As Aventuras De Um Cacumbu Ordinário escrita por Sr V


Capítulo 2
Capítulo 2 - Dente por dente




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Capítulo 2: Dente por dente

Monte Fuji?! Isso é tipo, DO OUTRO LADO DO MUNDO! Miki devia estar zoando com a minha cara. Japão, eu nunca saí de Brasília em primeiro lugar, não sei como o mundo é lá fora. Segundo, como aquela raposa pretendia viajar até a terra do Sol nascente? Eu não tenho dinheiro, nada, eu sou um nada.

Não entre em desespero, eu tenho tudo planejado, você só precisa me proteger, disse Miki dentro da minha cabeça.

Eu ainda não estava em desespero, seu eu estivesse em desespero caíra no chão em posição fetal e começaria a chupar o dedão da mão.

Eu conheço um amigo que pode nos levar para o Japão bem rápido, Miki comentou.

- Miki, você não entende eu não posso simplesmente largar tudo para ir ao Japão só porque você pediu. – Desabafei. – Acho que você terá que convocar outra pessoa, eu sou um nada.

Essa não é uma questão a ser discutida, eu convoquei sua ajuda, é uma obrigação, ou você faz ou você morre, não tem meio termo, a voz de Miki parecia ser sempre neutra, sem raiva, ou alegria. Comecei a me pergunta quão frio ele seria. E outra, você ser um nada é perfeito. Sua morte passaria despercebida. Não atrairia nenhuma atenção indesejada.

Pelo que entendi, eu era perfeito para aquele trabalho. Acho que podia ser até um elogio. Ninguém nunca me disse que eu era perfeito em alguma coisa. Eu poderia ajudar Miki, ser útil! É, ser útil soa bem. [como eu fui tolo]

- Então quem é esse seu amigo que vai nos ajudar? – Perguntei ainda alegre, eu, útil, quem diria.

Como estava dizendo antes de você me atrapalhar com sua crise existencial, Miki emitiu um rugido, limpando a garganta, talvez. Tenho um amigo que pode nos ajudar só que ele é bem internacional, vamos dizer assim. Acho que você já deve ter ouvido falar dele.

- Quem é?

João Pestana.

Olhei confuso para a raposa. Nunca tinha ouvido falar de alguém chamado João Pestana. Balancei a cabeça para Miki, que me fuzilou com aqueles olhinhos pretos.

Meu deus, só podia ser um Cacumbu ignorante mesmo, não conhece nem os contos do próprio mundo, Miki cuspiu no chão de desgosto.

- Desculpe, mas é que eu não sou muito chegado a contos ou folclore, são bobagens. – Eu só estava falando minha opinião, sempre essas histórias populares muito fumadas.

Bobagens! Seu... Pelo contexto Miki parecia com raiva, mas sua voz não demonstrava isso, era neutra. Não adianta me descontrolar com Cacumbus, vocês são cheios de frescuras e doenças venéreas.

- Se você sabe tanto desse tal de João Pestana, me conte – a falta de educação de Miki já estava começando a me incomodar.

Com muito prazer, disse, João Pestana é aquele que aparece de noite e joga areia em seus olhos para você ter bons sonhos e, na manhã, a areia vira remela.

- Só isso? – Ergui uma sobrancelha. – Não tem mais nada a falar a respeito dele?

Eu sei como Cacumbus são lerdos, então para não estragar seu intelecto, preciso ser breve. E intelecto quer dizer...

- Eu sei o que “intelecto” quer dizer. Por que precisamos da ajuda dele?

Ele pode usar sua magia para nos levar direto para o Japão.

- Que ótimo, vamos encontrá-lo, o que devemos fazer? Esperar ele aparecer e jogar areia na gente?

Miki revirou os olhos.

Não é tão simples anta. Toda noite João Pestana fica em um lugar diferente, para encontrarmos precisamos saber exatamente aonde ele vai estar.

- E como iremos saber disso? – Pensei que talvez pudéssemos pedir ajuda Madame Zucrinéia, mas ela tinha sumido misteriosamente. Ainda tinha o cartão dela no meu bolso, que era inútil já que não tinha nenhum número para contato.

João Pestana não trabalha sozinho, ele tem ajudantes em todo lugar, e é com eles que nós vamos conversar, explicou, e depois nossa aventura vai começar de verdade.

*

Só tive tempo de trocar de roupa, colocar uma calça jeans, tênis e uma camisa com o símbolo da Fairy Tail estampado.Estava fazendo muito frio em Brasília quando eu e Miki saímos. Não sei como será a reação da minha mãe quando vir que meu quarto está todo destruído. Se ela vai chamar a policia – provavelmente não, ela nem vai notar que eu saí.

Cacumbu, se abaixe, preciso te dar algo, Miki pediu.

Duvidei se era alguma coisa boa, já que o ultimo “presente” foi uma maldição que pode me matar. Mesmo assim me abaixei.

Estenda o braço, obedeci, não vai doer, o.k.?

Miki mordeu minha mão, de novo e de novo eu não senti dor alguma. Nenhuma marca ficou, parecia que ele nem tinha mordido. Olhei-o procurando algum tipo de resposta.

Eu acabei de lhe conceder o dom da Visão, agora você pode ver coisa que ninguém pode, explicou. Olhe para o céu.

Ergui o olhar e, nossa, era incrível, nuvens douradas flutuavam no céu escuro de Brasília, aquelas nuvens estavam baixas demais e por onde passavam deixavam um rastro de poeira incandescente, que invadia as casas que estavam por perto. Eram os ajudantes do João Pestana, tinha certeza.

Espere um momento. Miki começou a brilhar, mais do que já brilhava, sua forma diminui para algo parecido com um cometazinho. Miki-cometa estremeceu um pouco e com uma velocidade absurda voou para o céu e se chocou com umas das nuvens douradas.

Vi duas formas caírem, não houve nenhum som quando aterrissaram. Cheguei mais perto e vi que Miki estava em cima de uma... Criança? Não, não era uma criança. A pele da criatura era feita da mesma poeira incandescente, tinha asas uma em cada têmpora. Usava um roupão também feito de poeira e – cruz credo – os olhos eram completamente dourados. O menino-remela estava tentando sair balançado seus braços gorduchos.

Boa noite dustiny, você poderia me entregar à agenda de João Pestana? Miki ia direto ao ponto e sua voz neutra não ajudava, não demonstrava nenhuma iniciativa.

- Rá, você muito ingênua raposa, achando que irei delatar a localização do meu chefe – a voz dustiny era tão suave que dava até sono.

Miki abriu a boca e rosnou. Escarrou na cara do dustiny, bem no meio da testa igual a mim. De repente o dustiny começou a gritar de dor, mas o jeito como sua voz era sonolenta continuava do mesmo. Bocejei. No instante seguinte o dustiny explodiu em poeira dourada e onde ele estava antes havia um caderno com capa de couro.

Teimoso, Miki falou. Só depois me dei conta do que aconteceu, a Maldição da Morte matou o dustiny. Meu Deus, isso podia acontecer comigo numa hora inteiro e na outra pop explodido. Deixe me ver, o caderno abriu-se magicamente, as páginas foram passando lentamente até pararem. Encontrei, João Pestana está no Havaí e amanhã ele irá para Orlando, Flórida.

Flórida? América do Norte? Fiquei espantado, pensei que João Pestana estaria em um lugar mais acessível. Terei que viajar para os Estados Unidos para encontrá-lo. Que decepção.

- Miki, como vamos para Orlando? Eu não tenho dinheiro.

Ignore a dor. Miki voltou a sua forma cometa e bateu direto na minha boca. Caí no chão atordoado, cuspi dois dentes manchados de sangue. Espere.

Uma figura materializou-se na minha frente. O corpo era pequeno, tinha asas amarelas de borboleta, e uma cabeça do tamanho de uma melancia pequena. Olhei para a figura e notei que seus lábios não se fechavam por causa dos enormes dentes. Tudo aconteceu muito rápido. Alguém jogou um pirulito que quicou quando bateu na cabeçona do bicho, o estranho ser caiu no chão e começou a ter convulsões e exatamente aonde o pirulito bateu havia um buraco mostrando a carne e não parava de crescer, como um ácido corrosivo. Em poucos minutos já não havia mais o ser dentuço. Fiquei me perguntando o que tinha acontecido.

Fadas dos dentes são mortalmente alérgicas a açúcar, respondeu Miki. Ele estava fuçando uma bolsinha de couro que a fada deixou antes de morrer. Tem dinheiro suficiente para viajarmos, ah, ele trouxe a varinha dele, quer ficar com ela?

Meu rosto todo doía, peguei a varinha, um cabo preto e fino com uma estrela brilhante na ponta. Um feixe de luz saiu dela em direção a minha boca. Senti os dentes crescendo. Até que seria uma boa ideia guarda a varinha comigo.

Pronto para começar uma aventura?


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