Nosso encontro terminou com um beijo no rosto – bem próximo a boca, e isso me deixou corada- em frente as escadas que levavam ao terceiro andar, então eu subi para o terceiro andar com algumas coisas em mente.

Assim que entrei no meu quarto minha mãe estava lá na Sala da Princesa, que é uma espécie de escritório que eu nunca usei na vida e que é conjugado com o meu quarto.

– Você deveria usar mais essa parte do seu quarto – disse minha mãe quando entrei no cômodo.

America estava sentada na confortável poltrona de couro atrás da enorme mesa de madeira rústica perfeitamente limpa e organizada.

– Sempre estou com a senhora em algum lugar quando tenho coisas a resolver – falei dando de ombros e fui até o lado dela da mesa e me recostei a mesa.

– Verdade, eu devia deixar você fazer mais coisas sozinha – observou ela e eu suspirei.

– Não estou reclamando da sua ajuda mãe...

– Eu sei que não, Isabella, eu mesma estou dizendo que te ajudo demais nos seus deveres, você deveria se responsabilizar um pouquinho mais por eles, na minha opinião, já que vai ser rainha em breve e tudo o mais.

– Tudo bem, vou tentar ser mais responsável... E usar mais a Sala da Princesa.

– Isso – ela sorriu com aprovação -, mas agora, onde você estava?

– Com Louis, no primeiro andar.

– Hum... Encontros romântico?

– Digamos que é quase isso – falei rindo sozinha da minha piadinha interna.

– Sei... Estou curiosa mas não vou perguntar pra não te constranger...

– Obrigada – sorri e ela sorriu de volta, então ficamos em silêncio – Hum, mãe acho que vou eliminar mais alguns meninos da Seleção e tal...

– Jura? Quem? Não me diga que vai eliminar o James, eu gosto do James.

– Você só gosta do menino porque ele é ruivo mãe, admita.

– Verdade – disse ela suspirando e mexeu nos próprios cabelos ruivos, eu ri – enfim, quem planeja eliminar?

– Alguma sugestão vossa enorme majestade de Illéa, rainha America Singer Schreave? – falei dramaticamente e ela gargalhou.

– Certo... – ela disse pensativa quando parou de rir. – Tire o Otávio, ele é de Clermont, não gosto de pessoas de Clermont.

– A senhora manda nesse país e não gosta das pessoas dele, mãe? – falei de sobrancelhas erguidas, ela deu de ombros.

– Não é que eu não goste, não de todas as pessoas, são só as de Clermont que eu não gosto.

– Qual o problema com elas?

– Conheci uma menina de Clermont que era completamente dissimulada.

– Otávio não é assim, ele é bem legal comigo – falei revirando os olhos e ela assentiu pensativa.

– A menina dissimulada também era um amor com o seu pai, mas era a própria naja com as outras meninas da Seleção dela.

– Ah... É ciúme então – falei gargalhando em minha mãe bufou.

– Não, ela realmente não prestava.

– Ok, mas Otávio não é assim, ele é muito legal.

– Claro que é – ela revirou os olhos – mas... Isabella, você eliminou três garotos a o quê? Uma semana? Dê uma segunda chance aos pobres coitados que você já quer dispensar, quem sabe eles só tenham passado por uns dias ruins, ou vocês não tenham encontrado o assunto certo, sei lá, tente conversar novamente com eles, saia mais com eles essa semana, aí se não der em nada ainda, dispense.

– Tudo bem – falei sorrindo de canto. Minha mãe se levantou da poltrona e ajeitou a coroa na cabeça.

– Preciso ir agora, tenho que fazer algumas coisas pra viajem do seu pai e tudo o mais... E pense com carinho em dispensa o Otávio ok?

– Mãe! – falei entre risos e ela sorriu para mim, então beijou meu rosto e se distanciou, quando ela já estava a caminho da porta do quarto eu corri até ela- Mãe, quando ele vai?

– Hoje a noite, querida – ela disse ainda de costas pra mim e suspirou – pode ir dormir comigo hoje no meu quarto, se quiser.

– Não sou mais criança mãe, não faço mais isso – falei revirando os olhos.

America soltou outro suspiro.

– É, eu sei que você cresceu, Bella – disse ainda de costas pra mim, então me olhou por sobre o ombro e sorriu, e pude jurar ter visto uma lágrima no canto do olho dela, mas não tive tempo pra ter certeza daquilo, porque minha mãe saiu do quarto as pressas.

–Senhorita? – disseram minhas criadas saindo do banheiro, elas ficaram no banheiro todo esse tempo fingindo limpá-lo para dar alguma privacidade a mim e minha mãe.

– Sim?

– Está tudo bem com a rainha America?

– Sim, Wanda, ela só está cansada – falei e eu mesma me joguei na cama exausta.

♔ O Escolhido ♕

Mais tarde eu tive que descer novamente para me despedir do meu pai, minha mãe, alguns soldados e os sete rapazes da Seleção estavam em frente ao palácio já quando eu cheguei.

Assim que me aproximei cabisbaixa senti o abraço forte do meu pai em volta de mim.

– Fica – pedi baixinho, e só ele ouviu.

– Não posso, querida – disse ele no mesmo tom de voz que eu.

– Pai... – falei sentindo meus olhos já ficarem inundados.

– Realmente não posso, Bella, mas volto o quanto antes, serão poucos dias – prometeu ele e eu assenti ainda o abraçando.

– Se cuida, Maxon – falei fungando e ele riu.

– Vou me cuidar, filha.

– Eu amo você – susurrei.

– Eu também amo você – ele afastou meu rosto do seu peito e limpou uma lágrima teimosa que havia escorrido por meu rosto.

– Não morre – pedi chorosa e ele riu um pouco mais.

– Vou voltar pra você Isabella, eu prometo.

– Volte rápido – resmunguei limpando meus olhos e ele sorriu, então beijou meu rosto e me soltou.

Me afastei dele e fiquei atrás da minha mãe, que estava abraçando meu pai agora, e pelo que vi, ela o abraçava novamente, ouvi ela dizer algo baixo demais para que eu pudesse decifrar e meu pai riu e respondeu algo também baixo.

Senti um braço em volta dos meus ombros e olhei para o ser que me abraçava, William.

– Vai ficar tudo bem, Bella, estou aqui – disse ele tentando me abraçar.

Tentei me desvencilhar dele da forma mais educada possível, mas ele não queria me soltar.

– William, por favor – pedi sorrindo amistosa, e ele me deu um sorriso enorme- me chame de Isabella, adoro o meu nome.

Alguns dos outros meninos que estavam por perto seguraram o riso e se afastaram de nós segurando a risada.

– Tudo bem, Isa então? – sugeriu ele baixinho.

Quem me chama de Isa é o Josh, você não pode, sem moral William, sem moral, sem apelidinhos, sem intimidade, se toca.

– Isabella – corrigi sorrindo, ele me deu um sorriso sonso e me soltou disfarçando, então foi pro outro lado do grupo conversar com os meninos.

– Pois bem, até logo jovens cavalheiros – disse meu pai após adquirir a atenção de todos com um pigarrear – e protejam minhas mulheres, por favor.

– Sim senhor! – disseram os sete em coro e estufaram o peito.

Achei graça.

– Tchau queridas – disse meu pai para nós e sorriu para mim e minha mãe, tentei retribuir o sorriso, mas ao invés de sorrir eu acabei fazendo careta de choro o que fez meu pai suspirar e desviar o olhar, então se foi com parte dos soldados que estavam ali.

Eu ainda tive que inspirar fundo algumas vezes para me acalmar, minha mãe tinha aquela postura altiva e calma de sempre, e foi ela quem me guiou pelas escadarias quando nosso grupo se dispersou, os rapazes foram para os seus aposentos e eu e minha mãe para o nosso.

– Mãe – falei baixinho quando chegamos ao topo da escadaria do terceiro andar.

– Sim?

– Posso dormir com você hoje? – pedi e ela sorriu.

– Claro, meu amor.

Assenti e fui para o meu quarto, e Rose me ajudou a por minha camisola, então eu disse a Rose que ela estava dispensada e que poderia dormir onde quisesse aquela noite porque eu iria dormir no quarto da minha mãe, Rose entendeu e pediu para dormir no meu quarto mesmo e eu permiti, então peguei meu travesseiro e minha coberta, a enrolei e a abracei, aí fui para o quarto da minha mãe, bati três vezes ritmadas na porta e então ela abriu rindo da minha cara.

– Disse que cresceu, mas ainda tem a mesma cara que tinha a quinze anos atrás quando aparecia aqui em dia de tempestade – disse minha mãe risonha, sorri e entrei de vez no quarto e ela fechou a porta.

Fui para a cama e ajeitei tudo para me deitar no lugar do meu pai, ao lado da minha mãe, eu sempre fazia isso quando meu pai precisava viajar a trabalho, e acho que eu continuaria fazendo pelo resto da minha vida... Ou até arranjar um marido que me aturasse quando eu estivesse tristonha por qualquer que fosse o motivo... E quando eu estava pensando nisso um rosto me veio a mente, Josh.

Suspirei pesarosa e me ajeitei mais na cama, minha mãe se deitou ao meu lado e me abraçou, então ficou mexendo nos meus cabelos como sempre fazia quando eu ia dormir com ela.

– Mãe? – falei depois de uns minutos.

– Sim?

– Qual foi a primeira coisa que meu pai te disse? “Oi”?

Ela riu.

– Não, na verdade foi “Está tudo bem, querida?”.

– Hã?

Ela voltou a rir, mas dessa vez um pouco mais baixo.

– Nos conhecemos antes de ele conhecer as outras meninas da Seleção dele, na verdade eu o conheci umas horas antes... Era o meu primeiro dia aqui, no palácio, era o primeiro dia da minha Seleção, - enquanto ela contava eu tentava imaginar toda a cena, ela, uma cinco, conhecendo o palácio e tudo o mais – e eu tinha tido muitos problemas na minha província, vim acabar aqui sem querer... Ainda bem não é? Ainda bem que parei aqui sem querer, agora eu tenho você e seu pai... Enfim, voltando a história. Na minha primeira noite aqui, eu me senti completamente presa, como se o palácio fosse uma jaula, eu estava começando a ficar claustrofóbica, então saí correndo pelos corredores, eu queria chegar no jardim, mas assim que cheguei perto das portas do jardim os guardas me impediram, eu sentia que estava ficando sem ar e que precisava sair, mas os guardas não deixavam, eu estava quase desmaiando quando ouvi seu pai dizer aos guardas que me deixassem sair, eles me deixaram sair, eu andei pelo jardim e então caí sentada, seu pai se aproximou e disse “está tudo bem, querida?”...

– Aí foi amor a primeira vista? – perguntei empolgada, ela riu mais um pouquinho.

– Não, na verdade eu xinguei seu pai e fútil e tudo o mais – eu ri e ela também – ,mas eu não o conhecia e estava com raiva de tudo, então por fim acabamos conversando e depois ele se foi e eu fui para o meu quarto também, e no outro dia eu queria de toda forma pedir desculpas a ele por ter tratado-o tão mau...

– E você pediu?

– Sim, no outro dia mesmo, quando todas as meninas conheceram ele e tal, eu pedi desculpas e ele aceitou.

– Aí se apaixonaram?

– Não, ainda não, Isabella, tive que conhecer ele para me apaixonar, o que levou tempo.

– Ah... Entendi... – o sono foi chegando lentamente – Boa noite, mãe.

– Boa noite, Bella. Sonhe com os anjos.

Com o Josh? Ou com o Louis? Também tem o Harry que parece um anjo mãe...

Por fim sonhei que eles três eram realmente anjos, com asas enormes e que estavam lutando por mim, mas então eles me deixaram cair e então um outro anjo me pegou no colo, e quando eu o olhei vi que era meu pai, e ele disse: Está tudo bem, querida?

Então depois ele me prometeu que tudo ficaria bem e que ele estaria sempre ao meu lado pra tudo, e que mesmo que eu não escolhesse nenhum dos anjos que estavam lutando, eu seria feliz, porque ele sempre estaria comigo, e porque ele me amava e que sempre estaria ali pra me segurar não importando o que acontecesse.

E então minha consciência captou eu dizendo – enquanto dormia-:

– Eu te amo – enquanto eu sonhava com meu pai, e depois não me lembro de mais nada dos meus sonhos.