Lia mexe na aliança, que era de prata e muito linda, olhando para ela. Mal percebe que Lorenzo e Dinho vinham até ela.

Lorenzo: - Que isso, filha?

Ela coloca uma mão por cima da outra, escondendo a aliança.

Lia: - Nada.

Lorenzo: - Lia, pode me mostrar, calma. Eu não quero que você me esconda nada, entendeu?

Lia tira a mão, mostrando a ele.

Lorenzo: - Foi aquele garoto que te deu, né?

Lia: - Foi. Pai, por favor...não tira ela de mim. É a única coisa que eu tenho pra me lembrar dele, bom...tem as fotos e tudo. Mas pô pai, vê se me entende, vai?

Lorenzo: - Tudo bem, filha. Eu só quero que você fique pra eu poder te proteger. Se você insiste em “se lembrar” desse moleque, tudo bem por mim. Vocês nunca mais vão se ver mesmo. Ah, e eu vou olhar seu celular todos os dias, tá me escutando bem? Se você quiser, pode conversar com suas amigas do Rio, mas eu NÃO quero você falando com o Vitor novamente. Nunca mais, entendeu?

Lia: - Tá bom, pai... tá bom. Que saco.

Na volta, eles deixam Dinho em casa e vão para a casa de Lorenzo, que agora também seria a casa de Lia, por mais que ela não quisesse.

Chegando lá.

Lorenzo: - Pode escolher seu quarto, qualquer um que você queira.

Lia: - Tudo bem, eu já sei qual vai ser.

Ela se dirige ao quarto em que havia dormido na noite anterior com Vitor.

Lorenzo: - Ah, e filha...mais uma coisinha.

Lia: - Fala.

Lorenzo: - ...Não esquece de limpar a aliança.

Lia: - Como assim?

Lorenzo: - Ai Lia...prata verdadeira escurece, entendeu? Tem que limpar, se não quiser que fique preta.

Lia: - Mas como que eu limpo isso?

Lorenzo: - Pasta de dente ou álcool, acho que resolve.

Lia: Tá...valeu pai.

Ela entra no seu quarto.

Lia(deitando na cama): - Ai Vitor...cê só me dá trabalho mesmo, né?

Pausa.

Lia: - Mas eu te amo tanto...

Lia levanta e se dirige ao banheiro. Tira a aliança e começa a limpá-la, com muito cuidado. Só então ela percebe que dentro estava escrito o nome de Vitor. Logo imagina que provavelmente estava escrito o nome dela dentro da aliança dele, também.

Ela limpa direitinho e depois coloca de volta em seu dedo. Volta para o quarto e deita em sua cama consciente de que tudo que queria era uma noite tranquila de sono, pra esquecer tudo que havia acontecido, descansar.

Nas 3 semanas que seguiram, Lia esperava a todo tempo algum SMS de Vitor, algum recado em uma rede social, qualquer coisa. Mas nada. Os únicos que deram sinal de vida foram Tatá, que ligava várias vezes por semana, Fatinha, que mandava SMS para Lia o tempo todo e Ju, que ficou louca ao saber que Lia ficaria em São Paulo. Mas nada de Vitor...

Lia se ingressou em um colégio perto de sua casa, onde Dinho estudava. Os dois acabaram ficando bem amigos e ele sempre queria algo mais, mas Lia não. Ela continuava usando a aliança e não tirava por nada, como se ainda estivesse namorando com Vitor. Mas não estava.

Ela via fotos dos seus amigos do Quadrante e de sua família todos os dias, sempre desejando estar no Rio. Não aguentava mais aquela situação.

Vitor também tentava seguir sua vida e sempre fingia que estava bem, que tinha esquecido. Mas ele ainda amava ela com todas as suas forças.

Ele saía do colégio quando Fatinha e Ju o alcançam.

Fatinha: - Você viu o que a Lia postou?

Vitor: - Não. O que?

Fatinha pega seu celular, mostrando a postagem de Lia em uma rede social. Dizia: “É tanta saudade, tanta dor. Por que isso comigo? Sempre comigo! Eu quero você de volta, eu quero meus amigos de volta, minha família. Eu quero tudo de volta! Será que é pedir muito?”

Vitor: - Eu achei que ela já tivesse seguido em frente... já faz quase um mês

Ju: - Coitada da Lia, cara. Deve ser tão difícil.

Fatinha: - Eu não gosto nem de imaginar como estão as coisas lá.

Vitor: - É. Eu também não.

Ele passa no hostel e pega seu violão. Então sai de novo, rumo à Praia do Perigoso. Vai até as pedras, vê o mar e fica lá tocando violão, sozinho. Até que olha para seu celular e tem uma ideia.

Lia estava deitada em casa quando chega um SMS. Finalmente, era de Vitor. Dizia: “Tenho uma surpresa pra você. Olha no computador.”

Não tinha hora mais perfeita para que ele mandasse o SMS. O pai dela estava trabalhando, então ela poderia excluir a mensagem e ele não ficaria sabendo de nada.

Lia vai para o computador e começa a procurar em todas as redes sociais, tentando achar a tal surpresa.

É quando vê uma espécie de mensagem privada que Vitor havia lhe mandado. Na mensagem, tinha um vídeo. Ela clica, curiosa.

Nos primeiros segundos, Vitor filmava o mar. Lia já se emocionava, ela tinha muita saudade de ir às praias do Rio. Mas é só quando Vitor vira a câmera do celular para si mesmo que ela reconhece o lugar.

A Praia do Perigoso, onde eles se beijaram pela primeira vez.

Ele pega o violão.

Vitor(vídeo): - Eu não sou muito bom com palavras, cê sabe... (risos). Então eu decidi tocar pra você, ou tentar, né? (risos). Mas ó, se eu tocar mal, não ri de mim ok?

Ela sorri.

Quando ele ajeita o violão em seu colo, ela percebe que ele ainda usava a aliança também. Então, ele começa a tocar e já na introdução ela se emociona, ao mesmo tempo com que tem vontade de xingar ele, por tocar tão bem e ficar fingindo que não. Mas essa era só mais uma das coisas que ela amava nele, esse senso de humor.

Ele começa a cantar baixinho, como sempre. Olhando para baixo, por vergonha. Aquela voz tão gostosa de ouvir, tão linda.

“Quero e não posso mais querer voltar,

Sinto o nosso tempo acabar,

Mas ainda não acabou,

Agora é viver tudo que restou

De nós em cada canto,

Do tempo, dos momentos que vivemos

Sempre vamos sentir

Quando lembrar,

Tenta me amar,

Me perdoar depois de tudo que eu fiz,

Eu nunca quis te magoar

Quando lembrar,

Tenta sorrir

Só tenta fazer de conta que eu tô aí

Só quando lembrar...só quando lembrar...”