O Rei Das Trevas (0) escrita por Cdz 10


Capítulo 5
Capítulo 5: Uma demonstração de coragem




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Capítulo 5: Uma demonstração de coragem.

            O leve vento continuava a movimentar os seus cabelos e desejou que ele fosse capaz de varrer para longe toda aquela ansiedade que tomava conta de si. Os olhos de Luyul permaneciam fixos no píer, mas nenhuma imagem animadora entrara através deles nos momentos que tinham se passado. Não era o único que ansiava pela chegada de Lark, os demais também se encontravam apreensivos e ligeiramente calados, com o silêncio sendo quebrado algumas poucas vezes por uma breve tosse ou algo do tipo.

            Luyul virou-se um pouco, encarando momentaneamente a sua companheira Marrncifer, a qual não se desgrudava do pequeno Diell nem sequer por um instante. O jovem não se encontrava mais tão nervoso como havia ficado quando abandonaram o lar às pressas, mas também não era possível dizer que estava calmo e confiante. Sentia-se um tanto mais seguro ali no porto, mas ainda assim, gostaria que o único Bour restante chegasse o mais rápido possível para que rumassem à Roul e o sentimento que tomava conta de Luyul, bem como dos demais ali presentes, não era diferente.

            Naquele momento, algo passou pela cabeça de Luyul, algo com o que, até então, ele não havia se preocupado, mas que era de fundamental importância. Virou-se totalmente na direção das águas pelas quais seguiriam e ali, ancorado no porto, estava uma pequena e simples canoa, com seis longos remos, três de cada lado, que pareciam brotar do casco. Sentiu-se um pouco feliz.

            - Conseguiram arrumar uma embarcação, pelo que estou vendo.

            - Sim - Juhs foi aquele que respondeu. - Logo que chegamos aqui, contamos brevemente aos pescadores que estávamos fugindo de um ataque em massa dos Logrus e pedimos ajuda. Naturalmente que não era do desejo deles tomar parte do nosso conflito, mas também não nos deixaram sem amparo. Ofereceram-nos esta canoa dizendo que era tudo o que podiam fazer por nós e depois partiram. Bem, acredito que ela será de grande utilidade.

            Os pescadores eram seres vivos simples e que não possuíam nenhuma ambição em especial. Aquele porto era rodeado de pequenas moradias por todos os lados e era ali onde viviam e guardavam os frutos de suas atividades pesqueiras. Alguns habitantes de Lunn imaginavam que podia ser perigoso viver ali, praticamente no meio da água, mas nunca havia ocorrido enchentes ou tempestades que prejudicassem aquelas moradias, pelo menos, tais eventos desastrosos não podiam ser encontrados nos relatos históricos da cidade.

            Não possuíam nenhum tipo de habilidade de combate, mas eram incríveis quando se tratava da construção de equipamentos específicos para a pesca. Com seus barcos adaptados, iscas previamente preparadas e anzóis refinados, eram capazes de alcançar uma profundidade considerável nas águas e, geralmente, os peixes eram utilizados na sua própria alimentação, com exceção dos casos em que conseguiam encontrar algum peixe considerado raro, o qual, então, era vendido, principalmente para os comerciantes do Centro, ainda que, em casos menos comuns, os vendiam para as cidades mais próximas. Os pecadores só entravam em contato com os demais seres vivos nestes momentos, em que eram realizadas as comercializações. Tal isolamento, entretanto, não ocorria pelo fato de que eram seres vivos hostis, longe disso, mas sim por considerarem que eram auto suficientes convivendo entre si e sem muitos lucros, afinal, tinham uma boa alimentação e a companhia um do outro.

            Sentiram-se com medo no momento em que Juhs, Amn e Krink chegaram até ali, cobertos de ferimentos e dizendo que estavam no meio de um conflito com os Logrus. Apesar de os pescadores não se relacionarem muito com os demais habitantes de Lunn, eles não eram ignorantes e, portanto, sabiam muito bem como era a forma de comportamento daqueles cruéis seres avermelhados. A última coisa de que gostariam era ficar no meio daquele fogo cruzado, mas também eram solidários, logo, não podiam deixar os Bours sem nenhum tipo de ajuda. Deixariam mais embarcações para que servissem de apoio a eles, mas os pescadores estavam em número consideravelmente grande e para poderem escapar, tiveram que usar quase todos os barcos e canoas das quais dispunham restando apenas aquela que ficara ancorada no porto.

            - Sim, certamente será muito útil - confirmou Luyul. - É pequena, mas se viajarmos um pouco apertados, caberemos todos.

            Luyul virou-se mais uma vez para o píer, enquanto que Amn não permitiu que o silêncio voltasse a se estabelecer ali:

            - Esperaremos o Lark e partiremos para Roul com esta canoa, isto está resolvido - começou. - Mas e depois que chegarmos a Roul? Deveremos entrar em contato com os demais membros da CIV, mas e se não conseguirmos? Ficaremos um tanto desolados lá, não?

            - Acredito que os chefões da organização já devam saber que a missão falhou - a voz de Krink parecia estar um tanto cansada. - Poderíamos entrar em contato com eles aqui, mas seria arriscado, uma vez que ainda estamos em batalha. Caso não consigamos nos comunicar com eles de Roul, certamente eles darão um jeito de nos encontrar, mesmo que isto demore um pouco.

            Amn soltou um pequeno riso.

            - O que significa então que podemos tirar um pouco de férias, certo? - o seu senso de humor, às vezes, atuava em horas erradas, mas mesmo naquele tenso momento, conseguiu arrancar algumas poucas risadas de Krink, Juhs e até mesmo do pequeno Diell. Apenas Marrncifer e Luyul não esboçaram nenhuma reação.

            - E ainda tem um outro aspecto sobre o qual não pensamos - Krink continuou. - Como faremos para burlar o sistema de identificação da Cidade de Roul?

            Amn levantou uma sobrancelha, enquanto que Juhs fez um pequeno movimento com os seus lábios. Estavam chegando à conclusão de que a estratégia a qual estavam seguindo não era lá tão boa quanto tinham achado.

            A Cidade de Roul era tão pequena quanto a de Lunn, mas diferente em muitos outros aspectos. Apresentava lindas construções e, por vezes, funcionava como sede de alguns eventos importantes, portanto, a chegada de turistas ali era constante. A beleza da cidade, apesar de causar um orgulho muito grande em seus habitantes, não era o aspecto mais valorizado por eles. Os que viviam em Roul prezavam a paz muito mais do que qualquer outra coisa. Existiam ali seres vivos fortes, treinados nas artes do combate, mas tais artes eram utilizadas nas atividades de caça e raramente eram empregadas a fim de enfrentarem outros seres vivos.

            Quase nunca ocorriam conflitos dentro da cidade e, para que a situação permanecesse daquela maneira, os governantes de Roul não permitiam a entrada de seres vivos que chegassem ali com o objetivo de levar uma nova vida. A justificativa para tal proibição era a de que se a população começasse a crescer, os recursos - fossem eles relacionados à alimentação, trabalho ou até mesmo espaço - começariam a ficar mais escassos e, com isso, os conflitos passariam a ser cada vez mais constantes e, então, seria apenas uma simples questão de tempo até que a paz deixasse de existir. Assim, a natalidade também era controlada e cada família de seres vivos só podia possuir uma única cria.

            Todos os habitantes - sem exceção de nenhum, nem mesmo dos próprios governantes - eram obrigados a andar com identificação de acordo com a lei, para que fosse possível a diferenciação entre aqueles que vivessem na cidade e aqueles que estavam ali por turismo.

            Em relação aos turistas, também havia consideráveis restrições. Caso fosse do desejo de algum ser vivo visitar a cidade, o mesmo tinha que ir até ela, inicialmente, apresentar-se ao chamado Comitê Registrador, para entregar uma amostra de seu sangue, fornecer o seu nome, sua raça e agendar qual seria o momento de sua visita. Esta era a etapa de registro. A legislação estabelecida pelos governantes de Roul também proibiam a vinda de muitos turistas de uma só vez, pois consideravam que uma grande quantidade deles dentro da cidade também poderia acabar ocasionando algum tipo de conflito e, portanto, tal agendamento se fazia necessário.

            A amostra sanguínea fornecida no registro, por sua vez, se mantinha armazenada no banco de dados do Comitê e, quando o momento da visita chegasse, o ser vivo deveria informar mais uma vez o seu nome e sua raça. Os funcionários do Comitê, então, confeririam o registro e coletariam mais uma amostra de sangue para conferir se aquele era mesmo o ser registrado. Cumpridas estas etapas, a entrada na cidade estava autorizada, porém, as obrigações ainda não estavam terminadas por completo. O turista, acompanhado de um membro do Comitê, ainda era obrigado a se apresentar para um dos governantes, do qual receberia um certificado com o selo da cidade e só com a apresentação de tal documento era possível obter alguma hospedagem ou ainda comprar algo em Roul, pois caso contrário, nenhum estabelecimento estava autorizado a vender algo àquele ser ou ainda lhe oferecer algum tipo de hospedaria. Além disso, qualquer turista que andasse sem o certificado seria considerado um "fora da lei" até que o apresentasse.

            Com todas as restrições, a vida em Roul era uma das mais pacíficas que era possível existir, mas tal paz não era apenas por causa daquela rigorosa legislação. Nenhum ser vivo tinha vantagem em relação ao outro, todos possuíam acesso à mesma quantidade de recursos e todos os tipos de trabalho - os quais eram bastante variados - forneciam a mesma quantia. Até mesmo os governantes não tinham nenhum tipo de privilégio perante aos demais cidadãos.

            - Antes de nos preocuparmos como vamos conseguir adentrar a Cidade de Roul ou com o que faremos depois de estarmos lá, acho mais importante nos preocuparmos com o Lark - Luyul disse numa voz um tanto ríspida, sem nem ao menos olhar para os amigos. - Se ele não chegar, não partiremos, portanto, é inútil nos preocuparmos agora com estes assuntos considerando que ele ainda nem está aqui.

            Os momentos que se seguiram foram de um apreensivo silêncio, até que Amn o cortou:

            - Acalme-se, Luyul. Lark é habilidoso, ele não será capturado por Logrus, você verá. Quando menos esperarmos, estará aqui do nosso lado para que possamos partir.

            - Espero que esteja certo, mas acontece que ele está demorando demais. A casa dos Krullian é um pouco distante, mas considerando que estamos em fuga, creio que Lark avançaria rapidamente, mas mesmo assim não temos nem vestígios dele aqui.

            - Bem, vamos considerar então que algo, de fato, aconteceu a ele - Amn continuava a tentar acalmá-lo. - O que poderíamos fazer? Não devemos ir atrás dele, até porque não fazemos ideia de onde ele possa estar agora. Entende o que quero dizer? Temos que esperá-lo aqui de qualquer maneira. O que podemos fazer é apenas confiar nele e no fato de que chegará aqui em segurança.

            Amn esperou mais alguma resposta, mas nada veio. Desferiu, então, um rápido olhar para Juhs e Krink e depois seguiu para perto de Luyul, apoiando uma mão em seu ombro.

            O denso matagal era revirado como se uma ventania o abatesse com toda a violência enquanto que volumosos arbustos eram jogados a longas distâncias, como se arrancá-los de suas raízes fosse uma das coisas mais fáceis que um ser vivo era capaz de fazer. Nada mais, nada menos do que vinte Logrus, sob as ordens do Comandante Ryumann, vasculhavam aquela região como feras selvagens, famintas para devorar a sua preciosa presa. Olhos dançavam velozmente de um lado para o outro enquanto que destruíam todo tipo de plantação daquele local e Lark chegou a ver um punhado de folhagens voando lá embaixo, na direção da base do tronco da árvore no qual estava escondido.

            Estava indeciso, não sabia o que fazer, o nervosismo, o medo e a ansiedade não o permitiam pensar. Limitou-se a olhar, com bastante cautela, para fora da copa de folhas da árvore. Viu aquele show de selvageria lá embaixo e gelou por um breve momento, mas logo em seguida se recordou de que estava lidando com Logrus e então voltou ao normal - ou tão normal quanto poderia ficar naquela situação -, mas ainda assim, continuava indeciso.

            Desde que se deparara com aquele grupo de ferozes seres vermelhos, ficara com medo, escondido ali como uma pequena criatura acanhada, mas nada se comparou com o que sentiu no momento em que viu um deles escalando o tronco de uma árvore que ficava há aproximadamente uns dois metros daquela em que se escondia. Tinha longos cabelos dourados, que chegavam à altura da cintura e foi tudo o que Lark conseguiu identificar pelo ângulo que estava vendo. Sua respiração pareceu parar por um momento devido ao susto que levara e controlou cada mínima parte de seu corpo para que não efetuasse nenhum tipo de movimentação.

            Será que algum deles está escalando a árvore em que estou também?, pensou. Imaginou-se, rapidamente, sendo atacado de surpresa por algum Logru ali em cima mesmo, no meio das folhagens. Caso algo assim acontecesse, não teria nenhuma outra alternativa a não ser atacá-lo com toda a força e depois correr com a máxima velocidade que conseguisse alcançar pelo caminho através do qual havia vindo.

            Permaneceu estático por alguns momentos até perceber que o Logru de longos cabelos dourados estava descendo pelo tronco, regressando ao solo. Arriscou mais uma espiada. Viu vários dos inimigos escalando troncos de várias árvores, porém, estas estavam consideravelmente mais distantes. Tentou direcionar seus olhos um pouco mais para baixo, mas não conseguiu ter uma visão muito clara da base da árvore em que estava, pois as folhagens o estava atrapalhando, mas acreditou que, se algum Logru estivesse vindo tronco acima em sua direção, pelo menos um rápido vislumbre avermelhado os seus olhos teriam sido capazes de identificar.

            Recolheu-se mais uma vez, convencido de que ninguém estava vindo e sentiu-se só um pouco mais aliviado... quando um elevado som invadiu os seus ouvidos e quase o fez despencar lá de cima devido ao susto:

            - Parem!!! - a rouca e feroz voz do Comandante era inconfundível e o corpo de Lark tremeu, literalmente, da cabeça aos pés.

            O susto não atingira apenas o Bour. Todos os Logrus pararam de se mover no mesmo momento em que o grito entrara pelos seus ouvidos.

            - Reúnam-se aqui comigo! Já!

            As ordens de Ryumann já eram cumpridas de imediato em situações normais, mas com toda aquela tensão que pairava, os seus subordinados chegaram a sentir medo de morrer caso não fossem capazes de chegar a ele logo no segundo seguinte, o que os fez correr em alta velocidade, havendo até mesmo rápidos esbarrões uns nos outros. Em m curto espaço de tempo, o Comandante já se via rodeado de uma grande quantidade de seres vermelhos.

            O medo de Lark diminuiu um pouco e, uma vez mais, colocou lentamente a sua cabeça para fora das folhagens, conseguindo visualizar, de longe, aquele grande grupo que estava atrás de sua cabeça e das de seus amigos.

            - Escutem-me com bastante atenção - começou Ryumann e as palavras entravam com clareza pelos ouvidos do Bour. - Não vamos mais continuar perdendo tempo procurando por algo que possa ser totalmente inútil para nós. Enquanto estamos aqui, é provável que os malditos foragidos estejam se distanciando ainda mais. Portanto, seja lá o que for que tenha causado aquele barulho, não irá mais nos incomodar...

            Mais uma onda de desespero tomou conta do corpo de Lark. O que será que ele quis dizer com isso? O que pretende fazer?

            A resposta veio de imediato. Os imensos e musculosos braços do Comandante se ergueram acima de suas cabeças e todos os olhos amarelados espalhados pelo seu corpo se fecharam. Uma sensação estranha tomou conta de todo o lugar, assustando até mesmo alguns dos Logrus daquela equipe de busca. Era como uma calmaria antes de uma tempestade, uma calmaria que, por sinal, foi capaz de causar arrepio em todo o corpo do Bour.

            - Afastem-se... e protejam-se - desta vez, as palavras saíram da boca de Ryumann num volume bastante baixo, inaudível para Lark, mas a movimentação do restante dos seres vermelhos, que começaram a se esconder atrás de arbustos e árvores, denunciou o que ele havia dito e Lark teve certeza de que estava próximo da morte.

            Não faço ideia do que fará, mas será algo grande, certamente. É a hora de agir, caso contrário, não só eu, mas os meus amigos também... todos nós perderemos a vida.

            Recolheu-se mais uma vez para dentro da copa da árvore e começou a mexer nos bolsos do seu calção surrado. Havia uma alternativa e já pensara nela logo que caíra naquela enrascada, mas seria algo muito arriscado, portanto a ideia tinha ido embora de sua cabeça com a mesma velocidade com a qual viera. Entretanto, não conseguira pensar em mais nada que fosse capaz de tirá-lo daquela situação, portanto teria que apelar. Não podia mais perder tempo.

            Demorou um pouco até achar um pequeno objeto acinzentado e retirá-lo de dentro de um dos bolsos. Tinha um formato quadrado e um minúsculo círculo vermelho no centro. Com o seu polegar, Lark apertou-o três vezes e chegou a se surpreender um pouco consigo mesmo por ter conseguido isto, pois sua mão tremia e estava molenga feito uma gelatina.

            Começou a apalpar rápida e desesperadamente o grosso galho sobre o qual estava, até que achou uma cavidade relativamente grande e instalou ali o pequeno objeto. Voltou a olhar lá para baixo. Agora já conseguia ouvir um pequeno rugido saindo da boca do brutal Ryumann, enquanto seus braços se erguiam ainda mais alto. O Logru, então, começou a direcioná-los em alta velocidade para o chão, soltando mais um rugido, desta vez, bem mais alto, quando Lark trouxe a sua coragem à tona, pensando em seus amigos esperando por ele, lá no Porto dos Pescadores:

            - Espere! - gritou com toda a força que tinha.

            Ryumann parou de se movimentar imediatamente, ficando, por um momento, numa posição bastante curva, seus punhos a poucos centímetros de tocarem o solo. Os Logrus escondidos, que até então, mantinham os seus olhos fixos no Comandante, começaram a desviá-los, movendo-os rapidamente para todas as direções, curiosos para saberem da onde havia vindo aquele grito.

            - Quem disse isso? - Ryumann olhava para os seus subordinados, escondidos em volta. - Foi algum de vocês?

            A resposta não veio.

            - Foi algum de vocês? - repetiu e a sua raiva crescente era visível.

            - Não foi nenhum deles!

            A direção da onde vieram as palavras, desta vez, ficou bastante clara e Ryumann teve certeza de que realmente não era nenhum dos membros de sua equipe de busca que havia gritado. Virou-se para trás, enquanto que todos os Logrus desviaram os seus olhares para a mesma direção.

            Uma sombra se projetava sobre o solo, era como se ela estivesse nascendo daquelas inúmeras árvores e arbustos à frente e, em um curto espaço de tempo, foi crescendo e tomando forma, ao mesmo tempo em que o Comandante começou a se sentir um tanto surpreso com aquela imagem que estava adentrando os seus olhos.

            Um ser esverdeado de cabelos arroxeados, trajando apenas um calção bege e sujo, se revelou diante de toda a equipe de Ryumann.

            - Você... - o brutal Comandante quase não era capaz de se pronunciar. - Você... Você é...

            - Isso mesmo - por dentro, Lark tremia dos pés à cabeça, mas de alguma maneira que nem ele mesmo sabia, conseguiu se manter extremamente firme pelo lado de fora. - Exatamente o que você está procurando. Eu sou um Bour.

            Então era verdade, Ryumann quase não conseguia acreditar. A presa havia acabado de se revelar para os caçadores por vontade própria. Sentiu alegria e alívio pois pelo menos um deles estava ali, nas suas mãos, mas também sentiu uma pontada de raiva, afinal, era muita ousadia do maldito Bour encará-los daquela maneira.

            A alegria, porém, acabou vencendo e, passado aquele susto momentâneo, uma gargalhada sonora e debochada atravessou os grossos lábios e os afiados dentes de Ryumann.

            - Estão vendo isso? - e mais uma gargalhada ecoou. - Estão vendo isso? É um Bour! Um Bour!

            Os demais Logrus também estavam pasmos, mas vendo Ryumann daquela maneira, começaram a se sentir bastante aliviados e confiantes também. Um a um foram abandonando os seus esconderijos e se aproximando do Comandante. Lentamente, começaram a rir num volume bastante alto e aquilo chegou a incomodar ligeiramente os ouvidos de Lark, mas a sua expressão séria não se alterou, seus olhos permaneceram franzidos e sem piscar nem sequer uma única vez.

            - Então era mesmo um Bour imprestável que estava se escondendo de nós? - um desdém muito grande tomava conta de cada uma das palavras de Ryumann. - Poderia muito bem ter continuado escondido, assim teria uma morte rápida e sem dores quando eu destruísse todo este lugar, mas ao invés disso, decidiu se revelar, entregando-se para nós como uma pequenina criatura indefesa! Essa raça é mesmo muito inferior!

            - Eu arriscaria dizer que vocês são os que pertencem a uma raça inferior a julgar por esta sua baixa inteligência, Logru. Acredita mesmo que me revelei para vocês com a intenção de me entregar? - Lark sabia muito bem que não teria a mínima chance de vencê-los por meio de um combate corpo a corpo. Se fosse apenas um único Logru, um combate assim já seria de extrema dificuldade, mas considerando que eles se encontravam em um bando tão grande como aquele, entrar numa luta estava fora de qualquer cogitação. Precisava ganhar tempo para que o seu plano tivesse sucesso e, além disso, era necessário fazer com que eles perdessem o controle de si próprios por intermédio da raiva. Lark já havia enfrentado aqueles ferozes seres na Morada e isto fora suficiente para que conhecesse pessoalmente a personalidade da raça. Sempre se achavam superiores e, quando tal superioridade era questionada por algum tipo de afronta, rapidamente se irritavam e, quando irritados, perdiam a inteligência que tinham e agiam com brutalidade fora do comum, seguindo puramente o instinto e, isto, por sua vez, os deixava mais descuidados e desatentos.

            - Ah, entendo - Ryumann, começou, o largo sorriso que ocupava sua boca já havia se esvaído - Quer dizer então que não vai se entregar? O que fará, então? Irá nos enfrentar?

            - Se for necessário...

            - Olhe para a quantidade em que estamos. Você está sozinho. Somos superiores em quantidade e em qualidade, Bour.

            Um silêncio se abateu sobre o local. Lark percebeu que o combate estava se aproximando e que o mesmo seria inevitável. Sabia que não tinha chances de vitória, mas esperava que seu corpo pudesse ser resistente o suficiente para que conseguisse segurá-los ali pelo tempo que precisava.

            - Muito bem - recomeçou o Comandante. - Se este é o seu desejo...

            Os Logrus começaram a avançar rapidamente, enquanto que Lark flexionou um pouco os seus joelhos e direcionou os seus braços um pouco mais à frente, assumindo a sua rotineira postura de combate.

            Que Raikus me ajude neste momento.

            Os Logrus não chegaram a avançar mais do que alguns poucos passos até que fossem obrigados a parar por um rápido sinal de Ryumann, o qual acabava de erguer o seu braço direito acima da cabeça de uma maneira totalmente ereta.

            - O que há de errado, senhor Comandante? - perguntou aquele Logru de longos cabelos dourados que quase encontrara Lark escondido na árvore momentos antes. - Não devemos atacá-lo?

            - Vocês não! Foi de extrema arrogância da parte deste Bour nos desafiar sozinho. Eu cuidarei dele, apenas eu, faço questão de lhe dar um tratamento muito especial.

            Os membros da equipe que já tinham avançado recuaram alguns passos enquanto que Ryumann se colocou um pouco mais à frente, agora com um malicioso sorriso escancarado de orelha à orelha, deixando à mostra os seus ferozes dentes e uma fina linha de baba amarelada escorrendo por um dos cantos dos lábios. Seus punhos cerraram-se fortemente.

            - Espero que esteja preparado para conhecer a dor, Bour...

            - Você fala demais para quem parece ser tão forte - Lark recomeçou com as provocações. - Só espero que tudo não fique limitado apenas à aparência.

            Já era bastante feio, porém, quando a fúria tomou conta do rosto de Ryumann, enrugando-o consideravelmente, ele ficou definitivamente monstruoso, além de aparentar uma idade muito superior àquela que ele realmente possuía.

            O brutamontes desferiu um alto e perfeito salto, atravessando o ar como se fosse um raio e, logo em seguida, desceu, com uma velocidade ainda maior e com sua perna direita completamente esticada. Os demais Logrus se distanciaram consideravelmente a fim de darem espaço para o combate que se iniciava.

            A voadora atingiu o cheio o chão, o qual recebeu uma pequena cratera, pois Lark se desviou com um pequeno salto para trás, surpreso com toda a velocidade e agressividade de seu oponente. Não demorou mais do que um único segundo para que Ryumann retirasse o seu pé de dentro do solo e desferisse um rápido soco na direção do Bour, o qual não teve, desta vez, muito sucesso na esquiva: foi capaz de evitar aquele imenso punho vermelho, mas a estaca preta fincada no cotovelo do Comandante raspou a sua bochecha esquerda, da qual começou a sair uma considerável quantidade de sangue amarelado.

            Lark nem chegou a ter tempo de se recompor de tal ferimento e o Logru já estava desferindo mais um ataque, avançando de cabeça contra o seu peitoral. Segurando a bochecha cortada com uma das mãos, o Bour saltou, mas não conseguiu subir nem mais de um metro ao ar, pois Ryumann agarrou uma de suas pernas e o arremessou violentamente para frente.

            Sentiu apenas uma profunda dor nas costas quando elas se chocaram com força em uma das árvores ao redor e, depois, Lark sentiu mais uma dor - desta vez, não tão profunda - quando caiu e seu rosto se chocou com o solo. Não se recordava de ter encontrado Ryumann na Morada, mas concluiu rapidamente que ele era muito mais forte do que todos os Logrus que já havia conhecido até aquele momento. Velocidade, força... ele era muito superior em tudo.

            - O Senhor Comandante é mesmo incrível... - cochichou, quase para si mesmo, um Logru relativamente baixo, de cabelos escurecidos e que possuía um ar de tolo. Perguntou-se, por um momento, se aquilo era o que acontecia com os subordinados que recebiam punição de Ryumann e estremeceu em se imaginar recebendo os mesmos golpes que o Bour havia acabado de receber.

            O Comandante encarava seu inimigo caído de braços cruzados e com um meio sorriso ocupando a sua boca. Ainda estava irritado com a ousadia do Bour, mas vê-lo ali, caído aos seus pés, lhe conferiu uma grande satisfação... até Lark começar a se levantar lentamente, erguendo-se, de início, apoiando as palmas das mãos naquele solo, agora ocupado por uma mistura de matagal e sangue.

            - Mas que surpresa... pensei que não resistiria - Ryumann não chegou a desviar seus olhos do ser esverdeado nem por um instante.

            - Eu estou desapontado, Logru - Lark já estava de pé e duas linhas de sangue saíam de suas narinas, bem como o corte na bochecha que parecia estar maior. - Imaginei que doeria mais... acho que sua força realmente está só na aparência, não é verdade?

            Ryumann cerrou os punhos sentindo um intenso ódio dentro de si e Lark ficou bastante satisfeito ao ver aquilo.

            - É mesmo um atrevido! Acha mesmo que...

            - O que eu acho é que não morrerei para você aqui - o Bour deu uma rápida inspirada e continuou com a sua provocação principal - Nem para você e muito menos para estes seus subordinados horrorosos.

            Fazia parte de seu plano. A hora decisiva estava chegando e precisava fazer com que todos os Logrus dali fossem atraídos e não apenas o Comandante.

            A provocação surtira efeito. O restante da equipe se irritou no mesmo momento em que aquelas palavras entraram pelos seus ouvidos.

            - Escute, senhor Comandante - começou aquele que possuía os longos cabelos dourados. - Certamente o senhor seria capaz de liquidar este maldito com extrema facilidade, mas eu lhe peço, por favor, deixe-nos atacá-lo também.

            Um outro Logru, mais alto e que possuía cabelos azuis e um incipiente de pelugem amarelada em seu rosto, com nariz um tanto alargado e orelhas pontudas, se juntou ao seu colega:

            - Concordo com Carkli, Senhor Comanadante. - Ele também nos ofendeu. Permita-nos confrontá-lo ao seu lado.

            Lark reassumiu a sua postura de combate enquanto que encarava fixamente aquele conjunto de expressões furiosas de rostos franzidos e bocas alargadas, deixando todos aqueles afiados dentes esbranquiçados para fora. Naquele momento, alguns pequenos estalos vindos de algum lugar às suas costas, começaram a entrar pelos seus ouvidos.

            Não posso falhar agora, pensou e estava coberto de razão. O sucesso do seu plano dependeria daquele momento.

            - Acha mesmo... - as palavras foram saindo como um rugido pela nojenta boca de Ryumann, que já se encontrava encharcada de baba amarela escorrendo para todos os lados. - que pode nos insultar desta forma, Bour? Por um momento, pensei em levá-lo vivo até a Morada para que houvesse um julgamento por parte do nosso Senhor, mas mudei de ideia, maldito! Perderá a vida aqui mesmo e juro que devorarei cada um dos seus órgãos e ossos uma vez que transformá-lo em um cadáver!

            Uma onda de gritos furiosos tomaram conta de todo o local quando aqueles vinte e um seres avermelhados avançaram velozmente na direção de Lark, o qual, por sua vez, ouviu o som dos estalos se tornando cada vez maior lá atrás.

            O momento está chegando. Seus olhos se focaram naquela multidão vermelha.

            Ryumann se encontrava um pouco mais à frente dos demais e, por isso, foi o primeiro a atacar. Lark quase não teve tempo de ver o golpe, apenas sentiu uma forte pressão, seguida de uma intensa dor que se abateu sobre o centro de sua barriga e foi ali que percebeu que o Comandante acabara de lhe desferir um potente soco. Quase caiu, chegando até a flexionar um pouco as suas pernas, sentindo-se ligeiramente tonto devido ao impacto do ataque, mas obrigou-se a se manter de pé e, quando mais um soco estava prestes a abatê-lo, bem como os demais Logrus, que já estavam bem próximos, concentrou todo o fôlego com uma rápida inspirada de ar e então saltou o mais alto que pôde. Pousou agachado sobre um outro grosso galho daquela árvore na qual havia se escondido anteriormente e todos os Logrus acompanharam aquele ser esverdeado voando pelo ar.

            - É isso o que vai fazer, Bour? - Ryumann gritou furiosamente, encarando o seu oponente lá em cima, na árvore. - Depois de nos esnobar, tudo o que vai fazer é fugir como um covarde? Desça e lute!

            Lark não respondeu absolutamente nada. Sua barriga doía, seu rosto doía, suas costas doíam. Manteve-se agachado no galho, sentindo-se um pouco tonto e com a visão ligeiramente turva, encarando os seus oponentes lá embaixo.

            - Entendo - Ryumann recomeçou. - Então se renderá, certo?

            Os estalos agora eram mais numerosos do que em todos os momentos anteriores e o Bour chegou a se perguntar se os Logrus, mesmo estando lá embaixo, não estavam sendo capazes de ouvi-los também. Levantou-se, suas mãos segurando a barriga machucada.

            - Eu continuo com a mesma opinião de antes, Logrus. Estou certo de que não perderei a minha vida para seres vivos como vocês. Se querem me realmente me punir, pois então, eu estou esperando. Venham!

            O Comandante desferiu rápidos olhares para os lados.

            - Já sabem o que fazer.

            Os Logrus pularam, quase todos juntos, enquanto que Ryumann permaneceu estático no chão, apenas flexionou os seus joelhos e levantou um pouco os seus braços, preparando-se para desferir um ataque. Lark se desesperou por um momento. Era essencial que o Comandante viesse atrás dele também.

            Tudo aconteceu em um breve instante, muito rapidamente. Faltavam apenas poucos centímetros para que os Logrus alcançassem o galho no qual Lark estava agachado e, naquele momento, o Bour saltou bem alto, se distanciando daquela árvore. Era um rastro verde cortando o ar e Ryumann observou aquele rastro com uma expressão de estranhamento em seu rosto. Não entendeu o motivo daquele pulo tão repentino, mas então, desviou os seus olhos de Lark e voltou a encarar a árvore...

            Gritaria para os seus subordinados para que recuassem, mas não teve tempo nem de abrir a boca para pronunciar uma letra que fosse. Um fortíssimo clarão esbranquiçado invadiu aquele lugar, obrigando todos os Logrus a fecharem os olhos no mesmo instante e, em seguida, o violento estrondo.

            Lark ainda subia no ar e observava aquela intensa e barulhenta explosão com fortes sentimentos de felicidade e alívio dentro de si. Por poucos instantes não teria sido também atingido, mas tudo havia funcionado conforme o planejado. Não sabia, ao certo se era fruto de uma bênção de Raikus ou não, mas o agradeceu no mesmo instante em que percebeu que aquele arriscado plano tinha dado perfeitamente certo.

            Parou de subir e começou a cair, na diagonal e para frente, pousando no chão folheado a quase cinquenta metros à frente de toda aquela explosão. Olhou rapidamente para trás e viu uma densa camada cinzenta de fumaça, enquanto que aquele forte estrondo começava a diminuir de volume. Sentou-se rapidamente no solo, sentindo ainda as suas dores, mas com uma incrível sensação de dever cumprido.

            Não posso descansar muito, tenho que avançar o mais rápido possível para o Porto dos Pescadores e, então, finalmente iremos para Roul.

            A tosse o abatia feito uma praga que desejava tomar a sua vida com todas as suas forças, mas Ryumann resistia. Colocou a sua mão na boca e também no nariz, evitando respirar toda aquela cortina de fumaça que o rodeava por todas as direções. Chegou a fraquejar, cambalear e cair de joelhos, mas obrigou-se a ser forte e se ergueu. Não demorou muito até que a fumaça começasse a diminuir, bem como sua tosse.

            Virou-se para os lados e vislumbrou vários seres caídos ao seu redor e, quando não havia mais nenhum sinal daquela torturante nuvem acinzentada, descobriu, para a sua frustração, que tais seres eram aqueles que faziam parte da sua equipe de busca. Corpos multilados, alguns sem cabeça, outros sem braço, sem pernas, além de uma quantidade absurda de sangue avermelhado espalhado pelo solo. Não era mais possível ver vegetação, tudo o que se via era aquele vermelho intenso de carne e de sangue dos Logrus.

            Ryumann, por um momento, ficou agradecido por não estar lá tão ferido e, ainda melhor, por estar vivo. Olhou para o seu próprio corpo e viu apenas arranhões, alguns mais leves, outros mais profundos e longos, mas ainda assim eram apenas arranhões. Andou por aquele cenário de carnificina lentamente, olhando para todos os corpos com bastante atenção.

            Não havia mais vida ali. Viu a cabeça sem vida de Carkli, com seus cabelos dourados cobertos de vermelho, viu o corpo do Logru de cabelos azuis e de pelos amarelos no rosto sem ambas as pernas, viu aquele Logru baixo, de cabelos escuros e ar de tolo, sem ambas as pernas e os braços e metade do rosto completamente desfigurado... nada, definitivamente nada havia restado de sua equipe, a não ser ele mesmo.

            Lembrou-se do que havia acabado de acontecer. Como fui tolo! Descontrolava-se com a raiva e sabia que, muitas vezes, agia sem pensar quando estava furioso, mas, desta vez, a fúria tinha lhe custado vinte vidas. Se não tivesse caído na provocação do Bour, certamente teria percebido que o mesmo os atraía para uma armadilha... lembrou-se do clarão esbranquiçado. Como fui tolo! Como fui tolo! COMO FUI TOLO!

            Não conseguia admitir que um Bour havia acabado de lhe fazer de idiota, que apenas um único Bour acabara de liquidar toda a sua equipe de busca e com apenas um movimento. Olhou ao redor. Nem sinal do ser esverdeado. Recordou-se de seu salto e da direção que pela qual seguiu no ar quando pulara daquele galho e virou-se na direção do Porto dos Pescadores.

            Não faço ideia de onde o maldito esteja, mas foi naquela direção que ele saltou! Se devo começar a procurar por algum lugar, deve ser por lá, até porque, a fronteira do porto é a única região que me resta investigar!

            Lembrou de seu Senhor, do Senhor da Morada dos Logrus e o que ele diria quando soubesse que havia estado a um palmo de apanhar um dos foragidos e então, o deixara escapar... NÃO! Agora Ryumann estava mais decidido do que em todos os outros momentos a caçar os foragidos, não admitiria regressar para Morada, não apenas sem eles mas também sem a sua equipe... seria visto como um Logru inferior e seria, de certa forma, punido pelo Senhor.

            - Devo reconhecer que foi esperto, Bour, meus parabéns - murmurou para si mesmo. - Mas juro pela minha própria vida que o caçarei até encontrá-lo e, então, irei trucidá-lo. Juro. Eu juro!


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