Jeremy passava a mão no meu cabelo com um sorriso engraçado. Eu o amava, era verdade. E era estranho estar apaixonada. Era estranho sentir o coração disparar ao vê-lo, era estranho beijá-lo sabendo que depois ele ainda me amaria e não iria fazer como os outros caras idiotas que não ligam para o sentimento de outras garotas e depois fazem questão de magoá-las por motivos que nem mesmo elas entendem. Mas era tudo estranhamente perfeito. Eu gostava de cada sensação e cada reação do meu corpo ao seu toque e seu olhar.

- No que está pensando agora? - perguntou olhando nos meus olhos. Jeremy tinha um olhar incrível. 

- Em você. - respondi com sinceridade. - E você?

- No como você fica bonita com essa blusa cheia de tinta, esse cabelo cheio de tinta, esse rosto cheio de tinta e...

- Deixa eu adivinhar. Esse cheiro de tinta? - ri. 

- Não. - disse chegando mais perto. - Estou pensando em como te conheci. - sentia sua respiração. - Fico feliz por isso. 

Conhecer Jeremy foi a melhor coisa que me aconteceu nos últimos dias. Minha vida, como sempre, andava uma bagunça. Nada dava certo, e quando dava, mil coisas tinham que destruírem algo bom. E sobre meus últimos relacionamentos... fracassados. Saí magoada nas duas vezes e prometi nunca mais me iludir com algum cara idiota.

Mas vendo Jeremy ali, percebi que ele não era como os outros. Eu podia ver em seus olhos.

- Nunca fui mais feliz. - respondi, beijando-o. 

*

O castelo já estava todo escuro de novo e nós estávamos novamente na sala. Aquelas pinturas ainda me fascinavam e eu, é claro, estava novamente parada olhando para elas.

Jeremy havia ido tomar um banho. Sorri. "Como pode ser tão lerdo? Tomando banho na casa invadida de um cara que morreu.", pensei.

Andei um pouco e parei na frente da pintura de Jeremy. Como eu demorei tanto para perceber que na pintura de Bruice, que havia visto no museu, era Jer? Balancei a cabeça ao ser invadida pela imensa tristeza de lembrar os reais motivos que me levaram naquela casa. Não era Jeremy e sim saber sobre a vida de Bruice e tentar achar alguma ligação com minha transferência de século.

Encostei minha cabeça na parede, bem onde o rosto de Jer havia sido pintado e me deixei ser levada pelas lágrimas, mas fui surpreendida pelo barulho estranho da parede. 

- Parece ser oco. - sussurrei, batendo com a mão e abrindo um buraco na parede que acabou destruindo a pintura que Bruice havia feito. 

Olhei pro lado como se estivesse cometendo um crime e só depois enfiei minha mão para pegar algo que parecia ser uma folha de papel. 

Abri-a e comecei a ler. 

"Se alguém está lendo isso, é porque Bruice não está mais entre nós. E você deve estar se perguntando que está escrevendo isso. Sou Paty, esposa de Bruice e ninguém melhor que eu pra esclarecer toda essa confusão. 

Olá, Donna. Não se assuste. Parece que estou aí do seu lado falando com você? E sei como está assustada agora. Sei até mesmo que deixou a carta cair no chão ao ler seu nome escrito aqui."

Interrompi a leitura. Paty estava certa, e eu nunca havia ficado tão desesperada. 

Voltei a ler. 

"Fique calma, você precisa entender algumas coisas. 

Bruice sempre foi um cara incrível. Puxava a cadeira para me sentar, mandava flores em datas especias e dizia o quanto me amava. Olhe ao seu redor. Está vendo essa mulher de batom vermelho na maioria das pinturas? Sou eu."

Olhei. Paty era linda. Me perguntei como não havia reparado nela antes.

"Eu me apaixonei por ele no primeiro momento em que o vi. Aquele sorriso, aquelas olhos. Eu o amava, Donna. O amava muito. E acho que tudo o que estou falando está te deixando mais confusa ainda... 

Vou te contar o que aconteceu com meu marido. Tudo começou em uma noite fria de inverno. Estávamos dormindo quando acordei com Bruice levantando-se da cama. Perguntei o que era e ele só respondeu que sonhou com o casal mais perfeito. Sorri. Parecia besteira. Acabei seguindo-o até a sala que ele pintava e logo depois, as pinturas estavam concluídas. Um rapaz. E na outra tela, uma moça. 

No começo não entendi muito bem, mas os sonhos se tornaram constantes. Ele via esses casais toda noite e chegava até a conversar com as telas. Um dia sentei com ele e perguntei o que estava acontecendo. Bruice olhou pra mim, sorriu e disse que o destino uniria os dois, mas os séculos separavam esse amor de acontecer.

Se parecia loucura? É claro! Na hora eu ri, mas Bruice continuou sério. Meu marido falava a verdade e acabei acreditando em cada palavra. 

O mais estranho era que ele tinha visões. Via esse casal. Via cada paço deles. Como se conheciam e como cada coisa acontecia. Viu até mesmo você aí parada lendo essa carta, mas a partir desse momentos, Bruice parou de ter as visões. 

Só quero te dizer que Bruice deu sua vida pelo amor de vocês dois. Sim, você e Jeremy. Ele não iria morrer enquanto não visse vocês juntos. 

Agora você deve estar pensando o motivo das visões e como veio parar nesse século. Acho que Bruice desejou tanto por isso que acabou acontecendo. Desculpe-me não poder te explicar isso... não tenho as palavras certas, quem me diria as respostas. Mas (...)"

Lágrimas desciam pelo meu rosto. Já não entendia mais nada. 

Peguei a carta. Faltava um pedaço dela que havia sido rasgado. Coloquei o braço no buraco, mas não achei mais nada. 

No mesmo instante, ouvi os passos de Jeremy. 

- Voltei. - ele exibia seu sorriso. - Donna, você está chorando? - perguntou preocupado andando para perto de mim. 

Me abracei ao seu corpo, enquanto me afogada nas lágrimas confusas que saiam dos meus olhos.