A Vida Da Miss Invisible escrita por BelovedCherry


Capítulo 3
Um cão chamado Leo


Notas iniciais do capítulo

Mais um cap minhas amoras! ^^ Espero que gostem e qualquer coisinha que não entendam avisem tá?



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Assusto-me tanto que quase desmaiava. Na minha imaginação fértil já passeava um fantasma ou outra raridade paranormal terrível e assustadora. Qual foi o meu espanto quando sinto a minha bochecha ser lambida e logo depois, algo felpudo e macio me atirar contra o chão. Os latidos bem perto da minha cara são inconfundíveis, mesmo naquele escuro eu sabia que se tratava de um cão. Mas afinal, o que um cão faz aqui?!

- O que é que estás aqui a fazer amiguinho? – pergunto já ajoelhada ao seu lado enquanto lhe faço festas no pêlo.

Como é óbvio, a única e singular coisa que a bola de pêlos disse foi: Au! Simples não? Se o nosso vocabulário se resumisse apenas a latidos e uivos de certo que até os idiotas da minha turma tinham excelentes notas! (Se bem que estão lá perto... animais já são, só falta aprenderem a falar como um)

Gostava de entender o que os animais dizem e pensam... Por vezes parece que nos querem dizer algo mas por falta de métodos, não o podem fazer. Estou a sentir isso neste exacto momento. Mesmo no escuro consigo notar os olhos brilhantes deste peluche vivo XXL e sinto algo no meu peito que aperta... como se as saudades fossem muitas e aumentassem ainda mais só de olhar para ele.

Levanto-me do chão com algumas partes do corpo ainda doridas pelas duas quedas e as bochechas molhadas de baba de cão. Blec! Tacteio a parede mais próxima em busca de um interruptor e encontro um passados uns minutos a dar pontapés a objectos não identificados. Ao acender a luz fico uns segundos de olhos semicerrados para tentar habituar-me à luminosidade repentina. Quando olho para baixo vejo o bola de pêlos sentado a olhar para mim com uma postura muito bem comportada. Assustei-me um pouco ao ver o real tamanho do bicho (que me dá pela cintura mais ou menos) mas ao distinguir os traços do aspecto do animal fiquei totalmente derretida. Um Golden Retriver de pêlos dourados e olhos cor mel, com uma mancha castanha na ponta da orelha direita.

- Que fofura! – murmuro enquanto me volto a ajoelhar ao lado do cão para lhe fazer festas.

Mas ele recua. Fico um pouco confusa com tal acto. Será que o assustei?

As minhas dúvidas ficam no ar enquanto o vejo a caminhar calmamente até à sala de estar e parar perto da porta para olhar para mim.

- Queres que vá contigo? – pergunto como se ele me entendesse. – Não acho uma boa ideia... além disso eu...

Ele não reage à minha indecisão, apenas volta a virar-se e entra na sala de estar que ainda estava completamente no breu. Apesar de receosa decido segui-lo e abro as janelas à medida que passo por elas. A luz e o ar fresco invadem a casa com se o sol se tivesse lembrado agora daquele lugar esquecido pelo coração.

Ao chegar à sala abro a janela mais próxima, e também a maior, que rapidamente ilumina todo o espaço. Respiro fundo e viro-me percorrendo o olhar por cada canto daquela sala que me trazia tantas recordações. Dias de chuva que passava a brincar ali, enroscada num cobertor ao lado do meu melhor amigo, com a cabeça deitada no seu ombro enquanto ele me contava histórias de princesas e príncipes apaixonados e ali, muitas das vezes, adormecíamos abraçados. Por momentos quase que consegui ver-me ali, no sofá cor de pudim, como o Leo dizia, a rir e brincar às cócegas com ele.

Sou retirada dos meus pensamentos por um latido e olho para o cão que estava sentado ao lado da mesa de centro. Sento-me calmamente no sofá, ainda a olhar para o bola de pêlos dourado, e vejo-o pegar em algo que estava em cima da mesa, com os dentes, e colocá-lo no meu colo. É uma carta. Uma carta?! Para quem é esta carta?! Parece importante... Viro o envelope e vejo numa letra um pouco desajeitada, a seguinte frase: “Para a minha Adrika. Só ela pode abrir isto!”. O meu coração falha uma batida ao reconhecer aquela letra infantil e abro o envelope da carta com as mãos um pouco tremidas.

Olá Adri!

Provavelmente se estás a ler isto é porque eu já fui embora (um pouco óbvia esta frase mas eu via algo parecido num filme e gostei).

Não sei quanto tempo passou. Horas, dias, semanas, meses... anos... Talvez se tenha passado muito tempo, não sei. Estou a pensar se nesta altura estás zangada comigo. Sentes a minha falta? Ou já nem te lembras quem sou? Odeias-me por ir embora sem dizer nada? Só espero que não estejas mal, nem triste nem zangada, porque eu iria fazer-te cócegas até caíres para o lado se eu estivesse ai,– neste momento sorrio um pouco ao imaginar a cena – por isso acho bem que estejas a sorrir neste preciso momento! – é claro que eu agora sorria ainda mais, como é possível, através de uma carta, ele continuar a adivinhar os meus pensamentos e actos?

Mas voltando ao que queria dizer. Esse cãozinho quem tens à tua frente é teu! Um dos cães de que a minha mãe tratou teve bebés e o dono ofereceu-nos dois. Um menino e uma menina. Sabes, eu fiquei com a menina e dei-lhe um nome muito especial... Drika, não é bonito? Gostava de saber que nome vais dar ao teu cãozinho.

Bem, acho que é tudo e por favor, não chores, não te zangues, não fiques triste comigo ou por minha culpa... Quero que saibas que te adoro no fundo do meu coração e que nunca te esquecerei. Lembras-te? Prometemos ser sempre amigos.

Mil beijos e um abraço de urso, do teu melhor amigo, Leo.

Depois de tanto tempo, depois da minha vida ter mudado tanto, depois de tanta coisa ter acontecido... o Leo, o meu Leo, será sempre o único que me fará sorrir de verdade, mesmo que seja penas através de uma carta. É pena que ele não esteja aqui e agora comigo, para matar as saudades, nem que fosse apenas um abraço. Eu ficaria feliz.

Noto nesse momento que o bola de pêlos tinha deitado a cabeça nos meus joelhos ficando a olhar para mim com uma cara muito fofinha mas um pouco triste. Passo com a mão pelas suas orelhas pensativa e digo:

- Que nome é que eu te irei dar? Gold? Fofinho? Caramelo? Meu Deus do céu! Para onde é que foi a minha imaginação?! Quero-a de volta! – falo sozinha enquanto olho em redor.

Os meus olhos travam numa foto bastante familiar. Uma foto minha e do Leo em que ele estava de joelhos à minha frente enquanto me estendia uma rosa azul. Foi no meu aniversário, dois anos antes de ele ir embora. Volto a olhar para a carta e algo me salta à vista...“Sabes, eu fiquei com a menina e dei-lhe um nome muito especial... Drika, não é bonito?”. Volto a olhar para o cão que se mantinha na mesma posição e digo com um sorriso:

- E se for Leo? Gostas?


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Notas finais do capítulo

Gostaram? Odiaram? Mais ou menos? Falta algo?
Comentem de qualquer das formas!!! o.~