Luke encostou a cabeça no banco e dormiu rapidamente. Era uma boa ideia dormir naquela hora, mas minha cabeça estava cheia demais. Imitei Luke e encostei minha cabeça no banco, coloquei o fone do iPod no ouvido e fiquei observando o corredor e o resto das poltronas. Poucos conversavam. Foi quando vi que Piper estava na poltrona do outro lado do corredor. Ela era do 2º ano, de pele morena, cabelos lisos até um pouco abaixo do ombro e olhos esverdeados. Ela era linda, e fazia parte do grupo de teatro da escola; era super talentosa. Ajudou-me inúmeras vezes com os trabalhos das aulas de teatro. Era incrivelmente simpática e tinha uma auto-estima e uma confiança muito grandes.

– Oi Piper!

– Oi Annie! Desculpe, estou tão desligada que nem te vi. Como vai?

– Vou bem, e você?

– Também... Vi que você vai ser monitora esse ano! É muito legal, quando não tem algum pirralho pedindo pra se casar com você ou que joga tinta, terra e outras coisas nojentas no seu vestido. Urgh. – ela fez uma careta e eu ri.

– Foi a Débora que me colocou nisso, mas tudo bem...

– Ah! Tenho quase certeza de que nossos chalés são vizinhos... Legal, né?

– Sério? Que ótimo!

Voltei a prestar atenção na música – Love of my life, banda Queen.

O ônibus chacoalhou e como estávamos no fundo, o movimento foi mais brusco. Meu iPod caiu do meu colo e foi parar de baixo da poltrona da frente. Ajoelhei no chão e estiquei o braço; peguei.

– Annie? – Luke falou.

Me assustei e bati a cabeça em baixo da poltrona.

– Ai. – saí cuidadosameente do chão e me sentei no meu lugar.

– Sim?

– Nada não.

Ok, minha cabeça ficou doendo por nada.

Resolvi observar o resto do ônibus, que estava em silêncio. Olhei pro relógio, eram 9 horas. Não me lembro de como e quanto dormi. Só sei que acordei com o monitor falando.

– Chegamos. Daqui a 10 minutos, todos deverão comparecer ao salão da cabana principal. Ao saírem do ônibus, vocês receberão um mapa com algumas das principais indicações e as programações.

– Até que enfim! – Luke disse, levantando-se.

Levantei sonolenta e peguei minha mochila. Saí do ônibus e peguei minha mala que estava no compartimento de bagagens.

– Nossa! Colocaram duas novas quadras aqui. – Thalia chegou perto de mim, lendo o folheto.

– O refeitório foi reformado... – acompanhei o que ela estava lendo.

– Lembra de que nós chamávamos a cabana principal de cabanana-split? É que serviam todos os dias banana-splits para a gente, na parte do refeitório! – Thalia riu.

– Como eu ia esquecer?! – fui andando em direção aos chalés.

Cheguei na frente do chalé 101. Aquele chalé era o mais fofo e o que eu sempre quis ficar. Bobagem de acampamento...

– Olá Annie! – Piper apareceu na janela do chalé ao lado – Esse aí é o seu chalé!

– Oh, meu Deus! Não acredito!

Eu e Thalia entramos no chalé. Eu me sentia aconchegada naquele lugar. Havia dois beliches de madeira clara; dois criados-mudos com abajures de ursinhos; as cortinas eram lilás com estampas delicadas na barra; a estante, a escrivaninha pequenina e o guarda-roupa eram de madeira clara para combinar com os beliches. Havia também uma penteadeira e um espelho enorme móvel. Peguei a parte de baixo de um beliche. Deitei na cama.

– Meio fru-fru, mas tá maneiro – Thalia disse.

Hazel e Bianca entraram juntas no chalé. Elas não eram da mesma sala que eu, mas faziam parte do time da seleção de vôlei feminina, e jogavam comigo. Eu considerava aquelas irmãs como grandes amigas. Hazel era mais baixa que eu, tinha a pele cor de chocolate, cabelos castanho-escuros encaracoladosue batiam no ombro e os olhos eram marfim. Bianca tinha a pele alva, cabelos lisos, compridos e pretos, e olhos escuros.

– Oi Annie! – elas falaram em sincronia (como quase sempre), vindo na minha direção.

– Oi Hazel, oi Bia! – levantei-me lentamente do beliche de baixo.

Abracei as duas. A diferença de personalidade era tão grande quanto a diferença física. Hazel era super extrovertida, brincalhona e aventureira; Bianca era mais impaciente, competitiva e um pouco patricinha. Mas era raro quando elas discordavam de algo.

– Ai, que quarto lindo!

– Incrível mesmo, Bianca!

– Vamos gente, depois vocês contemplam o chalé. Temos a reunião geral agora e mais tarde terá outra reunião, só que apenas com os monitores. – Thalia interrompeu a análise das gêmeas.

– Somos monitoras! – Hazel me disse.

– Ela também é, Hazel! Dã! Olha pra munhequeira dela... É igual à nossa. – Bianca apontou para o meu pulso.

– Verdade! Legal, somos monitoras!

– Cuidar de crianças... Que divertido... – Bianca bufou.

Pense positivo, pense positivo. Bem... Até que monitores não faziam coisas tão chatas, não é mesmo? Fora ter de cuidar de crianças perturbadas... Ahn. Eu acho que tem um lado bom. Bem, um dia eu ia ter de descobrir o lado bom.

Chegamos na cabana e sentei, distraída com meus pensamentos, ao lado do Luke, que falava alto com seus amigos patetas.

– Shhh! – alguém chamou atenção dos meninos que conversavam.

De repente, percebi que não havia quase barulho no salão. A diretora Mariana subiu as escadas e pegou o microfone. Ela era a mais simpática dos diretores. Tinha cabelos pretos e curtos, olhos cor de mel e era bem alta.

– Bom dia, meus queridos! Como é bom poder ver todos vocês aqui. Alguns são novatos, e outros eu conheço há anos. Quero que todos sejam bem-vindos ao Acampamento Solária. Nós, diretores, funcionários e monitores avançados, faremos o melhor possível para que todos se divirtam...

Ai, ai. Aquele era o velho discurso que eu nunca prestava atenção. Esse era o típico momento de que eu me desligava do mundo real. Lembrava das férias passadas: travessuras, aventuras, atividades da competição entre equipes...

Sempre depois do discurso de boas vindas, todos iam para a área principal, saber em qual equipe tinha ficado. Eram duas equipes, e cada ano eram nomeadas com objetos, frutas, cores... Eu estava ansiosa para saber o nome da equipe que eu ficaria e quem estava nela.

Esperei impacientemente o discurso terminar. Fomos então ao ar livre, onde os monitores avançados, colocaram as listas enormes com os nomes de todos na equipe. Um tumulto se formou na frente das listas. Deixei a bagunça passar.

– Sou da equipe Fogo! Sou da equipe Fogo! – Thalia apareceu do meu lado.

– Vou lá ver agora... – eu disse, sem aguentar mais um minuto.

Agora, eram poucos que liam a lista, então consegui tranquilamente olhar as duas. Procurei primeiro na lista Fogo. Não achei meu nome, mas vi que estavam Thalia, Luke, Bianca e Calipso – uma garota que me odiava desde a 1ª série, depois que eu deixei cair tinta no tênis novo dela. Dei uma olhada na Equipe Água e achei o meu nome, o nome da Hazel da Débora e da Piper, além de alguns outros amigos da escola.

– Ah. Sou da equipe Água? – pensei alto, com desdém.

– Olá Annie. – uma voz aguda perturbou meus pensamentos.

– Calipso... Oi?

– Não sabia que você gostava de cuidar de crianças. – ela olhou com desdém para a minha munhequeira.

– Pois é. – sorri forçadamente – Oh, olha! Puxa, está na hora da reunião. Tchau!

Não me agradava ser falsa com ninguém. Por isso eu não gostava de conversar com ela. Bem, eu não menti quanto à reunião, certo? Certo! Fui pra cabanana-split rindo da minha desculpa de “Oh, olha! Puxa, está na hora da reunião”.

Entrei e sentei-me ao lado de Hazel, que conversava com Frank. Logo em seguida, o diretor Quíron – que era o mais palhaço dos diretores – subiu até o palco.

Quíron avisou que tínhamos de ter cabeça fria, paciência e uma enorme lista de outros quesitos para realizar o trabalho de monitores. Falou mais um monte de coisas que Débora já tinha me explicado.

A reunião acabou e era hora de almoçar. Fui para o refeitório morrendo de fome. Terminei de fazer meu prato e procurei Luke. Mas quando o encontrei, vi que Calipso estava sentada em sua mesa. Han?!

Preferi pensar naquilo depois de achar alguma mesa “sentável”, ou seja, que não tivesse Calipso ou alguém que me odiasse.

– Annie! – Hazel, Bianca e Thalia gritaram de uma mesa.

Sentei-me lá. Além delas, estavam Piper e Connor. Comi em silêncio tentando imaginar o que faria Luke sentar na mesa da Calipso.

Mais tarde, teve atividade: meu primeiro trabalho como monitora. Era uma atividade para conhecermos melhor as crianças, suas personalidades, nomes, etc. Simpatizei com uma em especial. Uma garotinha chamada Megan. Era magrinha, a mais nova de toda a turma, tinha 9 anos. Cabelos cacheadinhos e pretos, pele mulata e macia, olhos castanhos. Tinha um sorriso contagiante.

Trabalhamos bastante e no fim do dia estávamos exaustas. Sorte que o dia seguinte seria livre para nos divertirmos.