Vou tentar explicar o que eu estava pensando desde o começo.

Tudo aqui na Capital é cheio de cores berrantes e falsas. Quando nós tributos somos trazidos a este show de horrores somos igualmente enfeitados exageradamente no desfile e nas entrevistas,todos dois,momentos cheios de truques de nossos estilistas para nos fazerem parecer maiores,mais bonitos,mais fortes.O momento de nossas sessões particulares é aquele em que mostramos nossas reais habilidades.

Mas a questão é que a Capital ama baboseiras cheias de luzes e purpurina. E sendo tributo de um dos últimos distritos eu precisava chamar atenção dos organizadores, que a essa altura estariam comendo e não prestando atenção em nós como deveriam. Então porque não juntar a baboseira das roupas chamativas com a oportunidade de mostrar o que eu sei fazer?

Quando meu nome foi chamado, entrei calmamente no grande salão de treinamento que parecia mais assustador e maior agora que só estavam eu e os treinadores lá. O os organizadores ficavam acima de mim,numa espécie de sacada,onde podiam me ver em qualquer estação de um ótimo ângulo.

Não disse nada,apenas cheguei mais ou menos no meio do salão e comecei a tirar o grande blusão preto que estava usando,expondo uma das melhores criações de Camille: Uma camisa que trocava de cor, estampada com um grande “Vai Distrito 10!” que também mudava de cor. Os padrões se alternavam numa combinação de rosa choque com a frase verde limão, azul metálico com a frase vermelha sangue e amarelo ouro com a frase em preto vibrante. Acho que o fato de uma garota estar tirando a roupa na frente de um monte de gente,na sua maioria homens,já chama atenção.

Terminei tirando a minha calça folgada sendo que por baixo estava vestida com uma bermuda justa ao corpo que era muito confortável e tinha cor preta neutra, deixando toda atenção para a camisa berrante. Meu cabelo estava bem preso com um trançado que eu achei particularmente bonito,afastando todo o cabelo da roupa e do rosto,que estava limpo de maquiagem.

Estava louca de vontade de olhar para trás e verificar se meu plano estava dando certo, mas me mantive firme e olhava na direção da plataforma de camuflagem, onde aprendi a fazer uma mistura bem simples de folhas, um pouco de terra e água, que ficou bem parecida com tinta. Ótimo.Fiz uma boa quantidade e despejei sobre meu corpo,de modo que os poucos fios que faziam a roupa piscar quebraram,mas apenas eu e Camille sabíamos disso,fazendo então parecer que minha camuflagem estava tão boa que cobria a roupa brilhante.

“Sorria idiota!”, pensei, e dei o sorriso inocente que tanto já tinha treinado antes. Corri para a arvore onde treinávamos escalada com uma lança e comecei a subir.Como o combinado ,assim que eu me escondi acima nos galhos, o instrutor de lanças foi bem pra baixo dela e eu pulei em cima dele.Começamos a luta.

O problema é que ele não estava seguindo a sequencia de movimentos que tínhamos treinado, me atacando de formas inesperadas com movimentos rápidos. Por muita sorte ou não sei o que,eu consegui desviar e me defender de todos com muita dificuldade.Mas de repente eu vi que ele estava me dando uma brecha para derrubá-lo,provavelmente de propósito,então usei o cabo e dei uma rasteira derrubando assim o meu instrutor de lanças.

Olhei para cima e fiquei aliviada com a quantidade de olhares sobre mim, considerando que sou uma das últimas tributos. Normalmente odeio muitos olhares na minha direção e fico muito desconfortável, mas esses jogos estão mexendo comigo e com quem eu sou por isso eu sorrio, não só numa tentativa de amenizar o fiasco que foi minha luta de lanças, mas me sentia certa que tinha ido bem e estava feliz. Era um sorriso genuinamente meu.Eu estava olhando nos olhos de cada um dos organizadores esperando ser liberada,até porque fiquei mais tempo do que planejado na apresentação.

Nada. Nenhum sinal que eles iam me liberar.Então eu soltei beijinhos inocentes pros homens e tchauzinhos pras mulheres e saí pulando como costumava fazer quando era criança.