Elo Perdido escrita por Gabrielabgs


Capítulo 1
Cap. 1


Notas iniciais do capítulo

Comecei a escreve-la agora, então conforme eu for escrevendo eu vou postando. Espero que gostem



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Era uma quarta-feira quente. Acabara de sair do colégio. Passei na sorveteria que ficava na esquina do colégio em que eu estudava.

A sorveteria era revestida de vidros blindados – para evitar roubos. Lá dentro parecia um jardim de infância. Cadeiras e mesas coloridas recheavam o salão. Atrás da bancada, moças com tocas amarelas e uniformes rosa Pink, fingiam que estavam vivas. Acho que até minha professora de matemática via mais graça na vida do que elas.

Um menino, que por julgar seu tamanho devia ter por volta dos 7 anos de idade, passou correndo e chorando por mim, coberto de calda de chocolate. Por pouco não tropecei nele.

- Por favor, quero um milk shake de morango. – encostei no balcão enquanto tirava o dinheiro da mochila

- Mais alguma coisa, Vitória Cavallero? – a garota do caixa perguntou enquanto me encarava

Por alguns segundos eu a encarei de volta, me perguntando como ela sabia meu nome inteiro. Desviei o olhar. Parecia que a qualquer momento ela ia pular de trás do balcão e me devorar.

- Não, só isso mesmo. Quanto fica? – perguntei

- Quatro e cinquenta.

Estendi o braço para lhe entregar o dinheiro. Antes que eu pudesse recuar, a garota agarrou o meu braço. Queria gritar ou acertar um murro na sua cara, mas meu corpo não respondia ao meu cérebro.

A garota olhava fixamente para mim, seus olhos pareciam enormes burcas cinza. De repente tudo ficara preto. Estava presa em um dos meus milhares de pesadelos:

Estava sentada em uma minúscula poltrona. A  sala era enorme, as paredes eram da cor púrpura, o chão era coberto por um carpete marrom desbotado. Quadros de família cobriam as manchas de reboco das paredes. Um tinha a foto de uma mulher de cabelos negros preso atrás das orelhas.

Meus pés não alcançavam o chão. Tinha uns 6, 7 anos. A porta de madeira abriu rangente a minha frente e três mulheres vestidas de preto entraram por ela. Elas se postaram na minha frente, discutiam sobre meu destino, como se eu não estivesse ali.

- Não podemos deixá-la aqui – a da direita cochichou

- Você irá cuidar dela? – a do meio olhou com ar de desprezo para mim – Eu não me arriscaria

- O que faremos com ela então? – perguntou a terceira mulher

- E Afonso? – a do meio coçou a cabeça – Podemos mandá-la para ele. Ele saberá o que fazer com ela.

A visão tremeu. Acordei sentada na calçada em frente a sorveteria.  Meu milk shake estava pela metade. Pude sentir moedas geladas na minha outra mão. Levantei e forcei  a porta da sorveteria. Trancada, “FECHADO” – consegui ler apesar da visão turva.

Meu celular tocou. Era o meu tio Afonso. Ele devia estar ligando para perguntar onde eu estava ou para pedir para comprar mais ovos – o que era mais provável.

Antes de ir para o apartamento de meu tio, passei no mercado. O apartamento ficava em um bairro nobre. Pergunto-me até hoje como meu tio conseguiu dinheiro para comprá-lo.

Subi direto para o décimo terceiro. O apartamento do meu tio era um dos primeiros daquele andar. Me incomodava muito, pois toda noite uma mulher daquele mesmo andar batia em todas as portas até achar a dela.

O apartamento de meu tio era gelado e nada aconchegante. Havia algumas fotos de paisagem nas paredes da sala e alguns livros jogados sobre a escrivaninha perto da janela. Cortinas brancas balançavam e trombavam nos livros. A sala tinha um papel  de parede marrom coco. A poltrona do meu tio ficava no centro, de frente para a TV de plasma. Uma mesinha de centro servia de apoio para seus pés.

Tio Afonso estava sentado na copa junto de Henrique, seu filho. Eles conversavam sobre futebol, acho. Tio Afonso usava um hobbie azul bebê e pantufas cinzas, parecia ter o dobro de sua idade. Seu cabelo era marrom escuro repicado. Seu rosto era jovem, ele era muito bonito. O problema é que nunca sorria ou ria, era duro consigo mesmo.

E Henrique, bom Henrique era meio... Esquisito. Seus cabelos encaracolados e loiro estavam sempre debaixo de uma touca colorida, ele sempre variava as cores. Seu rosto era delicado, e tinha uma pele muito branca. Ele era magrelo e alto. E nunca falava alguma coisa que prestasse só bobagens e coisas desnecessárias. Apesar de achar ele um idiota, adorava conversar com ele, era o único de minha família que me achava legal.

Os pratos já estavam sobre a mesa junto dos talheres. Joguei a mochila no chão no pé da cadeira e coloquei as compras em cima da mesa. Sentei do lado direito do Henrique.

- Comprei carne pronta – disse abrindo o embrulho de alumínio

Tio Afonso se levantou e pegou dois ovos que já estavam fritos em cima da pia enquanto Henrique se servia lambendo os beiços. Ele pegou os ovos e andou em direção a sala.

- Não como carne – tio Afonso disse enquanto saia da Copa

Olhei constrangida para Henrique que me observava enquanto eu me servia.

- Não liga pra ele – Henrique cuspiu farofa em mim – Nem para isso – ele limpou meu braço com o guardanapo

- Tudo bem – consegui dizer -, estou acostumada

Ele soltou o garfo sobre o prato e pousou os olhos sobre a carne que já estava fria. Ele desviou o olhar para o retrato da parede: Ele e o tia Afonso. Eles sorriam na foto. Era difícil imaginar meu tipo dando um sorriso tão bonito, nunca o vira sorrindo, era meio estranho.

- Ele era diferente Tóri – Henrique segurou um soluço – Ele não era assim, triste e amargo.

- Está tudo bem Rique, - coloquei a mão em seu ombro – esquece isso.

- É isso que não quero fazer! – ele empurrou minha mão – Você não entende.

- Ei, me conta. Quero te entender.

- Ele era alegre Tori, dá para acreditar? – ele deu um sorriso forçado – Ele ria de tudo, gostava de tirar fotos de paisagens coloridas – ele fez uma pausa - ... Ele era feliz. É, ele era feliz, até a minha... mãe desaparecer. Eu ouvia do meu quarto seu choro abafado, ele chorou noites e noites. Passei noites em  claro me perguntando o porquê dela ter no abandonado. Não entendi, ainda não entendo, mas agora é diferente. – de tristeza, ele passou a sentir raiva – Ela o estragou, e ela o magoou.

- Não fale assim. Tenho certeza que ela não tinha essa intenção – tentei acalmá-lo

- É, - ele disse voltando a comer – você está certa.

- Você anda tomando seus remédios? – não consegui conter o riso

- De bipolaridade? Ah, não. Eles não tem um gosto muito bom.

A carne de fria, agora estava gelada. Mas isso pelo jeito não tirou o apetite de Henrique.

- Então – peguei os talheres – por que seu pai não gosta de mim?

- Ele gosta de você. Ele diz que você o faz lembrar a mamãe. – ele mastigava enquanto falava, o que era nojento – Tirando que você come carne.– ele apontou com a faca a carne do meu prato – Mamãe era vegetariana. Depois que ela sumiu, papai também virou.

Era bonitinho ouvir Henrique falando “mamãe” e “papai”. Quando ele sorria aparecia covinhas em suas bochechas. Ele era bonito, tinha a minha idade, mas aparentava ser bem mais novo.

- Estranho, - olhei para as paredes – não tem nenhuma foto dela ?

- Papai queimou todas que tinham. Disse que não valia apena guardá-las.

Olhei para a sala. Tio Afonso comia os ovos fazendo caretas, como se odiasse fazer aquilo. Acho que ele não gostava muito de ovos.


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Notas finais do capítulo

Comentem, favoritem ou sei lá. E obrigada por ler



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