O fato é que, as coisas estavam muito diferentes...Muito! Os ocorridos, os pensamentos... 

    Meu amigo - Bernardo - tinha esquecido que eu tinha algo a dizer, isso fez com que eu não tocasse mais no assunto. Seria constrangedor contar! 

    O que era uma rotina pacata, sem conversar diretas, sem contato direto, proposital, tinha se tornado essa confusao que bagunça minha mente. Que me alfinge num difícil labirinto de pensamentos. Nossas leves implicâncias, o ódio silencioso ainda nos habitava. O clima que ficava quando nos encontrávamos era bem intenso, nebuloso. 

    Não voltamos a almoçar juntas depois, e aquele almoço não nos deu assunto para falarmos depois, toda pouca conversa que tivemos ficou parada naquele instante. Chega a parecer que aquele contato rápido não mudou nada, não nos fez manter contato, não mudou nossa relação... Mas na verdade mudou...Algumas coisas de fato mudaram. 

    ...

    No decorrer de uma aula, num certo dia, que não me carece lembrar data, alguém do fundo da sala fez uma pergunta, olhei para trás para olhar a pessoa, como todos os outros alunos fizeram... Na verdade nem todos... Quando virei, meu olhar foi interrompido, Camille se manteve olhando para frente, de braços cruzados, relaxados, olhando pra mim, fixamente pra mim. Cheguei a me assustar imperceptivelmente com aquele olhar completamente inesperado. Não consegui fugir de seu olhar, nem ela do meu. Toda a classe olhando para a pessoa do fundo que havia feito a pergunta, e nós nos olhando fixamente. Juro que não ouvi a pergunta. Em segundos a pergunta foi finalizada e todos viraram para o professor, despertei daquele olhar e me virei pra frente. Quando me virei, uma imagem perfeita me veio a mente! Como um sonho acordado. 

    Pisquei intensamente os olhos, tentei deletar tal imaginação, se assim posso chama-la. Mas não obtive sucesso, de imediato abaixei a cabeça sem acreditar no que havia pensado. Foi algo tão automático, inevitável. Fechei os olhos. Por mais que tentasse pensar em outras coisas, a mesma cena vinha me atormentar, consegui imaginar cada detalhe, cada sensação, mesmo sem isso desejar. Eu não acreditava nos meus próprios pensamentos. Não acreditava que minha imaginação tivesse criado tal cena, perfeita em cada detalhe, na minha mente. 

    Passei todo o resto da manhã pensando naquele instante em que minha mente foi invadida com tanta força sem me dar tempo de interceptar o pensamento.

    Quando minha aula terminou saí logo procurando minha amiga de outra turma, Manuela. Ela sempre me entendia, as vezes brigava comigo por culpa de muitas coisas que eu pensava ou queria ou fazia, mas ela sempre me compreendia no final das contas, estava sempre ao meu lado, me ajuda tanto nas dúvidas mais simples como nas mais complexas e mesmo quando não achamos solução ela também fica perdida comigo. Confiamos muito uma na outra. Nossos segredos estão sempre seguros entre nós. Por isso que precisava encontrar com ela. Ela era a pessoa para quem eu poderia contar o que aconteceu comigo sem medo, mesmo que ela não gostasse, ela entenderia e daria sua opinião e não contaria a ninguém. 

    A encontrei na frente do colégio, corri para abraça-la. 

    -O que aconteceu? Você quer me contar alguma coisa! - disse ela sorrindo, quando me viu sorrindo diferente pra ela.

    -Aconteceu uma coisa muito doida, Manu! Sério, muito louca. - disse rindo. 

    -To com medo! O que foi que você fez? - perguntou ela ainda sorrindo, me olhando fingindo medo.

    Nisso, muitos amigos nossos se aproximaram. Ficamos cercadas de amigos, todo mundo conversando, falando conosco. 

    -Não tem como eu te falar agora! - disse.

    -Não, fala agora, to curiosa cara! - disse ela.

    -Não tem como, eu não posso falar na frente de todo mundo. - respondi baixo.

    -Aiiinnn, mas agora eu to muito curiosa, to com medo do que você tenha feito! - disse ela.

    -Calma, calma! Não fiz nada. Foi só uma coisa que eu imaginei, sem querer. - respondi sorrindo. 

    -Sei que você nao fez nada! - disse ela ironicamente e rindo. 

    -Não fiz nada mesmo, sério, sem brincadeira. Foi só pensamento mesmo! - respondi rindo. 

    -Ta bom, veremos... Me liga hoje.. ou eu te ligo, sei lá. - disse ela. 

    -Ok! - concordei rindo. 

    Comecei a conversar com os amigos que nos rodeava, matei saudades de alguns que não encontrava há tempo. Manu me olhava as vezes, seu olhar estava dizendo claramente "to curiosa", eu respondia seus olhares com risadinhas, que significavam prazer por totura-la com o suspense. Ao mesmo tempo que eu estava feliz por ter alguém pra quem contar, estava com vergonha de contar, por que seria algo inesperado. 

    Nao sei o que Manu acharia do que eu imaginei, mas sei que poderia contar pra ela. Tinha que contar isso, até mesmo pra saber a opinião dela sobre isso tudo. 

    Aguardei a tarde toda pensando na manhã que tive. 

    Pensava em como contaria a Manu. A noite chegou, mandei mensagens pra Manu dizendo que não poderia contar por telefone, pois tinha gente em casa, não teria como dar detalhes. Sempre que eu lembrava me animava, mas ao mesmo tempo me repreendia pois não achava tal animação pertinente.

    Manu ficou ainda mais curiosa para saber. Nada pude fazer com isso. 

    Só poderiamos esperar pelo dia seguinte... Seria mais uma noite difícil para conseguir me desligar de meus pensamentos e conseguir dormir.