A última coisa que lembro daquele domingo passado é Trisha conversando comigo. Depois disso, eu só lembro que quando o dia amanheceu, eu acordei sem saber onde estava. Como de costume. Lembro de ter ido até o banheiro e olhado na banheira pra ver se não havia alguém jogado lá, como já aconteceu algum tempo atrás. E durante a semana, todo mundo que estava na festa, comentou sobre ela. Sobre as garotas que lá estavam, sobre as bebidas e as drogas. Na escola os comentários eram maiores.

Era sexta. Finalmente a semana tinha acabado e o fim de semana estava mais próximo do que nunca! Eu já estava farto dos comentários sobre a nossa festa lá em casa. Estava enjoativo e repetitivo. Por um lado estava com vontade de fazer outra festa, dessa vez mais organizada. Mas por outro, estava a ponto de mandar todo mundo tomar no cu e parar de falar da maldita festa. E esse meu lado falou mais alto, claro.

Depois que saí da escola, eu fui direto pra casa. Não queria sair, não queria conversar com ninguém.. Só segui pra casa. Arthur estava largado no sofá, como sempre, não fazia nada aquele vagabundo. Me aproximei dele e me joguei no sofá da mesma maneira que ele. Não falei nada, apensar sentei e assisti à TV junto dele.

A real era que eu sentia falta de algo, mas não sabia exatamente o quê. Ou sabia talvez. Mas eu não queria voltar atrás. Eu queria seguir minha vida de uma maneira tranquila, mas é como se algo estivesse comigo e falasse “sinto muito, mas não vai ser do jeito que você quer”. E isso me chateava pra caralho.

– Qual foi, Nate? - Arthur perguntou sem desgrudar os olhos da televisão.

– Na boa. - sorri, olhando-o. Ele me olhou e balançou a cabeça.

Depois nos entretermos assistindo um filme que a recém havia começado. Logo quando deu a propaganda comercial, Arthur quebrou aquele silêncio que havia entre nós.

– Manda aí, o que está te incomodando? - falou, se ajeitando no sofá.

– Nem sei, irmão.. Eu sinto que falta algo, sabe? Eu sinto saudade de alguma coisa. Mas sei lá, não sei o que é.

– Pois eu sei, e te digo que isso aí tem nome. E se chama Kate. - soltou. Eu o encarei sem saber o que falar, não sabia como reagir. Ele estava certo. Era Kate quem faltava. Era dela que eu sentia saudades. - Você precisa ir atrás dessa garota Nate, porque ela não vai sair de ti.

– Mas não dá, caralho. Eu menti pra ti, eu consegui achar ela sim. Eu fui atrás daquela garota que nem um otário. Suei pra caralho, caminhando em círculos, procurando pelo shopping e pelo parque, pra no final eu ver ela com aquele babaca do Drake.

– Quem é esse babaca? - franziu as sobrancelhas.

– O ex-namorado dela. Não sei se eu te contei, mas quando a gente se conheceu, ela estava chorando por causa dele. E depois de quase três meses ela resolve voltar pra ele. - me levantei e comecei a rodear a casa. Fumei um cigarro sem parar um segundo.

– Nathan, você viu eles juntos mesmo?

– Vi. Quer dizer, eu sabia que era ele. Eu tinha visto ele uma vez só, mas foi de relance. A Kate já havia me falado como ele era e tudo mais, então eu deduzi.

– Ah.. - resmungou. - Tu deduziu. - ficou me encarando. - E.. Tipo assim, você viu se eles estavam se beijando ou de mãos dados ou algo de gênero?

– Não. Eu sabia que alguma coisa estava acontecendo quando a Emma começou a se enrolar nas palavras, não querendo me falar onde a Katherine estava. E quando eu ouvi a Kate chamando por ela, eu dei alguns passos onde eu consegui enxergar a Kate com um cara. Eles estavam sentados em um banco do parque.. Eu não tinha conseguido ver antes porque havia um banheiro na frente, você sabe como é lá.

– Tá, e daí? Tu foi lá falar com a Kate pra saber o que estava acontecendo? - perguntou.

– Claro que não! Ué, tu vai ver a tua garota com outro cara, que inclusive é ex dela e tu vai achar o que? Que eles estão fazendo receita pra bolo? - encarei Arthur.

– Não é isso que estou querendo dizer, Nate. - falou, um pouco exaltado. - Estou tentando te mostrar que tu pode ter se precipitado um pouco, pode ter tirados conclusões erradas. Vai ver aquele nem era o cara que tu tava pensando, vai ver era um amigo gay.. Mas você se precipitou. De um jeito ou de outro. - quando achei que ele havia terminado de falar, ele continuou: - Você precisava parar com essa porra de ser cabeça dura, irmão. Para pra pensar nas coisas que tu tem que fazer. E antes de agir, pensa de novo. Porque quando tu se der por conta, já vai estar tudo desmoronado, Nathan. E pra erguer tudo de novo, ah irmão.. Não sabe como é cansativo.

Suspirei, encarando o teto, vendo a minha vida inteira passar pela minha cabeça em segundos. Eu não sabia o que estava acontecendo comigo e essa reviravolta toda. E a Trisha ontem.. Merda.

– Precipitação foi o que eu fiz com a Trisha ontem, irmão. - falei, mas não com um tom orgulhoso. Falei num tom vergonhoso e até mesmo arrependido.

– O que tu fez, Nate? - ele falou pausadamente.

– Transei com ela. - falei, seco.

– O que? - ele arregalou os olhos. Sabia que ele havia entendido, só não estava acreditando. - Por que? Como? Que motivos te levaram a isso, seu babaca?

– Eu estava irritado com toda a situação da Kate. Eu só queria fazer aquela festa pra extrair todos os pensamentos que eu tinha. E a Trisha estava lá.. E eu convidei ela pra subir.. E ela foi. - falava, olhando-o. - E acabou rolando. Mas foi impulsivo da minha parte e ela mesma percebeu isso. Depois nós conversamos e ela me falou várias bagulhos.. - voltei a me sentar.

– Bem, Trisha sempre te amou..

– Eu sei, irmão.. E me senti muito mal depois que transamos. Me senti como se tivesse usado ela, sabe? E agora tem a Kate.. Que é a única que eu quero de volta, a única que eu quero pra mim. Com que cara eu vou chegar nela, conversar com ela, sabendo que transei com a Trisha semana passada? - lamentei.

– Tu vai mesmo atrás dela? - me olhou, com uma cara orgulhosa.

– E o que mais me resta fazer, Arthur? Tu mesmo disse que ainda não era tarde, tu mesmo me disse que devia fazer isso. E eu quero, irmão. Quero muito..

– Então vai. Te dou o maior apoio nessa, Nate. Vai e conversa com ela, explica as coisas e quando vocês se resolverem, você toca no assunto da Trisha. Explica bem explicado pra ela que tenho certeza que irá compreender.

Ficamos nos olhando e um silêncio pairou no ar de novo. Eu queria dormir por duas semanas e esperar que tudo aquilo passasse. Parece coisa boba, mas meche tanto com a gente. É capaz de desorientar, te deixar sem rumo enquanto você está na própria casa.. Eu não sei que porra é essa, mas sei que é complicada de lidar.

– E se não der certo? - falei.

– Aí você vai perceber que é hora de seguir adiante. Sem olhar pra trás. Mas se você tudo direitinho e ela ser a garota maravilhosa que você tanto fala, ela vai entender. E no final disso tudo, vocês vão acabar juntos. - sorriu.

– Ela é maravilhosa Arthur.. - falei, rindo em seguida. - Você não tem noção.. Ela é perfeita. - sorri.

– Eu sei, irmão.. Já fui apaixonado uma vez. É uma sensação maravilhosa. E a minha garota era maravilhosa também. Quando eu estava com ela o mundo inteiro parava. Era só eu e ela e aquelas músicas românticas que ela tinha costume de colocar pra tocar. Eu não gostava no começo, achava aquilo meio coisa de viado, mas no final me acostumei. Ainda coloco algumas músicas pra tocar.. - riu.

– Se apaixonar é bom, Arthur. - falei. - Mas desde que a gente saiba lidar com tudo isso. Essa porra de amor é muito complicado. É tipo maconha. Você tem que enrolar na ceda com amor e carinho, e ter cuidado pra não rasgar. Dar um retoque de vez em quando. Deixar bem organizado. - comentei. - Se fizer tudo certo, no final vem a recompensa.. A paz. A harmônia. A vontade de querer viver pra ter aquilo de novo.

– A felicidade.. - completou.

– O bem-estar..

– O prazer..

– E acima de tudo, o desejo de ter aquilo pra sempre. Perto de ti. Nas tuas mãos. Sendo teu.