Castle movia-se pé ante pé silenciosamente pelo apartamento. Ele sabia que Beckett só podia estar escondida no quarto; ele finalmente conseguira encurralá-la, e a vitória era questão de tempo, poucos minutos, na verdade. Desde que Alexis fora para a faculdade, seu lado criança se sentia meio solitário, e Beckett percebeu. Um dia propôs que iniciassem entre eles uma partida de laser tag, e desde então sempre que havia uma folga eles se divertiam acertando feixes de luz um no outro. Com muito cuidado Rick abriu a porta do quarto e, de um pulo, tomou posição de ataque.

 - RÁ! Você pode fugir mas não pode se esconder, Katherine Beckett! Você está acabada!

 Mas ele se surpreendeu apontando para um quarto vazio. Assim que se deu conta disso, seu equipamento acendeu e começou a apitar. Tinha sido atingido!

- E quem disse que em algum momento passou pela minha cabeça fugir ou me esconder? – Kate sorria, com a arma apontada, atrás dele.

- Mas como... Você...

- Castle, você é tão “silencioso” que eu te acertaria de olhos fechados.

Rick parou por um momento para admirar a mulher à sua frente. Kate estava usando uma calça de moleton cinza, e uma blusa azul que era dele. Com o cabelo mal preso num rabo de cavalo, na simplicidade daquele momento ela lhe parecia a mulher mais linda do mundo.

- O que foi? – ela perguntou, sem entender o silêncio dele.

- Nada – ele respondeu, com um sorriso, se aproximando e deixando a arma de lasers sobre uma poltrona. Puxou-a pela cintura e completou – Só estava pensando na minha sorte por ter uma mulher linda como você – E a beijou ternamente.

- Não pense que isso te dá alguma espécie de vantagem, Richard Castle – ela sussurrou sorrindo, enquanto interrompia o beijo – Eu ganhei.

- Pois reivindico o direito de revanche!

- Quantas vezes você quiser.

- Acho que precisamos apostar algumas coisas pra tornar esse jogo mais... Interessante.

- É? Como o que?

Nesse momento a campainha tocou.

- Você está esperando alguém? – ela perguntou.

- Não. Estranho.

- Deixa que eu atendo.

Beckett abriu a porta e deparou-se com Gina. Esta lhe lançou um olhar inquiridor, analisando-a de cima abaixo.

- Boa noite, detetive Beckett. O Rick está? – disse após uma pausa, dando um sorriso protocolar.

- Ehr... Claro. Entre.

Um clima pesado instalou-se imediatamente no loft. Enquanto Kate fechava a porta, Castle entrou na sala e se assustou ao ver sua ex-mulher.

- Gina?! O que você...

- Parece que você está bastante ocupado pra lembrar seus compromissos, não é, Rick?

- Bom, vocês me dão licença, mas eu preciso... Organizar algumas coisas... Ali. – disse Beckett, indo em direção ao quarto. Depois que ela saiu, Gina continuou.

- Olha, Rick, francamente, eu sempre soube que não podia esperar muito compromisso de você desde a época em que éramos casados. Mas eu tinha a esperança de que esse seu caso com essa moça pudesse colocar algum senso de responsabilidade nessa sua cabeça inconsequente, mas quando chego aqui, o que encontro?! Você brincando com ela, como duas crianças!

- Um momento, Gina. Eu não estava... Bem, sim, eu estava brincando com ela. Mas a Beckett não é um “caso”, ela é minha namorada, e gostaria que você tivesse um pouco mais de respeito ao se referir a ela. E eu realmente ainda não entendi porque diabos eu estou te dando satisfações do que faço na minha casa, com a minha namorada!

- Nossa, “minha namorada” – ela comentou com um leve toque de desdém, após uma breve hesitação – Há tempos não ouço você dar um título com tanta ênfase a uma mulher. Na verdade acho que nunca ouvi.

- O que exatamente você quer, Gina? – perguntou Castle, impaciente.

- O que eu quero, Richard Castle – ela respondeu com um suspiro, enquanto se sentava – É que você honre seus compromissos e não me deixe sozinha numa reunião que foi marcada com os seus patrocinadores, para renovação de contrato dos livros que você escreve sobre a sua namorada, e onde seria discutida a continuação do maldito filme da Nikki Heat.

- Ai, mer... – ele balbuciou, desabando numa cadeira.

- Pois é. Tínhamos um jantar hoje e você simplesmente esqueceu. E, como sempre, sou eu a idiota que tem que cobrir seus furos enquanto você brinca com a sua namorada.

- Olha, eu... Eu sinto muito, ok? Realmente esqueci, tive uma semana agitada e... Bem. Qual foi o resultado disso?

- O resultado foi que, como boa profissional que sou, consegui alegar um imprevisto e adiar essa reunião para a próxima semana. Na verdade separei as reuniões, porque eu sou sua editora e não tenho que cobrir seus furos quanto a essa invenção de cinema. O que você vai fazer sobre isso não me interessa, mas é melhor que você não se esqueça mais uma vez, Rick, caso contrário você perde esse patrocínio e pode dar adeus a sua querida Nikki Heat e ao contrato com a editora. Aí você vai ter que viver de escrever roteiros de cinema, se é que isso é possível.

- Tudo bem. Eu sinto muito mesmo. Não vai se repetir.

- Não, definitivamente não vai – disse Gina, enquanto levantava e se dirigia para a porta – E não vai por uma simples razão: Meu nome também está em jogo e, se você precisa de uma babá, eu vou pedir a minha secretária que ligue para você lembrando-o disso. Pegue com ela também os dados sobre o pessoal de Hollywood, porque lavei minhas mãos sobre esse assunto. E mais uma coisa – parou por um momento, com a porta entreaberta – Eu quero o rascunho do próximo livro na minha mesa segunda-feira. Se você tem tempo para brincar, suponho que já esteja com o trabalho adiantado. Até logo, Rick. – E saiu batendo a porta.

- Uau. Ela realmente está irritada – comentou Beckett, enquanto entrava na sala ao mesmo tempo em que colocava o relógio. – Talvez você devesse contratar uma secretária.

- Nem me fale. Hey, aonde você vai?

- Espo me ligou. Um homem foi encontrado morto num beco.

- Pensei que hoje fosse sua folga.

- E é. Ele não me deu maiores detalhes, mas tem algo de errado nesse caso, e ele e Ryan acham que eu preciso ir lá ver.

- Ok, me arrumo em dez minutos. – ele respondeu, levantando-se.

Ela sorriu. Abraçou-o e, depois de um beijo, comentou:

- Não, nós sabemos que você não vai se arrumar em dez minutos. Mas eu te espero, desde que não demore uma hora, como naquela noite do teatro.

- Aquela noite foi uma exceção, eu... Espera aí, o que você está insinuando?

- Não estou insinuando, estou afirmando que você é um metrossexual.

- Não sou metrossexual. Que culpa tenho se a natureza me deu um charme irresistível? Preciso de tempo para lidar com ele de forma adequada. Você sabe, é difícil manter todo esse incrível magnetismo disfarçado, não quero ter que enfrentar uma crise de ciúmes sua porque as mulheres simplesmente não conseguem evitar me agarrar e...

- Chega, Magneto. Vai se arrumar ou eu vou sair sozinha.

- Ok.