– Cadê? Cadê? Cadê? – eu falava sozinha histericamente.

Eu, Annabeth Chase, estava procurando às 4:46 da manhã o meu iPod, companheiro inseparável de férias. Eu não podia simplesmente passar as férias de verão todas sem ele, eu precisava de música para relaxar.

Enquanto eu pensava em como seria terrível ficar sem meu iPod, eu desarrumava todo o meu guarda-roupa, espalhando as roupas pela cama bagunçada.

– Achei! – eu sem querer, gritei.

– Cala a boca, pirralha! – Débora, minha irmã mais velha chatonilda, resmungou tampando o ouvido com o travesseiro – Esquece de arrumar a mala e eu que tenho de aguentar o barulho de madrugada? Não é só você que vai viajar hoje!

- Foi mal.

É, eu tinha esquecido. Só fui me lembrar de arrumar as coisas às 11:30 da noite, quando deitei na cama e pensei em todos os detalhes da viagem. Coloquei o despertador irritante da Débora para tocar às quatro da manhã, porque a saída do ônibus era às 6 horas da manhã.

Nós íamos para as típicas férias de verão no Acampamento Solária, que ficava há uns 370 kilômetros de Curitiba.

Achei o iPod, mas em compensação, tive de dobrar e guardar novamente, as roupas que eu não colocaria na mala e que estavam jogadas na cama. Peguei meus biquínis, protetor solar, óculos escuros, roupas em geral e principalmente de calor, dois agasalhos, meus livros de romance preferidos, coisas de higiene pessoal... Tudo isso ia pra mala.

- Está faltando alguma coisa. – sentei na cama para pensar.

- Já pegou as coisas de monitora? – Débora perguntou.

- Ops. Obrigada Débo... Ué, não voltou a dormir?

- Não dá pra dormir com essa zona que você tá fazendo, Annabeth.

- Certo. Coisas de monitora... Argh, pra que você me colocou nisso? Eu não sei cuidar de crianças. Além de que você sabe que eu me irrito muito com birra.

- Eu queria compartilhar a doce tarefa de ser monitora com você, maninha.

- Oh. Não sabe como estou feliz.

- Não precisa agradecer. – ela riu.

Irritante. Débora está no último ano do colegial. Só porque é dois anos mais velha que eu, ela se acha a madura e a adulta. Ah, e é claro... Não posso esquecer de como ela é maravilhosa, cabelos castanhos ondulados, olhos azuis – iguais aos de papai – e ganhava todos os concursos de beleza em que entrava. Não saía de casa sem maquiagem e salto alto. Era popular e adorava visitar sites de fofoca na internet – o que eu acho a maior perda de tempo.

Bem, eu não tenho do que reclamar. Gosto da minha aparência. 1,64, cabelos loiros com mechas mais claras queimadas pelo sol, olhos cinzas – iguais aos de vovó Anita – além de ter um QI acima da média. Na internet eu fazia coisas mais úteis como baixar livros, conversar com amigos e visitar uns blogs. Ou algo do tipo.

Peguei meu distintivo em forma de sol que tinha meu nome escrito errado: “Monitora Annabet, nível intermediário”. Pensei em como eu tive sorte de não ficar no nível avançado de monitores, pelo menos eu não teria de aguentar a Débora todos os dias. Bem, eu queria ficar de férias das perturbações dela também. Não que ela fosse chata o tempo todo – era apenas quase o tempo todo.

Tirei da gaveta da escrivaninha, uma caneta preta e escrevi um “h” onde estava faltando. Não ficou muito bom, mas era melhor que meu nome estar escrito errado. Guardei o distintivo, o boné do “Acampamento de Férias Solária” e uma munhequeira de cor laranja, que fazia parte do uniforme de monitores.

- Pronto. – fechei o zíper da mala.

- Não dava pra ser mais lerda, não? – Débora virou pro outro lado da cama.

Preferi ignorar o comentário. Deitei na minha cama e automaticamente meus olhos se fecharam.

- São 5:15! Hora de acordar. São 5:15! Hora de acordar! São 5:15! – o despertador falante em forma de caubói da Débora me acordou.

Fala sério: um despertador em forma de caubói? Que brega. mas, se eu falasse isso para ela, não sei o que ela faria. Uma estranha obsessão da Débora era de gostar, amar e idolatrar coisas countries e de caubóis, como rodeios, danças e etc.

Dei um tapão com raiva em cima dele, para que calasse a boca. Débora ainda estava na cama. Sorte a minha; ela demorava muito para se arrumar. Levantei apressada e me tranquei no banheiro. Parecia que eu tinha levando dois socos nos olhos; estavam com duas manchas fundas em volta deles. Tomei banho e passei um pouco de corretivo para disfarçar a olheira. Coloquei o distintivo e a munhequeira. Débora, depois de acordar e perceber que estava atrasada ficou histérica.

- Tchau Annabeth, tchau Débora. Me liguem todos os dias... Vocês sabem como eu sou! – minha mãe, ainda de pijama estava com os olhos cheios de lágrimas.

- Pode deixar mãe... Todas as noites, ligaremos para você. – Débora deu um beijo em sua bochecha.

Mesmo eu e Débora já termos ido várias vezes ao Acampamento, minha mãe não se acostumava com a ideia de ficar longe de nós o verão todo. Era sempre a mesma história...

- Sentirei saudades, mãe. – dei um abraço nela, que começara a chorar.

- Débora, cuide bem da Annabeth. Juízo pra vocês duas! – meu pai nos abraçou.

- Pode deixar que eu cuido da pirralha. – Débora respondeu.

- Tchau papai.

Depois de nos despedir, saímos de casa. Os pontos de saída dos ônibus, estavam marcados em 3 escolas diferentes, inclusive na nossa. O Acampamento Solária tinha parceria com as escolas.

Fomos correndo, praticamente. Tipo: correndo com mochilas e malas pesadas. Sorte que o sol ainda não estava quente. Chegamos no colégio faltando dois minutos para o ônibus sair.

- Annie! – Thalia, minha melhor amiga me chamou.

Ela tinha cabelos pretos bem curtinhos e lisos. Era mais alta que eu e seus olhos eram azuis-céu, que estavam sempre acompanhados de maquiagem pesada. O estilo dela era rockeiro, Thalia amava preto e tudo relacionado ao rock e mesmo assim era muito feminina e chamava atenção dos carinhas.

- Oi... – eu arfei, cansada de carregar aquelas coisas que pesavam toneladas.

- Vem, atrasilda! O ônibus já está saindo...

Subimos no ônibus e logo avistei Luke, sentado lá no fundo.

- Annie! Pensei que não vinha mais... – Luke, meu namorado loiro, 1,80 de altura e olhos castanhos falou sentado no banco ao lado da janela.

- Culpa da Débora – sentei ao lado dele, do lado do corredor.

- Ah. Tinha que ser a débi-débil. – ele revirou os olhos.

Débora não suportava Luke, e nem vice-versa. Aonde um estava, o outro estava bem longe. Ela dizia que ele não prestava. Tá, ele era repetente e era mau aluno, mas isso não significava que ele fosse um cafajeste ou algo parecido.

- Você é monitora? – ele se espantou ao ver meu distintivo.

- Graças a Débora, novamente.

- Quer dizer então, que não vamos poder fazer nada juntos? – ele passou a mão pelo meu queixo.

- Ahn. Dá para fazer uma coisa e outra, mas por quê?

- Para ficarmos sozinhos...

- Juntos, sozinhos? – tive de me certificar que não estava ouvindo coisas demais pelo fato de ter dormido poucas minutos.

- So-zinhos. Ou você quer que os pirralhos fiquem olhando a gente se beijar? – ele beijou meu pescoço.

Aquilo era golpe baixo. Eu não podia raciocinar direito daquele jeito. Luke sabia como me deixar zonza.

- Ahn...

- Pessoal! O ônibus já está partindo. – um monitor do nível avançado me interrompeu – Espero que se comportem devidamente nesse tempo que ficaremos juntos. Ponham os cintos e boa viagem.

O ônibus começou a andar.

- E então, Annie. O que acha? – Luke insistiu.

- Ah, tudo bem, acho que não tem problema.

- É claro que não... – ele insinuou algo.