Cada dia que passava, mais Laya se sentia infeliz. Depois que Simon se fora também, ela sentia constantemente um buraco no coração- o que, quando ele estava com ela, era só na hora em que dormia.

Preparava sua comida, dia e noite, alimentava os animais e cuidava da fazenda sozinha. Todo dia lia e relia e lia de novo aquela carta de despedida de Simon, e o que aquele cristal havia de tão importante e misterioso, capaz de fazer Simon se afastar assim tão de repente dela?

Estava com os pensamentos a mil, quando deixou cair um pouco de sopa quente no braço. Teve que morder os lábios para não gritar de dor.

O sol ia se pondo quando um barulho de palmas ecoou pela fazenda, enquanto Laya estava infeliz alimentando os animais e deixando os cavalos correrem soltos pelo campo.

Com esperanças de que fosse Simon, correu para o portão, mas só encontrou uma garota de mais ou menos doze anos. Tinha os cabelos louros com mechas pretas, azuis e roxas misturadas e estava com uma roupa da cidade. Tinha em mãos, uma mala e olhava fixamente Laya, com os olhos suplicantes mesmo ao longe.

Laya sentiu pena da tal garota. Correu em sua direção, até o portão.

-Quem é você?- sabia que não era tão educada, mas era um método muito mais fácil que Tio Simon lhe ensinara.

-Eu sou Lápis. Em homenagem à pedra Lápis-Lazuli, sabe? - disse a garota com uma voz tímida e bondosa.

-Laya, prazer. Quantos anos você tem e... Desculpe perguntar também, mas o que veio fazer por aqui?

Lápis deu de ombros.

-Eu tenho treze anos. Quero dizer, fiz treze anteontem. Eu...- ela corou ligeiramente e virou o rosto na direção oposta- Queria pedir abrigo. Eu... Meus pais... Campos de...

-Concentração- concluiu Laya- Tenho certeza que sim, afinal, os meus também foram...- Laya sentiu forte aperto no coração quando lembrou-se dos pais- Entre...

Laya recuou, abrindo o portão, dando espaço para que Lápis entrasse. A garota entrou sem mais nem menos, agradecendo com um sorriso fraco quando cruzou o portão. 

-Certo. Eu... Vou te levar ao quarto e...

-Ah não se preocupe. Depois eu me ajeito.- ela sorriu- Posso ajudar?

Laya olhou desconfortável para o lado, sem saber o que responder. Nunca tivera nenhuma amiga de mais ou menos sua idade antes. Antes de tudo, nem mesmo uma amiga ou amigo. Ela sempre quis conversar com alguém de igual para igual, sem se lembrar de que tinha apenas nove anos. E tinha conseguido isso com Simon quando ele...

-Se você não se importar, claro que pode. Eu te mostro os trabalhos como tem de ser feitos e você pode me ajudar.

-Certo. Por onde começo?

Lápis ergueu as mangas e ddeixou as malas na varanda da casa de fazenda. Pegou Laya pelo braço levemente e sorriu de modo aconchegante; as duas seguiram para o campo onde um cavalo cansado as aguardava.

Alguns animais recuaram à presença da nova garota, tão diferente das pessoas a quem estavam acostumados!

-Não se preocupem, nova amiga. Ela cuidará de vocês, juntamente comigo todos os dias.- Laya sorriu para todos os animais e eles pareceram entender, e logo se aproximaram da tão estranha garota.

Lápis foi até os cavalos e abraçou um deles. Continuou cuidando dos outros como se...

-Você já tem prática com animais?- Laya perguntou olhando para Lápis, que dava comida para os cavalos.

-Sim. Eu cuidava diariamente dos animais da minha casa quando...- Laya entendeu perfeitamente e não ousou dizer à ela que terminasse a frase.

-Então, e sobre a colheita?

-Não muita. Eu cuidava mais dos animais, sabe?

-Ah sim. Eu te ensino e com o tempo você aprende!

-Claro. Obrigada.- Lápis não se virou, mas Laya sabia que a nova amiga estava sorrindo.

Finalmente, uma amiga.