I Remember You escrita por Carol Honda Cardoso


Capítulo 3
Capítulo 3




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- Quatro Anos Depois -

O fim da Segunda Guerra Mundial não parecia nem próximo para Laya.

Ela havia aprendido a ler e escrever com o Tio Simon. Ele era um ótimo professor para ela. Aprendera com tanta facilidade, que agora com nove anos...

-Você tem uma mente de gênio, criança!- Tio Simon exclamava todo dia para ela, quando Laya respondia corretamente uma questão.

-Tio Simon, e o que significa exatamente essa... Segunda Guerra Mundial?- Laya perguntou a ele, e o rosto de Simon estava sombrio naquele momento.

Laya sabia que era um assunto delicado para ambos. Há quatro anos havia perdido os pais nessa tal guerra. Há quatro anos a vida dela quase fora destruída, se não fosse por Tio Simon. Ela estava tocando em seu próprio ponto fraco e se chorasse não teria nenhum problema: Tio Simon sabia o quanto ainda doía para ela pensar nos pais.

-A Segunda Guerra Mundial... Ela ainda acontece, Laya. Você sabe disso. Eu não queria falar nisso agora, já que os seus pais... Veja, agora que você tocou no assunto, talvez queira realmente falar nisso. Preparada?- ela assentiu- Ótimo. Se me lembro bem, minha memória já está falha... Há quatro anos, essa Grande Guerra envolve muitas nações, países, de grande potência.

Ele olhou para Laya, como se soubesse que iria tocar em seu ponto mais fraco.

-Seus pais foram levados aos Campos de Concentração. Esses campos são utilizados mutuamente durantes as guerras. Lá, as pessoas são detidas por infligirem algum país. Seus pais deviam ter feito alguma coisa ruim a eles... Mas se bem que hoje todos estão indo para lá...

Laya olhou para baixo. Estava prestes a chorar. Ela acreditava que Tio Simon não a culparia por isso, já que ele sabia o quanto era doloroso para ela retomar aquele dia quando... Quando seus pais haviam sido levados aos Campos e muito provavelmente mortos.

-Chore, criança. É um assunto delicado até mesmo para mim. Há quatro anos conheci uma história que realmente me emocionou.- ele sorriu para a garota- A sua história, Laya. 

-Mas Tio Simon...- as lágrimas transbordavam dos olhos dela- O que meus pais fizeram? Qual o motivo de tirarem meus pais de mim?!

Tio Simon foi até ela. Acariciou os cabelos macios e negros dela e beijou levemente sua face.

-Acho que está na hora de encerrarmos por hoje. Talvez o Spock queira alguma coisa, não?-  Tio Simon sorriu para ela e se virou, deixando-a sozinha.

Laya pensou em Spock, seu pequeno cavalo que ficava no centro da fazenda. Ela pensou nos momentos que viveu com os pais há alguns anos antes de tudo começar. Antes daquela Guerra começar.

Mas também, naquele dia, uma coisa maravilhosa havia acontecido: ela havia conhecido o Tio Simon. Mas o preço por essa coisa maravilhosa era alto. Alto até demais. 

Laya lembrou-se do dia anterior ao da Guerra. Quando ela, o pai e a mãe foram juntos até o parque. Brincaram como se fosse a última vez... 

Uma. Duas. Três lágrimas desciam pelo rosto da garota repetidamente, uma seguida da outra. Ela não se culpava e ninguém poderia culpá-la. Ela nem ao menos tinha amigos.

Levantou-se da cadeira decidida a esquecer aquilo. Foi até o banheiro e se olhou no espelho: os olhos vermelhos e olheiras um pouco profundas. Mas ela não ligava. Não havia com o que se preocupar.

Trocou de roupa, por uma antiga e foi até a cozinha. Foi quando um cheiro familiar lhe ocorreu: a macarronada que sua mãe fazia.

Ela queria chorar de novo, mas se controlou. Apesar de tudo, tinha que ser forte. Ela não gostava nem um pouco de cozinhas, tanto que até mesmo Tio Simon compreendia seu trauma. 

A mãe havia sustentado o peso da porta da cozinha quando ainda estava viva. Ela simplesmente ODIAVA portas principais agora.

Engoliu em seco e seguiu em frente como se nada estivesse acontecendo. Avistou Tio Simon de cabeça baixa segurando alguma coisa na palma da mão- algo que brilhava ao sol. 

Ela correu até ele. No mesmo instante que a viu, ele guardou a coisa. 

-O que era aquilo, Tio Si?- ela perguntou andando de mãos dadas com ele até os estábulos.

-Não era nada, querida. Nada. E... Tio Si? Há quanto tempo você não me chama assim, criança?- ele sorriu.

-Não sei... Talvez um ano ou mais!- ela olhou para ele, em busca de explicações. Mas ele limitou-se a sorrir olhando para o céu.

-Veja, as nuvens estão tão belas... Que formam figuras. Lembra-se?

-Lembro... Mas Tio Simon...!

-Tudo a seu tempo, criança. Vamos, vamos. Spock precisa de você!

Os dois caminharam rapidamente até os estábulos, onde o pequeno cavalo de Laya corria em círculos. 

-SPOCK!- a menina soltou um grito de felicidade ao vê-lo.

Ela o levou para fora e o deixou correr livremente nos campos da fazenda. Tio Simon estava de costas para ela, mantendo sempre a cabeça baixa e parecia triste, pensativo e aéreo para ela.

Laya colocou um Spock cansado de volta e soltou mais um cavalo. Enquanto este corria solto pelos campos, ela ia em direção ao homem que estava parado e aéreo desde a aula sobre a Segunda Guerra Mundial. 

-Ás vezes eu não me lembro... De nada...- ele murmurava tão baixo que Laya tinha que fazer um tremendo esforço para escutar.

-Tio Simon?- ele voltou-se contra ela, num susto.

-AH! Que susto, criança! Jamais faça isso novamente!- ele se recompôs- Então, quantos cavalos já foram soltos?

-Dois. Faltam... Nove. O que é isso, Tio?!- ela olhou para o que o homem escondia.

-Nada,- ele guardou no bolso- Vamos soltar os outros e então iremos alimentar os porcos. Voltaremos para casa e deixo você assistir um pouco de televisão. Pode ser?

-Claro.- respondeu sem muita animação.

Não que não gostasse se soltar os cavalos. Nem de alimentar os porcos. Ou de assistir televisão. Ao contrário, amava muito tudo aquilo. Gostava de brincar com os outros cavalos, gostava de alimentar os porcos como devem e tratá-los até mesmo como gente. E claro, um descanso no fim da tarde para tudo aquilo: assistindo TV. 

Passou tudo tão rápido. Quando viram, já haviam terminado tudo e estavam prontos para fazer a janta e etc. Por algum motivo, Tio Simon ensinou Laya a mexer com o fogão à lenha com muito cuidado, sendo capaz de se cuidar sozinha. Para ele, era um jeito de Laya jamais necessitar dele quando o mesmo precisasse ir a algum lugar e não voltar no mesmo dia.

Ela se sentou no sofá enquanto ele fazia a janta. Um cheiro incrível de macarronada estava sendo inalado por Laya. Ela assistiu a mais ou menos meia hora um desenho que gostava muito e depois, deitou. Apenas conseguiu dormir um pouco.


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