Era tudo tão lindo! As paredes embora de cores diferentes combinavam de forma perfeita com os móveis e com os quadros ali presentes.

Ah! E as comidas?Tantas e tantas e de tantos tipos diferentes!Mas comecei a me senti uma das vacas sendo engordadas no caminho para o abatedouro.Comecei a sentir nojo por tudo aquilo.

—Venha minha querida,deixe-me mostrar onde é sua cabine —disse Cabelo-Colorido com aquele sotaque forçado da Capital.

Meu quarto era mais ou menos do mesmo tamanho do que eu dividia com minha mãe até o dia infeliz da colheita,só que era uma cabine de trem.E era exclusivamente meu e tinha um banheiro só pra mim! Imagine só!

Por que eles agradavam tanto a gente se iam nos matar?!Deviam fazer isso por um falso sentimento de compensação.

A cabine de Caius era em frente a minha e mostraram nossas acomodações ao mesmo tempo,mas dessa vez ele não me ignorou por completo,como de costume,na verdade me lançou vários olhares pensativos,me analisando dos pés à cabeça.Acho que isso era pior que fingir que eu não existia.

Minha cama era tão confortável quanto grande e havia uma cômoda de tamanho bem razoável pra uma cabine de trem . Abri com curiosidade.Só encontrei roupas,que por sinal pareciam feitas sob medida, de todos os tipos: desde de casacos pra um frio daqueles até roupa íntima bem fina.

Havia uma pequena mesa de cabeceira no lado esquerdo da cama com uma gaveta e quando eu abri,vi um controle enorme cheio de botões e números e junto com ele vinha um caderno grosso escrito Cardápio.Estava meio que sem fome agora então resolvi tomar um banho.

Peguei um conjunto de roupa íntima feito de algodão puro,me pareceu muito confortável.Resolvi procurar algo bem leve pra vestir porque sentia o meu corpo cada vez mais pesado com a responsabilidade de voltar pra casa viva.

Encontrei um vestido.Não fazia muito o meu estilo,mas o tecido era tão gostoso que me peguei passando o vestido no rosto.Pronto ,estava decidido o que eu ia vestir.Quando fui pro banheiro quase entrei de roupa e tudo,mas resolvi que se eu não voltasse era melhor que minha mãe recebesse ela de volta então ia guarda-la bem direitinho.

Chuveiro! Tomei banho de chuveiro acho que umas três vezes na minha vida toda! Chuveiro era coisa pra quem tinha uma boa condição financeira , então sempre me contentei com o velho banho de balde.Só que esse infeliz daqui tinha um monte de botões insuportáveis!Eu não fazia ideia de qual apertar então fui calmamente apertando um por um até que achei uma água morna que me fez relaxar por completo.Lavei com cuidado desde os dedos do pés até o cabelo que com o shampoo do trem começou a cheirar a limão.Apenas quando terminei de tomar banho percebi a falta de toalha no banheiro. Aí um trambolho apareceu jogando rajadas de um vento morninho bem gostoso que secou meu corpo,inclusive meu cabelo.

Quando terminei de me vestir dei uma boa olhada no espelho.Já não me sentia mais eu.Claro,minha pele ainda era a mesma coisa branquela sem graça de sempre,meu cabelo ainda era escuro e comprido,como minha mãe gostava ,e meus olhos ainda eram esverdeados,idênticos aos dela.Mas não me sentia à vontade com ninguém nesse maldito trem e nem meus mentores conhecia ainda.

—Pátara... venha jantar queridinha!—aquela voz irritante era de Cabelo-Colorido,só podia ser!

Saí da cabine deixando o cabelo solto e fui descalça até a cabine de refeições,onde eu ia finalmente conhecer meus mentores.

—Boa noite —disse pra todos na mesa.

Todos na mesa me cumprimentaram ,menos Caius que começou a me encarar e a rir baixo.

—Algum problema colega tributo?—falei parecendo forçado demais.

—Você por acaso vai à alguma festa que eu não sei?—ele falou apontando com a colher pro meu vestido.

—Não não,mas se eu for, te chamo pra ser o palhaço da festa ,ok?Todos amam um bom palhaço!—respondi com o mesmo tom de antes.Caius fechou a expressão completamente e voltou a atenção pro seu próprio prato.

—Meninos,eu vos apresento seus mentores:Aiko e Hadassa —anunciou formalmente Cabelo-Colorido .

—Muito prazer, sou Pátara Banks —disse apertando a mão de cada um deles.

Aiko era muito bonito, ele era da área do Abatedouro como eu. Com olhos claros e cabelo escuro tornava nossa origem fácil de adivinhar.Já ouvi dizer que antes de ganhar os jogos ,ele trabalhava no setor de sacrifício dos animais,consequentemente tinha uma força incrível e sabia matar como ninguém,o que com certeza ganhava pontos com os patrocinadores.Ele devia ter seus 30 anos.

Hadassa parecia ser ainda bem jovem e parecia inofensiva, mas era muito engenhosa e ganhou seus jogos fazendo armadilhas quase imperceptíveis aos olhos de seus oponentes. Também foi pra arena com 17 anos,como eu, e possui aparência doce,com olhos e cabelos castanhos.

—Acho que esse ano temos dois galos de briga—falou Hadassa - O que você acha Aiko?

—Sei não Hass,a garota parece bem dissimulada —respondeu ele. Não pude deixar de fazer uma cara de indignação.

—Acha que eu sou dissimulada?—perguntei ,chateada por ter passado uma primeira impressão muito ruim.

—Se for ,o público vai te amar—falou Aiko dando uma piscadela pra mim .

—E o garoto? É forte mesmo ou só é mal-educado?—continuou Hadassa dirigindo a pergunta a Aiko.

—Ele é esperto. Parece bem forte também,e até que tem uma boa aparência...quem sabe né?—respondeu ele

—Você me conhece por acaso pra me julgar?—falou Caius

—Digamos que eu não precise te conhecer —respondeu Aiko sem olhar pro garoto que estava cerrando os dentes.—Já resolvi.Vou trabalhar com a garota.—disse ele mudando de assunto.

—Tá bem então —respondeu Hadassa.

O resto do jantar foi só uma conversa entre os mentores sobre uma reforma na casa dela,ou algo do tipo.Não fiz questão de ouvir porque tudo estava deliciosamente maravilhoso.Comi tanto que me senti estufada.Eu queria agradecer ao cozinheiro,mas me disseram que quem cozinha são Anoxes,Avonexs...um negócio desses aí,e que esses tais são proibidos de falar com a gente,ou é a gente que não pode falar com eles... não prestei muita atenção mesmo!

Voltei pro quarto e coloquei como pijamas uma calça fina de algodão e uma blusa de alcinha.Estava pensando em minha mãe quando ouvi batidas na porta.