Elo Perdido escrita por Gabrielabgs


Capítulo 2
Cap 2


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem e boa leitura!



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Meu quarto era uma mistura de biblioteca com uma sede do quartel general do exército. Estantes com dezenas de livros cobriam as paredes opostas a minha cama. A cortina e o tapete eram um tecido camuflado do tom cinza. Meu tio comprou porque eram do mesmo tom dos meus olhos.

Meu quarto era escuro, gostava de ambientes assim, noturnos. Joguei minha bolsa sobre a minha cama e desabei sobre ela. Por algumas horas fiquei pensando no que acontecera na sorveteria. Como ela sabia meu nome? E por que eu pude ver o meu passado? Pior do que que as perguntas, só mesmo as respostas.

- Vic? – meu tio deu soquinhos na porta

- Entra tio – disse sentando na cama

Ele entrou dando uma boa olhada em volta, como se tivesse conferindo se meu quarto não tinha armadilhas ou ácido jorrando do teto.

- Você poderia ensinar filosofia para Henrique? – ele perguntou dando passos pequenos

- Claro, vou pegar alguns livros aqui e já vou lá.

- E hãn... desculpe se fui rude com você no almoço

Pude ver o arrependimento em seus olhos castanhos. Ele era novo, não parecia ser tão velho apesar da barba mal feita e do cabelo bagunçado. Devia ter uns 36 anos, nem isso. Ele dolorosamente lembrava meu pai: Olhos grandes, cabelo repicado, rosto fino e grande altura. Ele não parecia o tipo de homem que tem medo de coisas pequenas, mas perto de mim ele parecia tão frágil, como se temesse algo. Só não sabia se eu provocava medo nele ou se ficar perto de mim o dava medo, como se algo de mal fosse acontecer com ele.

- Está tudo bem, esquece aquilo – consegui dizer

Ele bufou e se sentou na cama. Fiquei surpresa. Ele nunca entrava no meu quarto e quando entrava ficava só na porta.

- É difícil para mim Tori, queria te contar tantas coisas, e para Henrique também! – ele começou a se entusiasmar mas voltou a feição dura ao ver um retrato de meu pai em cima da escrivaninha – Tem tantas coisas em jogo, coisas perigosas – ele olhou para mim – e grandiosas é claro. A escolha só depende de você.

- Do que você está falando tio?

- É cedo para falar disso minha querida. – ele se levantou e saia quando voltou a olhar as paredes – Venha, Henrique está te esperando.

O restante da tarde diria que foi agradável. Henrique, assim como eu, sofre de TDAH. É como se tentasse ensinar um pássaro com asas quebradas a voar. Foi difícil, mas a maior parte do tempo foi divertido. Henrique era bem humorado e bipolar, o que torna  qualquer situação engraçada.

Ele tinha teste de filosofia na próxima semana e não sabia nada. Embora seja difícil, ele adorava aprender coisas novas. Era uma de muitas coisas que eu admirava nele. Mas o que mais me admirava nele era o tamanho da sua coragem.

Certa vez, quando fomos visitar New Jersey, ele salvou a minha vida me tirando do caminho de um carro que vinha em alta velocidade em minha direção. Ele poderia ter sido atingido se não fosse tão rápido. Mas ele salvou minha vida, e sou eternamente grata a ele por isso. Temos uma ligação que poucos entendem, é como se fossemos irmãos.

Fui tomar banho depois de ajudar Henrique. Ele me pediu que eu o acompanhasse em uma festa de 16 anos de uma garota da mesma sala dele. Não recusei. Nossa família era meio... Anti-social, então sempre ficávamos sozinhos em lugar com muitas pessoas. Seria triste se ele ficasse sozinho em uma festa.

Nunca fui vaidosa para uma garota. Preferia tênis à salto alto, calças largas à saias justas. Mas me esforcei para ficar “apresentável”. Essas festas de aniversários ou você tem que ir bem vestida ou fica sentada do lado de fora.

Coloquei um vestido azul marinho frente única e um salto preto com tachas. Prendi meu cabelo em um rabo de cavalo alto bagunçando os fios loiros escuro. Passei uma sombra cinza e um gloss nos lábios.

Alguém bateu na porta.

- Já está pronta? – Henrique colocou a cabeça para dentro do quarto – Papai quer...

Ele pareceu surpreso, não o culpo, porque afinal nunca me arrumei assim – nunca fui a uma festa.

- Estou – corei – eu acho.

- Você está muito gata Tori! – Henrique pulava de um lado para outro como uma criança – Vou ganhar uma moralzona com o Pedro

- Quem é Pedro? – perguntei

- É o cara mais popular do colégio! E adivinha? Ele vai estar lá!

- E por que você  quer ganhar moral com ele?

- Porque ele... – ele fez uma pausa – bem, implica comigo.

- Fica tranqüilo que hoje ele não vai te incomodar.

Tio Afonso nos espera na sala com a máquina fotográfica na mão. Ele mandou ficarmos na frente da cortina para que conseguisse tirar uma foto.

Henrique parecia um play boy. Usava jaqueta preta e por baixo uma camiseta branca colada. Seu jeans estava tão justo que ele mal conseguia se abaixar. E seu cabelo estava penteado, cachinhos dourados iam até a sua orelha.

Tio Afonso tirou mais de 20 fotos pelo o que eu contei. Parecia que estávamos indo para o baile de primavera da escola.

Finalmente ele reparou no relógio e deu um pulo.

- Vamos vamos, vocês vão perder o começo da festa – ele  pegou a chave do carro e nos empurrou para fora do apartamento

A frente da festa estava toda enfeitada com ipê rosa, amava ipês rosa. Tio Afonso parou o carro na esquina da frente.

- Espero que se divirtam – ele disse enquanto destravava as portas – Nada de beber ou fumar em.

Henrique desceu e abriu a porta de trás para eu descer. Antes que eu pudesse descer colocar o pé para fora, tio Afonso segurou meu braço.

- Por favor, não arrume confusão.

- Tá. Eu sei – disse saindo do carro

Aquilo por um momento me deixou furiosa. Porém não era culpa dele. Desde criança arranjava confusão e fui expulsa de vários colégios por isso. Mas aquilo era diferente. Não queria estragar a diversão do meu primo.

Henrique me deu o braço e eu segurei nele. Juntos entramos na festa.


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Notas finais do capítulo

Vestido: http://d3mna48k5fyuxs.cloudfront.net/upimg/jjshouse/m/2d/bc/081709581e45cbb7fd85cae5332f2dbc.jpg
Espero que tenham gostado, comentem...



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