Não, não, não. Eu precisava daquele Louboutin, era lindo. E era de spikes! Spikes, Louboutin de spikes, ou podemos denominar de perfeição! Aquele solado vermelho clássico e chique me olhou, parecia que estava sussurrando “fui feito pra você Lena, não perca tempo, o desconto é de 30%, é imperdível”.  Se bem que nem foi tão caro assim, 1.200 dólares, só isso. Portanto, posso chamar de economia de dinheiro! E eu parcelei no cartão, é mesmo, eu parcelei!

— Outro desse de salto vermelho, Lena? — Ana perguntou!

Outro desse salto vermelho, Lena? Como Ana pode dizer isso? Como? Esse não é só um salto vermelho com spikes. É um Louboutin, um Christian Louboutin!

Então fitei Ana com um olhar de ironia, várias respostas passaram por minha mente, respirei fundo, contei até três e...

— Não é um salto qualquer. — Respondi com um sorrisinho...

Peguei os papéis que estava sobre minha mesa e continuei a conferir uma das futuras de um dos meus cartões de crédito!

Ah! Tiveram aqueles óculos também, lindos óculos. Onde comprei mesmo? Oh, na Macy’s, isso mesmo, na Macy’s! 140 dólares se não me engano, na verdade tenho certeza! Estico os dedos na intenção de apenas confirma o valor.

— 230 dólares?

A expressão saia de meus lábios sem que eu pudesse me conter. Como assim? Como assim 230 dólares? Eu não posso ter dado tanto em uns óculos! Isso mesmo! Aquele outro era 140 dólares, mas aquele do McQueen ficou muitíssimo melhor no meu rosto. Explicado, valeram os 230 dólares. Onde eu estava mesmo...

Passava meus olhos lendo novamente na fatura, logo após os óculos... Chanel, 340 dólares... Não, minha fatura veio errada. Eu, Elena Longwood não sou capaz de gastar tanto em um mês, só um mês. Passei minha mão na bolsa em busca de meu celular, afinal, minha fatura estava errada, eu tinha de ligar para o cartão, olhando pra bolsa me veio a infeliz lembrança. É, essa bolsa, estava na vitrine, parecia que estava me chamando, tive que comprar! Ah, Chanel sempre passa boa impressão, isso é investimento!

Terminei a primeira fatura, vamos para a próxima, restam somente onze! Tenho certeza que todas juntas não vão passar de 1.000 dólares, isso, isso mesmo... 1.000 dólares das onze com mais 1770 dólares da fatura do Visa... E... Somam-se 2770 dólares... Perfeito! Sem nem se quer precisar pedir dinheiro na mamãe!

Vamos lá, 2770 dólares é o que devo. Esse mês ganho 3032 dólares... Vão sobrar 262 dólares, com isso pago o aluguel. E ainda me sobram 12 dólares! Sou uma vitoriosa, ainda conseguirei comer com esses 12 dólares alguns hot-dogs ali na esquina!

Não preciso fazer mais contas, sei que é isso! Estico minha mão na intenção de pegar uma lixa de unhas na mesa de Becky;

— Elena! — A voz extremamente aguda e nada confortável de Tonnia ecoou por toda minha cabeça.

— O que foi? — Pegando a lixa e lixando as unhas da mão direita com movimentos leves e serenos.

— John McArt, da Móveis&Planejados ligou pedindo uma entrevista com você.

— Entrevista comigo? Mas eles falam sobre móveis. — O sarcasmo sobressaia-se mais que o próprio sentido de minha frase!

— É.  Parece que eles querem fazer umas colunas sobre outros assuntos. Recado dado — Tonnia terminou a frase com desdém, certeza que ela queria ser a entrevistada! — Tá aqui o número dele!

Tonnia me deu as costas antes que eu pudesse dizer que não iria ser entrevistada por ele. Estiquei minhas mãos para amassar o número, logo vi que estava escrito em letras miúdas:

John McArt – Móveis&Planejados
4875-9834 Cachê: 120 dólares

Na situação que eu estava não podia jogar nem um dólar pela janela. Liguei para John e marquei para o fim da tarde no meu apartamento; Terminei um texto sobre “Custo-benefício” que iria entrar na coluna de amanhã.

Como de costume fechei meu laptop, o depositei em seu estojo rosa pink com detalhes em lilás. Não podia esquecer do carregador do meu celular, sem ele não sou quase nada. Levantei e em seguida arrumei meus cabelos, sorri como sempre, peguei minha bolsa e andei até o elevador.

— Vazio? Estou tendo sorte!

Meu olhei no espelho e o único pensamento que rodeou minha cabeça foi: Tenho que comprar um vestido novo para a entrevista!

Mas eu não precisava, tinha pelo menos meia dúzia de vestidos novos em meu armário, fora que para se comprar um vestido, tem de ser comprar um bom sapato junto. Ah, e um bom perfume, é claro!

Sai do prédio e repetia para mim mesma:

— Lena Wood, você não precisa de outro vestido, menos ainda de outro sapato. Ande direto para casa, direto!

Meu desejo de consumo era maior que eu. —  Não vou gastar mais de 200 dólares, —  prometi a mim mesma.

— Táxi! — O carro parou e entrei dentro dele — Para Bergdorf Goodman, por favor!

Não demorou muito, parecia que o dia estava totalmente ao meu favor. Levamos menos de vinte minutos até lá, paguei o senhor e andei em direção à loja, Leny já estava me esperando sorrindo na porta.

— Querida! — Me cumprimentou com um beijo na bochecha — Estava com saudades!

Saudades do meu cartão, Leny adorava quando eu e mamãe íamos lá nos fins de semana e gastávamos centenas de dólares com vestidos.

— Preciso de um vestido! — Disse com toda simpatia que poderia dizer

— Temos Prada, Jimmy Choo, Ferragamo, Gucci, Dolce & Gabbana, suas preferidas, tenho certeza!

Leny dizia essa frase todas as vezes que eu ia lá, parecia um robô.

— É pra uma entrevista com John McArt, me sugere algo?

— John McArt da Móveis...

Antes de Jeny pudesse completar sua frase, completei:

— Sim, da Móveis&Planejados — Disse entrando na loja — O que temos de novo?

Jeny sempre tentava me fazer levar os vestidos mais caros, o pior de tudo era que ela conseguia. Meia dúzia de elogios e um vestido de 2000 dólares era minha compra! Jeny duplicou, talvez tenha triplicado sua velocidade, subiu rapidamente ao estoque e desceu com cinco ou seis vestidos!

— Prada, Gucci e Dolce & Gabbana, são os modelos mais novos aqui da loja!

Eram todos lindos! Se mamãe estivesse ali, me mandaria levar todos, acho que ela me acostumou mal!

— Gostei desse, posso experimentar? — Antes que ela dissesse que sim, peguei o vestido e andei em direção ao provador.

Lindo, lindo, lindo. Meu pensamento era somente esse. Dei uma ou duas voltas ainda dentro da cabine. Não tinha o hábito, mas resolvi checar a etiqueta:

Ferragamo – 900 dólares

Coleção 2012

Esbocei um curto sorriso, logo vi que aquele devia ser um vestido antigo que não desceram para a liquidação!

— Acho que esses sapatos ficarão perfeitos com o vestido!

Juro que pensei em dizer: Não, não vou levar sapatos! Só o vestido hoje! Mas não custa nada experimentar, sou uma mulher de fibra e serei mais forte que meus desejos! Ela passou o sapato pelo espaço que havia entre a cortina e o chão; o calcei e me senti a mulher mais segura do mundo.

— Leny, quanto custa esse? — Perguntei esperando um “Esse está em promoção, 100 dólares.”, mas a realidade foi outra e, diga-se de passagem: bastante cruel!

— 460 dólares!

460 dólares? Ah meu Deus... Mas é tão lindo, vale tudo isso!

— Vou levar os dois!

Fui insana, sei que fui. Mas levei! Na hora de passar o cartão me senti mais poderosa do que dentro daquele vestido, acho que comprar me envaidece!

— 1360 dólares Lena!

As palavras dela saíram com tanta facilidade de sua boca, mas confesso, passaram em meus ouvidos com uma bala, resolvi nem pensar muito. Deixei as contas para depois!

— Pode passar 1000 nesse e o restante aqui!

Afirmei sem que ela pudesse dizer “Não, essa é a política da loja”. Assim Jeny fez. Levou-me até a porta, entregou a sacola e disse a típica frase de uma vendedora que quer que retorne a sua loja “ficaram lindos em você, voltem sempre!”.

— Para a quinta avenida, por favor!

No caminho a minha casa, me senti um pouco arrependida por ter gastado 1360 dólares em um vestido e um par de sapatos para uma entrevista simples!

Paguei o que ainda estava devendo ao motorista do táxi, vi no relógio as horas, quase sete, tinha que me arrumar e ligar para John! Chamei o elevador que não demorou mais de alguns segundos para chegar, entrei no meu apartamento já com meu celular, disquei para John:

— Alô! — A voz bastante grave de John soou do outro lado da linha — Lena Wood! Suponho!

— É, acho que sou eu! — Disse com um tom bastante bem humorado — Poderia chegar daqui uma hora, John?

— Perfeito pra mim! Pode me enviar o endereço por mensagem?

Despedi-me de John e envie o endereço como ele havia pedido. Peguei o vestido, que era azul, corte envelope, seu comprimento era três ou quatro dedos a cima de meu joelho, era elegante e sexy, o coloquei sobre a cama com intenção de não amassá-lo! Tomei meu banho como de costume, sequei meus cabelos e os deixei naturais. Vesti o vestido, havia ficado ainda mais bonito que na loja! Os sapatos ficarem perfeitos, do jeito que tinham que ficar! Fui escolher um perfume no closet:

— São tantos, por que tenho todos esses mesmo? — Perguntei retoricamente

Resolvi passar um clássico, Chanel N5, o queridinho de Marilyn. Certeza que John vai adorar! Tenho que treinar, pensei então. Fui até a sala e vi iria me apresentar.

— Olá John, seja bem vindo! — Disse abrindo a porta — Não, clichê demais! — Andei então alguns passos para trás — Oi John, estava ansiosa! — Disse abrindo a porta novamente!

Adivinhem que estava parado, um pouco encostado no portal da porta, com aquele sorriso claro e encantador? John.

— Lena? — Disse ele.

— É... Lena! — Respondi gaguejando.

— Estou surpreso! Achei que você fosse qualquer velha gorda que escreve sobre economia! — Disse com tom delicado e prepotente.

— Vamos, entre! — Completei sorrindo.