Lia não foi na aula durante a semana seguinte, ela havia inventado uma desculpa qualquer para Raquel que preferiu não questionar, mas no fundo a mãe sabia que algo tinha acontecido.

Era sexta-feira e Lia também não tinha aparecido no colégio. Estava na hora do intervalo quando finalmente alguém tocou no assunto.

Ju, Gil, Fatinha e Gabriel estavam sentados em uma mesa e Vitor, Luana, Pilha e Fabi em outra.

Fatinha: - Só eu que tô achando estranho? Fala sério gente, a Lia nunca gostou muito de escola não, mas acho que nunca faltou uma semana inteira seguida sem avisar nada.

Ju: - Pois é. Ela não responde nenhum SMS e deixa a gente preocupado aqui.

Vitor fingiu que não ouviu na mesa ao lado.

Gabriel: - É... acho que vou passar na casa dela hoje a tarde, também tô preocupado.

Vitor continuou a fingir que não estava escutando, mas era impossível não perceber a raiva em seus olhos.

O sinal toca e todos vão para a classe.

Durante a aula, Vitor não conseguia parar de pensar em Lia, estava totalmente distraído com seu caderno, escrevendo sobre ela, rabiscando...

Prof. Sônia: - Vitor, tá interessante aí? Porque mais interessante do que a aula com certeza deve estar, né?

Vitor: - Não. Desculpa professora... eu só tô com sono, posso tomar uma água?

Prof. Sônia: - Vai, rápido.

Ele saiu da sala, mas não foi em direção ao bebedouro. Pelo ao contrário, foi em direção ao portão de saída do colégio, onde foi abordado por Robson.

Robson: - Opa opa opa, onde o senhor pensa que vai, hein?

Vitor: - Robson, eu preciso ir... é urgente.

Robson: - Você sabe que tem que ter a autorização do meu diretor para sair antes da aula terminar, né?

Vitor: - Eu sei, olha..eu já até falei com ele. Posso ir?

Robson: - Bem, se é assim...claro que pode né!

Robson abriu o portão e ele seguiu em direção a um estacionamento onde estava sua moto. De lá, Vitor só tinha um destino: O apartamento de Lia.

Quando chegou, passou por Severino, pegou o elevador e demorou alguns segundos para tomar coragem e tocar a campainha.

Lia ouviu a campainha e realmente não queria sair da cama, queria só ficar lá deitada e tocando sua guitarra. Mas ficou com medo de ser algo importante e se dirigiu a porta, com a maior preguiça do mundo.

Ela acertou, ou quase. Não era algo importante, mas sim alguém importante, alguém que se tornava mais importante a cada dia, e isso era errado.

Quando abriu a porta, sentiu uma enorme vontade de simplesmente fechá-la de novo, ignorando Vitor. Mas não conseguiu. Ela não conseguia desviar seus olhos dos dele, daqueles lindos olhos azuis que não via a quase uma semana.

Vitor: - Posso entrar?

Lia não respondeu, mas abriu passagem para Vitor e ele entrou.

Lia: - O que você quer aqui?

Vitor: - Muita coisa...

Ela não disse nada.

Vitor: - Mas primeiro quero saber por que você faltou essa semana.

Lia: - Não sei, não quis ir. Por que o interesse?

Vitor: - Porque tá todo mundo preocupado contigo e eu só quis checar se você tava bem.

Lia olhou para baixo.

Vitor: - Mas também porque eu tô com saudade de você.

Lia: - Deixa eu adivinhar: a Luana faltou hoje, né?

Vitor: - Não.

Lia: - Então o que aconteceu?

Vitor: - Nada. Eu só quero ficar do seu lado, só isso. E não quero mais brigar contigo.

Lia: - Ok. né.

Lia foi em direção ao seu quarto e Vitor foi atrás. Ela se sentou na cama e voltou a tocar, como se ele nem estivesse lá. Se não fosse a guitarra alta de Lia, provavelmente o silêncio predominaria, pois nenhum dos dois dizia nada. Vitor se sentou e ficou apenas ouvindo-a tocar.

Vitor: - Você toca muito bem...

Ela parou de tocar.

Lia: - Valeu. E você, toca?

Vitor: - Não.

Lia: - Qual é Vitor, eu vi você tocando violão aquele dia.

Vitor: - Tá bom, talvez eu toque um pouco, mas só arranho.

Lia: - Pelo que eu ouvi, você toca muito melhor do que eu.

Vitor: - Vai, me ensina a tocar aí que eu já disse que não sei (risos)

Lia mostra o dedo do meio para ele, que ri. Depois, ela volta a tocar normalmente, ignorando-o.

Vitor: - Tá me humilhando, hein? Toca muito.

Lia: - Ah não, se você for ficar zombando da minha cara eu acho melhor parar.

Vitor: - Não tô zombando, você toca muito mesmo (risos)

Lia: - Aham, sei.

Lia continuou tocando, até criar coragem para fazer uma pergunta que não saía da sua mente desde o último sábado.

Lia: - Vitor, eu tenho uma pergunta pra te fazer.

Vitor: - Diz.

Lia: - O que você quis dizer com “ser só seu amigo não dá”?

Ele respirou fundo.

Vitor: - Lia, esquece aquilo. Naquele dia eu tava com raiva e disposto a não falar mais com você. Não quer dizer nada.

Lia sabia que queria dizer algo, que queria dizer que ele estava sentindo o mesmo que ela. Mas não podia deixar mostrar e queria sair do assunto o mais rápido possível. Foi quando ela disse algo que Vitor não imaginava que ela diria.

Lia: - Que bom...porque eu acho que eu tô começando a gostar do Gabriel.

Lia só percebeu o que tinha dito depois que disse. Aquilo foi um impulso, um impulso que poderia estragar tudo, que poderia fazer eles brigarem de novo.

Quem dera ela que aquilo pudesse ser verdade, que ela estivesse mesmo gostando de Gabriel, mas não estava.