no ventre um filho seu, disso o moço tinha certeza.

Mas e a pessoa que ele amava, compartilhava as mesmas certezas que ele? Ligou para Violetta. Jurou para si que daria um tempo para que ela voltasse e que tudo se resolvesse. No entanto as horas da madrugada foram se arrastando tão de vagar que passou a ser tão insuportável só esperar e esperar.

Deixou todo mundo para trás. A rua das roseiras, o apartamento parecia, a cama, tudo parecia fora de ordem. Tudo passou a ficar fora de ordem depois daquela madrugada... Lembra da caixa de papelão? Ele pegou, jogou tudo que tinha em cima da cama, e num espírito de louco, com outro cigarro nos lábios revirou aquelas lembranças escritas e as fotos do seu mundinho particular.

Eram várias cartas. Tinha uma datada de alguns dias após que chegou em São Paulo e encontrou uma Violetta crescida, até uma com números que batiam a imagem da menina mulher. Talvez estivesse um pouco bêbado, ou talvez só fosse alguns minutinhos de loucura que sempre lhe batiam a porta, pois ele sabia que para si significava a morte: lembrar de todos aqueles sentimentos de uma vez só, da sua sujeira, e do jeito que se sentia errado, lembrar do passado! Céus, com aquelas fotografias de uma Violetta criança, pequena e pura, longe das suas verdades.

Talvez só fosse o xeque da realidade. A ilusão deixando a casa, a esperança abandonando o ser, o torpor tomando conta de uma alma. Não dormiria aquela noite, então se conformou em passar o tempo se matando mais um pouco.

**

— Tu detesta mesmo sua cunhada, viu? — Bernardo soltou com uma voz alterada depois de sentar na cama e beber um gole de café.

— Ela não é minha cunhada! — Violetta rebateu. Só depois notou como a entonação ficou estranha. Se recompôs e completou: — Só é uma mulher louca.

— Mas que verdade seja dita, teu irmão não era firme com ela há um tempo atrás?

Ela pareceu pensar. Depois puxou a coberta até o queixo e procurou os olhos verdes de Bernardo em meio aos poucas faixas de luz que o abajur proporcionava.

— Adam é burro! Algumas pessoas tiveram de abrir os olhos dele.

Bernardo e Violetta estavam no Mirana. O que era terminante sufocante para a garota. O design daquele quarto para ela era o mesmo que o inferno e toda vez que ela olhava para a porta do banheiro um calafrio junto de lembranças assolavam seu corpo. De repente começou a pensar em umas semana atrás. De uma hora pra outra começou a relembrar sobre a voz de uma pessoa, sobre os seus sorrisos. De um minuto pra outro, se perdeu em lembranças de Samuel.

Ela não queria lembrar dele. Não mais. Era totalmente indesejável pensar em onde se encontraria naquele momento, no que estaria fazendo... No que ambos poderiam ter feito em um quarto semelhante aquele.
O timbre da voz de Bernardo soou alta em seus ouvidos, então os olhos de Violetta abandonaram a escuridão a retomaram o foco.
— O que você disse? — questionou a Bernardo.
Ele riu.
— Você se perdeu legal, hein? Violetta concordou depois de um sorriso fraco. Se obrigou a levantar e antes que aquela sensação arrebatadora q a guiava resolvesse ir-se, ela tomou o celular de Bernardo e correu para o jardim.

**


Suas mãos tremiam em meio a garoa. Bernardo não a seguiu. Ela gritou do corredor que voltaria logo... Talvez não fosse bem assim. Procurou com furor o numero da pessoa em sua memória, e no final das contas não se dera ao trabalho de esquecer. Os algarismos foram postos no aparelho aos poucos... Violetta ligou. Seu coração pulsou de forma mais intensa. As pernas da garota bambearam junto a Um sorriso bobo que brotou nos lábios rachados, porem ainda rosas.
— Alo... — a voz masculina soou sob os ouvidos da garota.
— Sam? — deixou se responder, mau se dando conta do quanto o nome dele saiu doce e suave de sua boca.
— Violetta?!
— Sim... — soltou em meio a agitação da voz dele.
Samuel nunca esperara por aquilo. Pela voz baixa e doce da pessoa que ele movera céus e terra para esquecer, em plena as três horas da madrugada de um natal. Sentiria se coberto de felicidade se não visse ali riscos horríveis: coisas que a voz de Violetta provocava nele, lembranças que Samuel dizia que esquecera, desejos que para ele não serviam mais... Palavras que não passavam de mentiras... E aí o coração do rapaz mudou. Todo o amor inicial que iria ser dado acabava e sobrava disso só a vontade suprema de não sangrar novamente.
— Violetta, nossa, não esperava ligações tua.
— Estou incomodando?
— Não. — respondeu secamente.
Violetta achou que estava.
— Eu não deveria ter te ligado a uma hora dessas, eu sei. Só queria — respirou fundo — te desejar feliz natal... E saber como você está...
Foi difícil pra ele se manter firme. No fim, acabou rindo. Com a seu riso tomando leve o embarco de sua voz forte. Violetta podia ate ver os ombros largos de Samuel balançando junto as risadas mas essa imagem passou, nesses segundos só restou a pergunta: estava debochando dela?
— Eu não comemoro o natal. Sou ateu, lembra?
Ela se amaldiçoou por dentro.
— Oh, é verdade. Errei feio.
— Relaxa. Você esta bem?
— Bem sim... — mentiu — e você?
— Ótimo. — o silêncio perpetuou por quase um minuto — Vamos nos falar depois? Preciso ir.

— Sem problema... Então, até. Se cuida.
— Até.
E foi só. O coração da menina se trincou mais um pouco de tristeza. Ele a odiava, debochou dela, foi frio e curto. E o pior é q ele estava certo em ser assim. Só não sabia que podia sentir mais dor do que sentia.
Foi difícil pra ela ouvir uma mulher pedindo para que ele desligasse e fosse pra cama. Foi difícil pra ela constatar que só fingia não sentir saudade.

**

As horas se arrastaram. A manha chegou fria, mas unida aos raios solares fracos e corajosos. Mais uma vez Bernardo deixou a oportunidade passar e Violetta juntou os seus cacos. Durante as horas em claro decidiu: colocaria todos os pontos nos is. A sua vida com Adam seria traçada naquela mesma manha.

**


Adam corria. Via a sujeira na praia, o aperto consumindo seu peito, as mulheres o paquerando com os olhos. Mas tudo o que saia dele era o olhar da indiferença e o silencio. Passou na padaria. Só o cigarro mesmo, obrigado. Não sorriu para a atendente. Dessa vez sua aura pesava.
A cabeça do rapaz doía por conta da ressaca. Abriu a porta do apartamentinho das Roseiras; apertou os olhos e o maço nas mãos quando viu Violetta a mesa, o encarando com olhos desafiadores e ao mesmo tempo cansados. Pediu para que Adam sentasse. Odiou do fundo do coração o fato de que o irmão começou a fumar em sua frente.
— Precisamos conversar, Adam.
Ele ficou em silencio. Depois de mais uma tragada disse:

— Pois diga.
Ela mordeu os lábios. Adam desviou os olhos.
— Ela pode ter mesmo um filho teu?
— Eu peço para que sejamos sinceros — o moço apagou o fumo a medida que a garota tossia — nunca transei sem camisinha. Faz mais de três anos que conheço Barbara — ele reparou nos pés descalços de Violetta — se fosse para engravidar só agora... — riu — seria no mínimo impossível...

— Você uma vez disse que seria impossível que ficássemos juntos...

O rapaz flexionou as sobrancelhas, a medida que sua testa enrugava pelas linhas tensas que se rosto tomara pela confusão.

— Eu não acredito mais que esse nós possa dar certo. — Violetta disse, com a voz se arrastando por tudo que sentia, e olhando seu reflexo pelo enorme espelho da frente.

Antes que pudesse concluir sua frase, podia ver um sentimento forte nos olhos de Adam. Ele se sentia prestes a explodir palavras que não queria dizer; Violetta levantou uma das mão e pediu calma. Apertou os olhos, analisou a bagunça da casa. O jeito difícil que o peito de Adam ia e voltava para que ele respirasse. A merda da garrafa de uísque vazia. Umas fotos largadas na cama.

Ela levantou. Com as pernas cansadas pelo sono que não teve e o vestido branco balançando com seu caminhar; havia largado o preto. Na visão de Adam parecia um anjo que pedia para ser cuidado... Uma espécie de vergonha com uma pitada de desespero tomou conta de Adam quando ela se dirigiu para o quarto.

— Violetta, não mexa aí.

Ela não obedeceu. Pegou uma das fotos e começou a rir.

— Eu era mais bonita. — cochichou para si mesma.

A moça o olhou e depois sorriu.

— O nós nunca vai existir por completo aqui. Temos que ir embora... Ou eu irei sozinha.

**

Você sabe que eu farei de tudo pelo 'nós', Violetta. Beijo. Preciso dizer que achei mais do que lindo o fato de que você, assim, meu Deus, cresceu depressa. Em que sentido? No sentido de que... você não fugiu do assunto, como eu fugiria. Fique aqui. Acho que você tem o direito de ficar com essas cartas, enfim, para que você pelo menos lembre de mim, caso algum dia eu seja tão estúpido que a nossa reconciliação não seja rápida assim.

Só... Riso... Não leia aqui, só depois... Quando estiver sozinha.

Beijos.

**

" Querida Violetta,

Tenho quase certeza que eu não terei coragem de te mostrar essas palavras. Não sou mais o mesmo de antes; o mesmo Adam que tolamente te deu aquele presente de aniversário... O mesmo que teve peito para fazer aquilo. Eu mudei. Minha juventude tem se esvaído, e minha saúde também. Ando cansando fácil; com uma rotina ruim entre o estresse e o álcool, eu tempo dizer que não tenho tempo para lembrar de você.

Mas eu lembro o tempo todo.

E ao mesmo tempo, sua imagem tem fugido de mim. Tenho medo dessa coisa de esquecer, mesmo que possa-me ter doloroso, lembrar de você é o que há de mais lindo na minha vida de ultimamente. Você deve saber que eu vou me casar. Não vou dar desculpas, é mais alguma questão de necessidade, moral, talvez até física.

Vi suas ultimas fotos. Aquelas artísticas, que pintaram seu rosto de tinta e eu podia ver que a parte mais divertida para você foi essa. Via pelo seu sorriso. Porque eu acho que o conheço, mesmo sabendo que não ando o provocando.As vezes sinto vontade de voltar. Pro nosso jardim, para a nossa casa; sinto vontade de me resolver com o pai só para te deixar feliz. Sinto saudades das nossas sessões de pipoca... sinto saudades horríveis de você. Mas o que é a saudades, quando eu sei que você é mais feliz sem mim?

Do seu não príncipe,

Adam"

**

Seis dias. Novos problemas. Novas soluções. Maturidade. Venda de algumas coisas, anuncio de outras. Esse apartamento vale uma pequena fortuna? Eu sei, ela disse. Podemos comprar uma casa enorme. Gosto dessa idéia de casa, ele disse. Não ando conseguindo falar com papai. Agora Adam ficou em silêncio. Ele é ocupado. Falta um dia pro ano novo, ele deveria estar em casa. Violetta mordeu-se. Vou sair com o Bernardo hoje. É? Sim.

Não me encara desse jeito, Adam. Voltarei logo. Arruma as roupas com descrição. Você sabe que mamãe é intrometida. Igual a você. Gargalhou. Cala a boca, a moça respondeu prendendo a ponta da trança. O dia está horrivelmente quente. Vamos na piscina quando voltar. Com a titia e o resto? Não, obrigada. Abraço. Beijo. Aperto.

— Preciso ir, — disse se soltando dele. Depois o olhou perto da porta e ajeitou o cabelo mais uma vez — leva as minhas fotos.

— Já guardei. — disse sorrindo. Sorriso grande, bonito e puro.

— E o teste? — perguntou em meia-voz.

— Dei um jeito de pegar hoje.


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Notas finais do capítulo

Mostrem que ainda lêem :'( que estão ou não gostando. A opinião de vocês são tudo pra mim. Beijos.



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