Ao Despertar escrita por httpsdiamandis


Capítulo 19
Explicações


Notas iniciais do capítulo

Bom, esse capítulo até que foi rápido em relação aos outros, não? rs
Acabei me empolgando e escrevendo demais, então está um pouquinho longo...
Enfim, boa leitura ♥



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Com o rosto encostado no vidro do banco carona de Susanna Sanders, amiga de minha tia, eu me recordara de tudo o que acontecera na noite anterior.

Longo após o vislumbre do passado que eu tivera ao tocar Liam, os dois vampiros novos juntamente de Cameron e Henry entraram no quarto e me tiraram de lá, já que minha presença atiçava as alucinações de Liam. Não protestei. Não consegui dormir as duas horas que me sobravam já que minha cabeça estava há mil com tantas informações.

Eu decidira como curar Liam antes que ele arrebentasse aquelas correntes enfeitiçadas
(que os Underworld arrumaram de um lugar que prefiro não imaginar) e se matasse pelas próximas 24 horas. No dia seguinte a toda aquela loucura, tomei o café da manhã na enorme mesa, junto aos Underworld e trinta vampiros. Vinte homens e dez mulheres que abalariam a auto-estima de qualquer um, vampiro ou não. Anne parecia bem a vontade em meio a tantos caras bonitos, ignorando os olhares de alerta que Nikolaos lançava a ela. Seria uma cena cômica de se ver, se aqueles gatos não estivessem ali para matar lobisomens. Matthew não descera para tomar café. Nathan permanecia inalterado em sua máscara de carisma. Ele, acompanhado dos dois vampiros cujo nome eu não sabia, me levaram para casa antes das oito da manhã, já que hoje tia Juliet teria alta do hospital.

–John e Phillip irão te proteger durante este tempo –Nathan disse, enquanto saia da trilha de pedras e entrava na estrada rumo a Richlands.

–Não preciso de proteção –disse, rápido demais. Ter aqueles dois na minha cola arruinaria totalmente meus planos de salvar a vida de Liam.

–Nada disso. Você é uma de nós agora e não poder ficar desprotegida. –Nathan balançou a cabeça, soando paternal. Não pude deixar de sorrir, ao me sentir inclusa naquele clã.

–Olha... Er... Eu acho que quem precisa de proteção são os Underworld, e não eu. Mal tenho seis meses de imortalidade e não represento nada para aqueles lobisomens. E, não me leve à mal mas... Não me sinto confortável sendo vigiada por gente que nem conheço. Sem ofensas –olhei para os dois vampiros no banco passageiro.

Nathan suspirou. –Nikolaos vai me matar se eu te deixar por ai indefesa...

–Indefesa? –mostrei os dentes para ele, pingando de veneno.

Ele sorriu e revirou os olhos. –Tá, que seja. Mas arranje um tempo para voltar à minha casa hoje. Não sabemos... –Nathan abaixou a cabeça –Quanto tempo Liam... –Ele não conseguiu completar a frase.

Olhei pela janela, tentando manter as esperanças. Eu sabia exatamente o que fazer. Mas... será que Aislin estava disposta a ajudar?

***********

Susanna estacionou o carro em frente ao hospital.

–Está pronta, querida? –ela sorriu para mim. Não consegui retribuir. Ela era tia de Stacy, mas não era esse o motivo. Susanna fora a mulher que eu vira no dia do enterro dos pais de Stacy a consolando, e ela possuía...uma tatuagem em seu pulso direito de uma lua crescente negra com detalhes em volta. Isso significava que ela era uma bruxa,e provavelmente conseguia ver todas as marcas espalhadas em meu rosto, pescoço, braços e até onde os limites de minha blusa xadrez e calça jeans deixavam. Também havia algo em suas feições que me eram estranhamente familiares.

Saímos do carro e coloquei minha jaqueta, feliz por não precisar de óculos escuros graças ao tempo nublado de novembro. Caminhamos em silêncio até chegarmos ao elevador, e então...

–Sei que você e minha sobrinha Stacy não se gostam muito... Mas agora que... Aquela tragédia aconteceu e a guarda dela e do meio-irmão são minhas, vou fazer o possível para ensinar minha garota a ser uma pessoa melhor. Sei o que ela fazia com você e sua colega. Peço desculpas. –sua mão direita posou em meu ombro. Seus dedos pareciam hesitar, como se ela quisesse tocar as tatuagens negras do meu pescoço.

–Está tudo bem. Acho que a perda em si já fez com que ela mudasse sua perspectiva do mundo. Não há com o que se desculpar –forcei um sorriso.

Saímos do elevador e fomos até o quatro de Tia Juliet. Ela estava de pé, vestida e, a não ser por um arranhão aqui e um hematoma ali, parecia curada. Corri para abraçá-la.

–Tia, me desculpe por não ter te visitado durante esses dias.Aconteceram... coisas –hesitei.

–Que tipo de coisas, querida? –tia Juliet pegou meu rosto entre as mãos, como que para me olhar melhor.

–Não importa agora. Susanna está aqui –indiquei para a loira na porta e saí de seus braços, na defensiva. As duas deram um rápido abraço e descemos até a recepção, eu segurando a mala de tia Juliet, que mantinha a mão sobre a minha. Ela assinou alguns papéis e então, finalmente saímos daquele mausoléu.

Insisti em ficar no banco de trás do carro junto de tia Juliet, mas percebi que Susanna me lançava olhares através do retrovisor a cada dois minutos.

–Estou tão feliz de sair desse lugar...Não vejo a hora de comer comida de verdade... O que eu não daria por um salmão defumado com uns rowies de entrada? –Tia Juliet fechou os olhos, suspirando. Rowies eram biscoitos que ela mesma fazia,típicos da Escócia, onde grande parte da família Drummond, de minha mãe e tia Juliet, moravam e descendiam.

Espere um momento.

Drummond. Escócia. Mary Ann Bruce Tremaine Drummond, princesa da Escócia, da casa de Bruce, filha de David II.

Ah, isso não poderia estar acontecendo.

As semelhanças entre mim e ela não são mera coincidência. Então eu realmente sou descendente de Mary Ann, noiva de Liam na idade média? Merda.

–O que acha de vocês duas jantarem na minha casa essa noite?Minha família também é escocesa e a melhor receita de rowies é minha, modéstia parte, mas isso você já sabia,não é, Juliet? –Susanna riu e tocou a marca em seu pulso enquanto estávamos paradas no semáforo.

–Ah, é claro! Como eu poderia de esquecer daquelas noites com você e o pessoal...? Que saudades, e o Roney, como está? – tia Juliet perguntou, casualmente.

–Estamos melhores do que nunca. Ele se mudou anteontem para casa, direto da Philladelphia. Sinto que dessa vez nada vai nos separar –Susanne suspirou, apaixonada.

Roney... Aquele nome não me era estranho. Então lampejos de minha infância vieram em minha mente.

Eles costumavam se encontrar todas as sextas, meus tios, primos, pais, eu –é claro- e alguns amigos. Morei durante um breve período em Richmond, eu deveria ter uns três anos de idade, antes que minha mãe decidisse ir para o outro canto do país. Richmond era uma cidade próxima de Richlands, então minha casa estava sempre cheia com amigos e parentes de outra cidade. Me lembrava de pouca coisa: a amiga gótica de mamãe sempre me trazia doces. Ela era casada com Roney –o único do qual eu me lembrava o nome, porque eu achava ser Honey, mel, doces, sacou? Ele era meu melhor amigo, apesar de ter uns 25 anos na época. Eu o chamava de tio Honey. Outras lembranças me vieram a mente: todos nós cantávamos em uma língua esquisita que eu não conhecia, então minha mãe acendia velas e todos rezamos, sempre após as refeições. Lembrando agora,não me parecia ser algo cristão... Haviam incensos em todo lugar, de modo que não só minha casa, mas a dos amigos e de tia Juliet, se pareciam com uma loja de produtos exotéricos. Exotéricos... Magia.

Então tudo ficou claro.

Meu deus, eu sou mesmo uma tapada.

Aquilo não era só um grupo de parentes e amigos. Era um coven. Um clã de bruxos. Todos eles usavam um colar com um T intricado e pendurado numa corrente prata. Eu adorava brincar com o que minha mãe ostentava em seu busto. Um T. Tremaine. Mary Ann Tremaine. Tremaine não eram um sobrenome. Era um clão. Não era só um clã de bruxos. Era um clã milenar. “-Acontece que seu pai...Bem, Daniel também era um bruxo. Existem poucos homens que são bruxos, porque Wiccas são matriarcais...Mas, voltando ao assunto, seu pai descende não só de uma de Eileen, mas também de Gwendal, o que é raro. Isso faz de você descendente das três, o que explica o porque das tatuagens, significa que você é única.” Gwendal, Eileen e Aislin. A Trindade. T. Tremaine.

–Tremaine –sussurrei, presa em meus devaneios.

Susanne freiou bruscamente e tia Juliet me olhou de olhos arregalados.

–Falou alguma coisa, querida? – sua voz tremia.

Eu estava prestes a negar, quando uma raiva tomou conta de mim. Eu precisava saber que diabos estava acontecendo. Por sorte, Susanne se recuperou e virou a esquina familiar de casa.

–Nós precisamos conversar. Nós três –mantive minha voz firme. Estava cansada de joguinhos.

************

–Depois do acidente de carro,você acabou tendo uns danos em relação á sua memória, se lembra, querida? –Tia Juliet perguntou.

Nós três estávamos na cozinha bagunçada(por culpa de minha recente luta com lobisomens... Tia Juliet exigiu que eu a contasse que diabos acontecera ali, mas eu dissera só explicar depois que ela e Susanne colocassem as cartas na mesa), eu e minha tia na mesa redonda de madeira, Susanne preparando chá.

–Sim, é claro que eu me lembro: eu saí praticamente ilesa do acidente, só com um problema de memória, a perna direita quebrada e leves hematomas. Já... papai e mamãe morreram na hora – respondi. Na época do acidente, eu vivia repetindo essa frase aos parentes que ligavam para mim.

–A sua perda de memória acabou apagando muitas coisas em relação às... Bruxas. Acontece que você saiu ilesa porque nós nos juntamos e rezamos para que os deuses e os espíritos de Aislin, Eileen e Gwendal guardassem você durante toda a noite...

Eu não me sinto segura em casa. Tenho certeza que eles estão atrás de minha Sarah. Mas não vou deixar que a peguem. Daniel e eu vamos fugir, mas sabemos que é uma questão de tempo até que outras Wiccas nos achem. Eles ficam me dizendo que querem Sarah porque ela pode libertar Aislin, mas ela é só uma criança! Talvez essa seja a última vez que eu te escreva, porque não posso correr o risco de ser encontrada. Perdão, irmã, mas não consigo mais viver essa vida cheia de monstros. Não quero que Sarah acabe como Emily. Vou protegê-la até o fim ,para que eles não a encontrem. Se eu e Daniel morrermos, fique com ela, e por favor Juliet, eu te suplico. Nunca conte nada á ela sobre bruxas.Ela merece ser humana enquanto ainda pode, porque quando os poderes aparecerem, saiba que Sarah nunca mais vai conseguir viver normalmente. Desculpe escrever essa carta cheia de avisos, mas eu realmente quero protegê-la, e nessa cidade nós não somos mais bem-vindos.” Eu li essa carta há alguns dias, a achei no porão. Agora tudo faz sentido –murmurei. Eu decorara cada detalhe da carta, de modo que a recitei com exatidão.

–Sim, na verdade, isso facilita muito. Pensei que seria complicado explicar para você. Como eu te disse aquele dia no hospital, você tem o sangue das bruxas da Trindade misturados, o que é algo inédito. Você se lembra daqueles amigos de seus pais que frenquentavam sua casa...? Bem, eram todos do Coven Tremaine, como eu e você. Os descendentes de Aislin.

–Exceto por mim e Roney, os intrusos – Susanne riu e serviu chá para nós três, então se sentou ao meu lado da mesa. –Eu sou descendente de Gwendal, a feiticeira donzela. Roney é um mortal comum, louco por aventuras, mas tentava praticar alguma coisa...

–Ei, eu me lembro! O truque das folhas! – abri um enorme sorriso. A memória era nebulosa e pensar nela requeria esforço, mas estava lá: tio Honey fazendo um punhado de folhas laranjas flutuar sob minha cabeça. –Agora percebo porque não me lembro de você. Seu cabelo era pintado de preto... E todos aqueles piercings...

–Minha fase de rebeldia se estendeu até a fase adulta –Susanne deu de ombros e colocou uma mecha do cabelo loiro atrás da orelha, que tinha três furos, talvez uma lembrança de quem era fora.

–Os outros... Estão na cidade? –perguntei com expectativa para tia Juliet.

–Fora eu, Susanne e recentemente Roney, há... –tia Juliet trocou um olhar com Susanne.

–Quem? –perguntei, impaciente.

–Elise e Taylor...Williams. Também descendem de Aislin. –Tia Juliet respondeu, com relutância. Elise Williams era a mãe de Jessica, Taylor era prima de segundo grau.

–Argh, por que logo Jessica e Stacey? Elas me odeiam!

–Eu torci para que minha sobrinha não herdasse os genes wicca... mas eles começaram a se manifestar desde a morte da mãe e do padastro –Susanne abaixou o olhar a tomou um gole de chá. –E a julgar pelo comportamento da amiga dela, Jessica também é uma escolhida.

Suspirei.

–Elas sabem disso tudo?Por que Christopher não é um bruxo também? –perguntei, suavizando minha voz e colocando a mão no ombro de Susanne.

–Acontece que os genes são mais comuns em nós, mulheres. Bem, eu me encontrei com a mãe de Jessica, e estamos relutando em contar a verdade. Mas se não contarmos, as duas podem causar um estrago, por isso...-Susanne relutou.

–...Por isso resolvemos reunir você, Jessica e Stacey e contar tudo para as três...-tia Juliet continuou.

–...Só que você acabou descobrindo metade da verdade sozinha. –Susanne terminou.

Assenti, me sentindo solidária em relação as duas. Eu sabia o que deveria fazer. Deveria me mostrar fraternal. Elas eram minhas irmãs agora. Comemos em silêncio por alguns segundos.

–Então era por isso que meus pais viviam se mudando desde que fiz quatro anos? Queriam me proteger de bruxas que queriam me entregar a Aislin? O que elas queriam fazer,afinal?

–Bom... Há algumas bruxas que desejam libertar Aislin da dimensão na qual ela está, para que a própria possa se livras de todos os vampiros e lobisomens que existem. Eles se tornaram uma peste nas últimas décadas, e odeiam a nós bruxas, de modo que isso representa um perigo as nossas vidas. Essas bruxas queriam lhe ensinar tudo sobre nosso mundo desde que você era pequena, para que assim seus dons se manifestassem mais cedo. Elas estavam... Na verdade ainda estão, loucas para libertá-la. Sua mãe era contra isso. Ela tinha sim, uma lealdade a nosso Coven,mas queria que você soubesse das coisas aos poucos, para que escolhesse sozinha o que iria fazer em relação a Aislin quando chegasse á fase adulta. Então as wiccas planejaram sequestrar você para lhe treinar. Seriam bem sucedidas se não fosse por nós. Nós a protegemos com um feitiço a longa distancia que foi incrivelmente eficaz,pois a maioria do Coven Tremaine,o Coven de Aislin, se reuniu para o feitiço. Eles apoiavam sua mãe em relação de de contar aos poucos... Mas tivemos um final infeliz. Com a morte de Rebecca e Daniel nos sentimos terrivelmente culpados. Deveriamos ter protegido os três, mas não seria tão eficaz... Depois do acidente nós paramos a praticar bruxaria e nos espalhamos pelo país, exceto por mim, Roney, Juliet, Elise e Taylor. Continuamos a viver aqui, porém apagamos todas as provas do que fomos um dia. Roney e eu nos separamos e ele se mudou. Elise se converteu ao cristianismo. Taylor se envolveu com filantropia, começou a usar aquelas roupas caretas... Cada um lidou com a perda de um jeito diferente. Eu deixei minha fase gótica para trás, sua tia se livrou de todas as coisas relacionadas ao culto Wicca nesta casa e a preparou para a sua chegada. –Susanne disse.

–Nossa –foi só o que consegui dizer. –E o que acontece agora?

–Bem... vamos contar á Jessica e Stacey, orientá-las e... Nos prepararmos para uma guerra.

–Uma... O QUE? –minha voz subiu três oitavas.

–Querida,não se assuste,mas... Há lobisomens na cidade, e vampiros também. Todos atrás a Escolhida de Aislin. Os lobisomens querem usar seu poder para quebrar a maldição da Lua,para que eles possam se transformar sempre que quiserem, e Morrighan, a licantropo que deu origem aos lobisomens, tenha liberdade, pois ela é uma escrava da besta que toma conta de seu corpo todas as noites. Porém, isso faria com que os vampiros herdassem a parte deles da maldição, e eles seriam afetados pela lua como são afetados pelo sol –tia Juliet explicou. Me lembrei de como o sol me machucava. Engoli em seco.

–Ela deve estar confusa em relação a vampiros e lobisomens, não está?- Susanne perguntou. Controlei uma risada.

–Não... É facil de entender. Os vampiros e lobisomens tomaram conta da cultura pop, lembra-se? Então eu sei de tudo –ri.

–Mas vampiros de verdade não brilham. Nem queimam. A não ser pelo vampiro que originou a raça, ele sim,queima. Bem...Os vampiros querem se livrar da maldição do Sol, o que é basicamente igual a dos lobisomens. Vampiros livres 24 horas, lobisomens sofrendo. E há as bruxas que querem seu poder para libertar Aislin. Elas ainda não deram as caras, mas sei que estão por perto. Eu sinto –A voz de Susanne me deu calafrios.

–E então, o que eu devo fazer?-perguntei, atortoada.

–Nós iremos protegê-la. Deixamos isso ir longe demais, está na hora de voltar á ativa. Nós bem que queríamos que você libertasse Aislin,mas isso é algo que só você pode decidir, e não iremos força-la, da última vez isso gerou uma tragédia. O principal é proteger você dos vampiros e lobisomens, pois alterar as Maldições de ambos mexeria com todo o equilíbrio da natureza. –tia Juliet apertou minha mão. Ah, se elas fizessem ideia... Não, não devo contá-las sobre nada que sei dos Underworld e dos Hale. Não quero que os Underworld se machuquem por minha causa. Os Hale eu até quero,mas... Se minha intuição estiver certa, David possui os genes de licantropos. E David é uma das pessoas mais importantes da minha vida.

–Tudo bem, por onde começamos? –Tentei soar animada.

Nós três tomamos o último gole de chá em sincronia, e então tudo mudou, outra vez.

***********

Ver Susanne curando minha tia provavelmente foi uma das coisas mais legais das quais eu presenciara. As duas sentaram de mãos dadas uma em frente da outra em um circulo de velas, recitaram palavras em outra língua e então uma fumaça prateada tomou conta da sala. Tia Juliet respirou em alívio, com os olhos fechados como os de Susanne. E então ela estava novinha em folha. Susanne e eu pegamos as tralhas que estavam no porão enquanto tia Juliet preparavam um chá mágico ou sei lá o que que aceleraria sua cura.

Passamos o dia arrumando a casa. Susanne deu um pulo em sua casa e voltou ostentando um bracelete com um R intricado. Coven Redmond, da bruxa donzela.

Já passava das cinco quando terminamos tudo. Eu olhava o relógio a cada cinco minutos, preocupada com Liam e armando um plano para salvá-lo.

As decorações que eu me lembrava vagamente de quando era criança preencheram a casa da tia Juliet, a minha casa. Havia um altar com velas em um canto da sala, com uma joia enorme de uma lua crescente grudada a cheia e minguante. A Trindade. Tia Juliet colocou o colar do Coven Tremaine que pertencia a minha mãe em meu pescoço e colocou um anel em meu dedo indicador. Era prata, com um C cercado de desenhos intricados intricados de safiras. Meu pai pertencera ao Coven Constantine, dissera tia Juliet. Engoli em seco e me olhei no espelho que ficava em cima do aparador. Eu me parecia mesmo uma bruxa, com todas aquelas tatuagens. Então reparei que os contornos de meu pescoço, canto do rosto e braços eram uma mistura delicada dos desenhos do colar Tremaine e anel Constantine. Lágrimas ameaçaram rolar. Eu queria que eles estivessem ali.

Os Covens Redmond, Tremaine e Constantine eram os milenares, explicara minha tia. Dos descendentes de Gwendal, Aislin e Eileen, respectivamente. Eu me sentia vivendo em um livro de contos. De contos de terror.

Nós três estávamos sentadas no tapete, com os livros velhos de feitiços e anotações de outras bruxas espalhados a nossa volta. Tia Juliet e Susanne me ensinaram como fazer um feitiço. Era preciso decorar determinado poema, todos em gaélico. Elas riram de mim enquanto eu tentava pronunciar. Parecia estranho estar ali aprendendo bruxaria, mas eu era a primeira vez desde a morte de meus pais há anos atrás que eu me sentia verdadeiramente em casa. Então eu achei. O feitiço da estaca amaldiçoada. Tentei me manter discreta enquanto lia rapidamente o que estava escrito. Felizmente só o encantamento estava em gaélico. As instruções, em inglês.Ali dizia que eu precisava encantar uma tal pedra durante a lua cheia, e felizmente estávamos no período da lua. A tal pedra era a pedra do sol, ou Goldstone, que surtia efeitos sob as alucinações fortes do vampiro, por promover serenidade e auxiliar distúrbios psíquicos, estimular o poder de cura do organismo e elevar o metabolismo. Havia uma breve discrição sobre libertar a alma obscura e blá blá blá. Tentei levar aquilo a sério, mas pra mim parecia papo de cartomante. Concentre-se Sarah. Virei a página. O amuleto também deveria ter uma ametista, que protege e limpa o vampiro da bruxaria. Por sorte, eu sabia que tia Juliet possuía um baú cheio de pedras coloridas no quarto e provavelmente ela possuía todas as pedras que os feitiços daqueles livros pediam. Eu deveria, após encantar as pedras e fazer o amuleto, levar o vampiro para um lugar de poder, colocar o amuleto no vampiro, meditar com ele e fazer mais um encantamento. Parecia moleza. Mas como diabos eu iria tirá-lo de perto daquela superproteção? E que lugar de poder seria esse?

Procurei no livro. Algum feitiço de invisibilidade, ou coisa assim. Invisivel, eu entraria no quarto, libertaria Liam das correntes e o levaria...Já sei! Sorri, me lembrando de uma das tardes em que Liam me ensinara sobre vampirismo e outras coisas.

–Pra onde está me levando? –perguntei, confusa. Estávamos andando na floresta há uma hora, e pra mim Liam parecia perdido.

–Você já vai ver –ele me lançou um sorriso, fazendo suspense. Aos poucos, consegui enxergar ruínas de pedra em meio a floresta.

Havia uma casa de dois andares tomada por mato e trepadeiras,não possuía teto e não haviam paredes, só blocos de pedra que mal atingiam um metro aqui e ali. Uma arvore ao lado dos restos da casa invadia o andar de cima, fazendo aquilo parecer uma casa na arvore gigante. Só restara o piso quadriculado e uma escada que levava ao segundo andar. Subimos com cuidado a escada de pedra. Lá em cima, sobrara um pedaço de um cômodo, com uma bussola desenhada em mármore no piso empoeirado.

–Como você descobriu esse lugar? – perguntei, maravilhada.

–Bruxas moraram aqui há muitos anos, buscando um refúgio longe de Salém,na época das caça ás bruxas. É um lugar bem poderoso. Gosto de vir aqui, me sinto em paz. –ele se sentou no chão, encostou num galho de árvore e gesticulou para que eu me sentasse ao lado dele.

Aquilo era perfeito. Então eu já tinha planos para a madrugada. Se conseguisse passar por quase quarenta vampiros, contando com os Underworld, eu conseguiria.

A campainha tocou e levei um susto, saindo de meus devaneios. Seria Dave? Tropecei enquanto corria em velocidade humana para atender. Dave estava na porta segurando um buque de margaridas e um vaso de frésias.

–Dave! – me joguei em seus braços e inalei profundamente seu cheiro. Tinha a sensação de que não o via há meses. Faziam só uns dias, mas ele parecia ter crescido alguns centímetros, de modo que eu me moldava perfeitamente em seu pescoço.

–Soube que sua tia recebeu alta hoje e resolvi visitar. Ei, por que você anda faltando na escola? –ele ergueu uma sobrancelha.

Desconversei, lhe dando um beijo longo. Deus, como eu sentira falta dele. David me fazia sentir humana e normal. Humana, normal e amada. Seus braços não me envolveram pois ele tinha flores nas duas mãos, mas isso não me impediu de me agarrar a ele de um jeito desrespeitoso. Tia Juliet pigarreou atrás de mim. Nós dois nos desvencilamos, envergonhados.

–Oi, David. –ela cruzou os braços e sorriu. Seus cabelos ruivos eram uma bagunça harmônica de cachos. O colar pendia sob sua blusa de renda creme. Ela usava uma saia que batia no chão. Atrás dela, na sala, haviam incensos e decorações exóticas. Ela parecia mesmo uma bruxa. Uma bruxa tremendamente encantadora.

–Uau, mudaram a decoração? Ficou demais! Sério mesmo – David riu, limpou os pés no tapete e entrou. –Trouxe frésias para você Sra. Colleman. E margaridas para Sarah.

–Ah, querido, são lindas! Vou colocá-las na mesa. Você fica para jantar, certo? –ela perguntou. David assentiu.

Susanna tirou os livros do tapete, olhando nervosamente para David, que observava com curiosidade a decoração (amuletos, o altar, os incensos...). Guiei ele para o quintal dos fundos, onde havia meu velho balanço de pneu amarrado em uma arvore. Ficamos rindo, nos revezando enquanto um balançava e o outro empurrava, David me contando as novidades, quando ele tocou no assunto que me deixou nervosa.

–Então... Como sua tia reagiu? – ele me empurrou levemente no balanço.

–Reagiu ao que? –ergui uma sobrancelha, não que ele pudesse ver.

–A essas tatuagens que você fez no corpo todo da noite pro dia.

Levantei subitamente, assustada, e o encarei.

– Que loucura é essa Sarah? Eu não tenho nada contra tatuagens, acho tatuagens legais, mas será que você não vai se arrepender? Quero dizer, você fez até no rosto! –ele riu e, com um braço me envolvendo, desenhou com os dedos os contornos que subiam do meu maxilar até a têmpora.

Droga.

Só seres sobrenaturais podiam enxergá-las.

Então isso queria dizer que o lobo adormecido dentro de David estava prestes a acordar. Engoli em seco, olhando nervosa para o pôr do sol. Eu precisava esconde-lo a tempo. Será que isso iria adiantar?

Só havia uma pessoa com quem eu poderia contar.

Não respondi David. Apenas disquei o numero do celular de Matthew, com os dedos tremendo.


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Notas finais do capítulo

O próximo capítulo promete hein :)



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