Encanto escrita por Leah Montgomery
Hope estava sentada sob o velho salgueiro observando o céu, as estrelas lhe mostravam que já deveria passar de meia-noite.
Clemency havia piorado, tanto que chegava a ser maldade deixá-la sozinha em casa, mas Hope precisava esperar, era sua única esperança. Agarrada ao livro de sua mãe sentiu as lágrimas caírem sobre o seu rosto, elas eram quentes e pesadas, deixando pequenas manchas no vestido quando o alcançavam, Hope secava-as com o dorso das mãos.
Mais alguns minutos se passaram até que do breu uma voz se pronunciou – Olá, minha querida, vejo que veio. – Hope voltou a secar o rosto com as mãos e começou a se levantar, segurando o livro envolto a seus braços de maneira que ele pudesse ser visto, mas não pudesse ser tomado, ela caminhou em direção a estranha mulher.
- Estou com o livro, ande, salve a minha filha e eu faço o que você quiser!
- Ah, minha querida, infelizmente não é tão fácil assim. – Disse a mulher rindo.
- Como assim?
- Esse livro que está em suas mãos pertence a mim.
- Não! – Gritou Hope já sentindo a raiva subir-lhe o peito. – Minha mãe o deixou em seu testamento, para mim! Ele pertence a mim!
- Sua mãe o roubou! E eu o quero de volta!
- Você pode ficar com esse maldito livro, apenas salve a minha filha! Se a minha mãe roubou ou não nada disso importa, ela esta morta, mas eu preciso que você cure a minha filha!
- Para Clemency ser curada preciso que você a traga a mim. – Enquanto a mulher falava dirigia-se para o velho salgueiro, encostando a palma de sua mão esquerda sobre a casca da bela árvore e recitando algumas palavras que Hope não conseguiu escutar, quando a mulher retirou a mão da árvore esta começou a se expandir, abrindo passagem para uma escadaria escura. – Vá até sua casa e pegue Clemency, quando voltar bata na casca do salgueiro três vezes, alguém virá atendê-la. – Com o término de suas palavras a mulher entrou na árvore-toca e sumiu na escuridão, junto com a escadaria.
Assustada Hope saiu correndo para casa, ainda com o livro agarrado a seu peito, suas lágrimas caindo cada vez mais rápido atrapalhavam sua visão, fazendo com que ela tropeçasse em uma pedra e caísse sobre a grama onde ficou por um longo tempo até conseguir se recompor.
Quando chegou em casa Hope pegou Clemency no colo, a menina ardia em febre e estava apagada.
Hope andou o mais rápido que podia até o salgueiro, quando chegou colocou o livro ao lado de seus pés e bateu três vezes na casca da árvore, tendo como resposta um “Já vai” esganiçado.
A árvore começou a se expandir novamente, obrigando Hope a dar alguns passos para trás antes de pegar o livro novamente, de dentro dela saiu uma bela jovem loira e de seios fartos que sorria maldosamente para as duas convidadas.
- Entrem. – Disse a jovem se mostrando dona da voz esganiçada, Hope a seguiu pelas escadas escuras até uma sala iluminada a velas, onde mais duas mulheres se encontravam. – Chagamos! – Anunciou a jovem antes de começar a saltitar pela sala.
A bruxa que havia encontrado Hope em sua casa estava sentada em cima de uma mesa, escolhendo cuidadosamente ingredientes que passava para a segunda mulher, ela e a loira pareciam irmãs, apesar de seus cabelos ruivos.
- Então, essa é a filha da nossa ladrazinha? – Perguntou a ruiva sem tirar os olhos de seu caldeirão e acrescentando o que parecia ser uma calda de rato a sua mistura, causando uma pequena explosão que pintou seu rosto com cinzas fazendo a loira ter um grande ataque de risos.
- Não adianta Kidnapping, você não vai acertar essa poção tão cedo! – Disse a loira enquanto ria.
- Ah, cale a boca, Arrogance! Quando eu terminar essa poção é você quem vai tomá-la!
- Meninas, parem de discutir, não queremos assustar as nossas convidadas! – Disse a mulher se aproximando de Hope. – Ah, minha querida, posso ver que sua filha esta ardendo em febre! Tadinha! – O sarcasmo evidente em sua voz estava começando a irritar Hope, que agarrou Clemency com mais força.
- A única maneira de salvar a sua filha é você me entregar o livro. – Hope pôs o livro sobre a mesa que a mulher estava sentada.
- Pronto, agora, cure-a! – Sem dar ouvidos a Hope a mulher agarrou o livro e começou a folheá-lo, parando em uma página amarelada contendo o desenho de várias pessoas doentes, ergueu a mão em direção a Clemency e recitou alguns versos em latim, mas nada aconteceu, Clemency continuou banhada pelo seu sono.
Atordoada a mulher voltou a esticar a mãe em direção de Clemency e começou a recitar novamente em latim, só que com mais intensidade dessa vez. Nada.
- Deixe-me tentar! – Brandiu Kidnapping indo em direção a Clemency, Hope estava começando a ficar desesperada, e se sua filhinha não tivesse cura?
Kidnapping recitou os mesmos versos e novamente nada aconteceu. Arrogance começou a rir. – Eu disse! – Começou ela – Eu disse que aquela velha coroca tinha enfeitiçado nosso livro! Eu disse que tínhamos de preparar uma poção para a menina! Eu disse! Mas como sempre ninguém me escuta e ainda me chamam de maluca! – Disse fazendo biquinho e começando a chorar.
- Arrogance esta certa, mamãe, mesmo que isso seja inacreditável! – Disse Kidnapping.
- Como assim uma poção? O que vocês vão fazer com a minha filha? Vocês disseram que podiam curá-la! – Hope começou a gritar e recomeçou a chorar. Ela estava arrasada, perdida, sem saber o que fazer. Sua filha estava morrendo em seus braços e nada que as bruxas faziam parecia ajudá-la. – Vocês são uma farsa! Incapazes de salvar uma criança!
- Cuidado com os seus comentários, mulher! – Brandiu Kidnapping. – Se sua mãezinha querida não tivesse roubado nosso livro para tentar aumentar a produção de vocês nada disso estaria acontecendo!
- Como assim? – Perguntou Hope confusa.
- Você é mesmo muito burrinha, não é mesmo? – Continuou Kidnapping, levando Hope a pensar que ela e a irmã tinham trocado de nome quando eram pequenas. – Não percebeu que desde a morte de sua mãe tudo na sua casa parou de florescer? Que a galinha não põe mais ovos todas as manhãs? Que a vaca não dá mais leite? Você só estava bem de vida porque sua mãe roubou nosso livro e estava usando os nossos feitiços! E a idiotinha da mamãe ainda fez o favor de colocar um feitiço protetor sobre o livro, para que ninguém além dela e de alguma descendente que tivesse algum dom mágico pudesse usá-lo!
- Então, se eu recitar essas palavras para Clemency ela ficará boa? – Hope se encheu de esperança, como seu próprio nome sugeria.
- Eu não sei! Não sei se você tem veia mágica! E mesmo que tivesse, você nos devolveu o livro, o que eu ganharia deixando você lê-lo? Você odeia as bruxas, se lembra? Somos todas meras prostitutas do Satã como você mesma disse naquele julgamento contra aquela velha inocente! Você não merece o que esta no livro! Não é só porque é estranho ou diferente que é perigoso e demoníaco! Não somos más! Nossos nomes? Pegadinha com você, não te direi meu nome real! Eu sou uma curandeira, assim como minha irmã, fazemos o bem! Mas todos nos julgam porque mamãe é sega de um olho e Sa... Arrogance – disse corrigindo- se – é meio maluquinha! Não tenho motivos para ajudá-la! Afinal, a única coisa que você vai fazer é sair daqui e nos denunciar por bruxaria!
- Não! Por favor! Deixe-me tentar! Eu peço o seu perdão! Eu não deveria ter julgado! Mas a igreja...
- A igreja, a igreja, a igreja! – Disse Arrogance, ou seja lá qual for seu nome verdadeiro, cortando Hope. – A igreja esta sempre contra nós porque para ela apenas Deus pode controlar a natureza! É um grande grupo hipócrita! O meu Deus não julga e não mata! O meu Deus é bom e piedoso, não o que manda matar velhinhas só porque elas ficam isoladas! Sabe qual é o problema do ser - humano? Ele teme até a própria sombra, e por isso toma as decisões mais bizarras possíveis para se proteger! – Ao terminar de falar Arrogance voltou a chorar, sendo abraçada por Kidnapping.
- Por favor! – Disse Hope com mais calma, já sentindo pena das três bruxas que estavam a sua frente. - Por favor!
- Tudo bem – disse Kidnapping por fim. – Afinal, eu sou curandeira, meu dever é curar. – Ela estendeu o livro na direção de Hope aberto na folha que possuía o feitiço. Segurando Clemency com uma mão e encostando a outra sobre sua cabeça, Hope começou a recitar os dizeres do livro, e para sua surpresa um brilho verde começou irradiar de sua mão, enchendo a pequena sala de luz e fazendo com que Clemency abrisse os olhos.
- Mamãe?– A menina logo começou a falar, fazendo Hope recomeçar o choro, dessa vez aliviado, a menina nunca havia falado sequer uma palavra em toda a vida, Hope olhava para as três bruxas, todas com um sorriso nos lábios.
- Muito obrigada! Ah, muito obrigada mesmo!
- Disponha. – Disse a mulher se aproximando. – E antes que você diga qualquer coisa sua filha nunca esteve enfeitiçada, mas eu precisava de algo para trazê-la aqui. Se você não se importar – Ela pegou o livro e abriu sua contracapa – gostaria que você recitasse essas palavras aqui para mim, assim poderemos voltar a usá-lo.
Hope recitou o feitiço com um sorriso nos lábios e novamente suas mãos adquiriram um brilho esverdeado, ao terminar virou-se e começou a sair de dentro da árvore-toca, voltando para sua casa com sua filha agarrada em seu pescoço. Ela estava salva.
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