Andávamos pela grama sem falar nada. Queria perguntar para Jeremy onde ele estava me levando e se já conhecia o lugar, mas preferi ficar calada. Sua mão ainda segurava a minha e apesar o frio, sentia que ela estava gelada. Apenas soltou minha mão quando paramos na frente de uma árvore que ficava perto da cabana. Jeremy suspirou e tocou-a onde estava gravada as iniciais "J.W. e M.W.". Notei que havia um coração em volta delas.

– John Winsley e Michelle Winsley. São meus pais. Gravaram suas iniciais nessa árvore quando tinham apenas 15 anos... - sua voz estava apertada e ele olhava fixamente para a árvore. - Foi um amor adolescente, sabe? Se conheceram na escola e se apaixonaram. Mas tudo o que é verdadeiro não acaba. - finalmente olhou pra mim. - Os pais da minha mãe não aceitavam o namoro de modo algum, mas mesmo assim eles insistiam em ficar juntos. Lembro da minha mãe me contar que brigava com meus avós todos os dias para que não separassem ela de meu pai, mas eles decidiram mandá-la para a faculdade. Um dia antes dela viajar para outra cidade, meu pai, durante a noite, foi até sua casa sem os pais dela verem e a chamou para fugir para um lugar que seria só deles...

– A cabana... - disse olhando para a ele. - era dos seus pais?

Jeremy apenas assentiu com a cabeça mostrando um sorriso leve no rosto.

– Meu pai plantou todas as rosas quando descobriu que mamãe estava grávida de mim e agora elas estão tão grandes... - admirava a aparência da cabana.

Meus olhos se enxeram de lágrimas.

Jeremy começou a andar para a cabana e eu o segui. Abriu a porta que estava apenas destrancada e entramos. O lugar cheirava a poeira e os móveis estavam velhos, mas continuavam com uma aparência incrível. Mesmo sendo pequena, a cabana era confortável e um lugar perfeito para um casal apaixonado que queria se amar sem ter que ligar com o resto do mundo.

– Você morou aqui, Jeremy?

Percebi que ele já estava se recuperando do choque de ver aquele lugar, mas ainda fixava seu olhar em cada móvel e detalhe de lá.

– Sim, até os dez anos de idade. - parou perto de um pequeno móvel e pegou uma foto preto e branco que estava em um porta-retrato antigo. - São meus pais. - virou pra mim. - Eu os perdi quando tinha dez anos. Foi um acidente de carro. Chovia muito naquele dia e eu fiquei na cabana enquanto eles iam na cidade vizinha comprar algo para a ceia de Natal. Eles nunca voltaram... lembro de ficar lá de fora, na chuva, esperando pelo carro chegar e eles virem me abraçar como faziam sempre. - os olhos de Jeremy ficaram vermelhos.

Me inclinei e beijei Jeremy.

– Eu sinto muito... não sabia que isso tinha acontecido...

– É a segunda vez que volto aqui desde os dez anos. Por isso não notei que o caminho que estávamos seguindo iria dar aqui, neste lugar.

– Mas por que não veio aqui mais?

– Eu só queria esquecer tudo e não sentir mais a dor da saudade deles. Queria lembrar da cabana quando eles estavam vivos, não nela sem eles.

As lágrimas começaram a rolar pelo meu rosto e Jeremy ainda se preocupou em limpá-las.

– Eles se amavam e eu fugi do amor por muito tempo depois da morte deles. Na adolescência, não sabia como reagir com isso, mas agora eu sei como meu pai se sentia toda vez que olhava para minha mãe. - seus olhos negros me encaravam.

– Eu te amo, Jeremy. - disse beijando-o.

– Obrigado por me fazer acreditar que o amor existe.

*

Estávamos sentados na grama atrás da cabana olhando o lado. Kath e Dave não haviam voltado ainda e eu sabia que não iria voltar. Era um lugar bonito e eu sabia o que haviam planejado para mim e Jeremy, mas aposto que não sabiam o que aquele lugar significava para Jeremy.

– Foi aqui que minha mãe contou que estava grávida. Eles costumavam sentar aqui. - as memórias possuíam sua mente, mas ele parecia mais feliz.

– O lugar é perfeito. - sorri e Jeremy me beijou, puxando meu corpo.

Ficamos abraçados por um grande tempo apenas olhando o reflexo da lua na água e fui consumida por uma pontada de tristeza ao lembrar que logo seria Natal e logo depois Ano Novo. Mas ficava mais triste ainda por ter que esconder isso de Jeremy.

Senti Jeremy se mexer e levantar.

– Preciso fazer isso. - me olhou rindo e correu para o lago.

Ouvi o barulho do seu corpo ao bater na água e saí correndo para perto dele. Jeremy tacava água em mim como se fosse uma criança e talvez, estando naquele lugar novamente, ele realmente se sentisse como uma.

– Donna, - disse tirando o casaco e a camisa. - quer se casar comigo?

Parei de mexer na água e apenas fiquei olhando-o. O silêncio tomou conta do lugar e ele me olhava com um sorriso no rosto.

– É, eu sei... tem pouco tempo que estamos juntos. Mas não precisa responder agora, te enten...

– Cala a boca. - gritei correndo com dificuldade pela água. - É claro que eu aceito.

Me taquei em seus braços. A água gelada estava cortando minha pele, mas nada era melhor do que a sensação de Jeremy ali para me aquecer. Aceitar seu convite de casamento foi a coisa mais estranha e incrível que eu fiz e eu percebi que a maior arte humana é poder amar alguém como eu amava Jeremy.